Na Palavra de Deus que hoje nos é proposta, cruzam-se vários temas (a
fé, a salvação, a radicalidade do “caminho do Reino”, etc.); mas
sobressai a reflexão sobre a atitude correcta que o homem deve assumir
face a Deus. As leituras convidam-nos a reconhecer, com humildade, a
nossa pequenez e finitude, a comprometer-nos com o “Reino” sem cálculos
nem exigências, a acolher com gratidão os dons de Deus e a entregar-nos
confiantes nas suas mãos.
Na primeira leitura, o profeta Habacuc interpela Deus, convoca-o para intervir no mundo e para pôr fim à violência, à injustiça, ao pecado… Deus, em resposta, confirma a sua intenção de actuar no mundo, no sentido de destruir a morte e a opressão; mas dá a entender que só o fará quando for o momento oportuno, de acordo com o seu projecto; ao homem, resta confiar e esperar pacientemente o “tempo de Deus”.
O Evangelho convida os discípulos a aderir, com coragem e radicalidade, a esse projecto de vida que, em Jesus, Deus veio oferecer ao homem… A essa adesão chama-se “fé”; e dela depende a instauração do “Reino” no mundo. Os discípulos, comprometidos com a construção do “Reino” devem, no entanto, ter consciência de que não agem por si próprios; eles são, apenas, instrumentos através dos quais Deus realiza a salvação. Resta-lhes cumprir o seu papel com humildade e gratuidade, como “servos que apenas fizeram o que deviam fazer”.
A segunda leitura convida os discípulos a renovar cada dia o seu compromisso com Jesus Cristo e com o “Reino”. De forma especial, o autor exorta os animadores cristãos a que conduzam com fortaleza, com equilíbrio e com amor as comunidades que lhes foram confiadas e a que defendam sempre a verdade do Evangelho.
Na primeira leitura, o profeta Habacuc interpela Deus, convoca-o para intervir no mundo e para pôr fim à violência, à injustiça, ao pecado… Deus, em resposta, confirma a sua intenção de actuar no mundo, no sentido de destruir a morte e a opressão; mas dá a entender que só o fará quando for o momento oportuno, de acordo com o seu projecto; ao homem, resta confiar e esperar pacientemente o “tempo de Deus”.
O Evangelho convida os discípulos a aderir, com coragem e radicalidade, a esse projecto de vida que, em Jesus, Deus veio oferecer ao homem… A essa adesão chama-se “fé”; e dela depende a instauração do “Reino” no mundo. Os discípulos, comprometidos com a construção do “Reino” devem, no entanto, ter consciência de que não agem por si próprios; eles são, apenas, instrumentos através dos quais Deus realiza a salvação. Resta-lhes cumprir o seu papel com humildade e gratuidade, como “servos que apenas fizeram o que deviam fazer”.
A segunda leitura convida os discípulos a renovar cada dia o seu compromisso com Jesus Cristo e com o “Reino”. De forma especial, o autor exorta os animadores cristãos a que conduzam com fortaleza, com equilíbrio e com amor as comunidades que lhes foram confiadas e a que defendam sempre a verdade do Evangelho.
LEITURA I – Hab 1,2-3; 2,2-4
Leitura da Profecia de Habacuc
«Até quando, Senhor, chamarei por Vós
e não Me ouvis?
Até quando clamarei contra a violência
e não me enviais a salvação?
Porque me deixais ver a iniquidade
e contemplar a injustiça?
Diante de mim está a opressão e a violência,
levantam-se contendas e reina a discórdia?»
O Senhor respondeu-me:
«Põe por escrito esta visão
e grava-as em tábuas com toda a clareza,
de modo que a possam ler facilmente.
Embora esta visão só se realize na devida altura,
ela há-de cumprir-se com certeza e não falhará.
Se parece demorar, deves esperá-la,
porque ela há-de vir e não tardará.
Vede como sucumbe aquele que não tem alma recta;
mas o justo viverá pela sua fidelidade».
e não Me ouvis?
Até quando clamarei contra a violência
e não me enviais a salvação?
Porque me deixais ver a iniquidade
e contemplar a injustiça?
Diante de mim está a opressão e a violência,
levantam-se contendas e reina a discórdia?»
O Senhor respondeu-me:
«Põe por escrito esta visão
e grava-as em tábuas com toda a clareza,
de modo que a possam ler facilmente.
Embora esta visão só se realize na devida altura,
ela há-de cumprir-se com certeza e não falhará.
Se parece demorar, deves esperá-la,
porque ela há-de vir e não tardará.
Vede como sucumbe aquele que não tem alma recta;
mas o justo viverá pela sua fidelidade».
AMBIENTE
Sobre a vida e a personalidade de Habacuc, não sabemos nada: o título
do livro não indica o lugar do nascimento do profeta, nem o tempo
histórico em que o profeta viveu. A menção dos “caldeus” (Hab 1,6)
parece situar a proclamação de Habacuc na época em que os babilónios,
depois de desmembrarem o império assírio, procuravam impor o seu domínio
aos povos de Canaan. Estaríamos, pois, nos finais do séc. VII a.C.…
O rei de Judá é, nesta altura, Joaquim (609-598 a.C.). Trata-se de um rei fraco, incompetente, que explora o povo, que deixa aumentar as injustiças e cavar um fosso cada vez maior entre ricos e pobres; além disso, o rei desenvolve uma política aventureirista de alianças com as super-potências da época… Apesar das simpatias pró-egípcias de Joaquim, Judá sente já o peso do imperialismo babilónio e vê-se obrigado a pagar um pesado tributo a Nabucodonosor. Prepara-se a queda de Jerusalém nas mãos dos babilónios, a morte de Joaquim, a deportação do seu filho e sucessor Joaquin (que reinou apenas três meses – cf. 2 Re 24,8) e a partida para o exílio de uma parte significativa da classe dirigente de Judá (primeira deportação: 597 a.C.).
O rei de Judá é, nesta altura, Joaquim (609-598 a.C.). Trata-se de um rei fraco, incompetente, que explora o povo, que deixa aumentar as injustiças e cavar um fosso cada vez maior entre ricos e pobres; além disso, o rei desenvolve uma política aventureirista de alianças com as super-potências da época… Apesar das simpatias pró-egípcias de Joaquim, Judá sente já o peso do imperialismo babilónio e vê-se obrigado a pagar um pesado tributo a Nabucodonosor. Prepara-se a queda de Jerusalém nas mãos dos babilónios, a morte de Joaquim, a deportação do seu filho e sucessor Joaquin (que reinou apenas três meses – cf. 2 Re 24,8) e a partida para o exílio de uma parte significativa da classe dirigente de Judá (primeira deportação: 597 a.C.).
MENSAGEM
O nosso texto começa por expor a queixa do profeta: “até quando,
Senhor, clamarei sem que me escutes? Até quando gritarei ‘violência’,
sem que me salves?” (Hab 1,2)… Habacuc grita a sua impaciência (e a
impaciência do seu Povo), questionando a atitude complacente de Deus
para com o pecado; ele não compreende que Deus contemple, impassível, as
lutas e contendas do seu tempo… Habacuc sente-se interpelado pelo que o
rodeia e não concebe que Deus (esse mesmo Deus que Se manifestou como
libertador e salvador na história do Povo e que Se proclama fiel aos
compromissos que assumiu para com os homens) não ponha fim a tantas
grosseiras violações do seu projecto para o mundo. O profeta não se
limita a escutar a Palavra de Jahwéh e a transmiti-la; mas ele próprio
toma a iniciativa, pergunta a Deus, exige respostas. E, como uma
sentinela vigilante, o profeta fica à espera que Deus Se justifique (cf.
Hab 2,1).
Finalmente, Deus digna-Se responder. A mensagem é de esperança, pois a resposta de Deus deixa claro que Ele não fica indiferente diante do mal que desfeia o mundo e que o momento da vingança divina está para chegar; ao homem, resta esperar com paciência o tempo da acção de Deus (cf. Hab 2,2-5): nessa altura, o orgulhoso e o prepotente receberão o castigo e o justo triunfará.
Em conclusão: diante da injustiça e da opressão, Jahwéh parece, muitas vezes, indiferente e ausente; mas, de acordo com o seu plano (que o homem não conhece em pormenor), Ele encontrará o momento ideal para intervir, para castigar o imperialismo, o orgulho, a injustiça e a opressão.
Finalmente, Deus digna-Se responder. A mensagem é de esperança, pois a resposta de Deus deixa claro que Ele não fica indiferente diante do mal que desfeia o mundo e que o momento da vingança divina está para chegar; ao homem, resta esperar com paciência o tempo da acção de Deus (cf. Hab 2,2-5): nessa altura, o orgulhoso e o prepotente receberão o castigo e o justo triunfará.
Em conclusão: diante da injustiça e da opressão, Jahwéh parece, muitas vezes, indiferente e ausente; mas, de acordo com o seu plano (que o homem não conhece em pormenor), Ele encontrará o momento ideal para intervir, para castigar o imperialismo, o orgulho, a injustiça e a opressão.
ATUALIZAÇÃO
A reflexão e partilha podem fazer-se de acordo com as seguintes linhas:
¨ Com frequência encontramos pessoas que nos questionam acerca da
relação entre Deus, a sua justiça e a situação do mundo: se Deus existe,
como é que Ele pode pactuar com a injustiça e a opressão? Se Deus
existe, porque é que há crianças a morrer de cancro ou de fome? Se Deus
existe, porque é que os bons sofrem e os maus são compensados com
glória, honras e triunfos? Se Deus existe, porquê o sofrimento inocente?
Estas são as questões que, hoje, mais obstaculizam a crença em Deus… A
nossa resposta tem de ser o reconhecimento humilde de que os projectos
de Deus ultrapassam infinitamente a nossa pequenez e finitude e que nós
nunca conseguiremos explicar e abarcar os esquemas de Deus…
¨ Sobretudo, importa perceber que os caminhos de Deus não são iguais
aos nossos. Deus tem o seu próprio ritmo; e o ritmo de Deus não é o
ritmo da nossa impaciência, da nossa correria, do nosso egoísmo, dos
nossos interesses… Do ponto de vista de Deus, as coisas integram-se num
“todo” que nós, na nossa pequenez, não podemos abarcar. Resta-nos
respeitar – mesmo sem entender – o ritmo de Deus.
¨ Além disso, precisamos de aprende
r a confiar em Deus, a entregarmo-nos nas suas mãos, a sentir que Ele é um Pai que nos ama e que, aconteça o que acontecer, está a escrever a história por caminhos direitos (embora os caminhos pelos quais Deus conduz o mundo nos pareçam, tantas vezes, estranhos, misteriosos, enigmáticos, incompreensíveis). Há que confiar na bondade e na magnanimidade desse Deus que nos ama como filhos e que tudo fará, sempre, para nos oferecer vida e felicidade.
r a confiar em Deus, a entregarmo-nos nas suas mãos, a sentir que Ele é um Pai que nos ama e que, aconteça o que acontecer, está a escrever a história por caminhos direitos (embora os caminhos pelos quais Deus conduz o mundo nos pareçam, tantas vezes, estranhos, misteriosos, enigmáticos, incompreensíveis). Há que confiar na bondade e na magnanimidade desse Deus que nos ama como filhos e que tudo fará, sempre, para nos oferecer vida e felicidade.
¨ Mesmo sem entender, a nossa missão é continuar a dar testemunho…
Deus chama-nos a denunciar tudo o que impede a realização plena do
projecto de felicidade que Ele tem para o homem (a injustiça, a
violência, a repressão, o egoísmo, o medo…); mas quanto ao tempo exacto e
aos moldes da intervenção salvadora e libertadora de Deus no mundo e na
história pessoal de cada homem ou mulher, isso só a Deus diz respeito.
SALMO RESPONSORIAL – Salmo 94 (95)
Refrão: Se hoje ouvirdes a voz do Senhor,
não fecheis os vossos corações.
não fecheis os vossos corações.
Vinde, exultemos de alegria no Senhor,
aclamemos a Deus, nosso Salvador.
Vamos à sua presença e dêmos graças,
ao som de cânticos aclamemos o Senhor.
aclamemos a Deus, nosso Salvador.
Vamos à sua presença e dêmos graças,
ao som de cânticos aclamemos o Senhor.
Vinde, prostremo-nos em terra,
adoremos o Senhor que nos criou.
O Senhor é o nosso Deus
e nós o seu povo, as ovelhas do seu rebanho.
adoremos o Senhor que nos criou.
O Senhor é o nosso Deus
e nós o seu povo, as ovelhas do seu rebanho.
Quem dera ouvísseis hoje a sua voz:
«Não endureçais os vossos corações,
como em Meriba, como no dia de Massa no deserto,
onde vossos pais Me tentaram e provocaram,
apesar de terem visto as minhas obras».
