Este domingo hodierno marca como que o
início de uma segunda parte da Santa Quaresma. Primeiramente é chamado
“domingo laetare”, isto é “domingo alegra-te”, porque, no Missal, a
antífona de entrada traz as palavras do Profeta Isaías: “Alegra-te, Jerusalém!
Reuni-vos, vós todos que a amais; vós que estais tristes, exultai de alegria!
Saciai-vos com a abundância de suas consolações!” Um tom de júbilo na
sobriedade quaresmal! É que já estamos às portas “das festas que se aproximam”.
A Igreja é essa Jerusalém, convidada a reunir seus filhos na alegria, pela
abundância das consolações que a Páscoa nos traz! Este tom de júbilo aparece nas
flores que são colocadas hoje na igreja e na cor rosa dos paramentos do
celebrante.
Depois deste domingo, o tom da Quaresma
muda. A partir de amanhã, até a Semana Santa, todos os evangelhos da Missa
serão de são João. Isto porque o Quarto Evangelho é, todo ele, como um processo
entre os judeus e Jesus: os judeus levarão Jesus ao tribunal de Pilatos. Este condená-lo-á,
mas Deus haverá de absolvê-lo e ressuscitá-lo! A partir de amanhã também, a
ênfase da Palavra de Deus que ouviremos na Missa da cada dia, deixa de ser a
conversão, a penitência, a oração e a esmola, para ser o Cristo no mistério de
sua entrega de amor, de sua angústia, ante a paixão e morte que se aproximam.
Em todo caso, não esqueçamos: a
Quaresma conduz à Páscoa. A primeira leitura da Missa pô-lo recorda ao nos
falar da chegada dos israelitas à Terra Prometida. Eles celebraram a Páscoa ao
partirem do Egito e, agora, chegando à Terra Santa, celebram-na novamente. Aí,
então, o maná deixou de cair do céu. Coragem, também nós: estamos a caminho:
nossa Terra Prometida é Cristo, nossa Páscoa é Cristo, nosso maná é Cristo!
Ele, para nós, é, simplesmente, tudo! Estão chegando os dias solenes de
celebração de sua Páscoa!
Quanto à liturgia da Palavra, chama-nos
atenção hoje a parábola do filho pródigo. Por que está ela aí, na Quaresma?
Recordemos como Lucas começa: “Naquele tempo, os publicanos e pecadores
aproximavam-se de Jesus para escutá-lo. Os fariseus, porém, e os escribas
criticavam Jesus. ‘Este homem acolhe os pecadores e faz refeição com eles’”.
Então: de um lado, os pecadores, miseráveis sem esperança ante Deus e ante os
homens, que, agora, cheios de esperança nova e alegria, aproximam-se de Jesus,
que se mostra tão misericordioso e compassivo. Do outro lado, os homens de
religião, os praticantes, que sentem como que ciúme e recriminam duramente a
Jesus! É para estes que Jesus conta a parábola, para explicar-lhes que o seu
modo de agir, ao receber os pecadores, é o modo de agir de Deus!
Quem é o Pai da parábola? É o Deus de
Israel, o Pai de Jesus. Quem é o filho mais novo? São os pecadores e
publicanos. Este filho sem juízo deixou o Pai, largou tudo, pensando poder ser
feliz por si mesmo, longe de Deus, procurando uma liberdade que não passava de
ilusão. Como ele termina? Longe do Pai, sozinho, humilhado e maltrapilho, sem
poder nem mesmo comer lavagem de porcos - recordemos que, para os judeus, os
porcos são animais impuros! Mas, no seu pecado, na sua loucura e na sua
miséria, esse jovem é sincero e generoso: caiu em si, reconheceu que o Pai é bom
(como ele nunca tinha parado para perceber), reconheceu também que era culpado,
que fora ingrato... e teve coragem de voltar: confiou no amor do Pai. Cheio de
humildade, ele queria ser tratado ao menos como um empregado! Esse moço tem
muito a nos ensinar: a capacidade de reconhecer as próprias culpas, a
maturidade de não jogar a responsabilidade nos outros, a coragem de
arrepender-se, a disposição de voltar, confiando no amor do Pai! Para cada
filho que volta assim, o Pai prepara uma festa (a Páscoa) e o novilho cevado (o
próprio Cristo, cordeiro de Deus) e um banquete (a Eucaristia) e a melhor veste
(a veste alva do batismo, cuja graça é renovada na reconciliação).
E o filho mais velho, quem é? São os
escribas e fariseus, são os que pensam que estão em ordem com o Pai e não lhe
devem nada, são os que se acham no direito de pensar que são melhores que os
demais e, por isso, merecem a salvação. O filho mais velho nunca amou de
verdade o Pai: trabalhou com ele, nunca saiu do lado dele, mas fazendo conta de
tudo, jamais se sentindo íntimo do Pai, de tudo foi fazendo conta para, um dia,
cobrar a fatura: “Eu trabalho para ti a tantos anos, jamais desobedeci qualquer
ordem tua. E tu nunca me deste um cabrito para eu festejar com meus amigos” O
filho nunca compreendera que tudo quanto era do Pai era seu... porque nunca
amara o Pai de verdade: agia de modo legalista, exterior, fazendo conta de
tudo... E, agora, rancoroso, não aceitava entrar na festa do Pai, no coração do
Pai, no amor do Pai, para festejar com o Pai a vida do irmão! O Pai insiste
para que entre... mas, os escribas e os fariseus não quiseram entrar na festa
do Pai, que Jesus veio celebrar neste mundo...
Quem somos nós, nesta parábola? Somos o
filho mais novo e somos também o mais velho! Somos, às vezes, loucos, como o
mais jovem, e duros e egoístas, como o mais velho. Pedimos perdão como o mais
novo, e negamos a misericórdia, como o mais velho. Queremos entrar na festa do
Pai como o mais novo, e, às vezes, temos raiva da bondade de Deus para com os pecadores,
como o mais velho! Convertamo-nos!
São Paulo nos ensinou na epístola que,
em Cristo, Deus reconciliou o mundo com ele e fez de nós, criaturas novas. O
mundo velho, marcado pelo pecado, desapareceu. Em nome de Cristo, Paulo pediu –
e eu vos suplico também: “Deixai-vos reconciliar com Deus! Aquele que não
cometeu nenhum pecado, Deus o fez pecado por nós, para que nele nos tornemos
justiça de Deus!”
Alegremo-nos, pois! Cuidemos de entrar
na festa do Pai, que Cristo veio trazer: peçamos perdão a Deus, demos perdão
aos irmãos! “Como o Senhor vos perdoou e acolheu, perdoai e acolhei vossos
irmãos!” Deixemos que Cristo nos renove, ele que é Deus bendito pelos séculos.
A liturgia de hoje convida-nos à
descoberta do Deus do amor, empenhado em conduzir-nos a uma vida de comunhão
com Ele.
O Evangelho apresenta-nos o Deus/Pai
que ama de forma gratuita, com um amor fiel e eterno, apesar das escolhas
erradas e da irresponsabilidade do filho rebelde. E esse amor lá está, sempre à
espera, sem condições, para acolher e abraçar o filho que decide voltar. É um
amor entendido na linha da misericórdia e não na linha da justiça dos homens.
A segunda leitura convida-nos a acolher
a oferta de amor que Deus nos faz através de Jesus. Só reconciliados com Deus e
com os irmãos podemos ser criaturas novas, em quem se manifesta o homem Novo.
A primeira leitura, a propósito da
circuncisão dos israelitas, convida-nos à conversão, princípio de vida nova na
terra da felicidade, da liberdade e da paz. Essa vida nova do homem renovado é
um dom do Deus que nos ama e que nos convoca para a felicidade.
1ª leitura: Js.
5,9a.10-12 - AMBIENTE
O Senhor disse a Josué: “Hoje tirei de cima de vós o opróbrio do Egito. E
deu-se àquele lugar o nome de Gálgala, nome que subsiste ainda”.
10 Os israelitas acamparam em Gálgala, e celebraram a Páscoa no décimo quarto dia do mês, pela tarde, na planície de Jericó.
11 No dia seguinte à Páscoa comeram os produtos da região, pães sem fermento e trigo tostado.
12 E o maná cessou (de cair) no dia seguinte àquele em que comeram os produtos da terra. Os israelitas não tiveram mais o maná. Naquele ano alimentaram-se da colheita da terra de Canaã.
10 Os israelitas acamparam em Gálgala, e celebraram a Páscoa no décimo quarto dia do mês, pela tarde, na planície de Jericó.
11 No dia seguinte à Páscoa comeram os produtos da região, pães sem fermento e trigo tostado.
12 E o maná cessou (de cair) no dia seguinte àquele em que comeram os produtos da terra. Os israelitas não tiveram mais o maná. Naquele ano alimentaram-se da colheita da terra de Canaã.
O livro de Josué narra a entrada e a
instalação do Povo de Deus na Terra Prometida. Recorrendo ao gênero épico
(relatos enfáticos, exagerados, maravilhosos) e apresentando idealmente a
tomada de posse da Terra como um passeio triunfal do Povo com Deus à frente, os
autores deuteronomistas vão sublinhar a ação maravilhosa de Jahwéh que, através
do seu poder, cumpre as promessas feitas aos antepassados e entrega a Terra
Prometida ao seu Povo. Não é um livro muito preciso do ponto de vista
histórico; mas é uma extraordinária catequese sobre o amor de Deus ao seu Povo.
No texto que a liturgia de hoje nos
propõe, os israelitas, vindos do deserto, acabaram de atravessar o rio Jordão.
Estão em Guilgal, um lugar que não foi ainda localizado, mas que devia
situar-se não longe do Jordão, a nordeste de Jericó. Aproxima-se a celebração
da primeira Páscoa na Terra Prometida e só os circuncidados podem celebrar a
Páscoa (cf. Ex. 12,44.48); por isso, Josué faz o Povo passar pelo rito da
circuncisão, sinal da aliança de Deus com Abraão e, portanto, sinal de pertença
ao Povo eleito de Jahwéh (cf. Gn. 17,10-11). É neste contexto que aparecem as
palavras de Deus a Josué referidas na primeira leitura.
MENSAGEM
O rito da circuncisão, destinado a
todos “os que nasceram no deserto, durante a viagem, depois do êxodo” (Js.
5,5), terminou e todos fazem, agora, parte do Povo de Deus. É um Povo renovado,
que dessa forma reafirmou a sua ligação ao Deus da aliança. O rito levado a
cabo por Josué faz-nos pensar numa espécie de “conversão” coletiva, que põe um
ponto final no “opróbrio do Egito” e assinala um “tempo novo” para o Povo de
Deus.
A questão central deste texto gira à
volta da vida nova que começa para o Povo de Deus. A Páscoa, celebrada nessa
terra livre, marca o início dessa nova etapa. Israel é, agora, um Povo novo, o
Povo eleito, comprometido com Jahwéh, definitivamente livre da escravidão, que
inicia uma vida nova nessa Terra de Deus onde “corre o leite e o mel”.
ATUALIZAÇÃO
• Somos convidados, neste tempo de
Quaresma, a uma experiência semelhante à que fez o Povo de Deus de que fala a
primeira leitura: é preciso pôr fim à etapa da escravidão e do deserto, a fim
de passar, decisivamente, à vida nova, à vida da liberdade e da paz. E a
circuncisão? A circuncisão física é um rito externo, que nada significa… O que
é preciso é aquilo a que os profetas chamaram a “circuncisão do coração” (Dt.
