9 em cada 10 casos de suicídio poderiam ser prevenidos. E isso também depende de você.
Um problema de saúde pública que vive atualmente a situação do tabu e do aumento de suas vítimas é o suicídio.
Pelos números oficiais, são 32 brasileiros mortos por dia, taxa
superior às vítimas da AIDS e da maioria dos tipos de câncer. Tem sido
um mal silencioso, pois as pessoas fogem do assunto e,
por medo ou desconhecimento, não veem os sinais de que uma pessoa
próxima está com ideias suicidas.
A esperança é o fato de que, segundo a Organização Mundial da Saúde, 9 em cada 10 casos poderiam ser prevenidos. É necessário a pessoa buscar ajuda e atenção de quem está à sua volta.
Já pensou em suicídio ou conhece alguém que corre este risco? Ligue 141.
Mas como buscar ajuda se sequer a pessoa sabe que ela pode ser
ajudada e que o que ela passa naquele momento é mais comum do que se
divulga? Ao mesmo tempo, como é possível oferecer ajuda a um amigo ou
parente se também não sabemos identificar os sinais e muito menos temos
familiaridade com a abordagem mais adequada?
O primeiro passo é informar-se sobre a realidade do suicídio e sobre os mitos com relação ao tema.
O suicídio pode ser definido como um ato deliberado
executado pelo próprio indivíduo, cuja intenção seja a morte, de forma
consciente e intencional, mesmo que ambivalente, usando um meio que ele
acredita ser letal.
Também fazem parte do que habitualmente chamamos de “comportamento suicida“: os pensamentos, os planos e a tentativa de suicídio.
Uma pequena proporção do comportamento suicida chega ao nosso
conhecimento. Só no Brasil, 17% das pessoas já pensaram, em algum
momento, em tirar a própria vida.
O suicídio é um fenômeno presente ao longo de toda a história da
humanidade, em todas as culturas. É um comportamento com determinantes
multifatoriais e resultado de uma complexa interação de fatores
psicológicos e biológicos, inclusive genéticos, culturais e
socioambientais.
Dessa forma, deve ser considerado como o desfecho de uma série de
fatores que se acumulam na história do indivíduo, não podendo ser
considerado de forma causal e simplista apenas a determinados
acontecimentos pontuais da vida do sujeito. É a consequência final de um
processo.
Mitos sobre o comportamento suicida
Erros e preconceitos vêm sendo historicamente repetidos, contribuindo
para a formação de um estigma em torno da doença mental e do
comportamento suicida. O estigma resulta de um processo em que pessoas
são levadas a se sentirem envergonhadas, excluídas e discriminadas. O
resumo a seguir ilustra os mitos sobre o comportamento suicida. O
conhecimento pode contribuir para a desconstrução deste estigma em torno
do comportamento suicida.
1. O suicídio é uma decisão individual, já que cada um tem pleno direito a exercitar o seu livre arbítrio.
FALSO.
Os suicidas estão passando quase invariavelmente por uma doença
mental que altera, de forma radical, a sua percepção da realidade e
interfere em seu livre arbítrio. O tratamento eficaz da doença mental é o
pilar mais importante da prevenção do suicídio. Após o tratamento da
doença mental, o desejo de se matar desaparece.
2. Quando uma pessoa pensa em se suicidar, terá risco de suicídio para o resto da vida.
FALSO.
O risco de suicídio pode ser eficazmente tratado e, após isso, a pessoa não estará mais em risco.
3. As pessoas que ameaçam se matar não farão isso, querem apenas chamar a atenção.
FALSO.
A maioria dos suicidas fala ou dá sinais sobre suas ideias de morte.
Boa parte dos suicidas expressou, em dias ou semanas anteriores,
frequentemente aos profissionais de saúde, seu desejo de se matar.
4. Se uma pessoa que se sentia deprimida e pensava em
suicidar-se, em um momento seguinte passa a se sentir melhor,
normalmente significa que o problema já passou.
FALSO.
Se alguém que pensava em suicidar-se e, de repente, parece tranquilo,
aliviado, não significa que o problema já passou. Uma pessoa que
decidiu suicidar-se pode sentir-se “melhor” ou sentir-se aliviado
simplesmente por ter tomado a decisão de se matar.
5. Quando um indivíduo mostra sinais de melhora ou sobrevive à uma tentativa de suicídio, está fora de perigo.
FALSO.
Um dos períodos mais perigosos é quando se está melhorando da crise
que motivou a tentativa, ou quando a pessoa ainda está no hospital, na
sequência de uma tentativa. A semana que se segue à alta do hospital é
um período durante o qual a pessoa está particularmente
fragilizada. Como um preditor do comportamento futuro é o comportamento
passado, a pessoa suicida muitas vezes continua em alto risco.
6. Não devemos falar sobre suicídio, pois isso pode aumentar o risco.
FALSO.
Falar sobre suicídio não aumenta o risco. Muito pelo contrário, falar
com alguém sobre o assunto pode aliviar a angústia e a tensão que esses
pensamentos trazem.
7. É proibido que a mídia aborde o tema suicídio.
FALSO.
A mídia tem obrigação social de tratar desse importante assunto de
saúde pública e abordar esse tema de forma adequada. Isto não aumenta o
risco de uma pessoa se matar; ao contrário, é fundamental dar
informações à população sobre o problema, onde buscar ajuda etc.
Os números do suicídio
A cada 40 segundos uma pessoa comete suicídio, e a cada três segundos
uma pessoa atenta contra a própria vida. As taxas de suicídio vêm
aumentando globalmente. Estima-se que até 2020 poderá ocorrer um
incremento de 50% na incidência anual de mortes por suicídio em todo o
mundo, sendo que o número de vidas perdidas desta forma, a cada ano,
ultrapassa o número de mortes decorrentes de homicídio e guerra
combinados. Além disso, cada suicídio tem um sério impacto na vida de
pelo menos outras seis pessoas.
No Brasil
O Brasil é o oitavo país em número absoluto de suicídios. Em 2012
foram registradas 11.821 mortes, cerca de 30 por dia, sendo 9.198 homens
e 2.623 mulheres. Entre 2000 e 2012, houve um aumento de 10,4% na
quantidade de mortes, sendo observado um aumento de mais de 30% em
jovens. Os números brasileiros devem, entretanto, ser analisados com
cautela.
Em primeiro lugar porque pode haver uma subnotificação do número de
suicídios, em segundo lugar porque há uma grande variabilidade regional
nas taxas.
Fatores de risco
Os dois principais fatores de risco são:
1. Tentativa prévia de suicídio
É o fator preditivo isolado mais importante. Pacientes que tentaram
suicídio previamente têm de cinco a seis vezes mais chances de tentar
suicídio novamente. Estima-se que 50% daqueles que se suicidaram já
haviam tentado previamente.
2. Doença mental
Sabemos que quase todos os suicidas tinham uma doença mental, muitas
vezes não diagnosticada, frequentemente não tratada ou não tratada de
forma adequada. Os transtornos psiquiátricos mais comuns incluem
depressão, transtorno bipolar, alcoolismo e abuso/dependência de outras
drogas e transtornos de personalidade e esquizofrenia. Pacientes com
múltiplas comorbidades psiquiátricas têm um risco aumentado, ou seja,
quanto mais diagnósticos, maior o risco.
O manual sobre o suicídio foi especialmente elaborado para os
profissionais de saúde, mas há informações úteis para toda a sociedade.
(Fontes: Setembro Amarelo e Associação Brasileira de Psiquiatria)
Nenhum comentário:
Postar um comentário