segunda-feira, 13 de setembro de 2010

COMO VENCER A AGITAÇÃO INTERIOR.

O homem hodierno não encontra limite para suas necessidades e seus desejos.


Cumpre, em primeiro lugar, se conscientizar que a tristeza é causa de ansiedade. Eis por que São Paulo aconselhava: “Alegrai-vos sempre no Senhor. Repito: alegrai-vos“(Fl 4,4). Reina no atual contexto uma contagiante e infausta baixa estima e, assim, se multiplicam os transtornos as perturbações na sociedade. Disto resulta o medo, toda espécie de fobia, e com eles a turbulência dentro de cada um. Denota-se, hoje em dia, também o fenômeno, não menos alarmante, da desmedida. O homem hodierno não encontra limite para suas necessidades e seus desejos. Aliás, um dos objetivos da sociedade de consumo é criar imperativos de compra, aumentado a volição de possuir o que está na moda. Aspira-se sempre a novidade e, nem bem se usou um determinado produto e já se quer usufruir de outro sem nenhum proveito real.
A propaganda tem estratégias diabólicas para mover a vontade dos incautos. Nem ainda bem se utilizou de um refrigerador e já se está pensando na outra geração do mesmo que há de ser ainda mais aprimorada. A tudo isto se adite a estreiteza de espírito, outro ingrediente da agitação. Muitos são de tal modo obstinados, aderidos a seu modo de ver, que não aceitam admoestação alguma e prosseguem nos mesmos erros, caem sempre na defensiva. Tal estreiteza de espírito que a carta aos Hebreus chama de “endurecimento” do coração, leva à irritação contra tudo e contra todos. O indivíduo fica prisioneiro de seus moldes mentais limitados e perde a perspectiva dos grandes horizontes das medidas claras e vivificantes. Por outro lado, como conseqüência do consumismo vem a inveja e, embora rodeado de tanta coisa boa, a pessoa se entrega a uma depressão profunda por não ter o que o outro possui. Deixa de ser ele mesmo para querer ter o que nada lhe vai avantajar. Isto é fonte de sofrimento inútil e desnecessário. Acrescente-se ao rol das causas da agitação interior a desconfiança. Desconfiar é estar sempre à espreita de quem e daquilo que pode prejudicar.
Donde um mau juízo constante dos outros nos quais se contempla sempre um inimigo em potencial e um julgamento pessimista das coisas, enxergando não o que elas podem servir, auxiliar, mas causar dano. Este estado de alerta é maléfico. Deve-se confiar nos outros até prova em contrário é a máxima de quem é sábio e prudente. A agitação interior flui, portanto, das atitudes negativas. Os franceses têm um provérbio muito oportuno para os derrotistas: “À quelque chose malheur est bon” – há sempre um lado positivo em qualquer desgraça.
No mínimo esta serve de admoestação e leva à formulação de uma revisão de vida. Quem assim procede jamais perde a paz e caminha com determinação para frente, atingindo-se a maturidade que tranqüiliza. Trata-se de uma ação eficaz, de uma maneira frutuosa de se dirigir na vida. O fruto é uma serenidade na ação, na responsabilidade quanto ao dever de cada instante, na atitude diante dos conflitos da existência. Nada mais necessário para a sociedade do que possuir pessoas tranqüilas, pois estas estão sempre se realizando e levando outros às regiões da beatitude, lá nos espaços interiores donde jorra a fonte da energia para as tarefas diárias. Um elã vital toma conta de tudo a bem de todos. Soluções aparecem para todo e qualquer impasse. Eis aí uma maneira de se vencer o stress contemporâneo para se agir melhor no mundo, de uma maneira mais eficiente.
Quem observa atentamente os debates televisivos entre os políticos, os publicitários, os administradores percebe que, raramente, ele ostentam uma calma interior. Sobretudo em época de eleições as críticas se multiplicam, os insultos se tornam mais numerosos e, para se afirmar, a solução é diminuir o concorrente. Para se mostrar vencedor na discussão o ataque se torna, na verdade, a pior defesa. Muitos se mostram energúmenos e seus gestos são bruscos e querem convencer a qualquer preço. Os antecessores nada fizeram, eles, sim, serão os salvadores da pátria. Está tudo errado, eles renovarão a face da terra. Por tudo isto é de suma importância vencer a agitação interior a bem próprio e dos outros.


Por Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho
* Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.


Fonte: www.catolicanet.com.br

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