Cardeal Dom Odilo Pedro Scherer
O Papa Bento XVI tem apelado várias vezes por proteção aos cristãos contra toda violência; e sua Mensagem para o Dia Mundial da Paz, 1° de ano, também foi sobre a “liberdade religiosa, como caminho para a paz”. Mesmo autoridades européias têm se pronunciado, bem recentemente, contra a violência aos cristãos. Os atentados acontecem geralmente onde os cristãos são minoria.
Entre nós não há perseguição aberta, nem martírios frequentes. Porém os católicos e os cristãos, em geral, também sofrem certa pressão e discriminação; muitos são tentados de desânimo ou de seguir por um caminho religioso menos difícil, ou mais “promissor”, do ponto de vista da prosperidade e da satisfação das necessidades imediatas. Outros vão atrás de promessas religiosas enganosas e esperam por milagres para resolver toda dor e todo problema na vida. Não faltam ofertas de “milagres” fáceis e soluções mágicas no campo religioso e muitos são tentados a experimentar a via mais fácil. Jesus alertou que o caminho largo e a porta espaçosa não são os que dão acesso à salvação (cf Lc 13,24).
A experiência da perseguição e do desânimo foi vivida no início do Cristianismo e temos disso um testemunho admirável na Carta aos Hebreus, da qual estamos lendo belos trechos na Missa nestas primeiras semanas do Tempo Comum. Os destinatários desta Carta eram, certamente, cristãos oriundos do Judaísmo e tinham acolhido o Evangelho como natural desdobramento da fé dos Patriarcas, Profetas e de todos os justos, descendentes de Abraão, e da sua própria fé. Mas, pelo teor da Carta, devia existir forte inquietação e desânimo entre os “Hebreus”, aos quais ela é dirigida.
Alguns estavam deixando a fé cristã, outros eram tentados de fazer o mesmo; alguns experimentavam o desprezo público, perseguições, prisões e martírios (cf Hb 10,32-39). Outros punham questionamentos teológicos e doutrinais relevantes: eles haviam deixado o templo de Jerusalém, os esplendores dos ritos, das festas anuais, faltava a figura do Sumo-Sacerdote, dos levitas; onde estávamos sacrifícios?! No Cristianismo nascente, a Liturgia ainda não estava toda organizada, como hoje; ainda não havia igrejas esplendorosas, nem tradições religiosas, como as que alimentaram a fé do Povo Eleito por gerações e gerações. E ainda, por cima disso tudo, perseguições, prisões e martírios! Não era uma situação fácil.
O autor escreve a Carta aos Hebreus para confortar esta comunidade e para aprofundar com ela o sentido da fé cristã. Jesus Cristo é o fruto das promessas de Deus, o verdadeiro e único Sacerdote, que nos santifica com sua vinda ao mundo e com o seu sangue, no sacrifício oferecido a Deus sobre a cruz. Nele se cumprem as promessas de Deus acalentadas pelo povo fiel ao longo de séculos; Jesus é o novo Templo de Deus no mundo e também nós somos edificados, com Ele, em templo onde Deus habita. Nos momentos de provação, é preciso voltar aos fundamentos da fé, para reencontrar as razões da nossa esperança e as forças para enfrentar os dias difíceis e prosseguir no caminho.
E o autor convida a olhar para o exemplo dos “pais na fé” – Abraão, Isaac, Jacó, Gedeão, Barac, Sansão, Jefté, Davi, Samuel, os profetas (cf Hb 11). Foram homens de fé, que lutaram e perseveraram no meio de muitas tribulações; nos tempos difíceis, mantiveram o olhar fixo no Autor da Promessa e caminharam na esperança, “como se vissem o invisível”...
A Carta aos Hebreus exorta a nós, também: “Não abandoneis a vossa coragem, que merece grande recompensa! De fato, precisais de perseverança, para cumprir a vontade de Deus e alcançar o que ele prometeu” (10,35-36). Coragem, portanto, não desanimemos!
Cardeal Dom Odilo Pedro Scherer
Arcebispo de São Paulo (SP)
Fonte: CNBB
Cardeal Dom Odilo Pedro Scherer
Arcebispo de São Paulo (SP)
Fonte: CNBB
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