quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

SER FELIZ ASSIM MESMO.


A Filosofia helênica não abria muito espaço para o corpo humano. O que para eles valia mesmo, era o espírito, a alma. Por mais nobre que esta fosse, devia viver dentro do corpo, como num cárcere. Isso de precisar comer, cuidar dos dentes, dormir, transpirar, era situação indigna para a alma. São Paulo ficava abismado com o Verbo Eterno, a perfeição total que, para salvar-nos, se fez um de nós. “Humilhou-se a si mesmo, apresentando-se como simples homem” (Fil 2, 8). A maior humilhação, no entanto, é precisar morrer, e deixar todas as obras inacabadas. Jesus revelou uma verdade consoladora, para quem sofre com as limitações humanas. É a feliz ressurreição, pela qual até o corpo é transformado para uma outra dimensão. Terminam assim as suas notórias imperfeições.

Mais angustiante do que essa situação é ser portador, além do mais, de necessidades especiais. Padecer até o fundo com a ausência total da visão, da audição, ou dos movimentos, pode levar a pessoa a se considerar inferiorizada diante dos semelhantes. Não me refiro aqui a deficiências corrigíveis, como uma ferida. Mas sim, a problemas insanáveis. Tal estado físico pode levar as pessoas às mais variadas reações. Pode alguém se revoltar contra Deus, atribuindo-lhe injustiça. Realmente, o sofrimento entra numa zona de nebulosa da nossa inteligência, por sermos incapazes de entender o seu sentido. A não ser em Jesus Cristo. Como também pode alguém se colocar na lista dos coitadinhos, numa auto-compreensão de conformismo paralisante. Ter compaixão de si mesmo é uma atitude totalmente inibidora, e que pode ser muito prejudicial para a saúde psíquica. Mas pode também haver quem assuma a sua situação, sem revoltas, e com muito realismo. Aceita-se tudo assim como é.

O copo pequeno ou o copo grande, quando cheios de água, representam a perfeição que pode caber na vida de quem tem o corpo perfeito, ou com deficiências. É evidente que a felicidade, para ser possível, também deve vir da colaboração dos membros da comunidade. Isso, felizmente, está muito bem expresso nas Paraolimpíadas, onde os portadores de necessidades especiais acreditam em si, ajudados pelos outros. Também as APAES são uma expressão da felicidade possível que se oferece às crianças.


Por Dom Aloísio Roque Oppermann
Arcebispo de Uberaba (MG)


Fonte: CNBB

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