quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

A IMACULADA CONCEIÇÃO E A ASSUNÇÃO.
































Alguns cristãos têm idéias confusas sobre os dogmas da Imaculada Conceição e da Assunção; não sabem ao certo o que significam e quais são os seus fundamentos.
A IMACULADA CONCEIÇÃO
Algumas pessoas acham que a Imaculada Conceição se refere à concepção de Cristo no ventre de Maria sem a intervenção de pai humano. Estão erradas, pois esse é o mistério do Parto Virginal. Por outro lado, há pessoas que afirmam que a Imaculada Conceição quer dizer que Maria, assim como Jesus, teria sido concebida pelo poder do Espírito Santo, o que também não é correto. Imaculada Conceição significa que Maria foi concebida da maneira normal (ou seja, por meio das relações sexuais entre o seu pai e a sua mãe), mas sem contrair o pecado original ou a sua mancha. A propósito, “imaculada” significa precisamente isto: “sem mancha”. A essência do pecado original consiste na privação da graça santificante, e a sua mancha é a natureza corrompida. Maria foi preservada desses efeitos do pecado original pela graça de Deus; desde o primeiro instante da sua existência, Ela esteve em estado de graça santificante e livre da corrupção causada na natureza humana pelo pecado original.
O Arcanjo Gabriel faz uma alusão a esse mistério na sua saudação à Maria. Diz ele: Ave, cheia de graça, o Senhor é contigo (Lc 1, 28). “Cheia de graça” traduz a palavra grega kekharitomene melhor do que “favorecida de Deus” e expressões assemelhadas que freqüentemente encontramos em algumas edições dos evangelhos. Maria realmente é uma filha muito favorecida de Deus, mas o original grego implica mais que isso. A graça concedida a Ela é permanente e ao mesmo tempo singular. Kekharitomene é o particípio perfeito passivo do verbo kharitoo, “encher ou dotar de graça”. Uma vez que o aspecto é perfectivo, indica que Maria foi agraciada no passado, mas com efeitos que perduram no presente. Assim, a graça não foi resultado da visita do Anjo. De fato, a Igreja nos ensina que essa graça estendeu-se por toda a sua vida desde a sua concepção, ou seja, que Maria estava em estado de graça santificante desde o primeiro momento da sua existência.



() A palavra “aspecto” é empregada no seu sentido técnico gramatical. As categorias verbais no português são: modo (indicativo, subjuntivo e imperativo), tempo (presente, pretérito, futuro), voz (ativa ou passiva) e aspecto (imperfeito, perfeito, mais-que-perfeito). O aspecto diz respeito ao desenrolar da ação expressa pelo verbo; o aspecto perfectivo indica que a ação foi totalmente completada, já o imperfectivo indicaria que a ação iniciou-se no passado mas ainda não se concluiu (N. do T.).