10,16; Jr. 4,4; cf. Jr. 9,25): trata-se da adesão plena da pessoa a Deus e às
suas propostas; trata-se de uma verdadeira transformação interior que se chama
“conversão”. O que é que é preciso “cortar” na minha vida ou na vida da minha
comunidade cristã (ou religiosa) para que se dê início a essa nova etapa? O que
é que ainda nos impede de celebrar um verdadeiro compromisso com o nosso Deus?
• A partir dessa “circuncisão do
coração”, podemos celebrar com verdade a vida nova, a ressurreição. A
celebração da Páscoa será, dessa forma, o anúncio e a preparação dessa Páscoa
definitiva (a Páscoa escatológica), que nos trará a vida plena.
2ª leitura: 2Cor.
5,17-21 - AMBIENTE
Todo aquele que está em Cristo é uma nova criatura. Passou o que era velho; eis que tudo se fez novo!
18 Tudo isso vem de Deus, que nos reconciliou consigo, por Cristo, e nos confiou o ministério desta reconciliação.
19 Porque é Deus que, em Cristo, reconciliava consigo o mundo, não levando mais em conta os pecados dos homens, e pôs em nossos lábios a mensagem da reconciliação.
20 Portanto, desempenhamos o encargo de embaixadores em nome de Cristo, e é Deus mesmo que exorta por nosso intermédio. Em nome de Cristo vos rogamos: reconciliai-vos com Deus!
21 Aquele que não conheceu o pecado, Deus o fez pecado por nós, para que nele nós nos tornássemos justiça de Deus.
Palavra do Senhor.
18 Tudo isso vem de Deus, que nos reconciliou consigo, por Cristo, e nos confiou o ministério desta reconciliação.
19 Porque é Deus que, em Cristo, reconciliava consigo o mundo, não levando mais em conta os pecados dos homens, e pôs em nossos lábios a mensagem da reconciliação.
20 Portanto, desempenhamos o encargo de embaixadores em nome de Cristo, e é Deus mesmo que exorta por nosso intermédio. Em nome de Cristo vos rogamos: reconciliai-vos com Deus!
21 Aquele que não conheceu o pecado, Deus o fez pecado por nós, para que nele nós nos tornássemos justiça de Deus.
Palavra do Senhor.
Por volta de 56/57, chegam a Corinto
missionários itinerantes que se apresentam como apóstolos e criticam Paulo,
lançando a confusão. Provavelmente, trata-se ainda desses “judaizantes” que
queriam impor aos pagãos convertidos as práticas da Lei de Moisés (embora
também possam ser cristãos que condenam a severidade de Paulo e que apoiam o
laxismo da vida dos coríntios). De qualquer forma, Paulo é informado de que a
validade do seu ministério está a ser desafiada e dirige-se a toda a pressa
para Corinto, disposto a enfrentar o problema. O confronto é violento e Paulo é
gravemente injuriado por um membro da comunidade (cf. 2Cor. 2,5-11;7,11). Na
sequência, Paulo abandona Corinto e parte para Éfeso. Passado algum tempo,
Paulo envia Tito a Corinto, a fim de tentar a reconciliação. Quando Tito regressa,
traz notícias animadoras: o diferendo foi ultrapassado e os coríntios estão,
outra vez, em comunhão com Paulo. É nessa altura que Paulo, aliviado e com o
coração em paz, escreve esta Carta aos Coríntios, fazendo uma tranquila
apologia do seu apostolado.
O texto que nos é proposto está
incluído na primeira parte da carta (2Cor. 1,3-7,16), onde Paulo analisa as
suas relações com os cristãos de Corinto. Neste texto em concreto, transparece
essa necessidade premente de reconciliação que vai no coração de Paulo.
