A dimensão profética percorre a
liturgia da Palavra deste domingo, em Elias, o profeta da esperança e da vida,
em Paulo, o profeta do Evangelho recebido de Deus, e, particularmente, em
Jesus, o grande profeta que visita o seu povo em atitude de total oblação.
A primeira leitura apresenta-nos a
figura da mulher de Sarepta, que significa a perda da esperança e o sentimento
de derrota e de procura de um culpado, e a figura do profeta Elias, que
acredita no Deus da vida, que não abandona o homem ao poder da morte,
ressuscitando o filho da viúva.
No Evangelho, temos a revelação de Deus
expressa na atitude de piedade e compaixão de Jesus no milagre da ressurreição
do filho da viúva. Deus visita o seu povo em Jesus, “um grande profeta”,
realizando o reino pela ressurreição, oferecendo a sua vida e dando-lhe pleno
sentido.
Na segunda leitura, acolhemos a
absoluta gratuidade da conversão de Paulo, para quem o Evangelho é uma força
vital e criadora, que produz o que anuncia; a sua força é Deus. É uma força
vital, uma dinâmica profética que ele recebeu diretamente de Deus.
1º leitura: 1 Reis
17,17-24 -
O episódio de hoje, a ressurreição do
filho da viúva de Sarepta, é um dos milagres atribuídos a Elias e enquadra-se
na polemica contra a religião cananeia do deus Baal.
Este era considerado o senhor e o
esposo da terra e simbolizava a fertilidade dos campos, dos animais, das
famílias. Enfim, era o deus da fecundidade e da vida.
Portanto, em Canaan, celebrava-se todos
os anos a festa da morte e da ressurreição da natureza na figura de Baal.
O milagre de Elias, como outros a eles
atribuídos, significa fundamentalmente que Yahveh é a única fonte da vida e da
fertilidade. A vida vem de Deus. Toda a vida e ação de Elias apontam nesse
sentido; o próprio nome Elias significa “Yahveh é o meu Deus”. Portanto, todos
os elementos da mensagem devem ser vistos à luz desta centralidade. Todo o
relato, que pode denotar referências mágicas na relação entre pecado e doença,
baseia-se na oração de Elias, que deixa clara a sua fé num Deus pessoal, senhor
e fonte de vida.
A viúva de Sarepta, uma mulher
estrangeira, confessa a fé em Elias como “homem de Deus”, “porta-voz de Deus”:
“Agora vejo que és um homem de Deus e que se encontra verdadeiramente nos teus
lábios a palavra do Senhor”. Naamã confessará uma fé semelhante, depois de ser
curado e se ter lavado no Jordão por indicação de Eliseu (cf. 2 Re. 5,15).
Jesus fará referência à viúva de Sarepta e ao sírio Naamã como representante
dos gentios que entram n Igreja, após receber o Evangelho (cf. Lc. 4,25 27).
A figura da mulher significa a perda da
esperança e o sentimento de derrota e de procurar um culpado. O profeta Elias é
a figura que acredita no Deus da vida, que não abandona o homem ao poder da
morte.
Como pensamos e agimos hoje, nós que
somos cristãos? Não ficamos muitas vezes no paganismo, na falta de esperança,
no derrotismo das desgraças que nos atingem? Quando é que, verdadeiramente,
agimos como se Deus fosse verdadeiramente o único Deus da vida e da bondade?
Quanto caminho a fazer para sermos profetas à maneira de Elias…
2º leitura: Gl.
1,11-19 -
O texto de hoje enquadra-se na
acentuação muito forte da absoluta gratuidade da conversão de Paulo. A essa luz
Paulo prega um Evangelho que não é de origem humana. Poder-se-ia pensar que
este Evangelho tem um conteúdo da catequese sobre os fatos e os ditos de Jesus.
Ora, Paulo, quando perseguia ferozmente os cristãos, conhecia bem o conteúdo da
sua doutrina. Para Paulo, o Evangelho é uma força vital e criadora, que produz
o que anuncia; a sua força é Deus. É uma força vital, uma dinâmica profética
que Paulo recebeu diretamente de Deus.
Para Paulo, a sua conversão é obra
exclusiva de Deus. Temos aqui um equilíbrio dinâmico entre a gratuidade da fé e
a adesão à tradição e magistério eclesiástico.
Somos convidados a estarmos sempre
abertos à revelação de Deus, à autêntica conversão, ao acolhimento do Evangelho
vivo de Deus.
Evangelho: Lc.
7,11-17 -
Anúncio do Evangelho
— O Senhor esteja convosco.
— Ele está no meio de nós.
— PROCLAMAÇÃO do Evangelho de Jesus Cristo + segundo Lucas.
— Glória a vós, Senhor.
Naquele tempo, 11Jesus dirigiu-se a uma cidade chamada Naim. Com ele iam seus discípulos e uma grande multidão. 12Quando
chegou à porta da cidade, eis que levavam um defunto, filho único; e
sua mãe era viúva. Grande multidão da cidade a acompanhava. 13Ao vê-la, o Senhor sentiu compaixão para com ela e lhe disse: “Não chores!” 14Aproximou-se, tocou o caixão, e os que o carregavam pararam. Então, Jesus disse: “Jovem, eu te ordeno, levanta-te!” 15O que estava morto sentou-se e começou a falar. E Jesus o entregou à sua mãe. 16Todos
ficaram com muito medo e glorificavam a Deus, dizendo: “Um grande
profeta apareceu entre nós e Deus veio visitar o seu povo”.
17E a notícia do fato espalhou-se pela Judeia inteira, e por toda a redondeza.
— Palavra da Salvação.
Temos aqui o episódio da ressurreição
do filho de uma viúva, em paralelismo com o da primeira leitura. O milagre
relatado neste texto, assim como o dos versículos anteriores, respondem à
pergunta de João de Baptista a Jesus: “és Tu que hás-de vir ou devemos esperar
outro?” Jesus oferece a salvação (cf. Lc. 7,1-10) e mostra o verdadeiro triunfo
da vida (cf. Lc. 7,11-17). Não é o relato em si que é o mais importante, mas o
sentido que nos transmite.
Antes de mais, temos aqui uma revelação
de Deus. Diante da atitude de piedade e compaixão de Jesus, neste milagre de
ressurreição, vemos a exclamação do povo:
“Deus visitou o seu povo”. Jesus é “um
grande profeta”, não apenas porque transmite a Palavra de Deus e anuncia o
reino com palavras, mas sobretudo porque veio realizar o reino pela ressurreição,
oferecendo a sua vida.
Em seguida, vemos aqui o sentido da
vida. Jesus veio criar, oferecer ao homem a alegria de uma vida aberta com todo
o sentido.
Percebemos ainda todo o caráter de
sinal presente no milagre. A ressurreição do filho da viúva testemunha Jesus
que há-de vir, cuja vida triunfa plenamente sobre a morte.
Significa que para nós, hoje como
então, Deus Se encontra onde há o sentido da piedade, do amor vivificante.
Significa ainda que, seguindo Jesus, só podemos também suscitar vida, ter
piedade dos que sofrem, oferecer a nossa ajuda, ter uma atitude de oblação.
Das duas, uma: ou fazemos da nossa vida
um cortejo de morte, dos sem esperança, que acompanham o cadáver, em atitude de
choro, de luto, de desespero; ou fazemos do nosso peregrinar um caminho de
esperança, de ressurreição, de transformação do choro e da morte em sentido de
vida. Podemos escolher, é certo. Mas se somos seguidores de Cristo e nos
deixamos visitar por esta grande profeta, não temos alternativa!
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