quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

A TÃO PROCURADA PAZ.



O homem contemporâneo busca a paz, fecha-se em altos muros para não a perder, faz caminhadas pela paz, movimentos em vista dela. A palavra PAZ talvez seja hoje uma das mais faladas. Com certeza, ela expressa a realidade mais buscada pelo homem do nosso tempo. No entanto, ele nunca esteve tão em guerra como agora: o ódio se alastra, a violência se multiplica, o homem morre, vítima de si mesmo e do seu pecado.

“É aí que se manifesta o desígnio de Deus para a nossa vocação. Em um mundo marcado pelo pecado, ‘que errou bastante acerca do conhecimento de Deus, onde reinam tantos males, o ocultismo, a não conservação da pureza nem na vida nem no matrimônio, a impureza, o adultério, sangue, crime, roubo, fraude, corrupção, deslealdade, revolta, perjúrio, perseguição dos bons, esquecimento da gratidão, impureza das almas, inversão sexual, desordens no casamento, despudor e etc, e ainda se diz em paz’ (Sb 14,22-26); o Senhor nos chama a sermos anunciadores da sua paz (Is 52), a vivermos e proclamarmos a sua Paz.

A levarmos com a nossa vida, com a nossa palavra e com o nosso testemunho, o Shalom de Deus aos corações; a sermos instrumentos de reconciliação do mundo com Deus; a anunciarmos com todo o nosso coração, com todas as nossas forças a salvação de Jesus Cristo e o seu Evangelho” (RVSh, 359)[1].

Quando o Senhor nos deu o nome SHALOM, não tínhamos a dimensão do que Ele nos queria falar. “Foi no decorrer da caminhada, na vivência da nossa fé, na correspondência ao chamado que nos fazia, que Ele foi mansamente desenhando em nós, e nos dando a graça de compreender toda a grandeza da nossa vocação” (RVSh, 354). O Senhor nos tinha confiado uma missão que estava contida no nosso nome: a de sermos discípulos e ministros da paz.

Para o povo judeu, a palavra Shalom não era uma simples saudação, mas uma verdadeira intenção de comunicar ao outro toda sorte de bens espirituais e físicos, a felicidade perfeita que viria com a era messiânica. Em última instância, Shalom significava para o judeu o estado de graça que viria com a chegada do Messias ou, em outras palavras, a verdadeira salvação. “Jesus, assim, é o próprio Shalom do Pai, Ele vem nos dar a perfeita felicidade, a salvação” (RVSh, 356).

Como Shalom, temos a missão de levar essa paz aos homens, “a paz da reconciliação com Deus, a paz da conversão, do voltar-se para Jesus, de reconhecê-lo como Salvador e Senhor da humanidade, único caminho da verdadeira paz, da verdadeira justiça (o Evangelho), do verdadeiro amor” (RVSh, 356). Paz para nós é sinônimo de conversão, de vida nova em Cristo. Não é, portanto, somente uma conquista do homem, uma ausência de guerra ou a implantação de uma “justiça humana” sobre a terra. A paz é fruto da presença do Cristo Ressuscitado em nosso meio. Como aos apóstolos (cf. Jo 20,19-21), Ele nos comunica a salvação e nos ensina a anunciá-la e ministrá-la aos homens do nosso tempo.

“Enquanto os homens procurarem a sua paz e a sua salvação em si próprios; enquanto acharem que podem resolver os problemas do mundo por si mesmos; enquanto pensarem que podem instalar uma paz social e política e assim trazer a felicidade geral ao mundo, sem a conversão dos corações a Jesus; sem conhecê-lo como a solução, a salvação para todo o homem e para a humanidade, longe eles estarão da paz, do Shalom que Deus quer instaurar na face da terra” (RVSh, 357). E isso torna-se cada vez mais claro no mundo de hoje, basta olharmos ao nosso redor.

A Comunidade Católica Shalom, impulsionada pelo Espírito Santo e diariamente alimentada pela oração, sente brotar em seu seio o ardente apelo de Deus para que seja saciada a sede do seu povo. Cada irmão que livremente se consagra a Deus na nossa Comunidade, sabe que entregou a sua vida em vista dessa causa, da implantação da verdadeira Paz nos corações e no mundo. O Senhor nos constitui, assim, como soldados que, incansavelmente, lutarão pela paz através do anúncio, da doação de suas vidas e do testemunho coerente do Evangelho.

“Para instaurar a Paz nos corações e no mundo o Senhor nos chama a anunciar Jesus Cristo e a formar autênticos filhos de Deus” (RVSh, 360). A evangelização, o anúncio do querigma, são essenciais para que o homem conheça e encontre a Deus. Contudo, entendemos que Deus pede mais de nós, Ele quer não só que evangelizemos, mas que formemos os seus filhos. Por isso, não basta para nós que as pessoas sejam alcançadas pela graça de Deus, é preciso que sejam também acompanhadas, formadas para a santidade, para uma fé madura e coerente.

No entanto, tal missão só se cumpre quando encarnamos em vossa vida a Paz. “Para proclamarmos a paz, temos acima de tudo que vivê-la, tê-la em nosso coração” (RVSh, 361). É na vida de oração, no caminho sincero de conversão, de renúncia de si, de mergulho no Espírito Santo que vamos, passo a passo, nos deixando transformar pelo Senhor, sendo pacificados para, assim, transbordarmos essa paz para os homens. Deixando-nos possuir por Jesus Cristo, podemos possuir em nós a Paz e, assim, sermos presença de Paz para o homem do nosso tempo.

“É preciso reconciliar o coração do homem com o próprio homem, reconciliar o coração do homem com a natureza e com as coisas. Somente pelo poder do Espírito Santo isto pode ser realizado. É necessário ensinar os homens a orar, a se voltarem para o Senhor. É necessário estabelecer o amor de Deus nos lares, nas famílias, nos relacionamentos, nas profissões, na sociedade, no mundo! É necessário estabelecer a paz, mas tudo isto só acontece quando recebemos Jesus no coração. ‘Homem, converte-te ao Senhor Jesus e encontrarás a Paz que tanto buscas!’” (RVSh, 367).
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[1] Regras de Vida Shalom


Pe. Karlian Vale
Comunidade Shalom

 por
Comunidade Católica Shalom

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