MENSAGEM
A palavra-chave desta leitura é
“reconciliação” (das dez vezes que Paulo utiliza o verbo “reconciliar” e o
substantivo “reconciliação”, cinco correspondem a esta passagem). Transparece,
portanto, aqui, a angústia de Paulo pelo “distanciamento” dos seus queridos
filhos de Corinto e a sua vontade de refazer a comunhão com eles.
Mas, para além da reconciliação entre
os coríntios e Paulo, é necessária a reconciliação entre os coríntios e Deus.
Daí a ardente chamada do apóstolo a que os coríntios se deixem reconciliar com
Deus. “Em Cristo”, Deus ofereceu aos homens a reconciliação; aderir à proposta
de Cristo é acolher a oferta de reconciliação que Deus fez. Ser cristão
implica, portanto, estar reconciliado com Deus (isto é, aceitar viver com Ele
uma relação autêntica de comunhão, de intimidade, de amor) e com os outros
homens. Isto significa, na prática, ser uma criatura nova, um homem renovado.
É desta reconciliação que Paulo se fez
“embaixador” e arauto; o ministério de Paulo passa por pedir aos coríntios que
se reconciliem com Deus e que nasçam, assim, para a vida nova de Deus. É
evidente que esta chamada não é só válida para os cristãos de Corinto, mas
serve para os cristãos de todos os tempos: os homens têm necessidade de viver
em paz uns com os outros; mas dificilmente o conseguirão, se não viverem em paz
com Deus.
O texto termina (v. 21) com uma
referência à eficácia reconciliadora da morte de Cristo: pela cruz, Deus
arrancou-nos do domínio do pecado e transformou-nos em homens novos. Que quer
isto dizer? Ao ser morto na cruz pela Lei, Cristo mostrou como a Lei só produz
morte, desqualificou-a e afastou-nos dela, permitindo-nos o verdadeiro encontro
com Deus; e pela cruz, Jesus ensinou-nos o amor total, o amor que se dá,
libertando-nos do egoísmo que impede a reconciliação com Deus e com os irmãos.
ATUALIZAÇÃO
• Ser cristão é, antes de mais, aceitar
essa proposta de reconciliação que Deus nos faz em Jesus. Significa que Deus,
apesar das nossas infidelidades, continua a propor-nos um projeto de comunhão e
de amor. Como é que eu respondo a essa oferta de Deus: com uma vida de
obediência aos seus projetos e de entrega confiada nas suas mãos, ou com
egoísmo, autossuficiência e fechamento ao Deus da comunhão?
• É “em Cristo” – e, de forma privilegiada,
na cruz de Cristo – que somos reconciliados com Deus. Na cruz, Cristo
ensinou-nos a obediência total ao Pai, a entrega confiada aos projetos do Pai e
o amor total aos homens nossos irmãos. Dessa lição decisiva deve nascer o Homem
Novo, o homem que vive na obediência aos projetos de Deus e no amor aos outros.
É desta forma que eu procuro viver?
• A comunhão com Deus exige a
reconciliação com os outros meus irmãos. Não é uma conclusão a que Paulo dê um
relevo explícito neste texto, mas é uma perspectiva que está implícita em todo
o discurso. Como me situo face a esta obrigatoriedade (para o cristão) de me
reconciliar com os que me rodeiam?
Evangelho: Lc.
15,1-3.11-32 - AMBIENTE
Aproximavam-se de Jesus os publicanos e os pecadores para ouvi-lo.
2 Os fariseus e os escribas murmuravam: Este homem recebe e come com pessoas de má vida!
3 Então lhes propôs a seguinte parábola:
11 “Um homem tinha dois filhos.
12 O mais moço disse a seu pai: ‘Meu pai, dá-me a parte da herança que me toca’. O pai então repartiu entre eles os haveres.
13 Poucos dias depois, ajuntando tudo o que lhe pertencia, partiu o filho mais moço para um país muito distante, e lá dissipou a sua fortuna, vivendo dissolutamente.
