sexta-feira, 9 de agosto de 2013

OS SANTOS NÃO "CAIRAM DO CÉU".



São homens como nós.

       Barnabé, no momento das primeiras conversões dos pagãos, compreendeu que havia chegado a hora de Saulo, que se havia retirado a Tarso, sua cidade. Foi buscá-lo lá. Nesse momento importante, quase restituiu Paulo à Igreja: entregou-lhe, em certo sentido, mais uma vez ao apóstolo dos povos. Da Igreja de Antioquia, Barnabé foi enviado em missão, junto a Paulo, realizando a chamada primeira viagem missionária do apóstolo. Na verdade, tratou-se de uma viagem missionária de Barnabé, dado que era ele o autêntico responsável, ao que Paulo se uniu como colaborador, passando pelas regiões de Chipre e de Anatólia, na atual Turquia, pelas cidades de Atalia, Perge, Antioquia de Pisídia, Icônio, Listra e Derbe (cf. Atos 13-14).
        Junto a Paulo foi depois ao chamado Concílio de Jerusalém, onde, depois de um profundo exame da questão, os apóstolos com os anciãos decidiram desligar a prática da circuncisão da identidade cristã (cf. Atos 15, 1-35). Só assim, ao final, permitiram oficialmente que fosse possível a Igreja dos pagãos, uma Igreja sem circuncisão: somos filhos de Abraão simplesmente pela fé em Cristo.
         Os dois, Paulo e Barnabé, enfrentaram-se mais tarde, ao início da segunda viagem missionária, porque Barnabé queria ir recolher como companheiro João Marcos, enquanto Paulo não queria, dado que o jovem se havia separado deles durante a viagem precedente (cf. Atos 13, 13; 15, 36-40). Portanto, também entre os santos se dão contrastes, discórdias, controvérsias.  
          E isso é para mim muito consolador, pois vemos que os santos não «caíram do céu». São homens como nós, com problemas complicados. A santidade não consiste em não se equivocar ou não pecar nunca. A santidade cresce com a capacidade de conversão, de arrependimento, de disponibilidade para voltar a começar e, sobretudo, com a capacidade de reconciliação e de perdão.
          E deste modo, Paulo, que havia sido mais duro e amargo com Marcos, ao final volta a se encontrar com ele. Nas últimas cartas de São Paulo, a Filêmon e na segunda a Timóteo, Marcos aparece precisamente como «meu colaborador». 
       O que nos torna santos não é o fato de não termos errado, mas a capacidade de perdão e reconciliação. E todos podemos aprender este caminho de santidade.  
 
       Barnabé, com João Marcos, regressou a Chipre (cf. Atos 15, 39) por volta do ano 49. A partir de então, perdeu-se o contato com ele. Tertuliano lhe atribui a Carta aos Hebreus, o qual não é inverossímil, pois, sendo da tribo de Levi, Barnabé podia estar interessado pelo tema do sacerdócio. E a Carta aos Hebreus nos interpreta de maneira extraordinária o sacerdócio de Jesus.
          Silas, outro companheiro de Paulo, é a forma grega de um nome hebreu (talvez «sheal», «pedir», «invocar», que constitui a mesma raiz do nome «Saulo»), do que procede também a forma latinizada «Silvano». O nome de Silas só está testemunhado no livro dos Atos dos Apóstolos, enquanto que Silvano aparece nas cartas de Paulo. Era um judeu de Jerusalém, um dos primeiros em tornar-se cristão, e naquela Igreja gozava de grande estima (cf. Atos 15, 22), ao ser considerado profeta (cf. Atos 15, 32).
          Foi encarregado de levar «aos irmãos de Antioquia, Síria e Cilícia» (Atos 15, 23) as decisões tomadas pelo Concílio de Jerusalém e de explicá-las. Evidentemente, pensavam que era capaz de realizar uma espécie de mediação entre Jerusalém e Antioquia, entre judeu-cristãos e cristãos de origem pagã, e deste modo servir à unidade da Igreja na diversidade de ritos e de origens. 
 
        Quando Paulo se separou de Barnabé, tomou precisamente Silas como novo companheiro de viagem (cf. Atos 15, 40). Com Paulo, chegou a Macedônia (às cidades de Filipos, Tessalônica e Beréia), onde se deteve, enquanto Paulo continuou para Atenas e depois a Corinto. Silas o alcançou em Corinto, onde colaborou na pregação do Evangelho; de fato, na segunda carta dirigida por Paulo a essa Igreja, se fala de «Cristo Jesus, a quem vos pregamos Silvano, Timóteo e eu» (2 Coríntios 1, 19). Deste modo se explica por que aparece como co-autor, junto a Paulo e a Timóteo, das duas Cartas aos Tessalonicenses.
             Isso também me parece importante. Paulo não atua como um «solista», como um indivíduo isolado, mas junto com estes colaboradores no «nós» da Igreja. 
             Este «eu» de Paulo não é um «eu» isolado, mas um «eu» no «nós» da Igreja, no «nós» da fé apostólica. E Silvano é mencionado também ao final da Primeira Carta de Pedro, onde se lê: «Por meio de Silvano, a quem tenho por irmão fiel, vos escrevi brevemente» (5, 12).         
             Deste modo vemos também a comunhão dos apóstolos. Silvano serve Paulo, que serve Pedro, porque a Igreja é una e o anúncio missionário é único.

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