A primeira leitura sugere-nos a contemplação do Deus
criador. A sua bondade e o seu amor estão inscritos e manifestam-se aos
homens na beleza e na harmonia das obras criadas (Jesus Cristo é
“sabedoria” de Deus e o grande revelador do amor do Pai).
A segunda leitura convida-nos a contemplar o Deus que nos ama e que, por isso, nos
“justifica”, de forma gratuita e incondicional. É através do Filho que os dons de
Deus/Pai se derramam sobre nós e nos oferecem a vida em plenitude.
O Evangelho convoca-nos, outra vez, para
contemplar o amor do Pai, que se manifesta na doação e na entrega
do Filho e que continua a acompanhar a nossa caminhada histórica
através do Espírito. A meta final desta “história de amor” é a
nossa inserção plena na comunhão com o Deus/amor, com o Deus/família,
com o Deus/comunidade.
LEITURA I – Prov 8,22-31
Eis o que diz a Sabedoria de Deus:
«O Senhor me criou como primícias da sua atividade, antes das suas obras mais antigas.
Desde a eternidade fui formada,
desde o princípio, antes das origens da terra.
Antes de existirem os abismos e de brotarem as fontes das águas, já eu tinha sido concebida.
Antes de se implantarem as montanhas e as colinas, já eu tinha nascido;
ainda o Senhor não tinha feito a terra e os campos, nem os primeiros elementos do mundo.
Quando Ele consolidava os céus, eu estava presente;
Quando traçava sobre o abismo a linha do horizonte, quando condensava as nuvens nas alturas,
quando fortalecia as fontes dos abismos,
quando impunha ao mar os seus limites
para que as águas não ultrapassassem o seu termo, quando lançava os fundamentos da terra,
eu estava a seu lado como arquiteto, cheia de júbilo, dia após dia,
deleitando-me continuamente na sua presença. Deleitava-me sobre a face da terra
e as minhas delícias eram estar com os filhos dos homens».
AMBIENTE
O Livro dos Provérbios apresenta uma coleção de
“ditos”, de “sentenças”, de “máximas”, de “provérbios” (“mashal”),
onde se cristaliza o resultado da reflexão e da experiência
(“sabedoria”) dos “sábios” antigos (israelitas e alguns não israelitas),
empenhados em definir as regras para viver bem, para ter êxito, para
ser feliz. Alguns dos materiais aí apresentados podem ser do séc. X a.
C.; outros, no entanto, são bem mais recentes.
O texto que nos é hoje proposto faz parte de um bloco de “instruções” e “advertências” que vai
de 1,8 a 9,6. Trata-se da parte mais recente do “Livro dos
Provérbios” (segundo os especialistas, não pode ser anterior ao séc. IV ou III a. C.).
O capítulo 8 do “Livro dos Provérbios” (do qual é retirado o texto que hoje nos é proposto)
apresenta-nos um discurso posto na boca da própria “sabedoria”, como se
ela fosse uma pessoa: trata-se de um artifício literário,
através do qual o autor pretende dar força e intensidade
dramática ao convite que ele lança no sentido de acolher e amar a
“sabedoria”. Na primeira parte desse discurso (vers. 1-11), o autor
apresenta o “púlpito” de onde a “sabedoria” vai discursar (o cume das
montanhas, a encruzilhada dos caminhos, as entradas das cidades, os
umbrais das casas), os destinatários da mensagem (todos os homens) e
apela à escuta das palavras que ela vai pronunciar; na segunda parte
(vers. 12-21), o autor apresenta as “credenciais” da “sabedoria” (ela
possui a ciência, a reflexão, o conselho, a equidade, a força) e o
prêmio reservado àqueles que a acolhem; na terceira parte (vers.
8,22-31) – que é a que nos interessa diretamente – o autor reflete
sobre a origem da sabedoria e a sua função no plano de Deus.
MENSAGEM
Em primeiro lugar, diz-se que a “sabedoria” tem origem em
Deus. O autor do texto põe na boca da “sabedoria” a forma hebraica
“qânâny” (“gerou-me”) para expressar a responsabilidade de Deus na
origem da “sabedoria” (vers. 22).
