sábado, 14 de janeiro de 2012

PARA ONDE VAI A CIÊNCIA?

Caros irmãos e amigos,


Para onde vai essa correria nossa? Que sentido tem essa busca desenfreada pelo não sei o quê?
Cada vez mais as pessoas correm, buscam algo, buscam conhecer bastante, produzir resultados, mas ... se perdem.
É isso mesmo, meus caros: as pessoas estão perdidas. Mas, nessa simplória mensagem, não gostaria de me estender a todas as questões.
Gostaria de me deter em um universo específico, aquele que faz parte de meu dia-a-dia: a ciência e a tecnologia.

Para onde vai a ciência? Vemos uma preocupação muito forte, especialmente entre os órgãos de fomento à pesquisa, em obter produtos. São elaboradas políticas para priorizar projetos que tenham bem em vista um produto ou tecnologia que venha a ser usada em curto prazo para a sociedade.
Há em tudo isso algo muito bom. Claro que sim! Não reconhecê-lo seria loucura. Há algo bom: o retorno social. É justo que se dê uma resposta à sociedade que espera um retorno de seu investimento em impostos.

De fato: a ciência pode carregar em si uma sublime e fundamental maneira de bem utilizar os impostos pagos em seus resultados. Somos beneficiários disso na quase totalidade de nossos momentos minuto após minuto. Não há dúvida!
Sempre a ciência teve um papel de apresentar alternativas para o homem saber lidar com suas limitações de tal maneira a superá-las. Era uma maneira de dilatar os horizontes. Estes eram sentidos e sua percepção oferecia a possibilidade de, sempre em busca de ir além daquela limitação, contorná-la. Voltemos à descoberta da combustão, das ferramentas de corte, à invenção da escrita.

Isso é ciência! É tornar o homem ciente de uma possibilidade que antes era velada.

É bela essa história! É o homem que busca, que sente sua contingência e quer dar um passo para além dela. É o exercício da possibilidade de se expandir. É assim que o homem constrói a história.

É bem verdade que muitas das leis naturais descobertas ou manipuladas na história vieram em decorrência das guerras. Nelas, o homem via a ameaça do outro e isso o fazia pensar incansavelmente em alternativas. É a perversão da ciência, porém a via pela qual os inventos e descobertas evoluíram mais rápido. O homem evolui junto com o tamanho de seu pecado.

Não é à toa, entretanto, que em períodos conturbados como esses, a própria guerra eram operações assumidas pelos deuses. E a ciência assumia um caráter de potência divina. Com isso, a ciência e seus produtos e técnicas encontravam um significado mais profundo, ocupando dimensões mais significativas do ser humano.

A ciência era ainda, apesar de tudo, algo humano.
É interessante que por longos séculos a ciência se deixou acompanhar pela filosofia. Foi assim entre os gregos, foi assim na Europa medieval (sim, para escândalo de certos iluminados!!!), foi assim no mundo asteca, foi ainda entre os árabes do florescer muçulmano. O saber foi se tornando algo tão belo que o homem encontrou aí uma identidade e um significado.
Sim, a ciência deu a possibilidade de um conhecer. Na ciência, tornou-se possível encontrar respostas concretas que a filosofia não seria jamais capaz de dar. Os anseios humanos produziam as questões, a filosofia as elaboravam, a ciência oferecia algumas respostas, sem, porém, ter a pretensão de esgotar-lhes os significados.

O problema começa quando a ciência quer ocupar espaços que não lhe são devidos. Mas não é ela que os rouba. É o homem, sou eu, é você que corrompemos a ciência. De fato, chamamos o bem de mal e vice-versa, como não daríamos à ciência um poder que ela seria sempre incompetente em exercer?

É, meus caros! A ciência rezava, meditava, refletia. Ela, nascida da própria contingência humana, circulava nos contornos dessa contingência. Era possível amar, sentir os limites humanos. A ciência era brilhante. Ela tinha o brilho do olhar humano, pelo seu desejo que ultrapassa a si mesmo, que transcendia. A ciência era tida como um dom, uma dádiva. A ciência era como um reflexo da potência divina.

Hoje, o cenário é esse: pesquisadores querem cada vez mais produção científica, cada vez mais fomento de empresas, cada vez mais alunos, cada vez mais resultados.

E por quê? Porque a sociedade pede resultados. Mas também porque eles precisam alimentar uma ilusão: a de que a ciência, o cientista, pode dar essas respostas. E mais: de que todas as respostas encontradas pela ciência são passíveis de uso.

