domingo, 20 de agosto de 2017

SOLENIDADE DA ASSUNÇÃO DE NOSSA SENHORA

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Com a festa da Assunção de Nossa Senhora, a Igreja quer nos recordar que Maria é a aurora (o amanhecer, o início) da Igreja triunfante, ou seja, a comunidade daqueles que estão salvos, plenamente realizados conforme o projeto de Deus; ela é a primeira dentre as criaturas humanas que está, de corpo e alma (a primícia), junto a Deus Pai. Se ela é a primícia, então, após ela seguimos nós! Para que isso aconteça é necessário que lutemos contra o mal promovendo e preservando o bem (1ª leitura), que sejamos movidos pelo otimismo da certeza da Ressurreição (2ª leitura) e nos dediquemos, sem cessar, a servir a quem mais precisa certos de que Deus é sempre o Senhor da História (Evangelho). “Maria é o que seremos um dia”. Ela representa para nós esperança. Mas antes disso, devemos fazer a nossa parte neste mundo.
1ª leitura: Ap. 11, 19;12,1.3-6.10
A luta entre o bem e o mal
O contexto histórico no qual foi escrito o livro do Apocalipse era caracterizado pela cruel perseguição contra os cristãos (final do I século). A saída inteligente adotada pelos evangelizadores foi o uso da linguagem simbólica para continuarem o anúncio da pessoa de Jesus Cristo (o evangelho). Cada símbolo tinha um significado; usavam códigos e, assim, a mensagem chegava a todos e era entendida. Nesse texto, cheio de símbolos e permeado por complexos detalhes, são apresentados dois estranhos personagens: uma mulher e um dragão (crocodilo, Jacaré: símbolo da personificação do mal, da brutalidade, da violência, representava os impérios, notoriamente violentos). O palco no qual se apresenta esses personagens é o “céu”, termo genérico que indica a transcendência física, material, geográfica e cultural. Os dois personagens fazem parte da história da humanidade, e mas o mesmo tempo vão além e podem estar em qualquer lugar: é o conflito dos opostos, representativos do bem e do mal, do joio e do trigo, da cultura da vida e da cultura da morte! Vejamos as principais características de cada um deles:
a) A mulher: estava vestida de sol, tinha a lua sob os pés e sobre a cabeça uma coroa de 12 estrelas, estava grávida e deu a luz seu Filho que veio para governar todas as nações com cetro de ferro, seu filho foi levado para junto de Deus, a mulher fugiu para o deserto. Essa Mulher, em vestes de sol, o sol é símbolo do poder e da beleza divina – representa alguém (ou comunidade) que vive em profunda sintonia com Deus, em comunhão com sua sabedoria; tinha a lua sob os pés: símbolo de poder, mas seu brilho depende do Sol, trata-se de um poder dependente (de Deus); sobre a cabeça uma coroa de 12 estrelas: imagem símbolo de reconhecimento, glória, honra; estava grávida e deu a luz seu Filho que veio para governar todas as nações com cetro de ferro, seu filho foi levado para junto de Deus, a mulher fugiu para o deserto.  Essa mulher é o povo judeu, formada pelas 12 tribos, que vivia na dependência do Deus das promessas e da aliança, que ao longo da história da Salvação “engravida” e dá à Luz o Messias, Jesus Cristo. Os Israelitas foram duramente dominados e perseguidos por muitos impérios: egípcio, babilônico, persa, grego, romano. Mas também o texto pode ser aplicado à Maria, mulher cheia de honras - (“Todas as gerações me chamarão de bendita" (Lc. 1,48) - reconhecida, amada e respeitada pelos 12 apóstolos, foi perseguida, fugiu para o Egito para proteger seu Filho, Senhor da História (cetro de ferro). A fuga para o deserto significa sua profunda e incessante comunhão com Deus.
