A liturgia deste domingo ensina-nos que Deus tem um
“fraco” pelos humildes e pelos pobres, pelos marginalizados; e que são estes,
no seu despojamento, na sua humildade, na sua finitude (e até no seu pecado),
que estão mais perto da salvação, pois são os mais disponíveis para acolher o
dom de Deus.
A primeira leitura define Deus como um
“juiz justo”, que não se deixa subornar pelas ofertas desses poderosos que
praticam injustiças na comunidade; em contrapartida, esse Deus justo ama os
humildes e escuta as suas súplicas.
O Evangelho define a atitude correta que
o crente deve assumir diante de Deus.
Recusa a atitude dos orgulhosos e auto-suficientes,
convencidos de que a salvação é o resultado natural dos seus méritos; e propõe
a atitude humilde de um pecador, que se apresenta diante de Deus de mãos
vazias, mas disposto a acolher o dom de Deus.
É essa atitude de “pobre” que Lucas propõe aos
crentes do seu tempo e de todos os tempos.
Na segunda leitura, temos um convite a viver o
caminho cristão com entusiasmo, com entrega, com ânimo – a exemplo de Paulo. A
leitura foge, um pouco, ao tema geral deste domingo; contudo, podemos dizer que
Paulo foi um bom exemplo dessa atitude que o Evangelho propõe: ele confiou, não
nos seus méritos, mas na misericórdia de Deus, que justifica e salva todos os
homens que a acolhem.
1º leitura – Sir 35,15b-17.20-22ª -
AMBIENTE
O livro de Ben Sira foi escrito nos inícios do séc.
II a.C. (entre 195 e 171 a.C.), numa altura em que os selêucidas dominavam a
Palestina e a cultura helênica – cada vez mais onipresente – colocava em risco
a cultura, a fé e os valores judaicos. O autor do livro (Jesus Ben Sira),
preocupado porque muitos dos seus concidadãos se deixavam seduzir pelos valores
estrangeiros e negavam as raízes do seu Povo, escreve para defender o
patrimônio cultural e religioso do judaísmo, a sua concepção de Deus, do mundo,
da eleição e da aliança. Procura convencer os seus compatriotas de que Israel
possui na sua “Torah”, revelada por Deus, a verdadeira “sabedoria” – uma
“sabedoria” muito superior à “sabedoria” grega.
O texto que nos é proposto insere-se num pacote de
sentenças em que Jesus Bem Sira procura apontar aos seus concidadãos o caminho
da verdadeira “sabedoria” (cf. Ben Sira 34,21-35,26). Esse “caminho” passa pela
prática de uma “religião verdadeira”, isto é, pelo cumprimento rigoroso dos
mandamentos da “Torah”, nomeadamente no que diz respeito à vivência da justiça
comunitária e ao respeito pelos direitos dos mais pobres… Nestas sentenças,
Jesus Ben Sira avisa que Deus não pode ser comprado com atos de culto, por
parte daqueles que praticam a injustiça e que escravizam os irmãos. O apelo do
autor vai, portanto, no sentido de que sejam cumpridos os mandamentos da Lei e
sejam respeitados os direitos dos pobres e dos débeis. É essa a verdadeira
religião que Deus exige do homem. Aqueles que pretendem ser sábios não podem
cometer injustiças de manhã e à tarde aparecer no Templo a afirmar a sua fé e a
sua comunhão com Deus, através da oferta de vultuosos sacrifícios de animais.
Isso seria, praticamente, comprar Deus e fazer dele cúmplice da injustiça… E
Deus não aceita esse esquema.
MENSAGEM
Deus é, então, um juiz justo (é daqui que parte o
nosso texto), que não faz acepção de pessoas, que não aceita ser cúmplice dos
opressores, que não se deixa subornar pelos presentes dos ricos e não desiste
de fazer justiça aos pobres (são explicitamente nomeados os órfãos e as viúvas
– as duas figuras paradigmáticas dos desprotegidos, que só tinham Deus para os
defender da prepotência dos grandes).
Por outro lado, Jesus Ben Sira insiste em que Deus
escuta sempre as preces dos débeis e que está atento aos gritos de revolta
daqueles que são vítimas da injustiça.