14 Depois de ter esbanjado tudo, sobreveio àquela região uma grande fome e ele começou a passar penúria.
15 Foi pôr-se ao serviço de um dos habitantes daquela região, que o mandou para os seus campos guardar os porcos.
16 Desejava ele fartar-se das vagens que os porcos comiam, mas ninguém lhas dava.
17 Entrou então em si e refletiu: ‘Quantos empregados há na casa de meu pai que têm pão em abundância e eu, aqui, estou a morrer de fome!’
18 Levantar-me-ei e irei a meu pai, e dir-lhe-ei: ‘Meu pai, pequei contra o céu e contra ti;
19 já não sou digno de ser chamado teu filho. Trata-me como a um dos teus empregados’.
20 Levantou-se, pois, e foi ter com seu pai. Estava ainda longe, quando seu pai o viu e, movido de compaixão, correu-lhe ao encontro, lançou-se-lhe ao pescoço e o beijou.
21 O filho lhe disse, então: ‘Meu pai, pequei contra o céu e contra ti; já não sou digno de ser chamado teu filho’.
22 Mas o pai falou aos servos: ‘Trazei-me depressa a melhor veste e vesti-lha, e ponde-lhe um anel no dedo e calçado nos pés.
23 Trazei também um novilho gordo e matai-o; comamos e façamos uma festa.
24 Este meu filho estava morto, e reviveu; tinha se perdido, e foi achado. E começaram a festa’.
25 O filho mais velho estava no campo. Ao voltar e aproximar-se da casa, ouviu a música e as danças.
26 Chamou um servo e perguntou-lhe o que havia.
27 Ele lhe explicou: ‘Voltou teu irmão. E teu pai mandou matar um novilho gordo, porque o reencontrou são e salvo’.
28 Encolerizou-se ele e não queria entrar, mas seu pai saiu e insistiu com ele.
29 Ele, então, respondeu ao pai: ‘Há tantos anos que te sirvo, sem jamais transgredir ordem alguma tua, e nunca me deste um cabrito para festejar com os meus amigos.
30 E agora, que voltou este teu filho, que gastou os teus bens com as meretrizes, logo lhe mandaste matar um novilho gordo!’
31 Explicou-lhe o pai: ‘Filho, tu estás sempre comigo, e tudo o que é meu é teu.
32 Convinha, porém, fazermos festa, pois este teu irmão estava morto, e reviveu; tinha se perdido, e foi achado’”.
Palavra da Salvação.
2 Os fariseus e os escribas murmuravam: Este homem recebe e come com pessoas de má vida!
3 Então lhes propôs a seguinte parábola:
11 “Um homem tinha dois filhos.
12 O mais moço disse a seu pai: ‘Meu pai, dá-me a parte da herança que me toca’. O pai então repartiu entre eles os haveres.
13 Poucos dias depois, ajuntando tudo o que lhe pertencia, partiu o filho mais moço para um país muito distante, e lá dissipou a sua fortuna, vivendo dissolutamente.
14 Depois de ter esbanjado tudo, sobreveio àquela região uma grande fome e ele começou a passar penúria.
15 Foi pôr-se ao serviço de um dos habitantes daquela região, que o mandou para os seus campos guardar os porcos.
16 Desejava ele fartar-se das vagens que os porcos comiam, mas ninguém lhas dava.
17 Entrou então em si e refletiu: ‘Quantos empregados há na casa de meu pai que têm pão em abundância e eu, aqui, estou a morrer de fome!’
18 Levantar-me-ei e irei a meu pai, e dir-lhe-ei: ‘Meu pai, pequei contra o céu e contra ti;
19 já não sou digno de ser chamado teu filho. Trata-me como a um dos teus empregados’.