«Não endureçais os vossos corações,
como em Meriba, como no dia de Massa no deserto,
onde vossos pais Me tentaram e provocaram,
apesar de terem visto as minhas obras».
LEITURA II – 2 Tim 1,6-8.13-14
Leitura da Segunda Epístola do apóstolo São Paulo a Timóteo
Caríssimo:
Exorto-te a que reanimes o dom de Deus
que recebeste pela imposição das minhas mãos.
Deus não nos deu um espírito de timidez,
mas de fortaleza, de caridade e moderação.
Não te envergonhes de dar testemunho de Nosso Senhor,
nem te envergonhes de mim, seu prisioneiro.
Mas sofre comigo pelo Evangelho,
confiando no poder de Deus.
Toma como norma as sãs palavras que me ouviste,
segundo a fé e a caridade que temos em Jesus Cristo.
Guarda a boa doutrina que nos foi confiada,
com o auxílio do Espírito Santo, que habita em nós.
Exorto-te a que reanimes o dom de Deus
que recebeste pela imposição das minhas mãos.
Deus não nos deu um espírito de timidez,
mas de fortaleza, de caridade e moderação.
Não te envergonhes de dar testemunho de Nosso Senhor,
nem te envergonhes de mim, seu prisioneiro.
Mas sofre comigo pelo Evangelho,
confiando no poder de Deus.
Toma como norma as sãs palavras que me ouviste,
segundo a fé e a caridade que temos em Jesus Cristo.
Guarda a boa doutrina que nos foi confiada,
com o auxílio do Espírito Santo, que habita em nós.
AMBIENTE
A Segunda Carta a Timóteo contém, como a primeira, conselhos
pastorais de Paulo para o seu grande colaborador e sucessor na animação
das Igrejas da Ásia: esse Timóteo que acompanhou Paulo nas suas viagens
missionárias e que, segundo a tradição, foi bispo de Éfeso.
Também aqui, é muito duvidoso que seja Paulo o autor deste texto. Os argumentos são os mesmos que vimos, a propósito da Primeira Carta a Timóteo: linguagem diferente da utilizada habitualmente por Paulo, estilo diferente, doutrinas diferentes e, sobretudo, um contexto eclesial que nos situa mais no final do séc. I ou princípios do séc. II do que na época de Paulo (o grande problema destas cartas já não é o anunciar o Evangelho, mas o “conservar a fé”, frente aos falsos mestres que se infiltram nas comunidades e que ensinam falsas doutrinas).
De qualquer forma, quem escreve a carta (e que se apresenta na pele de Paulo) diz encontrar-se na prisão e pressentir a proximidade da morte. Exorta insistentemente Timóteo a perseverar no ministério e a conservar a sã doutrina. É uma espécie de “testamento”, no qual Timóteo (que aqui representa todos os animadores das comunidades cristãs) é convidado a manter-se fiel ao ministério e à doutrina recebidos dos apóstolos.
Também aqui, é muito duvidoso que seja Paulo o autor deste texto. Os argumentos são os mesmos que vimos, a propósito da Primeira Carta a Timóteo: linguagem diferente da utilizada habitualmente por Paulo, estilo diferente, doutrinas diferentes e, sobretudo, um contexto eclesial que nos situa mais no final do séc. I ou princípios do séc. II do que na época de Paulo (o grande problema destas cartas já não é o anunciar o Evangelho, mas o “conservar a fé”, frente aos falsos mestres que se infiltram nas comunidades e que ensinam falsas doutrinas).
De qualquer forma, quem escreve a carta (e que se apresenta na pele de Paulo) diz encontrar-se na prisão e pressentir a proximidade da morte. Exorta insistentemente Timóteo a perseverar no ministério e a conservar a sã doutrina. É uma espécie de “testamento”, no qual Timóteo (que aqui representa todos os animadores das comunidades cristãs) é convidado a manter-se fiel ao ministério e à doutrina recebidos dos apóstolos.
