Uma única frase de São Bento me fez repensar tudo o que eu estava vivendo.
A sabedoria estava guardada em uma única frase. E ela veio da pena de
um santo que viveu há cerca de 1.500 anos e me fez pensar sobre como eu
estava vivendo a minha vida. O pensamento, muito simples, veio do
Prólogo da Regra de São Bento, um guia para a vida monástica:
“Agora, pois, ergamo-nos, finalmente. A Escritura nos desperta dizendo: ‘Esta é a hora de levantar-nos do sono’”.
Simples. Quase simples demais!
Mas foi a explicação de Michael Casey, um monge beneditino da
Austrália, que abriu de verdade os meus olhos para o quanto a simples
frase deste santo me importa. Diz o monge:
[São] Bento está dizendo que, diante das possibilidades
espirituais trazidas a nós pela graça, somos muito lentos. Por isso
precisamos nos apressar, nos mexer, para permitir que a graça de Deus
nos impulsione ainda mais e mais rápido em direção ao que a Providência
Divina preparou para nós…
Nenhum chamado enfrenta tanta resistência quanto o chamado para
acordar. Não precisamos ser surpreendidos se não queremos ser empurrados
à ação, em especial quando não sabemos exatamente o que vai estar em
jogo. Estamos sendo chamados a um estado não especificado de alerta.
Estamos sendo convidados a ficar preparado para os desafios
desconhecidos, para dizer sim a demandas que ainda não foram feitas.
Tudo isto requer uma forte fé na Providência e uma firme confiança em
Deus, que nunca nos pede nada além dos nossos limites reais. E temos que
ser realistas. Apesar dos meus pressentimentos, eu posso ter uma
razoável certeza de que o heroísmo exigido de mim hoje não vai envolver
nenhuma desgraça, ou tortura, ou martírio; vai simplesmente me indicar
pequenas ações que transcendem os limites habituais que imponho à minha
benevolência: uma palavra de encorajamento aqui, alguns minutos de
solícita escuta ali, um gesto de ajuda, um ato de perdão ou de
solidariedade, uma iniciativa oculta que promove o bem comum. As
ocasiões para esses pequenos atos de heroísmo vão surgir, mas apenas se,
em primeiro lugar, estivermos acordados e atentos à sua possibilidade…
Fazer melhor requer vigilância. Quantas vezes, quando somos
acusados de agir errado ou de omitir algo importante, respondemos com
desculpas como “Eu não sabia”, ou “Eu não estava ciente”, ou “Eu não
pensava que…”? O desafio moral passou batido porque a nossa consciência
não estava acionada; estávamos dormindo…
Ao criarmos um miasma de fogos de artifício sensoriais, nós
efetivamente bloqueamos tudo para além do que é sensato: toda percepção
espiritual, toda atenção à interioridade. A nossa consciência fica
amortecida pela sobrecarga sensorial e, nós, pouco conscientes das
possibilidades abertas para criarmos um mundo melhor…
A voz da consciência e as palavras do Evangelho são apenas uma
som suave e delicado no meio do nosso universo barulhento… A imaginação
vivaz desperta as emoções e nos impede de alcançar o nível de
tranquilidade interior que nos permitiria atender aos avisos da
consciência e aos sussurros do Espírito Santo. O resultado é que estamos
tão despertos no nível sensorial que não há espaço para o despertar
mais interior. A maioria de nós não consegue ouvir outra voz quando está
ao mesmo tempo vendo televisão, enviando mensagens, olhando o celular
e, internamente, se preocupando com algum pesar imaginado. Da mesma
forma, não podemos ser espiritualmente conscientes sem abaixar o volume
das outras vozes. Para estar despertos e atentos espiritualmente, temos
de limitar a atenção que damos a outras áreas. E, de acordo com São
Bento, temos que começar já: “Esta é a hora de levantar-nos do sono”!
A simples frase de São Bento e a explicação de Michael Casey me
lembraram de algo que eu tinha esquecido e que preciso fazer todos os
dias. O meu risco é o de apreender e aceitar intelectualmente os
conteúdos da minha fé católica ao mesmo tempo em que, por outro lado,
fico sonolento aos inúmeros chamados de Deus na minha vida de todos os
dias. Tenho que acordar! Temos que conhecer a vontade de Deus para nós!
Temos que reconhecer quando a nossa vontade está tentando subverter a de
Deus. E temos que procurar, denodadamente, ser fiéis de modo heroico
nos pequenos atos de cada dia.
“Esta é a hora de levantar-nos do sono!”
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