sábado, 14 de janeiro de 2012

PAI, EM TUAS MÃOS ENTREGO O MEU ESPÍRITO.




Solidão de Jesus - Michel Ciry

Solidão de Jesus - Michel Ciry



Ninguém tem maior amor
do que aquele que
dá a sua vida por seus amigos
(Jo 15,13).



O homem, por si só, não busca a salvação. É Deus quem vem salvá-lo. Por si só, o homem prefere viver sem Deus: mas Deus não consegue viver sem o homem. O amor divino não se permite excluir alguém, muito menos ser feliz sozinho. Por isso, por amor a cada um de nós, pessoalmente, Deus veio ao nosso encontro através de seu Filho Jesus. Que se fez igual a nós em tudo, menos no pecado. Fez-se o menor de todos, o servidor universal. Curou os doentes, consolou os tristes, perdoou os pecadores, ensinou um novo caminho de verdade e de vida.


Achou, porém, que era pouco: quis dar tudo, para que tivéssemos a certeza de que nos ama plenamente, apesar do que somos e fazemos de misérias e pecados: Jesus, tendo amado os seus que estavam no mundo, até ao extremo os amou (Jo 13,1). E amar ao extremo, perfeitamente, é não ficar com nada para si: é dar a própria vida. Esse o grande sinal da morte de Jesus, de sua fraqueza plena na Sexta-feira santa, quando ele, que poderia destruir todos os poderes deste mundo, aceitou por eles ser levado à morte. Não qualquer morte, mas a morte mais humilhante no seu tempo, a morte na cruz. Não uma morte rápida: queria tudo sofrer, da humilhação à tortura, da dor ao abandono dos seus, da coroa de espinhos à cruz, do manto de púrpura à nudez total, do suor de sangue ao derramamento da última gota de sangue. No final, pendurado na cruz, desprezado por quase todos, morto, de seu lado aberto saiu sangue e água. Nada mais tinha a oferecer por nós e no sangue deu-nos a Eucaristia e, na água, o Batismo.


O Cristo morto parecia representar a vitória do ódio, do pecado: era, porém, a vitória do amor. Aqueles que o humilharam, flagelaram e crucificaram, esperavam palavras de ódio, exclamações pedindo vingança, que entrasse no jogo humano do ódio. Mas não! O que ouviram foi uma palavra mansa, brotada do coração do homem das dores: Pai, perdoa-lhes porque não sabem o que fazem! (Lc 23,34) Achavam que tinham morto um homem prepotente, blasfemo, que queria conspirar contra a ordem política e religiosa. Mas o homem de Nazaré somente queria amar, que aceitassem ser amados por ele. Ele poderia nos salvar pelo poder do amor, mas preferiu salvar-nos pelo amor puro, sem outra força que a do próprio amor.


Naquela tarde de sexta-feira, no Monte Calvário assistiu-se a uma cena que somente o amor poderia criar: o Filho de Deus, Senhor e Rei, tomando sobre si todos os pecados da humanidade, de todos os tempos e lugares, aceitando ser transformado num ser irreconhecível, desfigurado, fedendo suor e sangue em decomposição, cercado de dois ladrões, para poder dizer a cada um de nós: “O que podia fazer por você, eu fiz! Recebam meu amor!” Jesus colocou-se entre nós e Deus, como a galinha que esconde sob as asas seus pintinhos para que, antes de nos ver, Deus enxergue seu Filho e não leve em conta nossos pecados.


Podemos não compreender o amor de Jesus, mas temos que ser muito insensíveis para não perceber o amor que ele tem por cada um de nós e não aceitá-lo em nossa vida. Mas, não vale a pena viver sem Jesus, pois não vale a pena viver sem um amor tão grande!



 
Pe. José Artulino Besen


blog:pemiliocarlos

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