
Os Magos sempre desfrutaram de muita popularidade;  é suficiente, para comprovar isso, notar que 150 anos após o nascimento  de Cristo, começa a ser reproduzida a figura deles nos cemitérios cristãos.   
 Os cristãos nunca se sentiram  satisfeitos com as escassas informações encontradas no Evangelho. Faltam muitos  detalhes: De onde vinham? Quantos eram? Qual era o nome deles? Qual o meio de  transporte que usaram? O que fizeram depois que voltaram à sua terra? Onde estão  enterrados? 
Para responder a todas estas  perguntas, surgiram, ao longo dos tempos, muitas histórias. Foi dito que eram  reis, que eram em número de três, que vinham um da África, um da Ásia, um da  Europa, e que eram um negro, outro amarelo e outro branco. Guiados pela estrela,  se encontraram num mesmo ponto, e depois de percorrerem juntos o último trecho  da estrada, chegaram até Belém. Chamavam-se Gaspar, Melquior e Baltazar. Para a  viagem serviram-se de camelos e dromedários. Depois de voltarem para casa, após  atingir a venerável idade de 120 anos, certo dia, viram novamente a estrela,  retomaram a viagem e se reencontraram juntos numa cidade da Anatólia para  celebrar a missa de Natal, e no mesmo dia, felizes, morreram. 
Suas relíquias deram a volta ao  mundo e repousam agora na Catedral de Colônia, na Alemanha. 
Muito bem! Mas estas são  histórias! Voltemos agora ao texto evangélico e tentemos entender a mensagem que  Mateus nos quer passar. Para isto precisamos esclarecer alguns detalhes.  
Primeiro, os Magos não eram  reis. Com certeza pertenciam àquele grupo de pessoas, muito comuns na  antiguidade, que sabiam interpretar os sonhos, prever o futuro observando o  curso dos astros ou observando o voo dos pássaros, e sabiam ler a vontade de  Deus através dos acontecimentos comuns ou extraordinários da vida. 
Não deve causar espanto, portanto,  quando se afirma que os Magos conseguiram interpretar, como uma mensagem do céu,  o aparecimento de uma estrela. 
Com relação à estrela: nos  tempos antigos acreditava-se que, quando nascia uma pessoa destinada a uma  grande missão, aparecia ao mesmo tempo uma estrela no céu. 
Mas, enfim, os Magos viram de  fato um cometa? Muitos astrônomos  consumiram boa parte de suas pesquisas e estudos para verificar se, há dois mil  anos atrás, apareceu no céu um cometa. Poderiam ter empregado melhor o seu tempo  em qualquer outro rumo, pois a estrela que os Magos viram não era um astro  material, mas a estrela da qual fala a Escritura. 
Vamos aos fatos. Se lermos os  caps. 22-24 do Livro dos Números, encontramos a surpreendente história de Balaão  e da sua jumenta falante. Balaão era um adivinho, um mago do Oriente, exatamente  como aqueles dos quais nos fala o evangelho de hoje. 
 Certo dia, ele, sem querer, fez  uma profecia importante. Disse: 
"Eu o vejo, mas não é um  acontecimento que virá dentro em breve; eu o sinto, mas não está perto: uma  estrela desponta da estirpe de Jacó, um reino, nascido de Israel, se levanta...  Alguém sai de Jacó e dominará os seus inimigos" (Nm 24, 17.19). 
Assim falava, cerca de 1.200 anos  antes do nascimento de Jesus, Balaão, "o homem do olhar penetrante" (Nm 24,3).  
Desde então, os "israelitas  começaram a aguardar com ansiedade o despontar desta estrela que não é senão o  próprio Messias". 
Estas ideias eram muito familiares  para Mateus e para seus leitores. Apresentando-nos os Magos do Oriente que veem  a estrela, o evangelista simplesmente nos quer dizer que finalmente chegou o  esperado Libertador da estirpe de Jacó. É  aquele Jesus que os Magos reconheceram e  adoraram. E ele a estrela. 
Tentemos agora relacionar o  Evangelho de hoje com a primeira leitura. O profeta dizia que, quando em  Jerusalém tivesse brilhado a luz do Senhor, todas as nações se teriam  posto a caminho em direção à cidade santa, levando seus dons. Mateus interpreta  o episódio dos Magos como sendo a realização desta profecia: guiados pela luz do  Messias, os povos pagãos (representados pelos Magos) se dirigem para Jerusalém,  para levar os seus dons: ouro, incenso e mirra. 
Da mesma forma, a história da  caravana de animais não foi inventada à toa; a primeira leitura já nos fala de  "um tropel de camelos e dromedários", vindos do Oriente (Is 60, 6). 
Mas então, seremos obrigados a  tirar dos nossos presépios e apagar a imagem do cometa? Não! Vamos continuar  contemplando esta estrela, vamos apontá-la para nossas crianças, mas ensinemos a  elas que a estrela não é um astro do céu, mas é Jesus, é ele a luz  que ilumina todos os homens. 
Os Magos representam os homens do  mundo inteiro que se deixam guiar pela mensagem de paz e de amor de Cristo.  
Eles são a imagem da Igreja,  formada por povos de todas as etnias, tribos, línguas, nações. Entrar para a  Igreja não quer dizer renunciar à própria identidade, não quer dizer submeter-se  a uma injusta e falsa uniformidade. Todas as pessoas e todos os povos devem  manter as próprias características culturais, que até enriquecem a Igreja  universal. Ninguém é tão rico que não precise de nada e nem tão pobre que não  tenha nada para dar. 
Nos dias de hoje, como nos tempos  de Jesus, diante da estrela as pessoas assumem posturas diferentes. Há as que,  como os Magos, se ajoelham (v. 11), reconhecem nele a luz do mundo e se  submetem; há outras que permanecem indiferentes e outras, enfim, que tentam  apagar esta luz. Todos viram a mesma realidade: um menino recém-nascido, mas as  opções foram e são diferentes. Quem está em condições de reconhecê-lo? Os que se  deixam iluminar pela Escritura que nos fala dele. 
Fernando Armellini[1]
[1] Fernando Armellini é um estudioso da  Bíblia, formado no Instituto Bíblico de Roma. Este comentário foi extraído do  livro CELEBRANDO A PALAVRA, Ano A, ©Editora Ave-Maria,  1995
 
 
 
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