Afirma também que ela é a primeira das obras de Deus. Antes
de serem lançadas as estruturas do cosmos, a “sabedoria” já existia
(vers. 24-29); mais, ela estava lá, tendo um papel interveniente na
criação: no vers. 30, a “sabedoria” é apresentada como “arquitecto”
(“amon”), isto é, como assistente activo de Deus na obra criadora
(embora certas versões antigas leiam como “amun” – “criança”
– o que sugere a ideia da “sabedoria” como uma “criança” feliz que
brinca e se deleita no meio da obra criada). Em terceiro
lugar, a “sabedoria” afirma que o seu interesse e deleite é estar “junto
dos filhos dos homens” (vers. 31): ela dirige-se aos homens e o seu
objectivo é “ser para os homens”. Ela desempenha, portanto, um papel em
favor dos homens.
Qual é esse papel? A perícopa está dominada por três
palavras, que aparecem no princípio, no meio e no fim: “Jahwéh”
(vers. 22), “sabedoria” (“eu” – vers. 30) e “homens” (vers. 31).
Esta “coluna vertebral” revela, desde já, o objetivo do autor do texto:
ao dizer que a “sabedoria” tem origem em Jahwéh, está em íntima relação
com Deus e se destina aos homens, está a sugerir-se que ela tem a
capacidade de pôr os homens em relação e contacto com Deus. Através
dessa realidade criada que a “sabedoria” viu nascer, ela espevita a
inteligência dos homens, leva-os a Deus, atrai- os para Deus. A
“sabedoria”, presente desde sempre na criação, revela aos homens a
grandeza e o amor do Deus criador.
A tradição judaica acabará por identificar esta “sabedoria” com a Torah (cf. Ba 3,38-4,1;
Pirkê Rabbí Eliezer, III, 2). Por outro lado, os autores
neo-testamentários, conhecedores dos livros sapienciais, atribuirão a
Jesus algumas das características que este texto atribui à “sabedoria”:
Paulo chama a Jesus “sabedoria” e “sabedoria de Deus” (cf. 1 Cor
1,24.30); considera também que Jesus, como a “sabedoria” de Prov 8, existe
antes de todas as coisas e desempenhou um papel privilegiado na criação
do mundo (cf. Col 1,16-17); por sua vez, o “prólogo” do Quarto
Evangelho atribui ao “Lógos”/Jesus os traços da “sabedoria” criadora de
Prov 8 (diz que Jesus é anterior à criação – cf. Jo 1,1) e que Ele deu
existência a todas as obras criadas – cf. Jo 1,3).
Os Padres da Igreja verão nesta “sabedoria”, pré-criada e anterior à restante obra de Deus, traços de Jesus Cristo ou do Espírito Santo.
ATUALIZAÇÃO
Ter em conta, na reflexão, os seguintes desenvolvimentos:
♦ A referência ao Deus que tudo criou para nós
com sabedoria faz-nos pensar num Pai providente e cuidadoso, que tem um
projecto bem definido para os homens e para o mundo. Contemplar a
criação é descobrir, na beleza e na harmonia das obras criadas, esse Pai
cheio de bondade e de amor. Somos capazes de nos sentirmos “provocados” pela criação de forma que, através dela, descubramos o amor e a bondade de Deus?
♦ Olhando para a obra de Deus, aprendemos que o
homem não é um concorrente de Deus, nem Deus um adversário do homem. Ao
homem compete reconhecer o poder e a grandeza de Deus e entregar-se,
confiante, nas mãos desse Pai que tudo criou com cuidado e que tudo nos
entrega com amor. Entregamo-nos nas mãos d’Ele, não como adversários,
mas como crianças que confiam incondicionalmente no seu pai?
♦O desenvolvimento desordenado e a exploração descontrolada
dos recursos da natureza põem em causa a harmonia desse “mundo bom” que
Deus criou e que nos confiou. Temos o direito de pôr em causa, por
egoísmo, a obra de Deus?
♦ A contemplação da obra criada leva ao espanto
e ao louvor. Somos capazes de nos extasiarmos diante das coisas que
Deus nos oferece e de deixarmos que a nossa admiração se derrame em
louvor e agradecimento?
SALMO RESPONSORIAL – Salmo 8
Refrão: Como sois grande em toda a terra, Senhor, nosso Deus!
Quando contemplo os céus, obra das vossas mãos, a lua e as estrelas que lá colocastes,
que é o homem para que Vos lembreis dele, o filho do homem para dele Vos ocupardes?
