quinta-feira, 20 de junho de 2013

COMENDO INSETOS! O "NOJO" É UMA COISA BOA?

 
Leo Daniele
Em matéria de asco, a barata parece exercer uma espécie de liderança incontestável. Que conclusões tirar dos assuntos conexos?
Já tomou conhecimento de uma campanha internacional incentivando a que se comam insetos? Vai além de todo limite. Parecia uma empreitada apenas mediática, quando a própria ONU a endossou, no relatório divulgado dia 13 de maio p.p. através da FAO, recomendando o aumento do consumo de insetos por ser “nutritivo, abundante e não-poluente”.
No mesmo sentido é expressivo o artigo  de Alexandra Forbes [1]. Não publicaria o que nele vai, se não fosse necessário documentar minha matéria. Num restaurante mexicano o garçom lhe disse:
“Coma os bichos primeiro, com as mãos. Eram dois, a passear por cima da comida e a tentar fugir da morte, escalando a borda branca de porcelana. [...] Capturei um chumil (seu nome em espanhol) e enfiei-o vivo na boca. Fechei o maxilar, respirei fundo para ganhar coragem e crac! Foi morte súbita. O suco das entranhas misturou-se aos pedacinhos da carapaça espatifada em uma só massa negra.
Sem comentários. Mas há mais: o Nordic Food Lab se dedica ao estudo da entomofagia (alimentação de insetos), desenvolvendo receitas com baratas, cigarras e formigas, entre outros bichos.
Em parceria com o movimento Pestival (ou festival das pestes), um laboratório dinamarquês serviu em abril em um evento londrino tira-gostos feitos com insetos. O menu incluía mousse de larva de mariposa e caldo de gafanhoto.

Os jornais, ao menos os de São Paulo, têm consagrado páginas e páginas a esse repugnante assunto, qualificando de puritana e antiquada a sensação de nojo que muitos sentem. Pensei então em oferecer algumas linhas sobre o nojo.Trata-se de uma sensação válida nestes, e em outros casos? Ou é uma sensação errada, que deve ser reprimida? Que é o nojo?

Trata-se de uma emoção tipicamente associada com coisas que são percebidas como sujas, incomestíveis ou infecciosas, ou dejetos de um organismo. O nojo é uma enfática reação de rejeição. Envolve uma expressão facial característica, e está também associado a uma queda nos batimentos cardíacos, em contraste, por exemplo, com medo ou raiva.

Um estudo recente descobriu que mulheres e crianças são mais sensíveis ao nojo do que os homens.
Muitos pacientes que sofrem da doença de Huntington , uma moléstia neurodegenerativa progressiva transmitida hereditariamente, são incapazes de reconhecer expressões de nojo em outrem e também não demonstram reações de nojo a odores e sabores nauseabundos. A incapacidade de reconhecer o nojo em outrem surge em portadores do gene Huntington antes que outros sintomas se manifestem.

Portanto, não é o nojo que é doentio , mas antes a ausência habitual dele.
Há ainda o nojo moral. Há certos pecados que além de produzir indignação por ofenderem a Deus, devem produzir nojo pela maneira como são cometidos.
Eis aí uma brevíssima explanação de por que o nojo é coisa boa e natural. Além disso, cada vez mais necessária, pois o nojo, o asco, a repugnância fazem parte da civilização. É um pouco complicado dizer isto, mas sem nojo não há civilização!

 
 
 
[1] Folha de S. Paulo

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