Domingo da busca do Reino de Deus.
Devemos concentrar todas as nossas energias e preocupações na busca do Reino de
Deus e sua justiça, pois tudo o mais nos vem por acréscimo. Na Eucaristia,
sentimos que nosso Deus não nos abandona nem esquece, demonstrando a cada um
amor infinito. Podemos, portanto, depositar Nele nossa confiança.
Celebramos em comunhão com as pessoas
empenhadas na construção da nova sociedade, fundada nos valores do Reino:
partilha solidária, respeito pela cultura, diálogo com o diferente, justiça e
paz.
Antífona de entrada: O Senhor é meu
apoio, da angústia me livrou; o Senhor é meu amigo e por isso me salvou! (Salmo
17/18,19-20).
Primeira leitura:
Isaias 49,14-15
Aos exilados da Babilônia, tomados pelo
desânimo e pelo desalento, o profeta Isaias diz esta pequena palavra anunciada
neste domingo.
Os dois versículos de Isaias 49 são
escolhidos para acompanharem a leitura de Mateus 6,24-34. Ambos os trechos
contêm um raciocínio com maior força ou de mais ou menos importante para o mais
importante, aplicando-o à relação amorosa de Deus e as pessoas. Em Isaias
focaliza-se o sujeito, em Mateus o objeto deste amor. Isaias 49,14-15: mesmo se
uma mãe esquecesse o seu filho, Deus jamais esqueceria o Seu povo; Mateus 6: se
Deus cuida das plantas e dos animais, quanto mais cuidaria de vocês, Seus
filhos. Encontra-se aqui o amor de Deus comparado com o amor de um pai e de uma
mãe para com os seus filhos. O texto de Isaias é um triunfo na teologia
feminina. O alvo principal do texto é introduzir no povo derrotado, fora da
pátria e humilhado, a certeza da fé e a firme esperança de que eu - apesar dos
pesares, apesar da destruição da capital Jerusalém e apesar do exílio para
longe da pátria - Deus permanece o Senhor da história e se manifestará de novo
como o Santo de Israel, o Poderoso de Jacó, o Redentor e Salvador.
Deus é o Salvador de Seu povo que
precisa de libertação e de salvação. O amor que move Deus pode ser comparado
como o amor que uma mãe tem para com o filho de suas entranhas. Este amor
materno de Deus encontra-se também em Isaias 42,14 e 66,13.
Salmo responsorial
61/62,2-3.6-9ab
O Salmo é uma invocação e súplica. O
salmista descreve rapidamente sua situação, "dos confins da terra";
seus sentimentos internos. O salmista tem a certeza de ser ouvido. O pedido do
rei, referindo-se também à "presença de Deus".
O salmista canta: "Só em Deus a
minha alma tem repouso, porque Dele é que me vem a salvação!" Este é um
salmo de confiança individual. Vale a pena confiar em Deus a salvação, refúgio
e rochedo, pois Ele resgata a dignidade da pessoa.
O rosto de Deus neste salmo. O rosto de
Deus aparece, sobretudo, nos versículos 2-3.6-9 e também nos versículos 12-13.
É chamado de rocha, salvação e fortaleza (versículos 3.7), que faz repousar a
alma do fiel (versículos 2a. 6a), de onde vem a esperança das pessoas
(versículo 6b), tornando-as inabaláveis (versículos 3b. 7b). duas vezes
afirma-se que é refúgio (versículos 8.9), capaz de fazer justiça, isto é,
defender a fama (versículo 8a) de quem confia nele. O povo pode confiar em Deus
em qualquer situação (versículo 9a).
Várias vezes nos evangelhos Jesus
ensinou a todos Jesus ensinou a confiar nele e em Deus (João 14,1; 16,33;
Marcos 4,40). Não se trata, porém, de confiança inconseqüente (confiar sem
fazer nada), mas de confiar fazendo e de caminhar confiando. Quando expressamos
em atos nossa confiança, então Deus age e podemos nos surpreender com Sua ação
em nós.
O cristão pode rezar este salmo
desejando a presença de Deus no templo. Contudo, chegando ao templo terreno,
sente uma nova saudade daquele templo celeste, onde se manifesta a face de
Deus: ali poderá habitar para sempre junto a Deus, ali terá a herança dos que
temem o nome do Senhor Jesus.