20 Levantou-se, pois, e foi ter com seu pai. Estava ainda longe, quando seu pai o viu e, movido de compaixão, correu-lhe ao encontro, lançou-se-lhe ao pescoço e o beijou.
21 O filho lhe disse, então: ‘Meu pai, pequei contra o céu e contra ti; já não sou digno de ser chamado teu filho’.
22 Mas o pai falou aos servos: ‘Trazei-me depressa a melhor veste e vesti-lha, e ponde-lhe um anel no dedo e calçado nos pés.
23 Trazei também um novilho gordo e matai-o; comamos e façamos uma festa.
24 Este meu filho estava morto, e reviveu; tinha se perdido, e foi achado. E começaram a festa’.
25 O filho mais velho estava no campo. Ao voltar e aproximar-se da casa, ouviu a música e as danças.
26 Chamou um servo e perguntou-lhe o que havia.
27 Ele lhe explicou: ‘Voltou teu irmão. E teu pai mandou matar um novilho gordo, porque o reencontrou são e salvo’.
28 Encolerizou-se ele e não queria entrar, mas seu pai saiu e insistiu com ele.
29 Ele, então, respondeu ao pai: ‘Há tantos anos que te sirvo, sem jamais transgredir ordem alguma tua, e nunca me deste um cabrito para festejar com os meus amigos.
30 E agora, que voltou este teu filho, que gastou os teus bens com as meretrizes, logo lhe mandaste matar um novilho gordo!’
31 Explicou-lhe o pai: ‘Filho, tu estás sempre comigo, e tudo o que é meu é teu.
32 Convinha, porém, fazermos festa, pois este teu irmão estava morto, e reviveu; tinha se perdido, e foi achado’”.
Palavra da Salvação.
Continuamos no “caminho de Jerusalém”,
esse caminho espiritual que Jesus percorre com os discípulos, preparando-os
para serem as testemunhas do Reino diante de todos os homens.
Todo o capítulo 15 é dedicado ao
ensinamento sobre a misericórdia: em três parábolas, Lucas apresenta uma
catequese sobre a bondade e o amor de um Deus que quer estender a mão a todos
os que a teologia oficial excluía e marginalizava. O ponto de partida é a
murmuração dos fariseus e dos escribas que, diante da avalanche de publicanos e
pecadores que escutam Jesus, comentam: “este homem acolhe os pecadores e come
com eles”. Acolher os publicanos e pecadores é algo de escandaloso, na
perspectiva dos fariseus; no entanto, comer com eles, estabelecer laços de
familiaridade e de irmandade com eles à volta da mesa, é algo de inaudito… A
conclusão dos fariseus é óbvia: Jesus não pode vir de Deus pois, na perspectiva
da doutrina tradicional, os pecadores não podem aproximar-se de Deus.
É neste contexto que Jesus apresenta a
“parábola do filho pródigo”, uma parábola que é exclusiva de Lucas (nem Marcos,
nem Mateus, nem João a referem).
MENSAGEM
A parábola apresenta-nos três
personagens de referência: o pai, o filho mais novo e o filho mais velho.
Detenhamo-nos um pouco nestas figuras.
A personagem central é o pai. Trata-se
de uma figura excepcional, que conjuga o respeito pelas decisões e pela
liberdade dos filhos, com um amor gratuito e sem limites. Esse amor
manifesta-se na emoção com que abraça o filho que volta, mesmo sem saber se
esse filho mudou a sua atitude de orgulho e de autossuficiência em relação ao pai
e à casa. Trata-se de um amor que permaneceu inalterado, apesar da rebeldia do
filho; trata-se de um pai que continuou a amar, apesar da ausência e da
infidelidade do filho. A consequência do amor do pai simboliza-se no “anel” que
é símbolo da autoridade (cf. Gn. 41,42; Es. 3,10; 8,2) e nas sandálias, que é o
calçado do homem livre.
