segunda-feira, 14 de junho de 2010

LITURGIA DIÁRIA - LEI DO TALIÃO


Mateus 5, 38-42
Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos: 38Tendes ouvido o que foi dito: Olho por olho, dente por dente. 39Eu, porém, vos digo: não resistais ao mau. Se alguém te ferir a face direita, oferece-lhe também a outra. 40Se alguém te citar em justiça para tirar-te a túnica, cede-lhe também a capa. 41Se alguém vem obrigar-te a andar mil passos com ele, anda dois mil. 42Dá a quem te pede e não te desvies daquele que te quer pedir emprestado.

No evangelho de hoje, Jesus apresenta sua proposta como forma para superar a vingança e conter a violência. Ele propõe uma atitude nova, diferente, com o objetivo de eliminar pela raiz o círculo da violência, onde a resistência ao ofensor ou inimigo não deve ser feita com as mesmas armas usadas por ele, mas através do comportamento que o desarme. Essa é a grande novidade trazida por Jesus - o mandamento do amor - a essência do cristianismo que consiste em amar e perdoar não só aos amigos, mas também aos inimigos. Não veio abolir a lei como ele mesmo disse, mas trazê-la ao pleno cumprimento.

Se a tradição farisaica dizia para que se praticasse uma vingança doce, a de Jesus nos ensina que não é pra existir a vingança. Jesus usa como base para expor sua justiça, a lei do talião. Uma lei pertencente ao código de Hamurábi (1780 a. C), na Babilônia. Além de nos mostrar que conhecia também sobre a história humana, Jesus quer mostra ainda, que uma lei criada com um código rígido, com uma aplicação dura para contenção da violência, não seria a solução. O “olho por olho e dente por dente” tinha através de sua aplicação, frear um ímpeto de vingança individual. Se alguém fosse culpado por você perder um braço, então teria você seu braço tirado. Era aplicada proporcionalmente ao dano causado.
Em nossa época, nossa sociedade vive sob um regime de leis que também não resolvem os problemas da violência, muitos dizem que é por ela ser branda. Mas, se existissem penas mais duras conteria seu histórico crescente? Será?

Jesus vai nos ensinar que não. A lei do talião era uma lei duríssima, criada exatamente para conter a violência e não resolveu. Jesus mostra a receita para contenção da violência. A de não revidar, mas de oferecer a outra face. A receita do amar uns aos outros, mesmo os inimigos. Encontramos este princípio por todo o Novo Testamento. Vejamos o que Paulo diz. “O amor seja sem hipocrisia. Detestai o mal, apegando-vos ao bem. Amai-vos cordialmente uns aos outros com amor fraternal, preferindo-vos em honra uns aos outros” (Romanos 12:9-10).
Nos ensina ainda: “Abençoai aos que vos perseguem, abençoai, e não amaldiçoeis. Alegrai-vos com os que se alegram, e chorai com os que choram”. “Não vos vingueis a vós mesmos, amados [não vos apegueis a vossos direitos, não demandeis pelo que vos é devido], mas dai lugar à ira; porque está escrito: “A mim me pertence a vingança; eu retribuirei, diz o Senhor”. (Dt 32,35).
Se for cometido algum erro, o entregue ao Senhor. Não se vingue, não busque seus próprios direitos. “Se o teu inimigo tiver fome, dá-lhe de comer; se tiver sede, dá-lhe de beber; porque, fazendo isto, amontoarás brasas vivas sobre a sua cabeça. Não te deixes vencer do mal, mas vence o mal com o bem”. Paulo mostrou-nos o que nosso Senhor disse no capítulo 5 de Mateus: A pessoa tem direitos. Seus direitos foram violados. A pessoa pode exigir indenização. Mas o justo deixa esse problema com Deus, e demonstra amor e perdão até mesmo aos seus inimigos. Isso é justiça em ação.

Paulo menciona de novo este mesmo princípio em 1 Coríntios 6. Aqui ele luta com o problema de um cristão recorrer ao tribunal contra outro cristão para cobrar o que de direito lhe pertence. Certo homem insistia em seus próprios direitos, e o apóstolo criticou o descrédito que esse testemunho trazia ao mundo incrédulo: “Por que não sofreis antes a injustiça? Por que não sofreis antes o dano?” Paulo disse que o sinal do homem piedoso é abrir mão de seus direitos para que possa manifestar o amor altruísta de Cristo.” O amor não pratica o mal contra o próximo; de sorte que o cumprimento da lei é o amor”, diz o apóstolo Paulo em Romanos 13,10.
A lei nos dá direitos, mas também nos dá a liberdade de renunciar a eles, e assim manifestar a justiça de Cristo. Temos nossos direitos, e a Palavra de Deus os protege. Temos, também, a liberdade de renunciar a eles para demonstrar o amor de Cristo. Não é a demanda por seus direitos que caracteriza o justo, mas o desistir deles é que destaca o homem que agrada a Deus.

Jesus no Evangelho de hoje, com as palavras, vai progressivamente nos conduzindo a ir além desta lei. Fazendo-nos reconhecer o não revide: oferecer a outra face; deixar também o manto; caminhar mais um quilômetro. Jesus apresenta uma referência baseada, não na lei da justiça judaica, isto é, o que é devido a cada um, mas na lei da graça e do amor.
Desta maneira, Ele nos leva ao mandamento da caridade, não só para melhor compreendê-lo, mas também como concretamente vivê-lo. O Senhor nos ordena a dar a todos, tudo o que eles nos pedem: que todos sejam cumulados, por nossa generosidade, de tudo o que lhes falta.
Façamos de modo que eles não sofram nem de sede, nem de fome, nem da falta de vestes. E então, seremos encontrados dignos dos bens que faltam a nós mesmos e que pedimos a Deus, pois o costume de dar nos merecerá obtê-los. Ademais, há mais alegria em dar do que em receber.
É urgente que aos nossos ouvidos soem as palavras de Jesus: vencer o mal com o bem, e tornar concreto em nosso agir o mandamento do amor fraterno.

Peçamos ao Senhor que encha nossos corações com as graças do Seu Espírito Santo; com amor, alegria, paz, paciência, bondade e humildade. E nos ensine a amar os que nos odeiam; a rezar pelos que nos perseguem. E com o Seu auxílio, renunciar aos prazeres deste mundo e a desejar uma nova terra e novos céus.
Pai, não permita que a violência tome conta do meu coração; antes, torna-me capaz de responder, com gestos de amor, a quem me faz o mal
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