Algumas objeções
Muitos protestantes costumam dizer que o maior argumento contra a Imaculada Conceição e a conseqüente impecabilidade de Maria é a passagem de São Paulo: Com efeito, todos pecaram e todos estão privados da glória de Deus (Rom 3, 23). Além do mais, dizem, Maria cantou o meu espírito exulta de alegria em Deus, meu Salvador (Lc 1, 47), e apenas um pecador precisa ser salvo.
Comecemos por analisar a segunda citação. Também Nossa Senhora precisava de um Salvador. Como todos os outros descendentes de Adão, estava sujeita à necessidade de contrair o pecado original. Mas graças a uma especial intervenção de Deus, efetuada no instante da sua concepção, Maria foi preservada da mancha do pecado original e das suas conseqüências. Ela foi, portanto, redimida pela graça de Cristo, mas de uma maneira especial: por antecipação.
Consideremos a seguinte analogia. Imaginem um homem que caia num poço profundo e que depois seja tirado de lá por alguém. Podemos dizer que o homem foi “salvo” do poço. Agora, imaginem uma mulher que caminhe distraída e esteja prestes a cair no poço; no preciso momento em que vai cair, alguém a segura e evita a queda. Ela também foi salva do poço, mas de uma maneira ainda melhor: não foi tirada de lá, mas preservada da queda e da sujeira da lama. Este é o exemplo que há mil anos os cristãos têm usado para explicar como Maria foi salva por Cristo. A graça da Redenção foi aplicada antecipadamente à Virgem desde o momento da sua concepção, antes de Ela contrair a falta original e a sua mancha.
O Catecismo da Igreja Católica afirma que “em vista dos méritos de seu Filho, [Maria] foi redimida de um modo mais sublime” (CIC 492). Por isso, Ela tem mais razão do que nós em chamar Deus de Salvador, pois foi salva de uma maneira muito mais gloriosa!
Mas, e quanto ao todos pecaram? Todas as pessoas pecaram realmente? Pensemos numa criança que ainda não atingiu o uso da razão. Por definição, ela não pode pecar, porque o pecado supõe pleno conhecimento e pleno consentimento. São Paulo fala-nos disto na carta aos Romanos quando alude ao tempo em que Esaú e Jacó estavam ainda no seio da mãe, antes que tivessem feito bem ou mal algum (Rom 9, 11).
Também conhecemos uma proeminente exceção à regra: Jesus (cf. Hb 4, 15). Assim, se a afirmação do Apóstolo no terceiro capítulo da Epístola aos Romanos abre uma exceção para o Novo Adão (Jesus), também pode ser feita para a Nova Eva (Maria).
O comentário de São Paulo pode ser entendido de duas maneiras diferentes. Pode ser que não se refira absolutamente a todos, mas apenas à maior parte da humanidade (de modo que Jesus, Maria e todas as crianças estariam excluídos sem precisarem ser explicitamente mencionados). Por outro lado, o comentário pode querer dizer que todos, sem exceção, estão sujeitos ao pecado original, o que vale para as crianças, para os não nascidos e mesmo para Maria, só que Deus a preservou dele e da sua mancha.
Há também quem levante a objeção de que, se Maria não tivesse pecado, seria igual a Deus. Ora, Deus criou Adão, Eva e os anjos sem pecado, mas nenhum deles era igual a Ele. A maior parte dos anjos jamais pecou e todas as almas no Céu não têm pecado. Uma criatura sem pecado não diminui a glória de Deus, pelo contrário: a obra de santificação que Deus realiza nas suas criaturas manifesta ainda mais a sua majestade. O pecado também não torna o homem mais humano. Antes, o homem sem pecado é mais plenamente aquilo que Deus o criou para ser.
O dogma
O dogma da Imaculada Conceição foi definido oficialmente pelo Papa Pio IX em 8 de dezembro de 1854. Dizer que essa doutrina foi “inventada” pelo Papa demonstraria apenas desconhecimento da história dos dogmas e dos motivos que ocasionalmente levam a Igreja a pronunciar-se de maneira definitiva sobre determinados assuntos de fé e moral. Tal opinião baseia-se na idéia de que os fiéis crêem apenas naquilo que foi formalmente definido pelo papa ou por um concílio ecumênico.
Na verdade, as doutrinas são formalmente definidas apenas quando há uma controvérsia que precise ser esclarecida ou quando o Magistério (a Igreja na sua função de mestra; cf. Mt 28, 18–20; 1 Tim 3, 15 e 4, 11) julga que a ênfase em alguma crença existente pode ser benéfica para os fiéis. A definição da Imaculada Conceição está no segundo caso; ela não foi feita por que houvesse muitas dúvidas sobre o assunto. De fato, o Vaticano estava sendo inundado de pedidos para que a doutrina fosse proclamada oficialmente. O Papa Pio IX (aliás, Bem-aventurado), grande devoto da Santíssima Virgem, esperava que a definição estimulasse essa devoção em outras pessoas.
A ASSUNÇÃO
A doutrina da Assunção diz que a Virgem Maria foi assunta em corpo e alma aos céus no final da sua vida terrena, assim como o foram Enoc, Elias e talvez outros antes dEla. Em primeiro lugar, é importante saber o que é e o que não é a Assunção. Alguns acham que os católicos crêem na “ascensão” de Nossa Senhora aos Céus, o que não é correto. Cristo, pelo seu próprio poder, ascendeu aos Céus. Maria foi assunta ou arrebatada aos Céus por Deus; não o fez pelo seu próprio poder.
A Igreja nunca definiu formalmente se Maria faleceu ou não. A doutrina da Assunção não seria prejudicada em nada caso não tivesse falecido, embora o consenso quase universal seja de que faleceu. O Papa Pio XII, na Constituição Apostólica Munificentissimus Deus (1950), definiu que Maria, “terminado o curso da vida terrestre [notar o silêncio com relação à morte], foi assunta em corpo e alma à glória celestial”.