b) O dragão: tinha cor de fogo, sete cabeças e 10 chifres, sobre as cabeças sete coroas, com sua cauda varria a terça parte das estrelas do céu atirando-as sobre a terra, pára diante da mulher grávida pois queria devorar o seu filho. O que significa esse dragão? Antes de identificarmos os personagens vejamos o significado das suas características. O dragão, símbolo da personificação do mal, era uma imagem simbólica comum em muitas culturas da antiguidade; cor de fogo: violento, sanguinário, destruidor; sete cabeças e 10 chifres: as sete cabeças representam excelência na liderança e os chifres são instrumentos de dominação e violência; as coroas representam, como já vimos, o poder e a honra devota, reconhecida, apoiada;  a cauda que varria a terça parte das estrelas do céu atirando-as sobre a terra: significa que esse poder tinha consequências negativas: a corrupção dos bons através da mentira, da ilusão, da falsidade  (cair do céu= corromper aquele que é bom, coisa típica do tentador, o demônio). No entanto, esse terrível dragão para diante da mulher grávida: sinal de respeito, de timidez, de medo, de reconhecimento da própria fraqueza. Esse Filho temido e respeitado, é Jesus Cristo. Jesus ressuscitado, é o senhor da morte, da história e do universo. O império romano, o “dragão da história” daquele período, não eliminou a igreja, não dizimou as comunidades...
Nossa vida
O texto apesar de complexo nos dá muitas e profundas mensagens simples:
1) Em nossa história contemporânea há muitos “dragões” que tiram o brilho de muitas estrelas: pessoas, instituições, comunidades, aliciando-as e lançando-as para baixo. Esses dragões são a corrupção, a falsidade, o “faz de conta” (a hipocrisia), a mentira, a idolatria, o consumismo, o individualismo, o egoísmo, a sede de fama, a ganância de poder, o hedonismo, o materialismo, os vícios, e o sucesso a todo custo! A figura do “dragão destruidor” pode corresponder ainda, à cultura da indiferença, da lei do mais forte! O mal assume forma, organização, gerando uma “pseudo-cultura” (mentalidade, criminalidade sistêmica, organizada)... Os bons devem se unir, fazer frente à indiferença, desencadear processos de mudanças saudáveis, desconstruir a aliciante cultura da morte (ideologias)!  Se existe a crescente e criativa criminalidade organizada, por que não promovermos sempre mais a organização de pessoas na promoção do Bem, em forma de Rede?
2) Em nossa sociedade também há muitas “mulheres grávidas” (pessoas boas, “homens de boa vontade”, instituições que promovem a dignidade humana) que são perseguidas porque trazem no seu ventre boas idéias, valores, ideais nobres, projetos de transformação que desencadeiam processos de transformação positiva; isso incomoda, porque estimula mudanças profundas nas pessoas e na sociedade. São perseguidos! Apesar da perseguição é necessário manter a gravidez, dar à Luz tudo aquilo que é bom que se materializa em saudáveis iniciativas e projetos.
3) A fuga para o deserto representa a experiência da comunhão com Deus. Quem quer dar à Luz boas coisas (iniciativas, sonhos, projetos...) deve buscar em Deus a força para preservar seus bons ideais. Sem mística quem luta contra os males do mundo, logo se cansa e acaba abandonando tudo.