Fizestes dele quase um ser divino, de honra e glória o coroastes;
destes-lhes poder sobre a obra das vossas mãos, tudo submetestes a seus pés:
Ovelhas e bois, todos os rebanhos, e até os animais selvagens,
as aves do céu e os peixes do mar, tudo o que se move nos oceanos.
LEITURA II – Rom 5,1-5
Irmãos:
Tendo sido justificados pela fé, estamos em paz com Deus,
por Nosso Senhor Jesus Cristo,
pelo qual temos acesso, na fé,
a esta graça em que permanecemos e nos gloriamos, apoiados na esperança da glória de Deus.
Mais ainda, gloriamo-nos nas nossas tribulações, porque sabemos que a tribulação produz a constância, a constância a virtude sólida,
a virtude sólida a esperança. Ora a esperança não engana,
porque o amor de Deus foi derramado em nossos corações pelo Espírito Santo que nos foi dado.
AMBIENTE
Quando Paulo escreve aos romanos, está a terminar a sua
terceira viagem missionária e prepara-se para partir para Jerusalém.
Tinha terminado a sua missão no oriente (cf. Rom 15,19-20) e queria
levar o Evangelho ao ocidente. Sobretudo, Paulo aproveita a carta para
contactar a comunidade de Roma e apresentar aos romanos e a todos os
crentes os principais problemas que o ocupavam (entre os quais
sobressaía a questão da unidade – um problema bem presente na
comunidade de Roma, afetada por
alguma dificuldade de relacionamento entre judeo-cristãos e pagano-cristãos).
Estamos no ano 57 ou 58.
Paulo aproveita, então, para sublinhar que o Evangelho é a força que congrega e que salva
todo o crente, sem distinção de judeu, grego ou romano. Depois de notar
que todos os homens vivem mergulhados no pecado (cf. Rom 1,18-3,20),
Paulo acentua que é a “justiça de Deus” que dá vida a todos sem
distinção (cf. Rom 3,1-5,11). Neste texto, que a segunda leitura de hoje
nos propõe, Paulo refere-se à ação de Deus, por Cristo e pelo
Espírito, no sentido de “justificar” todo o homem.
MENSAGEM
Paulo parte da ideia de que todos os crentes – judeus, gregos e romanos – foram justificados pela fé. Que significa isto?
Na linguagem bíblica, a justiça é, mais do que
um conceito jurídico, um conceito relacional. Define a fidelidade a
si próprio, à sua maneira de ser e aos compromissos assumidos no âmbito
de uma relação. Ora, se Jahwéh Se manifestou na história do seu Povo
como o Deus da bondade, da misericórdia e do amor, dizer que Deus é justo não
significa dizer que Ele aplica os mecanismos legais quando o homem
infringe as regras; significa, sim, que a bondade, a misericórdia, o
amor, próprios do “ser” de Deus, se manifestam em todas as
circunstâncias, mesmo quando o homem não foi correto no seu proceder.
Paulo, ao falar do homem justificado, está a falar do homem
pecador que, por exclusiva iniciativa do amor e da misericórdia de
Deus, recebe um veredicto de graça que o salva do pecado e lhe dá,
de modo totalmente gratuito, acesso à salvação. Ao homem é
pedido somente que acolha, com humildade e confiança, uma graça
que não depende dos seus méritos e que se entregue
completamente nas mãos de Deus. Este homem, objeto da graça de Deus, é
uma nova criatura (cf. Gal 6,15): é o homem ressuscitado para a vida
nova (cf. Rom 6,3-11), que vive do Espírito (cf. Rom 8,9.14), que é filho de Deus e co-herdeiro com Cristo (cf. Rom 8,17; Gal 4,6-7).
Quais os frutos que resultam deste acesso à salvação que é um dom de Deus? Em primeiro lugar, a paz (vers. 1). Esta paz não
deve ser entendida em sentido psicológico (tranquilidade, serenidade),
mas no sentido teológico semita de relação positiva com Deus e,
portanto, de plenitude de bens, já que Deus é a fonte de todo o bem.
Em segundo lugar, a esperança (vers. 2-4). Trata-se desse dom que nos permite superar
as dificuldades e a dureza da caminhada, apontando a um futuro glorioso
de vida em plenitude. Não se trata de alimentar um otimismo fácil e
irresponsável, que permita a evasão do presente; trata-se de
encontrar um sentido novo para a vida presente, na certeza de que as
forças da morte não terão a última palavra e que as forças da vida
triunfarão.
