Por quê cai o servo que possui conhecimento sobre a palavra de Deus?
Muitas pessoas se perguntam ou as que não as faz, com certeza se questionam o porquê de alguém que tem conhecimento sobre a palavra e as verdades de Deus, inclusive ensinando-as, e que sabe como usar esse conhecimento de forma correta, acabar por sucumbir ao pecado desonrando a Deus e vivendo de forma contrária à Sua vontade.
Para esclarecer a estes perscrutadores, que ter conhecimento da palavra de Deus, bem como, sobre suas verdades, não significa estar livre da mentalidade decaída de Adão e consequentemente do ato ou da atitude pecaminosa. Que ter conhecimento não implica ter sabedoria, pois se possui a segunda quando o homem passa a ver as coisas a partir da perspectiva de Deus, fazendo com que estas se complementem.
Um dos grandes exemplos da Bíblia se não o maior, que pode ajudar a este entendimento, é o do grande rei Salomão. Um homem extraordinário dotado de profundo conhecimento e de notável sabedoria, que alegrou o coração de Deus com sua humildade e seu temor. A Bíblia ensina que nenhum outro homem jamais teve ou terá tamanha capacidade de discernimento (Exceção para Jesus que sempre foi Deus. Mt 12.42).
“...Dou-te um coração tão sábio e inteligente, como nunca houve outro igual antes de ti e nem haverá depois de ti” (1 Rs 3,12).*
Muito embora este magnífico rei tenha sido sobrenaturalmente dotado de tamanha capacidade, ainda assim, acabou por violar seus mandamentos. Seu conhecimento e sabedoria não foram capazes de impedir que desonrasse a Deus, nem muito menos que trouxesse tantos males para si e para a nação, aquela mesma a qual este rei havia pedido sabedoria para que pudesse bem governa-la.
Para se ter melhor compreensão sobre como se deu o processo em que levou Salomão a sucumbir diante do pecado, vamos rever um pouco de sua história.
Filho do grande Rei Davi com Betsabé (esta mulher de Urias, o Heteu, com quem Davi cometeu adultério seguido de homicídio, pois para se livrar de Urias, marido de Bat-Seba, mandou matá-lo).( I Cr3,1-9), teve sua educação entregue ao profeta Natã, o qual foi responsável pela sua excelente formação religiosa e aos 19 anos, Salomão sobe ao trono em meio a uma terrível conspiração formada pelo seu irmão Adonias (aliás legítimo sucessor de Davi para subir ao trono, uma vez que pela Lei da primogenitura, este que herdaria o trono, e tendo morrido os três primeiros, Adonias seria o quarto desta linhagem e Salomão o décimo).
(“Se um homem tiver duas mulheres, uma que ele ama, outra que ele desdenha, e lhe tiverem dado filhos, tanto a que é amada como a que é desdenhada, se o filho desta última for o filho primogênito, esse homem, no dia em que repartir seus bens entre os seus filhos, não poderá dar o direito de primogenitura ao filho da que é amada, em detrimento do primogênito, filho da mulher desdenhada. Mas reconhecerá por primogênito o filho da mulher desprezada, e dar-lhe-á uma porção dupla de todos os seus bens, porque esse filho é o primeiro fruto de seu vigor, é a ele que pertence o direito de primogenitura). (Dt 21,15-17),
Com idade de 70 anos e com a saúde debilitada, Davi acaba por cumprir um juramento feito a Betsabé.(1Rs 1,17), e dar o direito ao jovem que cheio de Deus, pede sabedoria a Deus para guiar e governar o seu povo (1Rs 3).
Ao constituí-lo de notável sabedoria, Deus ainda o cercou de homens de absoluta competência que muito contribuiria na edificação do seu reino. Tudo estava perfeito. Salomão amava a Deus guardando seus mandamentos e cumprindo seus preceitos. Era justo, pois o justo pratica Seus escritos. Fiel naquele momento, o que fazia com que praticasse cultos de agradecimentos.