Salmo 45 (44)
Este salmo é um lindo poema de elogio a um rei (cf. Sl 45,2) em sua nobre função de ser defensor da verdade e promotor da justiça. Verdade e justiça não se separam. No poema o autor descreve qual é a função do rei: abençoado por Deus (os reis eram ungidos) deve lutar pela causa da verdade, da pobreza e da justiça (cf. Sl 45,3-5). Nesse nobre ideal e missão deve permanecer porque ama a justiça e odeia a injustiça (cf. Sl 45,7-8). E assim e por isso, recebe reconhecimentos e honras (cf. Sl 45,9-18).

2ª leitura: 1 Cor. 15, 20-27ª
Na Ressurreição de Jesus cristo está a nossa esperança
No capítulo 15 da primeira carta aos Coríntios, Paulo nos apresenta a doutrina da Ressurreição. Na Ressurreição de Jesus Cristo está a fonte da nossa esperança. Também nós participamos dessa mesma experiência a fim de que se conclua em nós, o projeto do Pai e após nossa morte terrena vivenciaremos a nossa plenitude. Neste texto Paulo nos apresenta Jesus Cristo “como primícias dos que morreram” (cf. 1 Cor 15, 20.23). O termo “primícia”, de origem agrícola, nos faz pensar nos primeiros frutos colhidos de uma lavoura, depois, a seu tempo, vem a colheita (o fim da história). Aplicado a Jesus Cristo significa que, sendo Ele Ressuscitado as primícias, logo também nós participaremos dessa glória depois. O objetivo de tudo é a maior glória de Deus (cf. 1Cor. 15,25), “pois é preciso que Ele Reine”... essa é a sua natureza, o seu ser.  O seu absoluto reinado implica necessariamente a submissão a si, tudo aquilo que lhe é contrário.
Nossa vida
A esperança da nossa Ressurreição certa da parte de Jesus Cristo, deveria ser para nós, todos dias, uma contínua fonte de alimento da nossa dinâmica e criativa serenidade e otimismo. Muitas vezes, olhamos pouco para o nosso fim glorioso (chamado, vontade de Deus) e acabamos nos atrapalhando demais nos meandros das circunstâncias (ou meios) terrenas. O grande mal acontece quando nos contradizemos apostando num fim glorioso, mas nos apegamos em experiências ou atitudes negativas portadoras de pessimismo, escravidão e morte. O tema da Ressurreição com a festa da Assunção tem tudo a ver! A festa da assunção é a celebração da certeza que tudo aquilo que Deus projetou para cada um de nós, em Maria isso já aconteceu. Para nós é sinal de esperança. A festa da assunção de Maria é já a celebração dessa realidade para ela. Por isso dizemos que Maria é aquilo que nós seremos. Como compromisso dessa esperança, devemos nos esforçar para ser o que Ela foi (aberta, solidária, perseverante, serviçal, profética...).
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Evangelho: Lc. 1,39-56
Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo segundo Lucas.
1 39 Naqueles dias, Maria se levantou e foi às pressas às montanhas, a uma cidade de Judá.
40 Entrou em casa de Zacarias e saudou Isabel.
41 Ora, apenas Isabel ouviu a saudação de Maria, a criança estremeceu no seu seio; e Isabel ficou cheia do Espírito Santo.
42 E exclamou em alta voz: “Bendita és tu entre as mulheres e bendito é o fruto do teu ventre.
43 Donde me vem esta honra de vir a mim a mãe de meu Senhor?
44 Pois assim que a voz de tua saudação chegou aos meus ouvidos, a criança estremeceu de alegria no meu seio.
45 Bem-aventurada és tu que creste, pois se hão de cumprir as coisas que da parte do Senhor te foram ditas!”
46 E Maria disse: “Minha alma glorifica ao Senhor,
47 meu espírito exulta de alegria em Deus, meu Salvador,
48 porque olhou para sua pobre serva. Por isto, desde agora, me proclamarão bem-aventurada todas as gerações,
49 porque realizou em mim maravilhas aquele que é poderoso e cujo nome é Santo.
50 Sua misericórdia se estende, de geração em geração, sobre os que o temem.
51 Manifestou o poder do seu braço: desconcertou os corações dos soberbos.
52 Derrubou do trono os poderosos e exaltou os humildes.
53 Saciou de bens os indigentes e despediu de mãos vazias os ricos.
54 Acolheu a Israel, seu servo, lembrado da sua misericórdia,
55 conforme prometera a nossos pais, em favor de Abraão e sua posteridade, para sempre.