As vozes proféticas que denunciaram essas coisas não foram escutadas. E bombas atômicas foram detonadas, armas químicas mataram e degradaram a tantos. Segue ainda o cinismo dos cientistas de células-tronco embrionárias a dizer que poderão oferecer a cura de doenças as mais diversas.

E o que dizer daqueles que submetem a ciência a um ídolo chamado ideologia para dizer que o ser humano é essencialmente homossexual? A ciência foi empurrada para um espaço que não é dela. A ciência, se não está a serviço da ideologia, está a serviço de um outro ídolo, chamado mercado. O mercado pede, o pesquisador tem que entrar na concorrência para ter seus royalties garantidos. E o mesmo mercado precisa de muitos que estejam a serviço dessa ilusão. Ela está tensionada a comprimir a fé, a esperança, o amor, o sonho, o significado da vida, da minha vida, da nossa vida.
A ciência está esticada para além de seus domínios. Meus amigos, querem saber o que penso disso tudo?

Penso, com toda sinceridade, que a ciência tende a se cansar, a se estagnar, a se questionar a si mesma dizendo: “quem eu sou?”

A ciência, de fato, já não se questiona mais. Ela quer questionar e responder a tudo e a todos. A ciência está se arriscando num terreno onde ela não tem competência.

A tendência muito natural da ciência é se cansar. Quem estará, em pouco tempo, disposto a essas coisas?

Se bem que haverá quem pague e até muito bem a quem se submeta a isso, porque há um deus poderoso a garantir essas coisas: o dinheiro, alimento da iniqüidade, alimento do herói, o homem que se salva a si mesmo. A esse dinheiro se atribui a paz, a segurança, a alegria, o conhecimento, o poder, o bem-estar, a vida.

Numa palavra, o dinheiro é tudo. A ciência oferece as respostas que de esse “tudo” precisa.

Mas a idolatria cansa.

Querem ver?
A ciência conseguiu diminuir a miséria no mundo? Pior! Que aconteceu nesse último século, dito científico, pós-moderno? A depressão, o “stress”, a solidão, o abandono, o abismo entre ricos e pobres, a violência aumentaram. A ciência perdeu força de compaixão, força de sentir a contingência humana e trabalhar cuidadosamente aí. Perdeu um poder magnífico: o poder criador e regenerador. O poder criador e regenerador são características do Amor. NEle, tudo é criado.
Rezamos no Credo: “per Quem omnia facta sunt!” Por Ele, por Cristo, o Verbo de Deus, que se fez carne e habitou entre nós, todas as coisas foram feitas. Foi no Amor que todas as coisas foram criadas.

Cristo se manifestou para o homem como Sacramento desse Amor. A ciência! Ah, a ciência. Como ela não poderia ser um sacramento também. Poderia ser um sacramento de criação e regeneração. Se o Deus dela fosse outro, se fosse tão humano como nosso Deus, o Deus de Cristo, ela não seria tão desumana, não se cansaria, não se perderia. “Cansam-se as crianças e param, os jovens tropeçam e caem, mas os que esperam no Senhor renovam suas forças, criam asas como águias, correm sem se cansar, caminham sem parar” (Is 40,30-31).

Retornaria o brilho de um olhar que arde por um sonho tão belo: o do homem vivo, pleno, em comunhão com o Eterno, ele mesmo eternizado. Na realidade, ela seria apenas um espaço para que o Deus de Amor se manifestasse.
Sim, meus caros, “a ciência desaparecerá porque nosso conhecimento é limitado” (1Cor 13,8-9). Ele sempre o será, até o Dia feliz em que o Ilimitado nos abrir os olhos, e já não precisarmos mais da ciência e de mais nada. Se ela tiver submetido a Ele, terá cumprido seu papel e desaparecerá como São João Batista, no desejo feliz de que Ele, o Senhor, cresça e ela diminua; caso contrário, ela só será o movimento da condenação humana a rastejar pelo fétido espaço de misérias ruminadas e idolatradas.

Sim, meus caros! É necessário confessar o fracasso de nossa ciência, o fracasso de uma história que tem seu desfecho delineado: o homem infeliz, perdido no seu círculo vicioso de causas e efeitos. Triste do homem a quem Jesus dirige tais palavras: “Hipócritas! Vós sabeis interpretar o aspecto da terra e do céu. Como é que não sabeis interpretar o tempo presente? Por que não julgais por vós mesmo o que é justo?” (Lc 12,56-57)

Eis o que é justo, como diz a Divina Liturgia de São João Crisóstomo: “À Sabedoria estejamos atentos!” A Ela, que se encarnou e mostrou seu rosto entre nós, a glória, a honra e o louvor, hoje e pelos séculos dos séculos. Amém!




blog:pemiliocarlos

Nenhum comentário: