O amor do Ressuscitado aplaca todo medo da nossa alma. Quando somos
envolvidos pela certeza plena de que Deus venceu a morte, o medo já não tem
mais poder sobre nós!
A experiência de ver vivo o que haviam visto Crucificado e morto
desvela fulgurantemente a resposta de Deus sobre o destino da humanidade: a
vida em plenitude.
Mais importante, porém, do que recordar a morte daquele que se foi é
aprender de sua vida e dispor-se a entrar em um novo modo de viver. O mistério pascal – morte e ressurreição de
Jesus Cristo – não apenas ilumina e ajuda a reler sua vida, mas também ensina
poderosamente qual é a vida que Deus diz que é plena, perene e que não é engolida pela morte.
Por isso, mais importante do que crer na ressurreição após a morte, é
viver desde já como ressuscitados. É
aceitar que o mistério da Ressurreição de Jesus Cristo da cruz e do túmulo
configure nossa vida e lhe dê uma nova forma.
Não forma física, pois não se trata de reencarnação, mas forma nova no
espírito que por sua vez transfigura a corporeidade e a totalidade do humano.
Viver como ressuscitados é
viver fora de si. Ser sábio de uma
loucura repudiada pelos sábios deste mundo que creem conhecer e dominar a
riqueza e o poder, mas na verdade por elas são dominados. É “saber” com uma força indestrutível que
somos criados pelo Autor da vida a cada minuto para viver e dar vida.
E quanto mais vida dada, tanto mais vida recebida. Trata-se de conhecer o jogo que aí ganha nova
preponderância: perder é ganhar, entregar-se e perder-se no amor e no serviço é
encontrar-se e possuir-se.
Viver como ressuscitados é ter o olhar transfigurado pelo Espírito que
permite ver beleza e dignidade onde parece só existir lixo e miséria. É ter ouvidos abertos para, em meio aos
ruídos dissonantes, escutar murmúrios e
clamores dos que amam e dos que sofrem e sentir-se comovido por eles. É sentir na boca o beijo exigente da fome e
da sede de justiça e dar-se em eucarístico alimento para saciá-las. É estender as mãos para servir e ajudar
aqueles que buscam um rumo em suas vidas solitárias e perdidas, e
transmitir-lhes a inefável experiência de sentir-se amados, acompanhados e
curados em suas feridas profundas e doloridas.
Viver como ressuscitados é encontrar o segredo da alegria, esse
mistério tão desejado e ansiado pelo coração humano. Viver
como ressuscitados é experimentar que o centro da vida se encontra à
margem do caminho, muitas vezes ferido e semimorto; é saber que a criação é feita não para a destruição
e a morte, mas para o baile do amor fecundo que não termina e se desdobra em
frutos de paz, diálogo e convivência.
Viver como ressuscitados é estar sempre em movimento, sempre em busca,
nunca instalados. É saber que não temos aqui morada permanente, mas não somente
esperamos a que há de vir como a construímos com o sopro do Espírito
presenteado pelo Ressuscitado aos discípulos ainda atônitos e assustados.
Viver como ressuscitados é levar no próprio corpo as marcas de Jesus
para que a vida por Ele dada se manifeste plenamente ao mundo. É estar no mundo sem ser do mundo, mas
pertencer ao Senhor. É não ter domicílio
em nenhum lugar, mas encontrar o próprio lar dentro de si mesmo, onde o
Espírito do Pai e do Filho faz morada.
Viver como ressuscitados é, em suma, viver urgidos pela caridade,
iluminados pela esperança, suportados pela fé no que ainda não se vê, mas se
“sabe” que será.
É não guardar para si este segredo sussurrado ao ouvido na manhã do
domingo, mas anunciá-lo sem medo em todos os dias da semana, convertendo o
discipulado em ardente e constante apostolado.
Padre Emílio Carlos Mancini+
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