A possibilidade de uma assunção corpórea antes da segunda vinda de Cristo é sugerida no Evangelho de São Mateus (27, 52-53): Os sepulcros se abriram e os corpos de muitos justos ressuscitaram. Saindo de suas sepulturas, entraram na Cidade Santa depois da ressurreição de Jesus e apareceram a muitas pessoas. Será que todos esses santos morreram e tiveram de ser enterrados de novo? Não há registro disso; mas há escritos dos começos da Igreja dizendo que essas pessoas foram assuntas aos Céus, ou pelo menos elevadas ao estado temporário de alegria freqüentemente chamado de “seio de Abraão”, em que os justos do Antigo Testamento aguardavam a Ressurreição de Cristo (cf. Lc 16, 22 e 23:43; Hb 11, 1-40; 1 Pe 4, 6), após a qual entraram na felicidade eterna do Céu.
A questão dos restos mortais
Há também o que poderia ser chamado de prova histórica negativa para a Assunção de Maria. É relativamente fácil encontrar documentos mostrando que, desde o princípio, os cristãos veneravam os santos, inclusive alguns de quem sabemos pouco atualmente. As cidades disputavam o título de lugar de repouso definitivo dos santos mais famosos. Roma, por exemplo, abriga os túmulos de Pedro e de Paulo, sendo que o túmulo do primeiro fica em baixo do altar-mor da Basílica de São Pedro. Nos primeiros séculos do cristianismo, as relíquias dos santos eram zelosamente guardadas e altamente valorizadas. Os ossos dos mártires do Coliseu, por exemplo, eram rapidamente recolhidos e preservados – como nos dizem diversos relatos das vidas dessas pessoas que deram a vida pela fé.
Costuma-se concordar que Maria terminou a sua vida ou em Jerusalém ou em Éfeso. Contudo, nenhuma dessas duas cidades, nem qualquer outra, jamais afirmou possuir os seus restos mortais, embora algumas afirmem abrigar o seu túmulo (temporário). Não há registros de que os restos mortais de Maria, a mais honrada entre os santos e a mais santa das criaturas, fossem venerados em algum lugar. E por que nenhuma cidade diz possuir os ossos de Maria? Aparentemente, porque eles não existem, e as pessoas sabiam disso.
Um complemento ao dogma da Imaculada Conceição
Durante séculos, Padres e Doutores da Igreja falaram da conveniência do privilégio da Assunção de Maria. Nas bases das suas especulações estavam a impecabilidade de Maria, a sua maternidade Divina, a sua virgindade perpétua, e principalmente a sua união com a obra salvífica de Cristo.
O dogma é especialmente conveniente quando examinamos as honras que eram dedicadas à arca da aliança. Ela continha o maná (o pão dos céus), as tábuas dos dez mandamentos (a palavra de Deus), e a vara de Aarão (um símbolo do sumo sacerdócio de Israel). Por isso, fora feita de madeira incorruptível, e o Salmo 132 (131), 8 diz: Levantai-vos, Senhor, para vir ao vosso repouso, vós e a arca de vossa majestade. Se a esse recipiente foi dada tanta honra, quanto mais Maria devia ser preservada da corrupção, uma vez que é a nova arca, que carregou o verdadeiro Pão dos Céus, Palavra de Deus e sumo sacerdote da Nova Aliança: Jesus Cristo.
Em contrapartida, algumas pessoas argumentam que a nova arca não é Maria, mas o corpo de Cristo. Mesmo se fosse esse o caso, vale lembrar que os carregadores da arca deviam ser santificados (cf. 1 Crôn 15, 14). Não faria sentido santificar homens que levavam um baú e não santificar o ventre que levou o próprio Deus! Afinal de contas, a Sabedoria não entrará na alma perversa, nem habitará no corpo sujeito ao pecado (Sb 1, 4).
Mas há por trás do dogma mais coisas do que a conveniência. Se Maria foi concebida sem o pecado original e as suas conseqüências, então não poderia sofrer a corrupção no túmulo, que é efeito do pecado (cf. Gen 3, 17.19).
A cooperação de Maria
Maria cooperou livre e ativamente, de maneira especial, com o plano divino da salvação (cf. Lc 1, 38; Gal 4, 4). Como toda a mãe, nunca se separou do sofrimento do seu Filho (cf. Lc 2, 35), e São Paulo assegura que aqueles que participam dos sofrimentos de Cristo participarão também da sua Glória (Rom 8, 17). Tendo a Virgem sofrido um martírio interior único, Jesus também a honra com uma glória única.
Os cristãos crêem que um dia todos os eleitos ressurgirão de forma gloriosa para serem levados à presença de Deus e permanecerem imaculados com Jesus para sempre (1 Tess 4, 17; Ap 21, 27). Por ser a primeira pessoa a dizer “sim” à Boa Nova de Jesus (Lc 1, 38), Maria é em certo sentido um modelo para os cristãos e por isso recebeu antecipadamente as bênçãos que os eleitos só receberão no Dia do Juízo.
Apenas a Bíblia?
Como nem a Imaculada Conceição nem a Assunção estão explicitamente mencionadas na Bíblia, há pessoas que as consideram doutrinas falsas. Acontece, porém, que não há problema com o fato de a Igreja definir oficialmente doutrinas que não estão explicitamente na Sagrada Escritura, desde que não estejam em contradição com ela e tenham o aval da tradição milenar da Igreja. Cristo delegou à Igreja Católica a tarefa de ensinar todas as nações sem erro, guiada, como Ele prometeu, pelo Espírito Santo até o fim do mundo (Jo 14, 26 e 16, 13). Basta a Igreja ensinar algo como verdadeiro, algo que esteja em plena harmonia com as verdades explicitamente contidas na Sagrada Escritura, para que se tenha garantia de que esse algo é mesmo verdadeiro (cf. Mt 28, 18-20, Lc 10, 16; 1 Tim 3, 15).


Tradução: Quadrante

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