MENSAGEM
O autor da carta começa por exortar Timóteo (e os animadores das
comunidades cristãs, em geral) a que reanime o carisma que recebeu
quando Paulo e o colégio dos anciãos lhe impuseram as mãos,
consagrando-o para o ministério apostólico (vers. 6-8). É um pedido
lógico: mesmo que a opção de doar a vida a Deus e aos irmãos já tenha
sido tomada, essa decisão fundamental necessita, cada dia, de ser
aprofundada e confirmada… As desilusões, os fracassos, a monotonia, a
fragilidade humana arrefecem o entusiasmo original; e é necessário, a
cada instante, redescobrir o sentido das opções fundamentais que, um
dia, o discípulo fez. Na sequência, são recordadas a Timóteo três das
qualidades fundamentais que devem estar sempre presentes no apóstolo: a
fortaleza frente às dificuldades, o amor que o impulsionará para uma
entrega total a Cristo e aos homens e a prudência (ou moderação)
necessária para a animação e orientação da comunidade.
Na segunda parte do texto que nos é proposto (vers. 13-14), Timóteo é exortado a conservar-se fiel à sã doutrina recebida de Paulo. Estamos – como já dissemos atrás – numa época em que as heresias começam a infiltrar-se na comunidade cristã e a confundir os cristãos. O animador da comunidade tem o dever de ensinar a doutrina verdadeira e de defender a comunidade de tudo aquilo que a afasta da verdade do Evangelho de Jesus, fielmente transmitido pelo testemunho apostólico.
Na segunda parte do texto que nos é proposto (vers. 13-14), Timóteo é exortado a conservar-se fiel à sã doutrina recebida de Paulo. Estamos – como já dissemos atrás – numa época em que as heresias começam a infiltrar-se na comunidade cristã e a confundir os cristãos. O animador da comunidade tem o dever de ensinar a doutrina verdadeira e de defender a comunidade de tudo aquilo que a afasta da verdade do Evangelho de Jesus, fielmente transmitido pelo testemunho apostólico.
ATUALIZAÇÃO
A reflexão e partilha podem partir dos seguintes dados:
¨ A interpelação do autor da Segunda Carta a Timóteo dirige-se, antes
de mais, a todos aqueles que um dia aceitaram o Baptismo e optaram por
Cristo… Na verdade, o mundo que nos rodeia apresenta imensos desafios
que, muitas vezes, nos desmobilizam do serviço do Evangelho e dos
valores de Jesus. É por isso que é preciso redescobrir os fundamentos do
nosso compromisso. Quais são os interesses que influenciam a minha vida
e que condicionam as minhas opções: os meus gostos pessoais, as
indicações da moda, as sugestões da sociedade, ou as exigências e os
valores do Evangelho de Jesus?
¨ Como é que eu revitalizo, dia a dia, o meu compromisso com Cristo e
com os irmãos? Há muitos caminhos para aí chegar… Mas a comunhão com
Deus, a oração, a escuta e partilha da Palavra de Deus, os sacramentos
são formas privilegiadas para redescobrir o sentido das minhas opções e
do meu compromisso com Deus. Isto faz sentido, para mim? É este o
caminho que venho procurando seguir? Mantenho com Deus esse diálogo
necessário?
¨ O nosso texto interpela de forma directa os animadores das
comunidades cristãs. Convida-os a redescobrir, cada dia, esse entusiasmo
que lhes enchia o coração no dia em que optaram pela entrega da própria
vida a Cristo e aos irmãos. Convida-os a despirem-se da preguiça, da
inércia, do comodismo e a fazerem da sua vida, em cada dia, um dom
corajoso ao “Reino”. É isso que acontece comigo? Sou forte, corajoso,
sem medo, quando se trata de vencer as dificuldades que me impedem de me
dar a Cristo e aos outros? O que me impulsiona é o amor, ou são
interesses próprios e egoístas? Sou uma pessoa moderada e de bom senso,
que não trata os irmãos da comunidade de forma
agressiva e prepotente?
agressiva e prepotente?
¨ No texto há, ainda, um convite a conservar a doutrina verdadeira… O
que é que isto significa: um conservar inalteradas as fórmulas e os
ritos, ou um redescobrir cada dia o essencial, adaptando-o sempre às
novas realidades e aos novos desafios que o mundo põe? Como é que
sabemos se estamos em consonância com a proposta de Jesus?
ALELUIA – 1 Pedro 1,25
Aleluia. Aleluia
A palavra do Senhor permanece eternamente.
Esta é a palavra que vos foi anunciada.
Esta é a palavra que vos foi anunciada.
