sábado, 5 de março de 2011

BENÇÃO OU MALDIÇÃO.


Nem sempre um gesto ou um rito indica o que se passa na mente e na vida da pessoa humana. Muitos querem a bênção, mas sem a coerência de dar sustentáculo a seus efeitos. Por isso, uma coisa é dizer e outra é fazer. Há má intenção, por exemplo, de quem promete algo, mas só para enganar o semelhante ou conquistar sua adesão a um projeto, a uma eleição ou a um jogo de interesse econômico. Tudo isso ela faz para ludibriar o outro e obter vantagens, traindo sua confiança.
Muitos querem a bênção de Deus mas agem como quem pede esmola apresentando um chapéu sem fundo. O dinheiro pode até por ele passar, mas cai no chão e outro pode pegá-lo. O texto bíblico é claro: “Eis que ponho diante de vós bênção e maldição; a bênção, se obedecerdes aos mandamentos do Senhor vosso Deus... a maldição, se desobedecerdes aos mandamentos do Senhor” (Deuteronômio 11, 26-28). A benção está condicionada à atitude de quem a recebe, ou seja, de ela colocar a própria parte, sendo verdadeiro e adequado recipiente. A água derramada em uma vasilha furada ou sem fundo não permanece nela. A lógica da vida de fé coerente com seu enunciado dá consistência ao efeito na vida da pessoa. Por isso mesmo, ela se mostra uma pessoa de palavra, pois, se responsabiliza pelo dom recebido de Deus. Conhece-se bem a árvore por seus frutos.
A formação da fé coerente é primordial para termos pessoas de palavra, ética, bom caráter, coerente com o seguimento a Cristo e atuante membro da comunidade. As conseqüências dessa boa formação se darão em todas as situações e convivências. Teremos, deste modo, autênticos cidadãos comprometidos com a justiça, as profissões exercidas com ética, a política de real e honesto serviço ao bem comum, famílias constituídas e desenvolvidas com verdadeira vocação de amor...
Não basta dizer-se cristã e fazer alguns atos religiosos para a pessoa ser abençoada. Aliás, a bênção ou ação amorosa de Deus se dá sempre, mesmo na incoerência humana. Mas ela tem o devido efeito com a prática do projeto de Deus: “ Nem todo aquele que me diz: ‘Senhor, Senhor’, entrará no Reino dos Céus, mas o que põe em prática a vontade de meu Pai que está nos céus” (Mateus 7, 21). Jesus lembra a necessidade de se colocar em prática suas orientações. Hoje muitos querem religiões assim chamadas “lights”, ou de pouca exigência. Querem que a Igreja abra mão de determinadas orientações fundamentadas na lei natural, na ética e na lei revelada de Cristo, conformando-se com a mentalidade pagã ou materialista. Porém, ninguém é obrigado a nada. A proposta de Deus é exigente, sem dúvida. Mas o caminho a seguir cada um vai escolher, ou seja, da bênção ou da maldição. É de bom alvitre seguir as boas orientações de quem nos quer bem, como nosso Criador. O próprio Jesus nos adverte de que o caminho proposto por Ele é exigente, mas é o único que conduz à vida plenamente realizadora, com o cume de felicidade imorredoura no eterno.
Paulo é claro e contundente ao chamar atenção dos que apregoavam o contrário do Evangelho: “Maldito aquele que anunciar a vocês um evangelho diferente daquele que anunciamos, ainda que sejamos nós mesmos ou algum anjo do céu” (Gálatas 1,8).


Dom José Alberto Moura, CSS
Arcebispo Metropolitano de Montes Claros.



Com Bethania

Nenhum comentário: