Os
casos de abusos sexuais cometidos por padres católicos são apenas a
“ponta do iceberg” de um fenômeno muito maior e mais grave. Seu nome é
“mundanidade”, e ele está dentro da Igreja.
A edição de semana passada de Veja traz uma reportagem extensa, matéria
de capa inclusive, sobre o difícil tema da "pedofilia na Igreja".
A razão do destaque é um episódio recente, acontecido na cidade goiana
de Caldas Novas, em que um sacerdote católico abusou de um jovem
deficiente de 15 anos de idade. Graças à denúncia da vítima e à ação
policial imediata, o padre terminou preso em flagrante, logo após a
realização do crime.
O trecho feito público da reportagem exclusiva de Veja" traz todos os detalhes sórdidos desse caso revoltante, incluindo a identidade homossexual do sacerdote,
cujo celular "registra conversas eróticas com mais de cinquenta homens
desde outubro de 2014" — conversas que "incluem trocas de nudes,
inclusive do padre, que, no mesmo período, marcou encontros com 38
homens".
Este não é o caso, portanto, de um sacerdote fiel à vocação que escolheu. Não
estamos falando de um padre celibatário, mas de uma pessoa que fazia do
sacerdócio católico máscara para esconder seu verdadeiro estilo de vida.
Não foi, pois, a falta de sexo que o fez "subir pelas paredes" — como
aqueles que estão fora da Igreja vulgarmente pensam de quem não possui
uma vida sexual ativa, seja ou não celibatário —, mas, ao contrário, foi justamente o excesso de sexo e de perversão que o levou ao ponto a que ele chegou.
É evidente que há um punhado de pessoas promíscuas que não cruza a
linha dos ilícitos penais, que vive uma vida de impurezas e devassidão,
mas toma o devido cuidado para não cair nas mãos do Estado. Qualquer
pessoa saudável sabe, no entanto, que o sexo pode transformar-se em
ídolo, escravizando aqueles que o cultuam. Só não o enxergam aqueles
que, seduzidos pelo canto da sereia, já se atiraram ao mar e se
entregaram à morte, alcançados ou não pelo Direito Penal.
A conduta deste homem, portanto, é um triste retrato da sociedade de
nossa época — sociedade da qual os clérigos infiéis não constituem senão
extensão moral.
A capa da revista Veja, por exemplo, põe um colarinho romano na foto de
um homem a tapar a boca de uma criança, enquanto ele mesmo segura um
terço. O que aquele padre específico vestia, no entanto, na sauna de um
clube de Caldas Novas, certamente não era um hábito eclesiástico —
"padres de batina" já são raros, quanto mais em um clube! —, tampouco
trazia ele em suas mãos um terço, como pinta a imagem da revista. Aquele homem estava publicamente em trajes de banho, tomando cerveja com dois amigos, também homossexuais.
O ofício de sacerdote católico não só era um aspecto acidental de sua
personalidade, como entrava em total oposição com o que ele estava
fazendo naquele lugar. Para percebê-lo, não é preciso sequer conhecer o
capítulo do Código de Direito Canônico que trata "das obrigações e dos direitos dos clérigos". Basta imaginar um São João Maria Vianney
ou um São João Bosco, modelos de sacerdotes santos, frequentando o
mesmo lugar, trajando as mesmas roupas ou tendo o mesmo comportamento.
O problema que afeta os padres da Igreja, portanto, não se chama
pedofilia. Os casos de abusos sexuais de menores são apenas a "ponta do
iceberg" de um fenômeno muito maior e mais grave, que é a mundanidade dentro da Igreja: por seus terríveis pecados — pecados que fizeram Nossa Senhora de La Salette chamá-los de "cloacas de impureza" —, muitos sacerdotes se tornaram sal insosso, sem sabor, e que, justamente por isso, só servem para ser calcado pelos homens.
É o que está acontecendo neste momento ao padre da história de Veja: um
homem que foi ungido e elevado por Deus à dignidade quase infinita do
sacerdócio agora usa as vestes de um presidiário no estado de Goiás; um
homem que foi tirado do meio do povo para levá-lo ao Céu transforma-se
em pedra de escândalo e causa de perdição. Verdadeiramente, como diz o
adágio latino, corruptio optimi pessima, "a corrupção dos melhores é a pior de todas as corrupções".
Esse fato deve ser, sem dúvida, um exame de consciência e um alerta
para todas as autoridades da Igreja, para que selecionem melhor os
candidatos ao sacerdócio, para que orientem melhor os seus filhos padres
e para que punam exemplarmente aqueles que são infiéis à sua identidade
e à sua missão. Assim como São Pedro Damião clamou no século XI por uma
reforma do clero, em seu famoso "Livro de Gomorra" (Liber Gomorrhianus, em latim), é hora de retomarmos o ensino tradicional da Igreja e a nossa vocação original de ser fábrica de santos.
Para tanto, os sacerdotes — assim como todos os cristãos — precisam
aprender novamente aquela verdade que os primeiros seguidores de Cristo
viviam em sua integridade: nós não somos deste mundo, nem fomos feitos para agradar ao mundo. É quando queremos ser vaidosamente aplaudidos nos palcos desta vida que começam os nossos problemas.
Por Equipe Christo Nihil Praeponere
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