Assim, os humildes que sofrem a opressão e a
prepotência dos poderosos são convidados a apresentar a Deus as suas queixas,
até que Ele restabeleça o direito e a justiça.
ATUALIZAÇÃO
¨ Este texto põe, antes de mais, o problema do que
é fundamental na experiência religiosa… Sugere que a “verdadeira religião” não
passa pelos ritos, mas por uma vida verdadeiramente comprometida com os
mandamentos, nomeadamente com o mandamento do amor aos irmãos… Não é verdadeira
a religião daqueles que pagam as festas da paróquia, mas não pagam justamente
aos seus operários; não é verdadeira a religião daqueles que ao domingo
depositam na bandeja do
peditório algumas notas gordas, mas não respeitam a
dignidade e a liberdade dos outros; não é verdadeira a religião daqueles que
fazem “promessas”, para que Deus os ajude a concluir com êxito um negócio
duvidoso em que alguém vai sair prejudicado… Uma religião desligada da vida é uma
religião falsa, incoerente, hipócrita, com a qual Deus não quer ter nada a ver…
¨ O texto revela também, uma vez mais, que o nosso
Deus tem um fraco pelos pobres, pelos débeis, pelos oprimidos, por aqueles que
o mundo considera “vencidos” e sem peso. Atenção: Deus ama-os e não deixa
passar em claro qualquer injustiça cometida contra eles ou qualquer
comportamento que viole a sua dignidade. E os crentes, “filhos de Deus”, são
convidados a atuar com a mesma lógica de Deus… Sou, como Deus, sensível ao apelo
dos pobres, vítimas da injustiça, da segregação, da exclusão? Luto, com
coerência, contra tudo o que gera morte, infelicidade, exploração, injustiça,
miséria? Aqueles que não encontram lugar na mesa dos privilegiados deste mundo
encontram, através de mim, o rosto misericordioso e bondoso do Deus que os ama?
¨ A oração do pobre e do desvalido chega sempre aos
ouvidos de Deus… Deus não vira, nunca, as costas a quem chama por Ele e vê
n’Ele a esperança e a salvação.
Isto é algo que eu devo ter sempre presente,
nomeadamente nos momentos mais dramáticos da minha existência, quando tudo cai
à minha volta. A Palavra de Deus que hoje nos é oferecida garante-nos: Deus
escuta a oração do pobre (e, no contexto bíblico, dizer que “escuta” significa
dizer que Ele se prepara para intervir e para trazer àquele que sofre a
libertação e a vida).
2º leitura – 2Tim. 4,6-8.16-18 -
AMBIENTE
Mais uma vez a liturgia traz-nos um texto da
Segunda Carta a Timóteo. Embora atribuída a Paulo, trata-se (como, aliás, já
vimos nos domingos anteriores) de uma carta escrita por um autor desconhecido,
em finais do séc. I ou princípios do séc. II.
Para os crentes da segunda geração cristã, é uma
época de perseguições, de divisões, de heresias e, portanto, de confusão e de
desânimo. Nesse contexto, um cristão anônimo, usando o nome de Paulo, escreveu
a pedir aos seus irmãos na fé que se mantivessem fiéis à missão que Deus lhes
confiou. O seu objetivo era revitalizar a fé e o entusiasmo dos crentes.
MENSAGEM
O autor da carta apresenta-se na pele de Paulo,
prisioneiro em Roma; e nessa pele, faz um balanço final da sua vida e da sua
entrega ao serviço do Evangelho.
A vida de Paulo foi, desde o seu encontro com
Cristo ressuscitado na estrada de Damasco, uma resposta generosa ao chamamento
e um compromisso total com o Evangelho. Por Cristo e pelo Evangelho, Paulo
lutou, sofreu, gastou e desgastou a sua vida, num dom total, para que a
salvação de Deus chegasse a todos os povos da terra. No final, ele sente-se
como um atleta que lutou até ao fim para vencer e está satisfeito com a sua
prestação. Resta-lhe receber essa coroa de glória, reservada aos atletas
vencedores (e que Paulo sabe não estar reservada apenas a ele, mas também a
todos aqueles que lutam com o mesmo denodo e o mesmo entusiasmo pela causa do
“Reino”).