EVANGEHO – LUCAS 17,5-10
Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Lucas
Naquele tempo, os Apóstolos disseram ao Senhor: «Aumenta a nossa fé».
O Senhor respondeu: «Se tivésseis fé como um grão de mostarda,
diríeis a esta amoreira: ‘Arranca-te daí e vai plantar-te no mar’, e ela obedecer-vos-ia.
Quem de vós, tendo um servo a lavrar ou a guardar gado, lhe dirá quando ele volta do campo: ‘Vem depressa sentar-te à mesa’?
Não lhe dirá antes: ‘Prepara-me o jantar e cinge-te para me servires, até que eu tenha comido e bebido.
Depois comerás e beberás tu.
Terá de agradecer ao servo por lhe ter feito o que mandou?
Assim também vós,
quando tiverdes feito tudo o que vos foi ordenado, dizei:
‘Somos inúteis servos: fizemos o que devíamos fazer’».
O Senhor respondeu: «Se tivésseis fé como um grão de mostarda,
diríeis a esta amoreira: ‘Arranca-te daí e vai plantar-te no mar’, e ela obedecer-vos-ia.
Quem de vós, tendo um servo a lavrar ou a guardar gado, lhe dirá quando ele volta do campo: ‘Vem depressa sentar-te à mesa’?
Não lhe dirá antes: ‘Prepara-me o jantar e cinge-te para me servires, até que eu tenha comido e bebido.
Depois comerás e beberás tu.
Terá de agradecer ao servo por lhe ter feito o que mandou?
Assim também vós,
quando tiverdes feito tudo o que vos foi ordenado, dizei:
‘Somos inúteis servos: fizemos o que devíamos fazer’».
AMBIENTE
Continuamos a percorrer o “caminho de Jerusalém” e a deparar com as
“lições” que preparam os discípulos para o desafio de compreender e de
dar testemunho do “Reino”. Desta vez, o nosso texto junta um “dito” de
Jesus sobre a fé e uma parábola que convida à humildade.
Nas “etapas” anteriores, Jesus tinha avisado os discípulos da dificuldade de percorrer o “caminho do Reino” (disse-lhes que entrar no “Reino” é “entrar pela porta estreita” – Lc 13,24; convidou-os à humildade e à gratuidade – cf. Lc 14,7-14; avisou-os de que é preciso amar mais o “Reino” do que a própria família, os próprios interesses ou os próprios bens – cf. Lc 14,26-33; exigiu-lhes o perdão como atitude permanente – cf. Lc 17,5-6); agora, são os discípulos que, preocupados com a exigência do “Reino”, pedem mais “fé”.
O “dito” sobre a fé que ocupa a primeira parte do Evangelho que hoje nos é proposto aparece numa forma um pouco diferente em Mt 17,20 (um “dito” análogo lê-se também em Mc 11,23 e Mt 21,21, a propósito da figueira seca). No estado actual do texto, é muito difícil definir o contexto original do “dito” de Jesus, o seu enquadramento e o seu significado… Aqui, no entanto, ele serve a Lucas para manifestar a preocupação dos discípulos com a dificuldade em percorrer esse difícil “caminho do Reino”.
Nas “etapas” anteriores, Jesus tinha avisado os discípulos da dificuldade de percorrer o “caminho do Reino” (disse-lhes que entrar no “Reino” é “entrar pela porta estreita” – Lc 13,24; convidou-os à humildade e à gratuidade – cf. Lc 14,7-14; avisou-os de que é preciso amar mais o “Reino” do que a própria família, os próprios interesses ou os próprios bens – cf. Lc 14,26-33; exigiu-lhes o perdão como atitude permanente – cf. Lc 17,5-6); agora, são os discípulos que, preocupados com a exigência do “Reino”, pedem mais “fé”.
O “dito” sobre a fé que ocupa a primeira parte do Evangelho que hoje nos é proposto aparece numa forma um pouco diferente em Mt 17,20 (um “dito” análogo lê-se também em Mc 11,23 e Mt 21,21, a propósito da figueira seca). No estado actual do texto, é muito difícil definir o contexto original do “dito” de Jesus, o seu enquadramento e o seu significado… Aqui, no entanto, ele serve a Lucas para manifestar a preocupação dos discípulos com a dificuldade em percorrer esse difícil “caminho do Reino”.
MENSAGEM
A primeira parte do nosso texto é, portanto, constituída por um
“dito” sobre a fé (vers. 5-6). Depois das exigências que Jesus
apresentou, quanto ao caminho que os discípulos devem percorrer para
alcançar o “Reino”, a resposta lógica destes só pode ser: “aumenta-nos a
fé”. O que é que a fé tem a ver com a exigência do “Reino”?
No Novo Testamento em geral e nos sinópticos em particular, a fé não é, primordialmente, a adesão a dogmas ou a um conjunto de verdades abstractas sobre Deus; mas é a adesão a Jesus, à sua proposta, ao seu projecto – ou seja, ao projecto do “Reino”. No entanto, os discípulos têm consciência de que essa adesão não é um caminho cómodo e fácil, pois supõe um compromisso radical, a vitória sobre a própria fragilidade, a coragem de abandonar o comodismo e o egoísmo para seguir um caminho de exigência… Pedir a Jesus que lhes aumente a fé significa, portanto, pedir-Lhe que lhes aumente a coragem de optar pelo “Reino” e pela exigência que o “Reino” comporta; significa pedir que lhes dê a decisão para aderirem incondicionalmente à proposta de vida que Jesus lhes veio apresentar.
Jesus aproveita, na sequência, para recordar aos discípulos o resultado da “fé”. A imagem utilizada por Jesus (a ordem dada à “amoreira” para se arrancar da terra e ir plantar-se a ela própria no mar) mostra que, com a “fé” tudo é possível: quando se adere a Jesus e ao “Reino” com coragem e determinação, isso implica uma transformação completa da pessoa do discípulo e, em consequência, uma transformação do mundo que o rodeia. Aderir ao “Reino” com radicalidade é ter na mão a chave para mudar a história, mesmo que essa transformação pareça impossível… O discípulo que adere ao “Reino” com coragem e determinação é capaz de autênticos “milagres”… E isto não é conversa fiada: quantas vezes a tenacidade e a coragem dos discípulos de Jesus transformam a morte em vida, o desespero em esperança, a escravidão em liberdade!
Na segunda parte do nosso texto (vers. 7-10), Lucas descreve a atitude que o homem deve assumir diante de Deus. Os fariseus estavam convencidos de que bastava cumprir os mandamentos da Torah para alcançar a salvação: se o homem cumprisse as regras, Deus não teria outro remédio senão salvá-lo… A salvação dependia, de acordo com esta perspectiva, dos méritos do homem. Deus seria, assim, apenas um contabilista, empenhado em fazer contas para ver se o homem tinha ou não direito à salvação…
Jesus coloca as coisas numa dimensão diferente. A atitude do discípulo – desse discípulo que adere a Jesus e ao “Reino”, que faz as “obras do Reino” e que constrói o “Reino” – frente a Deus não deve ser a atitude de quem sente que fez tudo muito bem feito e que, por isso, Deus lhe deve algo; mas deve ser a atitude de quem cumpre o seu papel com humildade, sentindo-se um servo que apenas fez o que lhe competia.
O que Jesus nos pede no Evangelho de hoje é que percorramos, com coragem e empenho, o “caminho do Reino”. Quando o discípulo aceita percorrer esse caminho, é capaz de operar coisas espantosas, milagres que transformam o mundo… E, cumprida a sua missão, resta ao discípulo sentir-se servo humilde de Deus, agradecer-Lhe pelos seus dons, entregar-se confiada e humildemente nas suas mãos.
No Novo Testamento em geral e nos sinópticos em particular, a fé não é, primordialmente, a adesão a dogmas ou a um conjunto de verdades abstractas sobre Deus; mas é a adesão a Jesus, à sua proposta, ao seu projecto – ou seja, ao projecto do “Reino”. No entanto, os discípulos têm consciência de que essa adesão não é um caminho cómodo e fácil, pois supõe um compromisso radical, a vitória sobre a própria fragilidade, a coragem de abandonar o comodismo e o egoísmo para seguir um caminho de exigência… Pedir a Jesus que lhes aumente a fé significa, portanto, pedir-Lhe que lhes aumente a coragem de optar pelo “Reino” e pela exigência que o “Reino” comporta; significa pedir que lhes dê a decisão para aderirem incondicionalmente à proposta de vida que Jesus lhes veio apresentar.
Jesus aproveita, na sequência, para recordar aos discípulos o resultado da “fé”. A imagem utilizada por Jesus (a ordem dada à “amoreira” para se arrancar da terra e ir plantar-se a ela própria no mar) mostra que, com a “fé” tudo é possível: quando se adere a Jesus e ao “Reino” com coragem e determinação, isso implica uma transformação completa da pessoa do discípulo e, em consequência, uma transformação do mundo que o rodeia. Aderir ao “Reino” com radicalidade é ter na mão a chave para mudar a história, mesmo que essa transformação pareça impossível… O discípulo que adere ao “Reino” com coragem e determinação é capaz de autênticos “milagres”… E isto não é conversa fiada: quantas vezes a tenacidade e a coragem dos discípulos de Jesus transformam a morte em vida, o desespero em esperança, a escravidão em liberdade!
Na segunda parte do nosso texto (vers. 7-10), Lucas descreve a atitude que o homem deve assumir diante de Deus. Os fariseus estavam convencidos de que bastava cumprir os mandamentos da Torah para alcançar a salvação: se o homem cumprisse as regras, Deus não teria outro remédio senão salvá-lo… A salvação dependia, de acordo com esta perspectiva, dos méritos do homem. Deus seria, assim, apenas um contabilista, empenhado em fazer contas para ver se o homem tinha ou não direito à salvação…
Jesus coloca as coisas numa dimensão diferente. A atitude do discípulo – desse discípulo que adere a Jesus e ao “Reino”, que faz as “obras do Reino” e que constrói o “Reino” – frente a Deus não deve ser a atitude de quem sente que fez tudo muito bem feito e que, por isso, Deus lhe deve algo; mas deve ser a atitude de quem cumpre o seu papel com humildade, sentindo-se um servo que apenas fez o que lhe competia.
O que Jesus nos pede no Evangelho de hoje é que percorramos, com coragem e empenho, o “caminho do Reino”. Quando o discípulo aceita percorrer esse caminho, é capaz de operar coisas espantosas, milagres que transformam o mundo… E, cumprida a sua missão, resta ao discípulo sentir-se servo humilde de Deus, agradecer-Lhe pelos seus dons, entregar-se confiada e humildemente nas suas mãos.
ATUALIZAÇÃO
A reflexão pode fazer-se a partir das seguintes coordenadas:
¨ A “fé” é, antes de mais, a adesão à pessoa de Jesus Cristo e ao seu
projecto. Posso dizer, de facto, que é a “fé” que conduz e que anima a
minha vida? Jesus é o eixo central à volta do qual se constrói a minha
existência? É Jesus que marca o ritmo e a cor das minhas opç&
otilde;es e dos meus projectos?
otilde;es e dos meus projectos?
¨ O “Reino” é uma realidade sempre “a fazer-se”; mas apresentam-se,
com frequência, situações de injustiça, de violência, de egoísmo, de
sofrimento, de morte, que impedem a concretização do “Reino”. Como é que
eu – homem ou mulher de fé – ajo, nessas circunstâncias? A minha “fé”
em Jesus conduz-me a um empenho concreto pelo “Reino” e entusiasma-me a
lutar contra tudo o que impede a concretização do “Reino”? A minha “fé”
nota-se nos meus gestos? Há algo de novo à minha volta pelo facto de eu
ter aderido a Jesus e pelo facto de eu estar a percorrer o “caminho do
Reino”? Quais são os “milagres” que a minha “fé” pode fazer?
¨ Nós, homens, somos, com frequência, muito ciosos dos nossos
direitos, dos nossos créditos, daquilo que nos devem pelas nossas boas
acções. Quando transportamos isto para a relação com Deus, construímos
um deus que não é mais do que um contabilista, que escreve nos seus
livros os nossos créditos e os nossos débitos, a fim de nos pagar
religiosamente, de acordo com os nossos merecimentos… Na realidade –
diz-nos o Evangelho de hoje – não podemos exigir nada de Deus: existimos
para cumprir, humildemente, o papel que Ele nos confia, para acolher os
seus dons e para O louvar pelo seu amor. É nesta atitude que o
discípulo de Jesus deve estar sempre.
¨ De certas pessoas diz-se que “não dão ponto sem nó”, para descrever
o seu egoísmo e as suas atitudes interesseiras. Porque é que fazemos as
coisas? O que é que motiva as nossas acções e gestos: o amor
desinteressado, ou o interesse pela retribuição?
Dehonianos
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