Em terceiro lugar, o amor de Deus ao homem (vers. 5-8). O cristão é, fundamentalmente,
alguém a quem Deus ama. Como prova desse amor que age em nós através do
Espírito, está Jesus de Nazaré a quem Deus “entregou à morte por nós quando ainda éramos pecadores”.
Tudo aquilo que enche a vida do crente, que lhe dá sentido, é um dom de Deus Pai que, através de Jesus, demonstra o seu amor e que, pelo Espírito, derrama continuamente esse amor sobre nós.
ATUALIZAÇÃO
Para a reflexão da Palavra, considerar as seguintes coordenadas:
♦ Na Solenidade da Santíssima Trindade, somos
convidados a contemplar o amor de um Deus que nunca desistiu dos homens e
que sempre soube encontrar formas de vir ao nosso encontro, de fazer
caminho conosco. Apesar de os homens insistirem, tantas vezes, no
egoísmo, no orgulho, na auto-suficiência, no pecado, Deus continua
a amar e a fazer-nos propostas de vida. Trata-se de um amor
gratuito e incondicional, que se traduz em dons não merecidos, mas que,
uma vez acolhidos, nos conduzem à felicidade plena.
♦ A vinda de Jesus Cristo ao encontro dos
homens é a expressão plena do amor de Deus e o sinal de que Deus não nos
abandonou nem esqueceu, mas quis até partilhar conosco a
precariedade e a fragilidade da nossa existência para nos mostrar
como nos tornarmos “filhos de Deus” e herdeiros da vida em plenitude.
♦ A presença do Espírito acentua no nosso tempo – o tempo da Igreja – essa
realidade de um Deus que continua presente e atuante, derramando o seu
amor ao longo do caminho que dia a dia vamos percorrendo e
impelindo-nos à renovação, à transformação, até chegarmos à vida plena
do Homem Novo.
♦ Está em moda uma certa atitude de indiferença
face a Deus, ao seu amor e às suas propostas. Em geral, os homens
de hoje preocupam-se mais com os resultados da última jornada
do campeonato de futebol, ou com as últimas peripécias da
“telenovela das nove” do que com Deus ou com o seu amor. Não será tempo
de redescobrirmos o Deus que nos ama, de reconhecermos o seu empenho em
conduzir-nos rumo à felicidade plena e de aceitarmos essa proposta de
caminho que Ele nos faz?
ALELUIA– cf. Ap 1,8
Aleluia. Aleluia.
Glória ao Pai e ao Filho e ao Espírito Santo, ao Deus que é, que era e que há-de vir.
EVANGELHO – Jo 16,12-15
Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos: «Tenho ainda muitas coisas para vos dizer, mas não as podeis compreender agora. Quando vier o Espírito da verdade, Ele vos guiará para a verdade plena; porque não falará de Si mesmo, mas dirá tudo o que tiver ouvido e vos anunciará o que está para vir. Ele Me glorificará, porque receberá do que é meu e vo-lo anunciará.
Tudo o que o Pai tem é meu. Por isso vos disse que Ele receberá do que é meu e vo-lo anunciará».
AMBIENTE
Estamos no contexto da última ceia e do discurso de despedida que antecede a “hora” de Jesus.
Depois de constituir a comunidade do amor e do
serviço (cf. Jo 13,1-17) e de apresentar o mandamento fundamental
que deve dar corpo à vida dessa comunidade (cf. Jo 15,9-17), Jesus vai
definir a missão da comunidade no mundo: testemunhar acerca de Jesus,
com a ajuda do Espírito (cf. Jo 15,26-27).
Jesus avisa, no entanto, que o caminho do testemunho deparará com a oposição decidida
da religião estabelecida e dos poderes de morte que dominam o mundo
(cf. Jo 16,1-4a); mas os discípulos contarão com o Espírito: Ele
ajudá-los-á e dar-lhes-á segurança no meio da perseguição (cf. Jo
16,8-11). De resto, a comunidade em marcha pela história
encontrar-se-á muitas vezes diante de circunstâncias históricas novas,
diante das quais terá de tomar decisões práticas: também aí
se verá a presença do Espírito, que ajudará a responder aos novos
desafios e a interpretar as circunstâncias à luz da mensagem de Jesus
(cf. Jo 16,12-15).
MENSAGEM
O tema fundamental desta leitura tem, portanto, a ver com a ajuda do Espírito aos discípulos em caminhada pelo mundo.
Jesus começa por dizer aos discípulos que há muitas
outras coisas que eles não podem compreender de momento (vers. 12).
Será o “Espírito da verdade” que guiará os discípulos para a
verdade, que comunicará tudo o que ouvir a Jesus e que
interpretará o que está para vir (vers. 13). Isto significa que Jesus
não revelou tudo o que havia para revelar ou que a sua proposta de
salvação/libertação ficou incompleta?
De forma nenhuma. As palavras de Jesus acerca da ação do Espírito
referem-se ao tempo da existência cristã no mundo, ao tempo que vai
desde a morte de Jesus até à “parusia”. Como será possível aos
discípulos, no tempo da Igreja, continuar a captar, na fé, a
Palavra de Jesus e a guiar a vida por ela? A resposta de Jesus é:
“pelo Espírito da verdade, que fará com que a minha proposta continue a
ecoar todos os dias na vida da comunidade e no coração de cada
crente; além disso, o Espírito ensinar-vos-á a entender a nova ordem que
se segue à cruz e à ressurreição e a discernir, a partir das
circunstâncias concretas diante das quais a vida vos vai colocar, como
proceder para continuar fiel às minhas propostas”. O Espírito não
apresentará uma doutrina nova, mas fará com que a Palavra de Jesus seja
sempre a referência da comunidade em caminhada pelo mundo e que essa
comunidade saiba aplicar a cada circunstância nova que a vida
apresentar, a proposta de Jesus.
Aonde irá o Espírito buscar essa verdade que vai transmitir continuamente aos discípulos? A resposta é: ao próprio Jesus (“receberá do que é meu e vo-lo anunciará” – vers.
14). Assim, Jesus continuará em comunhão, em sintonia com os
discípulos, comunicando-lhes a sua vida e o seu amor. Tal é a função do
Espírito: realizar a comunhão entre Jesus e os discípulos em marcha pela
história.
A última expressão deste texto (vers. 15) sublinha a comunhão
existente entre o Pai e o Filho. Essa comunhão atesta a unidade entre o
plano salvador do Pai, proposto nas palavras de Jesus e tornado
realidade na vida da Igreja, por ação do Espírito.
ATUALIZAÇÃO
Considerar os seguintes desenvolvimentos:
♦ O Espírito aparece, aqui, como presença
divina na caminhada da comunidade cristã, como essa realidade que
potencia a fidelidade dinâmica dos crentes às propostas que o Pai,
através de Jesus, fez aos homens. A Igreja de que fazemos parte tem
sabido estar atenta, na sua caminhada histórica, às interpelações do
Espírito? Ela tem procurado, com a ajuda do Espírito, captar a Palavra
eterna de Jesus e deixar-se guiar por ela? Tem sabido, com a ajuda do
Espírito, continuar em comunhão com Jesus? Tem-se esforçado, com
a ajuda do Espírito, por responder às interpelações da história e
por atualizar, face aos novos desafios que o mundo lhe coloca, a
proposta de Jesus?
♦ Sobretudo, somos convidados a contemplar o
mistério de um Deus que é amor e que, através do plano de
salvação/libertação do Pai, tornado realidade viva e humana em
Jesus, e continuado pelo Espírito presente na caminhada dos crentes, nos
conduz para a vida plena do amor e da felicidade total – a vida do
Homem Novo, a vida da comunhão e do amor em plenitude.
♦ A celebração da Solenidade da Trindade não
pode ser a tentativa de compreender e decifrar essa estranha charada de
“um em três”. Mas deve ser, sobretudo, a contemplação de um Deus que é
amor e que é, portanto, comunidade. Dizer que há três pessoas em Deus,
como há três pessoas numa família – pai, mãe e filho – é afirmar três
deuses e é negar a fé; inversamente, dizer que o Pai, o Filho e o
Espírito são três formas de apresentar o mesmo Deus, como três
fotografias do mesmo rosto, é negar a distinção das três pessoas e é,
também, negar a fé. A natureza divina de um Deus amor, de um Deus
família, de um Deus comunidade, expressa-se na nossa linguagem
imperfeita das três pessoas. O Deus família torna-se trindade de
pessoas distintas, porém unidas. Chegados aqui, temos de parar, porque a
nossa linguagem finita e humana não consegue “dizer” o mistério de
Deus.
Dehonianos
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