Em certo sentido, o cristão repete o
que a Carta aos Hebreus diz de Abraão (Hebreus 11,13-16).
Cantando este salmo, invoquemos ao
Senhor cheios de confiança, porque só Nele encontramos a segurança da nossa
vida.
Segunda leitura: 1
Coríntios 4,1-5
Dos dezesseis capítulos que compõem a
Primeira Carta de São Paulo aos coríntios, os quatro primeiro capítulos são
dedicados à solução do grave problema das divisões que surgiram naquela
comunidade. A Igreja de Corinto se dividira em grupos, uns que se diziam de
Paulo, outros de Apolo, outros de Pedro (1 Coríntios 1,12). Surge um grave
problema: Os convertidos de Paulo, em vez de considerarem a Deus como o agente
primordial da salvação e a Cristo como o fundamento do edifício da vida cristã,
agruparam-se em torno das figuras do Evangelho. Estes eram vistos não como
instrumentos da graça, mas como agentes de uma atividade salvífica totalmente
autônoma, separada de sua fonte, o Cristo Senhor.
Em 1 Coríntios 4,1-5, Paulo adverte os
destinatários de sua carta contra o juízo temerário sobre os seus guias
espirituais. Somente a Deus cabe tal julgamento. Somente a Ele, Senhor comum
dos pregadores e dos fiéis, é reservado um juiz soberano e definitivo. É ele
quem escolheu os apóstolos a serem servidores de Cristo e administradores de
seus mistérios. A Ele apenas, conhecedor dos segredos do coração humano, os
encarregados de dispensar tais mistérios deverão prestar, contas: "Quanto
a mim pouco me importa ser julgado por vós ou por um tribunal...Quem me julga é
o Senhor" (1 Coríntios 4,3-4).
Tal verdade, obviamente, não livra os
pregadores de uma necessária e constante autocrítica: "Verdade é que a
minha consciência de nada me acusa" (1 Coríntios 4,4), e "o que se
requer dos administradores, é que cada qual seja fiel" (1 Coríntios 4,2).
Dessas reflexões de Paulo, segue-se que
uma vez que os fiéis não devem julgar os seus ministros, não devem também tomar
partido por um ou por outro. Com efeito, quem pode medir a importância de um
serviço eclesial? Quem pode julgar a eficiência no plano da salvação de
palavras simples ou de um chefe de comunidade aparentemente inapto? Uma homilia
simples pode possuir uma eficiência maior do que um discurso magistral. Um
simples Cura D'Ars pode ter feito mais pelo crescimento do Reino de Deus do que
um Jean Paul Sartre, um Rousseau.
Evangelho: Mateus
6,24-34
Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo segundo Mateus.
Naquele tempo, disse Jesus a seus discípulos 6 24 "Ninguém pode servir a dois senhores, porque ou odiará a um e amará o outro, ou dedicar-se-á a um e desprezará o outro. Não podeis servir a Deus e à riqueza.
25 Portanto, eis que vos digo: não vos preocupeis por vossa vida, pelo que comereis, nem por vosso corpo, pelo que vestireis. A vida não é mais do que o alimento e o corpo não é mais que as vestes?
26 Olhai as aves do céu: não semeiam nem ceifam, nem recolhem nos celeiros e vosso Pai celeste as alimenta. Não valeis vós muito mais que elas?
27 Qual de vós, por mais que se esforce, pode acrescentar um só côvado à duração de sua vida?
28 E por que vos inquietais com as vestes? Considerai como crescem os lírios do campo; não trabalham nem fiam.
29 Entretanto, eu vos digo que o próprio Salomão no auge de sua glória não se vestiu como um deles.
30 Se Deus veste assim a erva dos campos, que hoje cresce e amanhã será lançada ao fogo, quanto mais a vós, homens de pouca fé?
31 Não vos aflijais, nem digais: Que comeremos? Que beberemos? Com que nos vestiremos?
32 São os pagãos que se preocupam com tudo isso. Ora, vosso Pai celeste sabe que necessitais de tudo isso.
33 Buscai em primeiro lugar o Reino de Deus e a sua justiça e todas estas coisas vos serão dadas em acréscimo.
34 Não vos preocupeis, pois, com o dia de amanhã: o dia de amanhã terá as suas preocupações próprias. A cada dia basta o seu cuidado".
Palavra da Salvação.
Naquele tempo, disse Jesus a seus discípulos 6 24 "Ninguém pode servir a dois senhores, porque ou odiará a um e amará o outro, ou dedicar-se-á a um e desprezará o outro. Não podeis servir a Deus e à riqueza.
25 Portanto, eis que vos digo: não vos preocupeis por vossa vida, pelo que comereis, nem por vosso corpo, pelo que vestireis. A vida não é mais do que o alimento e o corpo não é mais que as vestes?
26 Olhai as aves do céu: não semeiam nem ceifam, nem recolhem nos celeiros e vosso Pai celeste as alimenta. Não valeis vós muito mais que elas?
27 Qual de vós, por mais que se esforce, pode acrescentar um só côvado à duração de sua vida?
28 E por que vos inquietais com as vestes? Considerai como crescem os lírios do campo; não trabalham nem fiam.
29 Entretanto, eu vos digo que o próprio Salomão no auge de sua glória não se vestiu como um deles.
30 Se Deus veste assim a erva dos campos, que hoje cresce e amanhã será lançada ao fogo, quanto mais a vós, homens de pouca fé?
31 Não vos aflijais, nem digais: Que comeremos? Que beberemos? Com que nos vestiremos?
32 São os pagãos que se preocupam com tudo isso. Ora, vosso Pai celeste sabe que necessitais de tudo isso.
33 Buscai em primeiro lugar o Reino de Deus e a sua justiça e todas estas coisas vos serão dadas em acréscimo.
34 Não vos preocupeis, pois, com o dia de amanhã: o dia de amanhã terá as suas preocupações próprias. A cada dia basta o seu cuidado".
Palavra da Salvação.
Em grande parte este passo do Sermão da
Montanha (Mateus capítulos de 5 a 7) tem seus paralelos em Lucas, no Sermão da
Planície (Lucas 6,17-49). Podemos ler em Mateus 6,24-34 como um comentário da
primeira, quarta e oitava bem-aventurança. Primeira: "Bem-aventurados os
pobres em espírito, porque deles é o Reino do Céu". Quarta:
"Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, porque serão
saciados". Oitava: "Bem-aventurados os que são perseguidos por causa
da justiça, porque deles é o Reino do Céu".
Em Mateus 6,24 o discípulo de Jesus é
colocado diante da alternativa bem clara: Deus ou as posses. E, Mateus 6,33
espera-se do cristão uma não menos clara opção em favor do Reino e da Justiça
do Pai co céu. Aos ricos, Jesus colocou, diante da alternativa: ou Deus ou as posses;
aos pobres Ele pregou, porém, a primazia do Reino e da Justiça do Pai celeste
sobre os cuidados terrenos. A personificação da posse, que dá poder absoluto
sobre a pessoa humana, é produto da febril fantasia daqueles mesmos que
perseguem as posses como algo absoluto. Nessas pessoas, a posse ocupa o lugar
de Deus como fonte de vida e felicidade e como sumo bem.
Originalmente estas parábolas seriam
destinadas aos pobres. Eles correm o perigo de serem tão absorvidos pelas
preocupações pelo mínimo necessário que se esquecem de Deus, pelo motivo
oposto. Em nome de Deus Jesus vem oferecer a ricos e pobres o Reino e a Justiça
de Deus-Pai.
O Evangelho fornece uma mensagem única:
sejamos embora ricos ou pobres, nossa vida se acha orientada para o Reino dos
Céus, e esta orientação não pode ser anulada por exigências ou preocupações que
venham a eliminar esta opção fundamental na vida cristã.
Da Palavra celebrada
ao cotidiano da vida
Jesus lembra a todos nós que o
discipulado é opção, acima de tudo, por Deus e pelo seu Reino. O dinheiro
iníquo é rival irreconciliável com o Deus verdadeiro, que é doador generoso.
Jesus quer ver os seus seguidores livres da preocupação excessiva com comida e
roupa. Eles são convidados a olharem os pássaros do céu e os lírios do campo e
perceberem o cuidado de Deus com a sua criação, e, mais ainda, com o ser
humano. Com isso, Jesus não está orientando a desocupação nem a despreocupação,
mas apenas acertando a "pré-ocupação", aquilo que precede a toda
ocupação. Pois, se a pré-ocupação não está bem certa, as nossas ocupações são
todas elas em vão. Inventamos muitas preocupações mal aplicadas (em dinheiro,
comida, bebida, vestuário, carro, apartamento, etc.). A cobiça está
profundamente ligada à ansiedade e leva a pessoa a ser possuída por seus bens,
mais do que a possuí-los. O que está em jogo é a concentração nos valores do
Reino e a confiança em Deus.
Comer e beber deveriam ser ocupações
tão naturais, que não precisaríamos fazer delas uma pré-ocupação, algo que
predisse a todas as nossas ações. Não devemos criar problemas antecipado com
relação a tudo isso, porque cada dia já traz ocupação que chega.
Vivemos num mundo em que, cada vez
mais, consumir parece ser a meta fundamental para ser feliz. A pessoa fica
dividida entre o seu desejo mais profundo a as "coisas" que o mercado
oferece. Há uma profunda relação entre a procura do Reino e o desapego das
preocupações consumistas que a sociedade nos impõe pela propaganda e pela
ideologia individualista. Esse apelo nada tem a ver com o desencanto pela vida
e pelas coisas que ela oferece. Jesus nos ensina a mudar o objetivo da
preocupação e colocar o Reino como valor absoluto.
Na assembléia litúrgica, expressamos
essa opção fundamental por Deus e pelo seu Reino e recebemos o seu carinho na Palavra
que nos orienta e na mesa que sacia a nossa sede e fome de amor e de
felicidade.
A Palavra se faz
celebração
O Senhor é nosso apoio
A antífona de entrada traz o Salmo 17:
"O Senhor se tornou meu apoio". O tom de toda a celebração é dado por
este refrão, lembrando que aos fiéis basta a confiança na mão de Deus que
retira os seus da morte. Harmonicamente, todos os textos da Liturgia da Palavra
coincidem nesse ponto. A eucologia, por sua vez vai um pouco além,
interpretando a Escritura na insistência de que a confiança em Deus se desdobra
numa vida de paz (cf. oração do Dia). Assim, para os fiéis, a maior riqueza
advém desta mesma confiança de que Deus cuida dos seus e lhes cumula de bens
(cf. Oração sobre as oferendas). No fim das contas, viver na terra - o que
engloba as relações de posse e administração - configura-se sinal do que é do
céu. (cf. Oração depois da comunhão). A conclusão de São Paulo é perfeita:
"Que todo mundo se considere como servidores de Cristo e administradores
do mistério de Deus". (II Leitura).
Buscar o Reinado de Deus
A Liturgia celebrada tem por finalidade
gerar a confiança fundamental do fiel em Deus, de modo que subordinando-lhe a
existência, torne-se no mundo um sinal de seu amor e sua bondade que são faces
da salvação que o povo espera (cf. Salmo Responsorial). Deus vem em socorro de
todos os mortais com a sua divindade, reza o Prefácio do Tempo Comum III e
nisto consiste sua glória, isto é, Deus se mostra à sua criação para auxiliá-la
a perseverar nos caminhos da vida e chegar àquela condição de imagem e
semelhança com a qual nasceu. De sua parte (da criação), resta o conforto de
aninhar-se no colo divino, regozijando-se por suas carícias que humanizam, pois
livram da morte. (cf. Prefácio TC III). Deitar-se no colo de alguém, além de
intimidade, conota confiança e esperança. É, portanto, uma boa metáfora
oferecida pela liturgia deste domingo.
Ligando a Palavra com
a ação eucarística
Na assembléia litúrgica, reunida em
nome do Senhor, expressamos nossa opção fundamental pela Trindade a fonte da
unidade e recebemos seu amo na Palavra proclamada que nos conduz e na mesa que
o Senhor com seu Corpo e sangue nos sacia.
A Eucaristia nos leva à justiça do
Reino para que possamos lutar contra a injustiça que desfigura a vida de tantos
irmãos e irmãs que clamam por justiça e paz. Participar da Eucaristia é
comprometer-se com a prática do amor solidário para que todos tenham "vida
e vida em abundância" (João 10,10).
A Eucaristia é o momento em que os
discípulos missionários do Senhor Jesus renovam sua confiança no Deus da vida e
amadurecem na esperança de dias melhores onde todos possam ter esperança de uma
sociedade fraterna.
É, na Eucaristia, Pão Vivo descido do
céu, que encontramos força para seguir na caminhada pascal, para eliminar da sociedade
todas as forças da morte e assim testemunhamos o Pai que está no céu, mas que
quer a justiça na terra.
padre Benedito
Mazeti
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