56 Maria ficou com Isabel cerca de três meses. Depois voltou para casa”.
Palavra da Salvação.
A grandeza reconhecida: Maria e Deus
O texto se compõe de duas partes: a primeira realça a atitude de Maria frente à necessidade de sua prima Isabel e a segunda é o cântico de Maria. Maria parte para a região montanhosa dirigindo-se apressadamente à casa da sua prima Isabel, grávida de seis meses e idosa! Maria tinha consciência de ser a Mãe do Messias, o Salvador da Humanidade, mas assume uma postura de serva dos necessitados. Por isso tem pressa de fazer o bem à Isabel; vai logo, rápido, não enrola! Maria nos ensina que para fazer o Bem devemos ser rápidos, apressados, dinâmicos, decididos! Mas esse bem tem um custo. Maria faz sacrifícios: submete-se ao forte sol, à poeira, atravessa um deserto, sobe montes... O bem nos custa e somente quem é capaz de abraçá-lo com suas conseqüências merece digno aplauso. No encontro das duas mães (Isabel e Maria, ambas grávidas) a criança (João Batista) alegrou-se no ventre sua mãe – “a criança pulou de alegria mo meu ventre” (Lc 1,41.44). Isabel reconhece a grandeza de Maria por ser a mãe Jesus. Maria, em sua gravidez, leva consigo a Santíssima Trindade e por isso é também portadora do Espírito Santo pois nesse encontro “Isabel ficou cheia do Espiro Santo” (Lc. 1,41b, 43). A segunda parte do texto é cântico de Maria, conhecido como magnificat, por ser uma oração magnífica, profunda nos seu conteúdo e reveladora de um brilhante perfil de Fé de Maria. O cântico de Maria está em profunda sintonia com a sincera oração dos pobres, daqueles que depositavam sua esperança só em Deus, que conservavam em seu coração a expectativa de ver o Messias como fez o velho Simeão (cf. Lc. 2,25-29). Alguns aspectos ressaltamos nesta bonita oração de Maria: a) O primeiro é o ato de louvor a Deus manifestando sua convicção de que tudo o que lhe aconteceu é Dom de Deus (Graça!) e não mérito seu. “A minha alma engrandece o Senhor e meu Espírito se alegra em Deus meu Salvador” (Lc. 1,46) porque Deus “olhou”, “mostrou”, “fez”, “estendeu”, “dispersou”, “derrubou”, “encheu”, “socorreu”... Deus é o grande protagonista da sua vida e da história. Deus faz maravilhas surpreendentes! Esse reconhecimento dos feitos divinos em sua vida pessoal e ao longo da história é uma convicção Mariana. b) O segundo é a importância dada à ação de Deus em favor dos pobres em detrimento dos ricos (egoístas), soberbos, orgulhosos, poderosos... Deus é o senhor da história e seguindo os critérios evangélicos “quem se humilha será elevado e quem se eleva será humilhado” (Mt. 23,12).
Nossa vida
O que Maria foi ontem, somos chamados a ser hoje: decididos na promoção do bem, sensíveis aos necessitados, capazes de experiências de solidariedade e capazes de pagar o preço necessário, pois fazer o bem tem um preço! Sensibilidade para com os mais necessitados! Maria reconhece os dons divinos em sua vida pessoal, bem como as intervenções de Deus na história. Maria é a mestra da solidariedade, pois é capaz de romper com a sua comodidade, com seu bem-estar pessoal e lança-se a caminho indo ao encontro daquela que necessitava da sua ajuda. Maria serve sua prima Izabel, mulher necessitada, representante de todos os necessitados. A relação parental entre Maria e Isabel é significativa pois nos ensina que devemos começar a servir os necessitados que estão mais próximos de nós, que  muitas vezes, são nossos próprios parentes ou aqueles com os quais cotidianamente convivemos. Outra mensagem significativa é quanto ao otimismo de Maria diante da história reconhecendo nela a intervenção da mão divina. Às vezes, somos pessimistas e não somos capazes de reconhecer os dons que recebemos de Deus em nossa vida pessoal e na nossa história contemporânea. Maria tem uma visão otimista da história: tem fé e sabe que Deus é o protagonista apesar do barulho dos promotores da maldade.
 
 
 
 
Antônio de Assis Ribeiro - SDB (padre Bira)

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