Na
Santa Missa, nós não só assistimos a um memorial, mas somos elevados à
participação na natureza divina. Não só choramos a morte de Cristo, mas
recebemos os frutos de Seu sacrifício de amor em nossa própria vida.
Quem quer que se detenha a contemplar por alguns minutos uma imagem do
Senhor Morto — aquela tradicionalmente levada em procissão na noite da
Sexta-feira Santa — não pode deixar de trazer à mente a imagem de um
funeral. Quando sentimos saudades de alguém que já passou desta para a
outra vida, é o seu corpo que vamos visitar no cemitério, como se os
restos mortais de quem amamos pudessem, de alguma forma, trazer
novamente a presença de quem se foi.
Durante "o grande silêncio" que pairava sobre a Terra
naquela fatídica tarde do primeiro Sábado Santo, a religião cristã
parecia fadada a um desfecho mais ou menos parecido: com Jesus morto,
não restaria nada aos Seus seguidores, senão o luto — as lágrimas pela
morte de mais um profeta e por promessas ainda em vista de se cumprirem —
e o "amargo consolo" de possuir um cadáver trancado num sepulcro. Os
eventos que se seguiram, no entanto, fugiam completamente de quaisquer
roteiros humanos. Aquele corpo que mal acabara de ser descido da Cruz,
frio, pálido, coberto pelas mais ignominiosas chagas, milagrosamente
ressuscitou dos mortos; apareceu várias vezes aos discípulos de Cristo,
vivo, resplandecente, glorioso; ascendeu prodigiosamente aos céus, à
vista deles; e, por fim, se foi.
A um olhar desatento, essa privação poderia parecer um mal. Sim, o
túmulo é uma lembrança "amarga", mas é melhor do que nada. Não é coisa
muito dura que Cristo tenha subido aos céus e privado os Seus amigos de
Sua presença física? Não seria melhor que ficasse em nosso meio para
sempre?
A resposta para essas perguntas precisa ser medida de acordo com outros
dados da Revelação. Santo Tomás de Aquino, por exemplo, diz que,
"embora os fiéis, pela ascensão, tenham sido privados da presença
corporal de Cristo, sua presença divina é constante entre os fiéis" [1]. Ele mesmo tinha prometido ficar conosco "todos os dias, até a consumação dos tempos" (Mt
28, 20). O que acontece é que muitas vezes nos esquecemos do modo
admirável como Cristo permanece em nosso meio. Antes mesmo de morrer,
Ele deixou aos que O amam um memorial que é, ao mesmo tempo, Sua
presença viva e real. O seu nome é Eucaristia.
Em toda Santa Missa, pelas palavras da consagração — que repetem as que
Jesus pronunciou na Última Ceia —, Ele mesmo desce de novo dos céus,
escondendo-se sob as aparências do pão e do vinho, para a adoração e o
alimento dos fiéis. Ninguém precisa esperar a Sexta-feira Santa para
relembrar o sacrifício de Cristo — nem mesmo de uma escultura do corpo
do Senhor. Ele está em toda Santa Missa, deitado sobre o altar; Ele está em todo tabernáculo, acessível a quem O quiser adorar.
Essa é uma realidade extraordinária, que deveria fazer arder o nosso
coração, mas — como tudo o que é sagrado e grandioso — também corre o
risco de ser obscurecida ou até mesmo impiedosamente negada.
É o que acontece quando as pessoas responsáveis pela liturgia,
ignorando o devido valor que tem a Santa Missa, pretendem inovar e
apresentar "alguma coisa diferente" à comunidade. Num domingo, é um
teatro para encenar uma passagem do Evangelho; noutro, uma dança para
levar a Bíblia ou as oferendas; noutro, uma campanha de conscientização
política sobre o que quer que seja. Enquanto isso, o Senhor dos
senhores, o Rei dos reis, o "Assunto dos assuntos", está esquecido na
mesa do altar, como se fosse apenas mais um, e não o próprio centro da
celebração. É como se fôssemos a um funeral e nos esquecêssemos qual a verdadeira finalidade do que está acontecendo: fazer memória.
Alguém poderá dizer que a Missa não é um funeral. É verdade, não é, mas se trata do memorial
da morte do Senhor e da atualização do Seu sacrifício no Calvário, de
modo que, diz o Santo Padre Pio de Pietrelcina, é preciso assistir a ela
como São João e a Virgem Maria assistiram ao sacrifício da Cruz.
Existe, é certo, uma radiante alegria na alma do cristão que vai à
Missa, principalmente por saber que Cristo está vivo e ressuscitado. Ao mesmo tempo, porém, ele sabe que isso não lhe dá licença para banalizar.
Jesus está em nosso meio verdadeiramente, mas continua sendo Deus,
continua devendo ser adorado, respeitado e reverenciado. Ele está
verdadeiramente ressuscitado, mas Sua morte na Cruz continua sendo o
grande sinal do Seu amor por nós e o grande chamado a que O amemos de
volta.
Fixe o seu olhar nesta verdade. Bem perto de você, daqui a pouco,
estará sendo celebrado o Santo Sacrifício da Missa. Na pequenina capela
que se esconde sob os arranha-céus das grandes cidades, quem vem? Não é
nenhum astro musical, nenhuma estrela de cinema, nenhum filósofo ou
intelectual, mas o próprio Jesus Cristo, em Corpo, Sangue, Alma e
Divindade — o Deus feito homem, maior que tudo o que existe e que há de
existir.
Ele vem, vem em toda Santa Missa, para nos alimentar, fazendo-nos beber
de seu costado ferido pela lança [2]. Ali, nós não só assistimos a um
memorial, mas tomamos parte da própria divindade, somos elevados à
participação na natureza divina (cf. 2 Pd 1, 4). Não só
choramos a morte de Cristo, mas recebemos os frutos de Seu sacrifício de
amor em nossa própria vida. Não existe nada maior do que isso, e só
quando descobrirmos a grandeza do tesouro que ali se esconde seremos
verdadeiramente felizes.
Por Equipe Christo Nihil Praeponere
Referências
- Suma Teológica, III, q. 57, a. 1, ad 3.
- Cf. São João Crisóstomo, Homilias sobre o Evangelho de São João, 85, 3 (PG 59, 463).
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