Explicar Jesus Cristo! Que presunção terrivelmente provocativa! Mas essa é a missão da Igreja em sua pregação apostólica pelos séculos afora. Porém, como explicar Jesus Cristo, o Filho de Deus encarnado? Como fazer com que o seu pensamento, e, sobretudo, o mistério de sua vida humana e divina, preencha de claridade e certeza nossas inquietações mais profundas? Quem é Jesus Cristo? Por que deveríamos dar assentimento à pregação da Igreja? Embora com a possibilidade de intermináveis explicações, a brevidade do resumo do anúncio da Igreja traduzir-se-ia numa palavra: Cristo é o nosso Salvador! E de que é que ele nos salva? Ele salva-nos da perdição eterna.
Somente por meio de Cristo poderemos retomar o caminho do reencontro com Deus, uma vez que nos afastamos dele pela desobediência pecaminosa. Por isso que Cristo disse: “Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida. Ninguém vem ao Pai a não ser por mim” (Jo 14,6). Portanto, todo o esforço da Igreja em proclamar a verdade de Deus manifestada no Filho passa pelo horizonte translúcido de sua Pessoa. Nele nós somos refeitos na integridade mais recôndita de nosso ser dilacerado e disperso pelas consequências do pecado. Desafortunadamente, nem sempre a perspicácia de nossa inteligência permite-nos perceber com sinceridade interior a dura realidade do afastamento de Deus. Desse modo, cegos pela indiferença religiosa quanto às verdades de Deus sobre cada um de nós, fechamos os olhos à dramaticidade incisiva do pecado em nossa vida. Louvemos a paciência de Deus que espera a sinceridade de nossa conversão! O arrependimento é a chave que abre a porta da misericórdia divina e permite que Cristo habite nosso coração, iluminando toda a nossa existência com a intensidade de sua luz. Por isso que “o Senhor não tarda a cumprir a sua promessa, como pensam alguns, entendendo que há demora; o que ele está, é usando de paciência conosco, porque não quer que ninguém se perca, mas que todos venham a converter-se. [...]. Assim, esforçai-vos ardorosamente para que ele vos encontre em paz, vivendo vida sem mácula, irrepreensível. Considerai a longanimidade de nosso Senhor como a nossa salvação” (2Pd 3,9.14-15). Explicar Jesus significa anunciar o mistério de sua vida entregue em favor dos homens, seus irmãos na carne, a fim de que todos possamos participar de sua vida divina.
Com serenidade, mas com firmeza e coragem, de modo especial, diante de um mundo descrente, Cristo precisa ser anunciado com a mesma intrepidez e coragem do início da História da Igreja, logo depois de consumado no Filho de Deus o drama histórico de nossa redenção. A voz livre da Igreja deve ressoar sobre todos os telhados da vida dos homens, de modo que transforme, pela força interior do Espírito de Cristo, todas as dimensões secretas ou não da essência de seu ser restaurado por Cristo. Não por acaso, desde os primórdios da pregação apostólica, a abertura e o acolhimento à novidade de Cristo revestem-se da atitude da conversão: “Arrependei-vos, e cada um de vós seja batizado em nome de Jesus Cristo para a remissão dos vossos pecados. Então recebereis o dom do Espírito Santo. Pois para vós é a promessa, assim como para vossos filhos e para todos aqueles que estão longe, isto é, para quantos o Senhor, nosso Deus chamar” (At 2,38-39). A verdade é que, de modo misterioso, todos somos chamados por Deus a tomar parte no processo de instauração de seu reino, cuja presença revela-se na Pessoa de Jesus Cristo, morto e ressuscitado. De fato: “Jesus, o Nazareu, foi por Deus aprovado diante de vós com milagres, prodígios e sinais, que Deus operou por meio dele entre vós, como bem o sabeis. Esse homem, entregue segundo o desígnio determinado e a presciência de Deus, vós o matastes, crucificando-o pelas mãos dos ímpios.
Mas Deus o ressuscitou, libertando-o das angústias do Hades, pois não era possível que ele fosse retido em seu poder” (At 2,22-24). Eis porque o explicar Cristo inspira-se no dom sublime de sua existência humana entre nós. Mais do que isso: significa semear o mistério de sua ressurreição nas mortes cotidianas da nossa sociedade doente e depressiva nos porões de suas carências e insuficiências existenciais.
Mas Deus o ressuscitou, libertando-o das angústias do Hades, pois não era possível que ele fosse retido em seu poder” (At 2,22-24). Eis porque o explicar Cristo inspira-se no dom sublime de sua existência humana entre nós. Mais do que isso: significa semear o mistério de sua ressurreição nas mortes cotidianas da nossa sociedade doente e depressiva nos porões de suas carências e insuficiências existenciais.
Ouvindo a pregação da Igreja, cada um deve esforçar-se no sentido da abertura ao Evangelho de Cristo. Do contrário, seria muito fácil aderir ao seu projeto de amor, sem lutar contra as incongruências pessoais que precipitam a vontade na fraqueza da indecisão. Daí que também nós devemos perguntar-nos sem medo da gravidade da resposta, que implica sempre aceitação ou recusa de Cristo: “Ouvindo isto, eles sentiram o coração traspassado e perguntaram a Pedro e aos demais: ‘Irmãos, que devemos fazer?’” (At 2,37). Se a pergunta for feita com honestidade de coração e de inteligência, sem a falsa pretensão da mera curiosidade, por certo, terá início o processo da conversão diante de Deus.
