Uma iluminadora lição a partir da tradição dos Padres do Oriente.
Os oito maus pensamentos, na tradição dos Padres do Oriente, correspondem, no seu sentido, aos nossos sete pecados capitais. Eles nos lembram que o pecado se insinua ao coração através de um pensamento.
Essa tradição espiritual distingue cinco graus de tentação: a sugestão, a conversa, o combate, o consentimento e a paixão.
Vamos entendê-los mediante um exemplo: imagine que eu veja uma carteira caída no chão.
1 – No primeiro grau da tentação, que é a sugestão, eu percebo que ela está cheia de dinheiro. “Quantas coisas que eu poderia fazer com esse dinheiro…”.
2 – O segundo grau é a conversa. Em vez de fugir da tentação, começo a “conversar” com ela: “Seria melhor eu do que algum viciado, que vai gastar tudo em droga, bebida ou jogo…”.
3 – Chego então ao terceiro grau: o combate com a tentação. “Eu deveria levá-la à delegacia, mas o que eles vão fazer? Não vão ficar eles com o dinheiro? Pego ou não pego?”. A tensão, neste grau, é a mais elevada: os sentimentos em conflito colidem entre remorso e desejo.
4 – O quarto grau é o consentimento. “Vou pegar, pronto”.
Do ponto de vista da fé, o pecado só acontece neste instante; antes,
era apenas tentação e discernimento. Agora, eu decidi. E, mesmo que
alguém mais malandro me roubasse nesta mesma hora a carteira, o meu
pecado já teria acontecido: eu já pequei em pensamento ao tomar aquela
decisão.
5 – A paixão é a última etapa deste
processo. Se eu me acostumar a ceder à tentação, não haverá mais freio
contra as transgressões futuras: eu serei escravo da minha fraqueza.
Todo esse processo pode ser desencadeado por qualquer um dos 8 maus pensamentos, que, para os Padres do Oriente, são:
- a gula
- a luxúria
- a avareza
- a ira
- a tristeza
- a preguiça
- a vanglória
- a soberba.
Já vimos que não é tão fácil virar suas vítimas: é preciso atravessar
vários estágios antes de cair na armadilha. Daí a sabedoria do
provérbio: antes de se deixar levar pelo impulso, conte até dez. Melhor ainda: conte até cem.
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