Se
nem todos podem realizar um ritual de exorcismo como o dos filmes,
todos os cristãos podem, sem exceção, rezar a Oração do Senhor. E isso
não é pouca coisa.
Por Pe. Dwight Longenecker | Tradução:
Equipe CNP
Certa vez, durante uma palestra conduzida por um
importante autor e psiquiatra cristão, três mulheres entusiasmadas lhe
contaram que havia uma seita de bruxas em sua cidade e elas queriam
saber o que fazer para acabar com isso.
O médico era uma pessoa de renome e, ao mesmo tempo, de grande
espiritualidade. Ele disse com calma: "Pela minha experiência, na
maioria dos casos, tudo o que é necessário para livrar um lugar do mal é
reunir um grupo de cristãos fiéis e rezar em silêncio, repetindo todos
juntos a oração do Pai Nosso e concentrando-se na frase 'Livrai-nos do
mal'." Ele sorriu e deu sequência à sua fala. "Isso geralmente funciona.
Alguém tem mais alguma pergunta?"
Acredito que as senhoras ficaram um pouco desapontadas. Talvez elas
quisessem fazer um exorcismo dramático cheio de cabeças girando,
levitações, água benta e sinais extraordinários. É verdade que, não
raramente, muitas situações exigem um exorcismo. Nesses casos,
só um exorcista treinado pode realizar o ritual adequado, contando com a autorização do bispo local.
Todos os cristãos batizados e confirmados, porém, são chamados a ser
soldados na batalha espiritual, e um uso consciente da Oração do Senhor
pode ser um instrumento bem prático e concreto para derrotar o demônio e
libertar um lugar ou uma pessoa da influência maligna.
Às vezes nós nos esquecemos que
uma dimensão importante do ministério do Senhor era a Sua batalha contra Satanás.
Imediatamente depois de ser batizado, Jesus é enviado ao deserto para
confrontar o pai da mentira. Logo depois, vemo-Lo expulsando demônios;
curando os doentes do corpo, da mente e do espírito; e, finalmente,
através de Sua paixão e ressurreição, esmagando de uma vez por todas a
antiga serpente.
Nesse ínterim, Ele também nos dá o Pai Nosso como uma arma na guerra,
deixando nessa oração três expressões intimamente relacionadas à batalha
que nós devemos travar com a Sua ajuda.
A primeira dessas expressões é o pedido "Perdoai-nos as nossas ofensas".
Antes de qualquer coisa, nós pedimos perdão por nossos pecados, e isso
está ligado com a ação de perdoarmos os outros. Quando dizemos, "assim
como nós perdoamos a quem nos tem ofendido", nós estamos agindo como
canais do perdão de Deus, que flui através de nós em direção ao próximo.
O primeiro passo consiste, pois, em rezar o Pai Nosso bem devagar, com
uma ênfase nessas duas frases. Quando fazemos isso depois de um bom
exame de consciência, a Oração do Senhor se converte em um poderoso ato
de contrição. Santo Tomás de Aquino ensina, por exemplo, que
os nossos pecados veniais podem realmente ser perdoados no Pai Nosso,
se a nossa oração incluir "um movimento de detestação dos pecados". É
claro que, se a nossa consciência nos acusa de um pecado mortal, o nosso
ato de contrição não basta, e devemos recorrer ao sacramento da
Reconciliação.
Ao rezar uma segunda vez a Oração do Senhor, focamo-nos no pedido "Não nos deixeis cair em tentação",
pedindo, desta vez, que não sejamos enganados pelas vozes que pretendem
nos levar ao pecado. Por "tentação", nós não falamos simplesmente da
atração que temos para o pecado, referimo-nos também à tentação ativa
que o demônio coloca diante de nós. Em outras palavras, "Senhor,
defendei-nos dos ataques do mal" ou "Mantende-nos a salvo das contínuas
armadilhas do mal. Dirigi-nos para perto da luz e para longe da
escuridão".
Essa segunda vez rezando está claramente ligada à terceira, quando damos ênfase à última petição, "Livrai-nos do mal".
Essa é a petição final e mais poderosa de libertação, porque, afinal, é
nisso que consiste uma oração "de cura e libertação": livrar uma pessoa
da escravidão do mal. É muito simplista imaginar que a escravidão ao
demônio só se dê sob a forma da possessão diabólica. Muitas pessoas
sofrem como escravas do mal: algumas estão presas a vícios,
comportamentos sexuais obsessivos ou outros pecados particulares; outras
são escravas das drogas, de maus relacionamentos; e outras ainda são
escravas de sua auto-estima negativa, de hábitos destrutivos, de
depressão, do medo e da ansiedade. Em todas essas dificuldades pode
haver uma dimensão espiritual. Maus espíritos podem agir sobre uma
pessoa prejudicando a saúde do seu corpo e do seu espírito.
De maneira bem prática e serena, então, podemos lutar contra o mal por
meio de um uso consciente e intencional da Oração do Senhor: (1) para
recebermos e darmos perdão, (2) para não cairmos em tentação e (3) para
sermos libertos dos poderes malignos que nos acorrentam.
Finalmente, o Pai Nosso pode ser usado ainda não só para nós mesmos,
mas como uma intercessão pelos outros. É inclusive um ato de
misericórdia rezar pelo próximo que está escravizado pelo pecado,
pedindo ao Senhor que o liberte.
Essa oração nos une com a oração de Jesus. Foi assim que Ele rezou e era isso o que Ele pedia. Acredito que esse aspecto do
Pater Noster seja o mais importante e, no entanto, é o mais
negligenciado de todos. Quando essa oração é rezada com simplicidade,
serenidade e reflexão, nós unimos as nossas orações às de Cristo e a
nossa vontade à d'Ele pela salvação do mundo e pela libertação das
almas.
Fonte: Pantheos | Tradução e adaptação: Equipe Christo Nihil Praeponere
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