O problema é que nem sempre nosso coração é sincero diante dos apelos divinos. Assim, vamos adiando o momento do comprometimento da adesão à fé, com a superficialidade própria dos incrédulos e interiormente vazios da convicção de suas razões para crer. Por conseguinte, vivemos o ateísmo prático disfarçado de fingida religião. Então, enquanto vamos tentando encontrar explicações racionais para nossas recusas, Deus apresenta-se por si mesmo, explica-se por si mesmo, colocando-se ao nível de nossa compreensão pelo seu rebaixamento até a nossa estatura. Sem deixar de ser Deus, manifestou-se sob forma humana, a fim de que pudéssemos ver o invisível e tocar o intocável, perceber o imperceptível e atingir o inatingível. Aliás, é justamente o contrário, aquele que esteve longe do nosso alcance, alcançou-nos pela misericórdia de sua bondade infinita. A cristologia paulina é muito clara nesse sentido: “Ele, estando na forma de Deus, não usou seu direito de ser tratado como deus, mas se despojou, tomando a forma de escravo. Tornando-se semelhante aos homens e reconhecido em seu aspecto como um homem abaixou-se, tornando-se obediente até a morte, à morte sobre uma cruz” (Fl 2,6-8). Por meio do Filho, Deus se submeteu ao incômodo de ser igual à nossa natureza humana para que pudesse doar-nos a sua própria vida divina.
O problema é que nem sempre nosso coração é sincero diante dos apelos divinos. Assim, vamos adiando o momento do comprometimento da adesão à fé, com a superficialidade própria dos incrédulos e interiormente vazios da convicção de suas razões para crer. Por conseguinte, vivemos o ateísmo prático disfarçado de fingida religião. Então, enquanto vamos tentando encontrar explicações racionais para nossas recusas, Deus apresenta-se por si mesmo, explica-se por si mesmo, colocando-se ao nível de nossa compreensão pelo seu rebaixamento até a nossa estatura. Sem deixar de ser Deus, manifestou-se sob forma humana, a fim de que pudéssemos ver o invisível e tocar o intocável, perceber o imperceptível e atingir o inatingível. Aliás, é justamente o contrário, aquele que esteve longe do nosso alcance, alcançou-nos pela misericórdia de sua bondade infinita. A cristologia paulina é muito clara nesse sentido: “Ele, estando na forma de Deus, não usou seu direito de ser tratado como deus, mas se despojou, tomando a forma de escravo. Tornando-se semelhante aos homens e reconhecido em seu aspecto como um homem abaixou-se, tornando-se obediente até a morte, à morte sobre uma cruz” (Fl 2,6-8). Por meio do Filho, Deus se submeteu ao incômodo de ser igual à nossa natureza humana para que pudesse doar-nos a sua própria vida divina.
Na verdade, o preço de nosso resgate para Deus, o valor de nossa redenção, foi mostrado no corpo rasgado de Cristo, totalmente desfigurado e quebrado ao modo de nossas iniquidades, à semelhança de nossas chagas interiores. Explicar Cristo aos olhos de nossa fé é, pois, deixar-nos conduzir à consciência de que nos encontramos transformados nele, a ponto de participarmos de sua estrutura espiritual de “homem perfeito”, porquanto “a cada um foi dada a graça pela medida do dom de Cristo [...] até que alcancemos todos nós a unidade da fé de do pleno conhecimento do Filho de Deus, o estado de Homem Perfeito, a medida da estatura da plenitude de Cristo” (Ef 4,7.13). Portanto, visto que “de sua plenitude todos nós recebemos graça por graça” (Jo 1,16), poderíamos externar nossa gratidão com o hino cristológico de São Paulo: “Bendito seja o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, que nos abençoou com toda sorte de bênçãos espirituais, nos céus em Cristo. Nele nos escolheu antes da fundação do mundo, para sermos santos e irrepreensíveis diante dele no amor. Ele nos predestinou para sermos seus filhos adotivos por Jesus Cristo, conforme o beneplácito da sua vontade, para louvor e glória de sua graça com a qual nos agraciou no Amado. E é pelo sangue deste que temos a redenção, a remissão dos pecados, segundo a riqueza de sua graça, que ele derramou profusamente sobre nós, infundindo-nos toda sabedoria e inteligência, dando-nos a conhecer o mistério de sua vontade, conforme decisão prévia que lhe aprouve tomar para levar o tempo à sua plenitude: a de em Cristo encabeçar todas as coisas, as que estão nos céus e as que estão na terra” (Ef 1,3-10).
Grande demais é o abismo do mistério com que Deus nos envolve na imensidão de seu amor e de sua misericórdia por meio de Jesus Cristo! Deixemos, pois, que Cristo se explique pessoalmente no mais profundo de nosso espírito renovado pelos dons sublimes de seu amor, transformando-nos no mais íntimo de nós mesmos.
Padre Gilvan Rodrigues
Pós-graduado em Didática e Metodologia do Ensino Superior pela FSLF, Mestre em Teologia Bíblica pela Pontifícia Universidade Gregoriana de Roma
Pós-graduado em Didática e Metodologia do Ensino Superior pela FSLF, Mestre em Teologia Bíblica pela Pontifícia Universidade Gregoriana de Roma
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Católicos na Rede
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