Depois, vem o filho mais novo. É um
filho ingrato, insolente e obstinado, que exige do pai muito mais do que aquilo
a que tem direito (a lei judaica previa que o filho mais novo recebesse apenas
um terço da fortuna do pai – cf. Dt. 21,15-17; mas, ainda que a divisão das
propriedades pudesse fazer-se em vida do pai, os filhos não acediam à sua posse
senão depois da morte deste – cf. Sir. 33,20-24). Além disso, abandona a casa e
o amor do pai e dissipa os bens que o pai colocou à sua disposição. É uma
imagem de egoísmo, de orgulho, de autossuficiência, de frivolidade, de total
irresponsabilidade. Acaba, no entanto, por perceber o vazio, o sem sentido, o
desespero dessa vida de egoísmo e de autossuficiência e por ter a coragem de
voltar ao encontro do amor do pai.
Finalmente, temos o filho mais velho. É
o filho “certinho”, que sempre fez o que o pai mandou, que cumpriu todas as
regras e que nunca pensou em deixar esse espaço cômodo e acolhedor que é a casa
do pai. No entanto, a sua lógica é a lógica da “justiça” e não a lógica da
“misericórdia”. Ele acha que tem créditos superiores aos do irmão e não
compreende nem aceita que o pai queira exercer o seu direito à misericórdia e
acolha, feliz, o filho rebelde. É a imagem desses fariseus e escribas que
interpelaram Jesus: porque cumpriam à risca as exigências da Lei, desprezavam
os pecadores e achavam que essa devia ser também a lógica de Deus.
A “parábola do pai bondoso e
misericordioso” pretende apresentar-nos a lógica de Deus. Deus é o Pai bondoso,
que respeita absolutamente a liberdade e as decisões dos seus filhos, mesmo que
eles usem essa liberdade para procurar a felicidade em caminhos errados; e,
aconteça o que acontecer, continua a amar e a esperar ansiosamente o regresso
dos filhos rebeldes. Quando os reencontra, acolhe-os com amor e reintegra-os na
sua família. Essa é a alegria de Deus. É esse Deus de amor, de bondade, de
misericórdia, que se alegra quando o filho regressa que nós, às vezes filhos
rebeldes, temos a certeza de encontrar quando voltamos.
A parábola pretende ser também um
convite a deixarmo-nos arrastar por esta dinâmica de amor no julgamento que
fazemos dos nossos irmãos. Mais do que pela “justiça”, que nos deixemos guiar
pela misericórdia, na linha de Deus.
ATUALIZAÇÃO
Ter em conta os seguintes elementos,
para reflexão:
• A primeira chamada de atenção vai
para o amor do Pai: um amor que respeita absolutamente as decisões – mesmo
absurdas – desse filho que abandona a casa paterna; um amor que está sempre lá,
fiel e inquebrável, preparado para abraçar o filho que volta. Repare-se: mesmo
antes de o filho falar e mostrar o seu arrependimento, o Pai manifesta-lhe o
seu amor; é um amor que precede a conversão e que se manifesta antes da
conversão. É num Deus que nos ama desta forma que somos chamados a confiar
neste tempo de “metanoia”.
• Esta parábola alerta-nos também para
o sem sentido e a frustração de uma vida vivida longe do amor do “Pai”, no
egoísmo, no materialismo, na autossuficiência. Convida-nos a reconhecer que não
é nos bens deste mundo, mas é na comunhão com o “Pai” que encontramos a
felicidade, a serenidade e a paz.
• Esta parábola convida-nos,
finalmente, a não nos deixarmos dominar pela lógica do que é “justo” aos olhos
do mundo, mas pela “justiça de Deus”, que é misericórdia, compreensão,
tolerância, amor. Com que critérios julgamos os nossos irmãos: com os critérios
da justiça do mundo, ou com os critérios da misericórdia de Deus? A nossa
comunidade é, verdadeiramente, o espaço onde se manifesta a misericórdia de
Deus?
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