Para definir a sua vida como dom total a Deus e aos
irmãos, Paulo utiliza aqui uma imagem bem sugestiva: a imagem da vítima imolada
em sacrifício. Paulo fez da sua vida um dom total, ao serviço do Evangelho; a
sua entrega foi um sacrifício cultual a Deus. Agora, para que o sacrifício seja
total, só resta coroar a sua entrega com o dom
do seu sangue… A referência à oferta “em libação”
faz referência aos sacrifícios em que se vertia o vinho sobre o altar,
imediatamente antes de ser imolada a vítima sacrificial.
Há duas maneiras de dar a vida por Cristo: uma é
gastá-la dia a dia na tarefa de levar a libertação que Cristo veio propor a
todos os povos da terra; outra é derramar, de uma vez, o sangue por causa da fé
e do testemunho de Cristo… Paulo conheceu as duas modalidades; imitar Paulo é
um desafio que o autor da Carta a Timóteo faz aos discípulos do seu tempo e de
todos os tempos.
Na segunda parte do nosso texto (vs. 16-18), o
autor desta carta põe na boca de Paulo o lamento desiludido de um homem cansado
que, apesar de ter oferecido a sua vida como dom aos irmãos se sente, no final,
votado ao abandono e à solidão… Mas, apesar de tudo, Paulo tem consciência de
que Deus esteve a seu lado ao longo da sua caminhada, lhe deu a força de enfrentar
as dificuldades, o livrou de todo o mal e lhe dará, no final da caminhada, a
vida definitiva. Daí o louvor com que Paulo termina: “glória a Ele pelos
séculos sem fim. Amen”. É esta a atitude que o autor da carta pede aos seus
irmãos: apesar do desânimo, do sofrimento, da tribulação, descubram a presença
de Deus, confiem na sua força, mantenham-se fiéis ao Evangelho: assim
recebereis, sem dúvida, a salvação definitiva que Deus reserva a quem combateu
o bom combate da fé.
ATUALIZAÇÃO
¨ Paulo foi uma das figuras que marcou, de forma
decisiva, a história do
cristianismo. Ao olharmos para o seu exemplo,
impressiona-nos como o encontro com Cristo marcou a sua vida de forma tão
decisiva; espanta-nos como ele se identificou totalmente com Cristo;
interpela-nos a forma entusiasmada e convicta como ele anunciou o Evangelho em
todo o mundo antigo, sem nunca vacilar perante as dificuldades, os perigos, a
tortura, a prisão, a morte; questiona-nos a forma como ele quis viver ao jeito
de Cristo, num dom total aos irmãos, ao serviço da libertação de todos os
homens. Paulo é, verdadeiramente, um modelo e um testemunho que deve
interpelar, desafiar e inspirar cada crente.
¨ O caminho que Paulo percorreu continua a não ser
um caminho fácil. Hoje, como ontem, descobrir Jesus e viver de forma coerente o
compromisso cristão implica percorrer um caminho de renúncia a valores a que os
homens dos nossos dias dão uma importância fundamental; implica ser
incompreendido e, algumas vezes, maltratado; implica ser olhado com desconfiança
e, algumas vezes, com comiseração… Contudo, à luz do testemunho de Paulo, o
caminho cristão vivido com radicalidade é um caminho que vale a pena, pois
conduz à vida plena.
Concordo? É este o caminho que eu me esforço por
percorrer?
¨ Convém ter sempre presente esse dado fundamental
que deu sentido às apostas de Paulo: aquele que escolhe Cristo não está só,
ainda que tenha sido abandonado e traído por amigos e conhecidos; o Senhor está
a seu lado, dá-lhe força, anima-o e livra-o de todo o mal. Animados por esta
certeza, temos medo de quê?
Evangelho – Lc. 18,9-14 - AMBIENTE
— PROCLAMAÇÃO do Evangelho de Jesus Cristo + segundo Lucas.
— Glória a vós, Senhor.
