quinta-feira, 3 de março de 2011

"COM CLAMOR E LÁGRIMAS... FOI ATENDIDO".


(Hb 5,7)

Março de 1977 termina com o Tríduo Sacro ou os dias em que se comemoram a Paixão, a Morte e a Ressurreição do Senhor Jesus. São os dias mais densos do ano litúrgico..., cujo conteúdo se encontra compendiado nas palavras do Apóstolo: "Jesus, nos dias de sua vida terrestre, apresentou pedidos e súplicas, com clamor e lágrimas, àquele que o podia salvar da morte, e foi atendido por causa da sua reverência" (Hb 5,7).

Estas palavras começam por recordar a oração do Senhor Jesus posto em agonia no Horto das Oliveiras pouco antes de ser preso. Então, antevendo os horrores da Paixão que o aguardava, pediu ao Pai que o dispensasse de beber o Cálice. Os autores sagrados frisam bem o aspec­to humano de Jesus; Ele pediu, suplicou, exprimindo sua angústia mediante clamor, lágrimas e suor de sangue (cf. Lc 22, 44). Ele quis comparti­lhar tudo o que é humano, inclusive o pavor do sofrimento e da morte, para poder ser o Sacerdote perfeito, verdadeiro homem e verdadeiro Deus (cf. Hb 2, 17; 4,15). Ocorre, porém, que Jesus, por mais repugnância que sentisse pelo cálice, subordinou seu pedido à vontade do Pai: "Faça-se a tua vontade; e não a minha"(Mc 14, 36).

Continua o autor de Hebreus: "E foi atendido por causa da sua reverência". - É espontâneo perguntar: como foi atendido, se padeceu e morreu tão atrozmente? A resposta não é difícil. Jesus pediu, acima de tudo, que se cumprisse a vontade do Pai a seu respeito. Ora o desígnio do Pai era ainda mais grandioso do que simplesmente isentar Jesus da morte de Cruz. Consistia, sim, em fazer de Jesus o Senhor da morte e da vida. Ele veio para morrer (Jo 12,27), e morrer para ressuscitar, ou seja, para ferir mortalmente a própria morte ou para tirar a esta o sinal negativo

de sanção devida ao pecado e torná-la um canal para a plenitude da vida. Ele mesmo diz no Apocalipse: "Estive morto, mas eis que vivo pelos séculos dos séculos, e tenho as chaves da Morte e do Hades (região dos mortos)" (Ap 1, 18).

O caso de Jesus é modelar para todos os homens. O Senhor Jesus passou pelos momentos mais difíceis de uma vida humana; soube, porém colocar sua vontade abaixo da vontade do Pai. Assim também todo cristão tem o direito de pedir a Deus que o livre dos males que o afetam; peça-o, porém, no intuito de cumprir em tudo o desígnio do Pai. Se não for atendido como sugere, nem por isto terá sido inútil a sua oração. Receberá mais e melhor do que sugeriu, pois o plano de Deus é mais amplo e sábio do que os planos dos homens. - Possa a celebração do Tríduo Sacro avivar nos cristãos a consciência de que a Páscoa tem duas facetas inseparáveis uma da outra: Cruz e Ressurreição. E leve os cristãos a orar sempre com Jesus e como Jesus, para participar da vitória de Cristo!




Revista "PERGUNTE E RESPONDEREMOS"

D. Estevão Bettencourt, osb
Nº 418 - Ano 1997 - p. 97

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