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contracepção no casamento leva à “contracepção na comunhão”: ambos os
sacramentos podem ser profanados e tornar-se igualmente infrutíferos.
Por Robert B. Greving |
É um enigma:
por que tantos católicos recebem a Eucaristia — que é a fonte de toda
graça e o sinal de comunhão com a Igreja Católica — e ainda apoiam e
praticam a contracepção, o aborto e relações antinaturais como o
"casamento" homossexual, coisas que estão todas em oposição direta com
os ensinamentos da Igreja? Como pode existir uma incoerência tão grande?
Essa divisão entre a Comunhão eucarística e os seus frutos na vida
pública pode estar acontecendo devido a uma separação, em muitos
católicos, da "comunhão" conjugal e dos seus frutos na vida privada,
isto é, dentro do casamento. Dizendo de modo mais claro,
a contracepção no casamento leva à "contracepção na comunhão": ambos os sacramentos podem ser profanados e tornar-se igualmente infrutíferos.
Em vários lugares Nosso Senhor traça paralelos entre o Matrimônio e o
nosso relacionamento com Ele. Sob essa perspectiva, além de ser um
sacramento, o casamento existe para mostrar-nos como deveria ser o nosso
relacionamento com Jesus: uma relação de abertura e de compromisso
exclusivo e total. Se comparamos o que acontece a um casal que faz uso
de métodos contraceptivos, com o que acontece a um católico que comunga
nessas condições, chegamos a uma conclusão bem interessante.
A participação na Eucaristia através da Comunhão e as relações
conjugais existem ambas para ser atos que geram vida, atos fecundos. Ambas envolvem grandes riscos e exigem grande fé das pessoas envolvidas. Em ambas, deve haver uma comunhão de carne (cf. Mc 10, 8; Jo
6, 53s). Conta-se que G. K. Chesterton tinha o momento da Comunhão em
tão alta conta, que chegava mesmo a suar quando entrava na fila para
comungar.
Santo Tomás de Aquino ensina que, mesmo havendo uma quantidade de
graça infinita nos sacramentos, isso não significa que as pessoas recebam uma quantidade infinita
de graça. A quantidade de graça que alguém recebe depende da
preparação, da disposição, da atenção e da ação de graças com que a
pessoa se aproxima do sacramento. Uma disposição essencial que deveria
estar presente, tanto no Matrimônio quanto na Comunhão, é a de abertura e
de auto-entrega. Trata-se de um ato de fé no esposo que se recebe.
Nosso Senhor faz isso na Eucaristia. Assim como entregou o seu corpo
por nós na Cruz, Cristo está entregando o seu corpo a nós na Eucaristia,
sem reservas, sem o pedir de volta, querendo, mais do que podemos
imaginar, que emerja a Vida desse encontro.
O casal aberto à vida no ato conjugal sabe que está entregando o
controle sobre suas vidas. Eles estão fazendo a maior aposta natural que
existe. Crianças mudam vidas (para usar uma expressão leve). Elas
roubam seus planos, sua agenda, suas metas. Reviram por completo o modo
como você lida com o mundo. Tornam você materialmente mais pobre. Nos
supermercados e nas festas, rendem-lhe olhares surpresos e talvez até
maldosos. Ter mais de 2 filhos nos dias de hoje torna aberta a temporada
de comentários sarcásticos e de sobrancelhas arqueadas.
O mesmo acontece, porém, com qualquer um que leve uma vida em Cristo.
Ambas as coisas aterrorizam e impõem medo. Mas ambas, também, constituem a nossa maior felicidade.
Nossa oração antes, seja do ato conjugal seja da recepção da comunhão,
deveria ser: "Tornai-me aberto, Senhor, para a vida que Vós desejais que
venha dessa união."
Mas não é assim com o casal que usa métodos anticoncepcionais. Na
melhor das hipóteses, o que eles estão dizendo é: "Eu te amo; eu quero
ser
um contigo; eu quero dar-me a ti e quero que te dês a mim,
mas…". Mas o quê? "Mas eu não quero que venha nada disso. Eu não quero a
vida que é fruto natural do ato. Eu quero a aparência de união, mas não
o risco. Eu quero o show da entrega e do compromisso, mas não a
prova". Em muitos casos, o que está implícito não é "Eu quero dar-me a
ti e que te dês a mim", mas sim "Eu quero ser saciado". E isso é o
oposto da auto-entrega: é ser calculista.
Outra forma de ver esse problema é a partir do que disse Nosso Senhor:
"O que quer que façais ao menor dos meus irmãos, foi a mim que o
fizestes" (
Mt 25, 40). Se isso é verdade em relação ao menor entre nós,
como estamos tratando o Senhor presente em nosso cônjuge? Se agimos
diretamente para tornar estéril a união conjugal, não estamos tornando
estéril também, em certo sentido, nossa união com o Senhor? Católicos
que usam contraceptivos e ainda assim recebem a Comunhão podem até amar
nosso Senhor e desejar estar com Ele. Trata-se de um amor, todavia, que
vem sempre com um "mas". "Mas não o suficiente para obedecer a
Ti nos ensinamentos da Tua Igreja; não o suficiente para dar a Ti o
controle sobre o meu corpo e sobre os frutos dos meus atos."
Peter Kreeft apontou, em certa ocasião, a zombaria diabólica do mantra
abortista, que perverte as palavras de Nosso Senhor quando defende o
aborto dizendo: "Esse é o
meu corpo". Guardadas as devidas proporções, é isso o que diz
um católico que usa anticoncepcionais. A resistência aberta ainda está
ali, conscientemente ou não: "Esse é o meu corpo".
Isso se aplica igualmente aos homens. Eles não podem
livrar-se da culpa que têm dizendo: "É ela quem quer". Pôncio Pilatos
tentou lavar as mãos pela morte de Nosso Senhor usando a mesma desculpa.
Não funcionou para ele.
A Igreja é o
corpo de Cristo. Os seus ensinamentos são os ensinamentos de Cristo. Se alguém não acredita nisso, então está simplesmente fazendo uma encenação na Missa, um teatro.
Como católicos, nós acreditamos que corpo e alma estão verdadeiramente
unidos um ao outro, ainda que de modo misterioso. Acreditamos na
ressurreição da carne. Usar anticoncepcionais e receber a Comunhão é
erguer uma barreira não só ao esposo do seu corpo, mas também ao esposo
da sua alma.
Imagine um casal em que a esposa, aberta à vida, descobrisse que o
marido, por conta própria e sabendo que contrariava os desejos de sua
mulher, tivesse feito uma vasectomia… Quão devastada não se sentiria
essa mulher! Pois bem, o mesmo acontece quando um católico que usa
anticoncepcionais recebe a Comunhão… Quão ferido fica Nosso Senhor! Ao
não receberem toda a graça que poderiam, toda a graça que Ele morreu
para nos dar, esses católicos vivem vidas truncadas, divididas,
mutiladas. Não surpreende, depois, que as mesmas pessoas não vejam
problema nenhum em apoiar — conscientes ou não — o aborto, a perversão
do casamento e a destruição da família.
Elas tornaram estéreis, afinal, tanto a vida de sua família quanto a sua vida de fé.
A vida da Igreja, física e espiritualmente, depende da fecundidade das
famílias católicas. A fecundidade de nossas famílias depende da
fecundidade de nossas Comunhões. As duas coisas não podem andar
separadas. Como diz Nosso Senhor, "não separe o homem o que Deus uniu".
Fonte: Crisis Magazine | Tradução: Equipe Christo Nihil Praeponere
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