sábado, 9 de outubro de 2010

A ESSÊNCIA DA RELIGIÃO


São Paulo, falando aos atenienses no Areópago, afirmou que Deus fez os homens "a fim de procurarem a divindade (...) ela não está longe de nós" (At 17,27). Apesar da variedade nas manifestações de fé, a criatura racional é considerada um ser religioso.

Trata-se da "íntima e vital ligação a Deus" ("Gaudium et Spes", nº 19). As consequências dessa atitude são sintetizadas na célebre frase de Santo Agostinho, no início de sua obra "Confissões": "Criastes-nos para Vós e o nosso coração vive inquieto enquanto não repousar em Vós" (Livro I, 1).

Ao lado dessa exigência de nossa própria natureza, há uma outra. Diante da diversidade e até contradição nas crenças, é dever investigar com afinco a verdade. Deus não ensina doutrinas contrastantes, nem dita regras de procedimentos antagônicos. A obrigação de buscar, mesmo sem chegar a resultados definitivos, tranquiliza a consciência. O Pai levará em conta este esforço sincero, mesmo que os indivíduos cheguem a conclusões diferentes. O inaceitável é o nivelamento dos opostos. A indagação dos caminhos traçados satisfaz o Senhor misericordioso, que penetra no âmago de cada um e vê nossa fraqueza e limitações. Resta sempre o estrito dever de procurar a verdadeira crença e o comportamento daí resultante. O Concílio, na declaração "Dignitatis Humanae" sobre a liberdade religiosa, afirma: "todos os homens têm o dever de buscar a verdade, sobretudo no que diz respeito a Deus e à Sua Igreja e, uma vez conhecida, de a abraçar e guardar" (nº 1). E afirma: "Acreditamos que esta única religião verdadeira se encontra na Igreja Católica e Apostólica".

Na sua essência, religião é o relacionamento com a divindade e não um instrumento para favores terrenos, busca de solução aos problemas econômicos, restabelecimento da própria saúde ou atendimento das aspirações que lhe vêm ao coração.

Igualmente não se restringe a um contato egoísta com Deus, à procura dos próprios interesses isolando-se da comunidade a que pertence. Nem trata exclusivamente do campo espiritual mas abrange o homem todo, corpo e alma. Por isso, o Papa João Paulo II ensinou: "O exercício do ministério da evangelização no campo social (...) é um aspecto do múnus profético da Igreja" (Encíclica "Sollicitudo Rei Socialis", nº 41).

O assunto ora tratado é de grande importância. Nascem inúmeras doutrinas que se expandem sob o impulso das correntes de pensamento vigentes. Já São Paulo advertia: "Não sejamos mais crianças, joguetes das ondas agitadas por todo vento de doutrinas, presas pela artimanha dos homens e de sua astúcia que nos induz ao erro" (Ef 4,14).

O rápido surgimento de seitas, fenômeno universal e que não afeta apenas o cristianismo, traz consigo inúmeras expressões religiosas e comportamentos diversos. Aparecem novas formas de religiosidade. Procuram atender às aspirações e às mais variadas necessidades das diferentes camadas da sociedade. Prometem resolver os problemas que angustiam a população, mesmo que sejam de ordem puramente temporal. Algumas vinculam o êxito dos pedidos a valores pecuniários.

O anseio por desvendar o futuro alimenta uma clientela numerosa. Isso não é uma novidade entre os homens. Desde os mais remotos tempos, registram-se essas tentativas de contato com o além. As práticas mágicas perdem-se no passado e seus vestígios confundem-se com as primeiras manifestações do homem. Contudo, a antiguidade, em si, não é garantia de veracidade.

O progresso da ciência e o esclarecimento da origem de muitas expressões da natureza poderiam dar uma direção a essas atitudes. Isso, no entanto, não tem ocorrido. Com os maiores avanços técnicos, convivem à busca de soluções em doutrinas que não se coadunam com o nível intelectual de nossos dias.

Há uma sede de milagres, aparições e prenúncios. E, às vezes, arrastam multidões. Pode haver uma presença real do divino, mas o comum é se ter na raiz aproveitadores ou indivíduos de boa-fé sem um indispensável espírito crítico que ilumine esses acontecimentos. As autoridades eclesiásticas são muito prudentes. Somente após exaustivos exames e aprofundados estudos manifestam-se sobre a veracidade dos fatos. Revelam ingenuidade ou imprudência os que desprezam essas medidas acauteladoras. Constata-se, com certa frequência, entre os fiéis, uma religião intimista, que expressa tendências egoístas orientadas para a satisfação própria. No entanto, somos uma comunidade e não a justaposição de pessoas. Quanto mais anêmica é a fé, mais fácil enveredar por esses caminhos.

A sede de Deus, do transcendental, constitui um valioso meio para a preservação ou a recondução à verdadeira fé. No entanto, esses sentimentos, deixados às aspirações meramente subjetivas, são elementos negativos. Para os católicos, há normas objetivas. Diante de todos esses fatos, ensinamentos e anseios são elas que conferem autenticidade.

A deficiência de uma instrução religiosa aliada à falta de solidez nas atitudes, tornam o fiel frágil vítima dos "falsos apóstolos, operários enganadores, camuflados em apóstolos de Cristo", como nos adverte São Paulo (2Cor 11,13).

Esses e outros desvios causam pesados danos. Para enfrentá-los, dois fatores são importantes e se completam: o estudo do "Catecismo da Igreja Católica" (ou do Compêndio do Catecismo) e a humilde obediência à Igreja como a estruturou Jesus Cristo. O primeiro nos apresenta, em sua pureza, o ensino do Senhor. Possibilita-nos julgar o que é certo e de acordo com o Magistério. A ignorância religiosa é um grande mal, que prejudica gravemente o trabalho pastoral e a espiritualidade dos fiéis. A melhor compreensão do que é a Igreja de Cristo, leva-nos a obedecer às suas diretrizes.

Uma vida cristã sadia e operante é uma bênção de Deus.
Fonte:encontrocomcristo.com.br

Nenhum comentário: