sábado, 19 de fevereiro de 2011

O NOTÁVEL BISPO SÃO POLICARPO.


São Policarpo, converteu-se ao cristianismo no ano de 80, e teve a grande dita de ter sido discípulo do grande Apóstolo São João Evangelista, de quem recebeu o espírito e a doutrina de Jesus. Em 96 recebeu a sagração episcopal e lhe foi confiada a diocese de Smirna que se acha na Turquia de hoje. Policarpo administrou a diocese como verdadeiro Apóstolo, com firmeza e caridade, pela palavra e pelo exemplo. Vítima da perseguição romana foi martirizado aos oitenta e seis anos. Formado por São João Evangelista, São Policarpo, por sua vez, deixou um seguidor de grande estatura espiritual, Santo Irineu de Lyon. Também este, fiel ao carisma e aos exemplos de virtude dados por seu mestre, empenhou- se em formar sucessores que tivessem o mesmo espírito e transmitissem essa preciosa herança de santidade, cuja raiz é o próprio Jesus. São Policarpo escreveu uma epístola preciosíssima aos Filipenses, cheia dos mais belos ensinamentos e sábios conselhos. Nesta carta exorta os Filipenses a uma vida virtuosa, às boas obras e à firmeza, mesmo ao preço de morte, se necessária, uma vez que tinham sido salvos pela fé em Cristo. As 60 citações do Novo Testamento, das quais 34 são dos escritos de São Paulo, evidenciam seu profundo conhecimento da Epístola do Apóstolo aos mesmos Filipenses e como ele era familiarizado com outros textos do Novo Testamento. Neste precioso documento se acha este conselho: “Revistamo-nos com as armas da justiça”. Está bem de acordo com o ensinamento de Cristo a São João: “Mestre, vimos um homem expulsar demônios em teu nome. Mas nós o proibimos, porque ele não nos segue”. Jesus disse: “Não o proibais, pois ninguém faz milagres em meu nome para depois falar mal de mim. Quem não é contra nós é a nosso favor” (Mc 9,38-40). Deste modo, era feita a justiça àquele que expulsava os demônios no seu nome e que devia ter pelo menos uma fé incipiente nele e no seu poder sobre-humano. Assim sendo, por coerência não podia ser contra Jesus e, sim, estar a seu serviço.

O Mestre divino mostrava deste modo o que é se revestir da justiça, a que se refere São Policarpo. Trata-se de uma virtude moral que consiste na vontade constante e firme de dar a si mesmo, a Deus e ao próximo o que lhes é devido. Diz Davi que “a justiça e a paz se abraçam” (Sl 85 (84), 11). Eis porque a prática da justiça preconizada por São Policarpo leva à paz consigo mesmo, com Deus e com o próximo. Consigo mesmo porque a justiça conduz ao reconhecimento não apenas das próprias falhas, mas, outrossim, das dádivas que o Criador outorgou a cada um. Isto gera o equilíbrio interior, sinal da presença divina que atinge cada pessoa no abismo de seu coração, afastando não só o orgulho, mas também a baixa estima e o desalento. Isto fruto opimo da pedagogia da fé. O cristão entra então na cela de seu coração como num paraíso. Esquece e deixa para trás o mundo todo, atento às inspirações do Divino Espírito Santo, salmodiando, tentando entender com a mente, o que se passa no seu interior. É o colocar-se na presença de Deus com temor e tremor pela pequenez e fragilidade pessoal, mas com muito amor para se inebriar no convívio de seu Senhor.

Quantos cristãos são injustos consigo mesmo não usufruindo estes momentos de serenidade e impertubabilidade. Destruída toda presunção humana, se pode penetrar os segredos da dileção divina. Surge desta forma a justiça para com Deus, dado que Ele é a fonte da felicidade e é uma injustiça para com Ele se sentir infeliz quem atinge as alturas sublimes da comunhão com Ele, Deus Trindade, harmonia perfeita. Desta maneira o cristão percebe o mar imenso de benefícios recebidos do Pai do céu e lhe rende graças. Não se lança jamais numa injusta recriminação contra o Criador e sabe captar os efeitos salutares das provações que Deus permite para sua purificação e ascensão espiritual. Quem é injusto para com Deus impede que Ele multiplique os seus benefícios, mesmo porque a gratidão é a chave de ouro que abre os tesouros da misericórdia. Para não se ser injusto para com Deus o grande meio é Lhe solicitar o dom do Temor, ou seja, do respeito a Ele, a sua bondade sem limites numa confiança imensa na sua comiseração.

Justiça para com os outros, como Cristo ensinou a São João no referido trecho do Evangelho, porque sempre há um ângulo positivo nas atitudes do próximo e somente Deus pode julgar e seu julgamento é constantemente eqüitativo. São João não estava enganado no sentido moral, mas falseava a realidade, motivo pelo qual Jesus teve que lhe explicar qual o verdadeiro significado da ação daquele que agia em seu nome. Belas lições que a liturgia de hoje nos oferece!



Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.


Fonte: Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho
Local:Mariana (MG)

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