sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

O AMOR QUE SUPERA A DOR.

O grito por socorro - Franz von Stuck

“Jesus, Filho de Davi, tem compaixão de mim!”

Jesus, quando subia a Jerusalém, estava consciente de que lá aconteceria sua Paixão, Morte e Ressurreição. Ele sobe a Jerusalém com decisão: sua missão redentora, iniciada em Belém, seria completada pela humilhação total. Para comprovar seu amor pelo mundo, suportaria a prisão, a tortura, a condenação. Seu amor ultrapassaria o medo da morte.

No meio do caminho, um cego, de Jericó, grita por socorro: “Jesus, Filho de Davi, tem compaixão de mim!” (Lc 18,38). Gritava tão forte, que mandaram‑no calar a boca. Jesus sai em sua defesa, e declara: “Vê de novo; tua te salvou”. O cego recuperou a luz dos olhos e a luz da fé: estava diante da Luz do mundo.

Ultrapassa nossos limites de compreensão este gesto amoroso de Jesus. Ele, que caminhava para a morte de cruz, lembrou‑se de um cego. Poderia, e com razão, ter dito: “Você é cego, é verdade, mas está vivo. Eu caminho sabendo de minha morte. Você até que é felizardo!” Seria uma reação humana. Mas, em Jesus, o amor é mais forte que a dor. O sofrimento do outro é mais importante que a sua angústia, prevendo a condenação. Quis mostrar que a dor do próximo deve preocupar‑nos mais do que a nossa dor. O amor traz o esquecimento de nossos problemas pessoais, para que nos coloquemos a serviço de alguém que também sofre, como nós. Como a mãe amorosa, que esconde intensas dores para curar a dorzinha de dente do filho.

Temos dificuldade de sentir o sofrimento dos outros, penetrar um coração angustiado. Carentes, achamos que nossos problemas são sempre maiores, necessitam de mais atenção. Diante de alguém carente, nos mostramos mais carentes ainda. Quando alguém nos conta um problema, logo o interrompemos para dizer‑lhe que o nosso é maior, que se conforme, pois nem sabe o que é sofrer. Há pessoas incapazes de escutar a dor alheia sem logo fazer comparações com sua dor pessoal. “Você está com o filho doente? Imagine eu, que estou com a mãe no fundo da cama…”. Então, este momento que poderia ser rico de solidariedade, de compaixão, se transforma num encontro estéril: “Você sofre, eu sofro, fique cada um na sua!”

Em nosso sofrimento pessoal, é difícil penetrarmos no coração de quem sofre. Achamos que nossas angústias são as maiores do mundo, nossas dores as mais insuportáveis de todas as dores. Há gente que, mesmo num hospital, visitando um doente traspassado pela dor e pela solidão, é capaz de passar o tempo se lamentando. Ao invés de confortar, busca um conforto egoísta. É porque o amor seu é mais fraco que a dor.

A caminhada de Jesus para Jerusalém, a sua certeza do sofrimento cruel e injusto, mesmo assim estando aberto aos sofredores que o procuravam, é ensinamento para o cristão: diante do irmão que sofre, silencie nosso sofrimento e fale mais alto nosso amor por ele.

Em muitas horas temos que nos calar, para que o lamento do outro seja substituído pelas nossas palavras de consolo. E então teremos a grata surpresa de ver que nossa dor é aliviada quando aliviamos a de nosso próximo.



Pe. José Artulino Besen

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