Da
Itália, a carta aberta de “um velho bispo que ainda crê em Deus, em
Cristo e na Igreja”, às vítimas do atentado terrorista de Manchester,
ocorrido esta semana, na Inglaterra.
Queridos filhos,
Quero chamá-los assim, mesmo que não os conheça. Mas, nas longas horas
de insônia que seguiram ao anúncio deste terrível ataque, em que muitos
de vocês já morreram e muitos ficaram feridos, eu os senti ligados a mim
de uma forma especial.
Vocês vieram ao mundo, muitas vezes sem ser desejados, e ninguém lhes
deu as "razões adequadas para viver", como dizia o grande Bernanos a
seus contemporâneos adultos. Vocês foram entregues ao mundo sob dois
grandes princípios: que podiam fazer o que quisessem, pois cada desejo
de vocês é um direito; e a importância de se ter o maior número possível
de bens de consumo.
Vocês cresceram assim, acreditando que tivessem tudo. E quando vocês
tinham algum problema existencial — antigamente se dizia assim — e o
comunicavam aos seus pais, aos seus "adultos", logo tratavam de agendar
um psicanalista para resolver o problema. Eles só se esqueciam de dizer a
vocês que existia o Mal. E o Mal é uma pessoa, não um conjunto de
forças e energias. É uma pessoa. Esta pessoa estava escondida ali,
durante o concerto. E a terrível asa da morte, que a acompanha, se
apoderou de vocês.
Meus filhos, vocês morreram assim, quase sem razões, do mesmo jeito
como viveram. Não se preocupem, afinal ninguém os ajudou a viver; mas
farão certamente um belo funeral, no qual se expressará ao máximo esta
oca retórica laicista, com todas as autoridades presentes — incluindo,
infelizmente, até os religiosos —, todos de pé, em silêncio.
Naturalmente, será um funeral em espaço aberto, mesmo para os que têm
fé, já que hoje em dia o único templo é a natureza.
Robespierre riria de tudo isso, pois nem mesmo ele teve essa fantasia.
Aliás, nas igrejas não se fazem mais funerais, pois, como diz agudamente
o cardeal Robert Sarah, agora nas igrejas católicas só se celebram os
funerais de Deus. Os "adultos" não se esquecerão de colocar nas calçadas
os seus bichinhos de pelúcia, as memórias de sua infância, de sua
primeira juventude. E depois tudo será arquivado na retórica daqueles
que não têm nada a dizer sobre tragédias, pois nada têm a dizer sobre a
vida.
Espero que, nesse momento, pelo menos alguns destes gurus — culturais,
políticos e religiosos — contenham as palavras e não nos atropelem com
os discursos habituais, dizendo que "não se trata de uma guerra de
religião", que "a religião é, por natureza, aberta ao diálogo e à
compreensão". Espero que haja um instante silencioso de respeito. Antes
de tudo, pelas suas vidas, ceifadas pelo ódio do demônio, mas também
pela verdade. Pois os "adultos" deviam, antes de tudo, ter respeito pela
verdade. Podem não servi-la, mas devem ter respeito por ela.
Seja como for, eu que sou um velho bispo que ainda crê em Deus, em
Cristo e na Igreja, vou celebrar a missa por todos vocês no dia do seu
enterro, para que do outro lado — quaisquer que tenham sido suas
práticas religiosas — vocês encontrem o rosto querido de Nossa Senhora, e
que, apertando vocês em seu abraço, os console desta vida desperdiçada,
não por culpa de vocês, mas por culpa dos seus "adultos".
Por Dom Luigi Negri — La Nuova Bussola Quotidiana | Tradução: José Carlos Zamboni
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