segunda-feira, 9 de junho de 2014

ESPERAR INTEIRAMENTE EM TI.

“A humildade é uma virtude, não é neurose.
Liberta-nos para que possamos agir virtuosamente, servir a Deus e conhecê-lo. A verdadeira humildade, portanto, jamais poderá inibir qualquer ação realmente virtuosa. Tampouco pode impedir-nos de nos realizamos aderindo à vontade de Deus. A humildade nos torna livre para fazermos o que é verdadeiramente bom, mostrando-nos nossas ilusões e retirando nossa vontade daquilo que era penas um bem aparente. Uma humildade que gela o nosso ser e frustra toda sã atividade não é, de modo algum, humildade, mas uma forma disfarçada de orgulho. Seca as raízes da vida espiritual, tornando impossível nossa entrega total a Deus.
Senhor, ensinaste-nos a amar a humildade, mas não aprendemos. Aprendemos somente a amar-lhe a camada externa – a humildade que torna alguém atraente e encantador. Por vezes, fazemos uma pausa para refletir sobre essas qualidades e muitas vezes fingimos possuí-las e tê-las adquirido “praticando a humildade”. Se fôssemos realmente humildes, saberíamos até que ponto somos mentirosos.
Ensina-me a aceitar uma humildade que, sem cessar, me faça ver que sou um mentiroso e um fingido, e que, mesmo assim, tenho a obrigação de procurar com esforço a verdade, de ser tão verídico quanto me seja possível, ainda que tenha que achar, inevitavelmente, toda a verdade de que sou capaz, envenenada pela duplicidade. Eis o que é terrível a respeito da humanidade; nunca tem pleno êxito. Se ao menos fosse possível ser inteiramente humilde aqui na terra. Mas não, aí está o problema. Tu, Senhor, foste humilde. Nossa humildade, porém, consiste em sermos orgulhosos e termos plena consciência disso e nos sentirmos esmagados pelo peso insuportável desse fato, sem nada podermos fazer para remediá-lo.
Como És severo em tua misericórdia, e, no entanto, tens de ser assim. Tua misericórdia tem de ser justa, porque a tua verdade tem de ser verdadeira. Contudo, como és severo em tua misericórdia; pois quanto mais nos debatemos no esforço de sermos verídicos, tanto mais descobrimos nossa falsidade. Será misericordioso fazer-nos chegar por tua Luz, inexoravelmente, ao desespero?
Não – não é ao desespero que me conduzes, mas à humildade. Pois a verdadeira humildade é , decerto modo, um desespero muito real: desespero no que concerne a mim mesmo, a fim de que possa esperar inteiramente em ti.







NA LIBERDADE DA SOLIDÃO (Pag. 53-54),
Thomas Merton

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