Naquele tempo, 9Jesus contou esta parábola para alguns que confiavam na sua própria justiça e desprezavam os outros: 10“Dois homens subiram ao Templo para rezar: um era fariseu, o outro cobrador de impostos.
11O
fariseu, de pé, rezava assim em seu íntimo: ‘Ó Deus, eu te agradeço
porque não sou como os outros homens, ladrões, desonestos, adúlteros,
nem como este cobrador de impostos. 12Eu jejuo duas vezes por semana, e dou o dízimo de toda a minha renda’.
13O
cobrador de impostos, porém, ficou a distância, e nem se atrevia a
levantar os olhos para o céu; mas batia no peito, dizendo: ‘Meu Deus,
tem piedade de mim que sou pecador!’
14Eu
vos digo: este último voltou para casa justificado, o outro não. Pois
quem se eleva será humilhado, e quem se humilha será elevado”.
Mais uma vez, Lucas coloca-nos no “caminho de
Jerusalém”, para nos deixar uma lição sobre o “Reino”. Desta vez, Jesus propõe
uma parábola “para alguns que se consideravam justos e desprezavam os outros”.
Os protagonistas da história são um fariseu e um publicano.
Os “fariseus” formavam um dos grupos mais
interessantes e com mais impacto na sociedade palestina do tempo de Jesus.
Descendentes desses “piedosos” (“hassidim”) que apoiaram o heróico Matatias na
luta contra Antíoco IV Epifanes e a helenização forçada, eram os defensores
intransigentes da “Torah” (quer da “Torah” escrita, quer da “Torah” oral – isto
é, dos preceitos não escritos, mas que os fariseus tinham deduzido da “Torah”
escrita); no dia a dia, procuravam cumprir escrupulosamente a Lei e
esforçavam-se por ensinar a Lei ao Povo: só assim – pensavam eles – o Povo
chegaria a ser santo e o Messias poderia vir trazer a salvação a Israel.
Tratava-se de um grupo sério, verdadeiramente empenhado na santificação do Povo
de Deus. No entanto, o seu fundamentalismo em relação à “Torah” será, várias
vezes, criticado por Jesus: ao afirmarem a superioridade da Lei, desprezavam
muitas vezes o homem e criavam no Povo um sentimento latente de pecado e de
indignidade que oprimia as consciências.
Os “publicanos” estavam ligados à cobrança dos
impostos, ao serviço das forças romanas de ocupação. Tinham fama de utilizar o
seu cargo para enriquecer de modo imoral; e é preciso dizer que, na
generalidade, essa fama era bem merecida. De acordo com a Mishna, estavam
afetados permanentemente de impureza e não podiam sequer fazer penitência, pois
eram incapazes de conhecer todos aqueles a quem tinham defraudado e a quem
deviam uma reparação. Se um publicano, antes de aceitar o cargo, fazia parte de
uma comunidade farisaica, era imediatamente expulso dela e não podia ser
reabilitado, a não ser depois de abandonar esse cargo. Quem exercia tal ofício,
estava privado de certos direitos cívicos, políticos e religiosos; por exemplo,
não podia ser juiz nem prestar testemunho em tribunal, sendo equiparado ao
escravo.
MENSAGEM
No fariseu e no publicano da parábola, Lucas põe em
confronto dois tipos de atitude face a Deus.
O fariseu é o modelo de um homem irrepreensível face
à Lei, que cumpre todas as regras e leva uma vida íntegra. Ele está consciente
de que ninguém o pode acusar de cometer ações injustas, nem contra Deus, nem
contra os irmãos (e, aparentemente, é verdade, pois a parábola não nos diz que
ele estivesse a mentir). Evidentemente, está contente (e tinha razões para
isso) por não ser como esse publicano que também está no Templo: os fariseus
tinham consciência da sua superioridade moral e religiosa, sobretudo em relação
aos pecadores notórios (como é o caso deste publicano).
O publicano é o modelo do pecador. Explora os
pobres, pratica injustiças, trafica com a miséria e não cumpre as obras da Lei.
Ele tem, aliás, consciência da sua indignidade, pois a sua oração consiste
apenas em pedir: “meu Deus, tende compaixão de mim que sou pecador”.
O comentário final de Jesus sugere que o publicano
se reconciliou com Deus (a expressão utilizada é “desceu justificado para sua
casa” – o que nos leva à doutrina paulina da justificação: apesar de o homem
viver mergulhado no pecado, Deus, na sua misericórdia infinita e sem que o
homem tenha méritos, salva-o). Porquê?
O problema do fariseu é que pensa ganhar a salvação
com o seu próprio esforço. Para ele, a salvação não é um dom de Deus, mas uma
conquista do homem; se o homem levar uma vida irrepreensível, Deus não terá
outro remédio senão salvá-lo. Ele está convencido de que Deus lhe deve a
salvação pelo seu bom comportamento, como se Deus fosse apenas um contabilista
que toma nota das ações do homem e, no fim, lhe paga em consequência. Ele está
cheio de auto-suficiência: não espera nada de Deus, pois – pensa ele – os seus
créditos são suficientes para se salvar. Por outro lado, essa auto-suficiência
leva-o, também, ao desprezo por aqueles que não são como ele; considera-se “à parte”,
“separado”, como se entre ele e o pecador existisse uma barreira… É meio
caminho andado para, em nome de Deus, criar segregação e exclusão: é aí que
leva a religião dos “méritos”.
O publicano, ao contrário, apoia-se apenas em Deus
e não nos seus méritos (que, aliás, não existem). Ele apresenta-se diante de
Deus de mãos vazias e sem quaisquer pretensões; entrega-se apenas nas mãos de
Deus e pede-lhe compaixão… E Deus “justifica-o” – isto é, derrama sobre ele a
sua graça e salva-o – precisamente porque ele não tem o coração cheio de
auto-suficiência e está disposto a aceitar a salvação que Deus quer oferecer a
todos os homens.
Esta parábola, destinada a “alguns que se
consideravam justos e desprezavam os outros”, sugere que esses que se presumem
de justos estão, às vezes, muito longe de Deus e da salvação.
ATUALIZAÇÃO
Este texto coloca, fundamentalmente, o problema da
atitude do homem face a Deus. Desautoriza completamente aqueles que se
apresentam diante de Deus carregados de auto-suficiência, convencidos da sua
“bondade”, muito certos dos seus méritos, como se pudessem ser eles a exigir
algo de Deus e a ditar-lhe as suas condições; propõe, em contrapartida, uma
atitude de reconhecimento humilde dos próprios limites, uma confiança absoluta
na misericórdia de Deus e uma entrega confiada nas mãos de Deus. É esta segunda
atitude que somos convidados a assumir.
Este texto coloca, também, a questão da imagem de
Deus… Diz-nos que Deus não é um contabilista, uma simples máquina de
recompensas e de castigos, mas que é o Deus da bondade, do amor, da
misericórdia, sempre disposto a derramar sobre o homem a salvação (mesmo que o
homem não mereça) como puro dom. A única condição para “ser justificado” é
aceitar humildemente a oferta de salvação que Ele faz.
A atitude de orgulho e de auto-suficiência, a
certeza de possuir qualidades e méritos em abundância, acaba por gerar o
desprezo pelos irmãos. Então, criam-se barreiras de separação (de um lado
os “bons”, de outro os “maus”), que provocam segregação e exclusão… Isto
acontece com alguma frequência nas nossas comunidades cristãs (e até em muitas
comunidades religiosas). Como entender isto, à luz da parábola que Jesus hoje
nos propõe?
Nos últimos séculos os homens desenvolveram, a par
de uma consciência muito profunda da sua dignidade, uma consciência muito viva
das suas capacidades. Isto levou-os, com frequência, à presunção da sua
auto-suficiência… O desenvolvimento da tecnologia, da medicina, da química, dos
sistemas políticos convenceram o homem de que podia prescindir de Deus pois,
por si só, podia ser feliz. Onde nos tem conduzido esta presunção? Podemos
chegar à salvação, à felicidade plena, apenas pelos nossos próprios meios?
P. Joaquim Garrido, P. Manuel
Barbosa, P. José Ornelas Carvalho
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