Absoluto, imponente, com um reinado próspero e com um coração humilde, aquele jovem rei que pedira somente sabedoria para bem governar aquele povo, recebe muito além do que jamais sonhara, pois Deus honra e cumpre suas promessas com aqueles que andam em seus caminhos:
“ Dou-te, além disso, o que não me pediste: riquezas e glória, de tal modo que não haverá quem te seja semelhante entre os reis durante toda a tua vida”.(1Rs 3,13).
Salomão conquistou tudo que poderia em bens materiais, prazer e poder. No livro de Eclesiastes ele descreve parte desse reino de glória e de uma vida usufruída ao máximo:
“Empreendi grandes trabalhos, construí para mim casas e plantei vinhas; fiz jardins e pomares, onde plantei árvores frutíferas de toda espécie; cavei reservatórios de água para regar o bosque. Comprei escravos e escravas; e possuí outros nascidos em casa. Possuí muito gado, bois e ovelhas, mais que todos os que me precederam em Jerusalém. Amontoei prata e ouro, riquezas de reis e de províncias. Procurei cantores e cantoras, e que faz as delícias dos filhos dos homens: mulheres e mulheres. Fui maior que todos os que me precederam em Jerusalém; e, ainda assim, minha sabedoria permaneceu comigo. Tudo que meus olhos desejaram, não lhes recusei; não privei meu coração de nenhuma alegria.”.( Ecle 2,4-10)
Na terra não existiu nenhum outro homem ao qual tenha extraído o máximo que se pode da vida como Salomão o fez, e por isso, é possível crer que pelo fato do grande rei estar exposto a estas fontes de idolatria, isso tenha sido fatores primordiais para consumar sua queda.
Seu elevado intelecto, seu surpreendente saber, cumulado com seu poder de soberano, foram os principais fundamentos na formação da sua glória.
A glória de Salomão era mundialmente conhecida, tanto que despertou a curiosidade da rainha de Sabá (um país provavelmente localizado na região de Chipre na África, onde hoje seria a Etiópia) , a qual morava numa terra distante e que ao contemplar tamanha riqueza e sabedoria, concluiu: “É bem verdade o que ouvi a teu respeito e de tua sabedoria, na minha terra. Eu não quis acreditar no que me diziam, antes de vir aqui e ver com os meus próprios olhos. Mas eis que não contavam nem a metade: tua sabedoria e tua opulência são muito maiores do que a fama que havia chegado até mim. Felizes os teus homens, felizes os teus servos que estão sempre contigo e ouvem a tua sabedoria! Bendito seja o Senhor, teu Deus, a quem aprouve colocar-te sobre o trono de Israel. Porque o Senhor amou Israel para sempre, por isso constituiu-te rei para governares com justiça e equidade”. (1Rs 10, 6-9)
Mas o que teria acontecido com o rei justo e fiel? Como ele se deixou desviar dos caminhos com os quais fôra formado, viveu e amou tendo severa preocupação com as coisas de Deus? Como se deixou contaminar por esta terrível enfermidade que acabou com sua vida espiritual, considerando que não dar nem pra afirmar que ele tenha sido salvo, uma vez que as escrituras não deixam claro sobre esse aspecto, muito embora se creia que seja possível em função do arrependimento manifestado no livro de Eclesiastes.
Glória, riqueza e poder concedidos por Deus, também foram os fatores primordiais para sua queda.
Jesus descreve no evangelho no seu quarto discurso narrado por Mateus (cap.18), que o poder é a primeira tentação na comunidade. Que riqueza e poder são modelos de uma sociedade fracassada que tem suas raízes alicerçadas na idolatria. São princípios que medem a incapacidade humana para dirigir e controlar a vida pessoal ou coletiva. Mostram ainda, que a glória humana serve tão somente para trazer destruição, sofrimento, opressão e morte. Jesus refutava todo e qualquer sistema que tivesse como origem esses princípios que acabam por constituir um regime extremamente escravocrata.
Muito antes da criação do mundo visível, o poder é colocado como a raiz de todo mal. A formosura de um querubim o fez elevar-se a tal ponto que se deixou corromper pela sua beleza e sabedoria. (Ez 28)
Deus criador de todas as coisas dotou sua criação de honra, coloca nela a Sua glória, mas com o passar do tempo, esta se mostra incapaz em sua administração, em saber lhe dar com o dom recebido, e seduzida, acaba por glorificar-se a si mesmo sucumbindo em suas próprias misérias e esquecendo que tudo o que é e o que tem, são apenas atos das mãos e frutos do imenso amor de Deus.
Eis a causa inicial da queda do grande rei. A doença espiritual que como um câncer vai comendo as virtudes da alma e afastando de forma gradativa e progressiva das verdades de Deus. È preciso notar, que o afastamento do rei não foi de forma instantânea, e sim aos poucos quando casou-se por primeiro com a princesa do Egito, depois outras princesas, muitas das quais cananéias. Ele para agradar a estas, permitiu que elas adorassem aos seus deuses e pra isso construiu santuários pra que elas oferecessem o incenso e realizassem seus sacrifícios. Lentamente e de forma imperceptível, Salomão numa forma de agradá-las, comparecia aos rituais como observador mas a prática contínua o fez acabar tenho participação ativa.
A honra, o poder e a glória que Deus lhe dera, acabou por corromper seu coração o levando a adoração a falsos deuses. Foi essa mesma glória, que fez com que não faltassem reis e príncipes que lhe oferecessem suas filhas, irmãs e parentes em casamento.
Naquele tempo, era costume que os acordos políticos incluíssem o casamento, assim, o império além de ser expandido, evitava a ocorrência de conflitos militares. Da mesma forma, também incluiria o casamento com as princesas desses outros reinos. Lembrando que muitas das suas princesas eram das nações com cujas mulheres o Senhor havia especificamente proibido os judeus de se casarem (Deuteronômio 7,1-4).
Seu Pai, o grande rei Davi, também tivera várias mulheres, mas todas israelitas não tendo praticado nenhuma idolatria nesse sentido.
Salomão realizou acordos com os Finícios (antiga civilização, localizada onde hoje é o Líbano e partes da Síria e de Israel), nação pagã adoradores dos falsos deuses), em troca da fabricação de barcos, e em contrapartida, permitiria o acesso a outros mares onde antes nunca tinha navegado. A união com os pagãos (Cananeus, Sidônios e Finícios), elevou não só o crescimento, mas, ltambém, o imenso desenvolvimento econômico. Israel tornara-se uma metrópole Internacional, além de grande centro comercial.
Salomão começava o esfriamento em seu coração que um dia foi humilde e só pensava em zelar pelas coisas do Deus em que ele acreditava ser suficiente. Quando sua mente tinha como certeza de que o temor ao Senhor é o princípio da sabedoria (Pr 1,7). E em Eclesiastes 12, descreve: 13 Em conclusão: tudo bem entendido, teme a Deus e observa seus preceitos, é este o dever de todo homem.14 Deus fará prestar contas de tudo o que está oculto, todo ato, seja ele bom ou mau.
Junto com o grande potencial econômico, abria-se também, portas para adoração aos falsos deuses. As mulheres pagãs inseriram em seu coração a adoração aos seus deuses. Aquele jovem do início do capítulo do livro de Reis, que amava e adorava ao Deus único e verdadeiro, agora no capítulo onze, ergue altares a Quemos, Moloque e a Astarote, a deusa dos Sidôneos.
Neste sentido, dar-se início o processo de queda do grande rei. Com o aumento na expansão territorial, elevava-se também os custos de sua corte. Havia muitas reclamações de seu governo, pelo uso do trabalho forçado, ter elevado os valores dos impostos e de ter gastos fortunas na manutenção de sua corte e em obras dispendiosas. Seu reino de prosperidade conhece agora a exploração, a opressão e o medo. Seu povo sente os efeitos dos elevados tributos e a consequência da inconsequência de um poder corrompido.
Não deixou sucessor, e depois dele, Israel nunca mais iria conhecer a união. O País se dividia em dois reinos(norte e sul), e nunca mais conheceria a paz e a prosperidade, sendo alvo de invasões e submissões até o dia 15 de maio de 1948 quando foi reconhecido Estado Israel pela ONU, fazendo voltar os Judeus dispersos de várias partes do mundo que sonhavam com uma paz que ainda hoje é esperada.
Afastar-se de Deus e de seus caminhos, é conhecer caminhos tortuosos, desonrosos e idolátricos. É praticar atos insanos, é tornar-se insensível, deixar que o coração seja transformado em uma rocha, onde a pratica pecaminosa e nociva o leve a uma completa cegueira espiritual, a uma realidade onde a mais densa escuridão possa ser comparada. É a perca da vontade ou o domínio da matéria sobre a mente, onde jaz a soberania humana.
A Bíblia não explicita se houve arrependimento por parte de Salomão, consequentemente sobre sua salvação. O que se sabe, é que já na velhice, teria escrito o livro de Eclesiastes onde expressa a manifestação de arrependimento, onde ele deixa como legado, uma importante advertência:
“Não façam o que eu fiz. Quando jovem eu era cheio de Deus, e agora eu sou cheio de bens, mas eles não podem mais saciar a minha alma. Temam a Deus e guardem os seus mandamentos pois este é o dever de todos os homens. O resto é vaidade e aflição de espírito e não há nenhum proveito”.
No capítulo 2, ele descreve ainda:
“13 Cheguei à conclusão de que a sabedoria leva vantagem sobre a loucura, como a luz leva vantagem sobre as trevas.14 Os olhos do sábio estão na cabeça, mas o insensato anda nas trevas. Mas eu notei que um mesmo destino espera a ambos,15 e disse comigo mesmo: A minha sorte será a mesma que a do insensato. Então para que me serve toda a minha sabedoria? Por isso disse eu comigo mesmo, que tudo isso é ainda vaidade.16 Porque a memória do sábio não é mais eterna que a do insensato, pois que, passados alguns dias, ambos serão esquecidos. Mas então? Tanto morre o sábio como morre o louco!17 E eu detestei a vida, porque, a meus olhos, tudo é mau no que se passa debaixo do sol, tudo é vaidade e vento que passa”.
O velho rei, exalta o valor da sabedoria, mas também expressa que ela não é suficiente para garantir um destino diferente do insensato.
O conhecimento sobre a palavra de Deus, bem como, até mesmo crer nela, não é suficiente para que possa manter alguém firme e justo. É sim, preciso não tão somente conhecer, crer mas principalmente obedecê-la em todos os sentidos.
Imaginem a imensa sabedoria de Salamão e vejam sua queda. Não existem ninguém com tanta sabedoria assim, logo se conclui que para quem conhece o risco é iminente.
Aparentemente, se faz crer que esse arrependimento expresso por Salomão, se contrito ou não, não se sabe, mas que seria suficiente para que este homem possa ter encontrado sua salvação.
No livro do profeta Jeremias, assim é descrito em seu capítulo terceiro, versículos 13:
13 Reconhece apenas a tua falta; foste infiel ao Senhor, teu Deus; vagaste à procura de (deuses) estrangeiros sob todas as árvores verdejantes; não escutaste minha voz - oráculo do Senhor.
O entendimento é simples, talvez sua verdadeira prática é que encontre na limitação humana, dificuldades para reconhecer e voltar aos caminhos do Senhor de coração contrito.
Quem está disposto à humilhação e ao reconhecimento da natureza pecaminosa em troca do perdão e da restauração da sua vida?
O "cair em si" do filho pródigo descrito nos Evangelhos, é o primeiro sinal de um coração arrenpendido, que sente saudades de sua casa, da sua família, saudades do seu Deus. E para isso, não importa o quão será a humilhação, pois ele sabe que existe um Amor imenso e incondicional de braços abertos esperando-o todos os dias de sua vida.
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Por: Wellington Dantas
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