segunda-feira, 3 de dezembro de 2012

A SALVAÇÃO DE DEUS.

A pregação de João Batista visava uma condigna preparação para receber a salvação de Deus, trazida e operada na História por Cristo (Lc 3, 1-6). O Precursor falava de um arrependimento para a remissão dos pecados. Isto conduz, antes de tudo, ao reconhecimento das próprias faltas diante do Deus três vezes santo. Os judeus do tempo de São João Batista tinham um coração endurecido nos seus erros, nas suas desordens e se acreditavam justos. Aí estava a razão de seus enganos e o impedimento para abraçarem a fé em Jesus, o Messias prometido. São Paulo faria referência a isto na Carta aos Romanos: “Tendo ignorado a justiça de Deus e procurando estabelecer sua própria justiça, não se submetiam à justiça de Deus” (Rm 10,3). Donde o alerta de João Batista, clamando por uma penitência, por uma total conversão do coração: “Fazei, pois, frutos convenientes ao arrependimento” (Mt 3,8). Esta penitência consiste num aborrecimento total de todos os pecados, numa purificação completa da consciência. Trata-se de se ter uma sincera disposição de seguir em tudo os mandamentos divinos, recebendo de todo coração a graça do Salvador Jesus. Quer o Profeta Isaías, quer João Batista mostraram o que significava a vinda do Redentor e como se preparar para O receber. Desceram a detalhes: “Todo vale seja preenchido e todo monte e toda colina abaixados; as vias tortuosas se tornem direitas e as escabrosas se tornem planas”. Assim, alegoricamente está traçado o roteiro até o Presépio.
 
O vale da desesperança deve ser enchido com a certeza da salvação que vem de Deus, pois os rigores e as dificuldades da vida devem ceder lugar à doçura da total confiança na bondade divina. Para isto, porém, cumpre uma radical humildade, lançando por terra a montanha do orgulho, da vaidade, da auto-suficiência e, ainda, endireitando todos os pensamentos, desejos e planos e aplainando todas as veredas por meio das virtudes. É todo o ser humano que tem que ser renovado, modificado, metamorfoseado. A conclusão é luminosa: “Toda carne verá a salvação de Deus”, ou seja, deste modo ficam afastadas as brutalidades dos maus costumes, resta adocicada a dureza dos corações e passam a reinar a doçura e a simplicidade dos filhos de Deus. João Batista podia pregar tudo isto porque ele vivia uma vida inteiramente desapegada dos prazeres mundanos, todo dedicado à sua sublime missão. Para ela ele se preparou no deserto tendo por vestimenta uma pele de camelo, ensinando o desprezo pelas vaidades humanas. Suportou os rigores do inverno e os ardores do verão e se acomodou a uma parca alimentação, deixando um apelo para que se aceitem sempre as provações que a Providência divina envia, longe de todo luxo desmedido e de gastos supérfluos. O Natal exige, desta maneira uma revisão de vida na alheta do Precursor. Este vivia no deserto como se estivesse no céu.
 
O cristão que se prepara para comemorar o nascimento de Jesus, estando em estado de graça, precisa entrar no deserto de seu coração para escutar aí as mensagens do divino Infante. Por força da comercialização natalina estas grandes verdades que São João Batista recorda ficam submersas, inclusive nos festins e excessos das chamadas ceias de Natal, no esquecimento dos pobres e necessitados e na preocupação com o que é secundário na comemoração de um natalício daquele que veio trazer a salvação de Deus. É necessário imitar São João Batista e escutar seus ensinamentos, levando uma vida sóbria e na temperança, moderando apetites e paixões desordenadas, longe de qualquer dissolução, perversão, devassidão, libertinagem. A autêntica austeridade deve ser o galardão do discípulo de Cristo que precisa testemunhar por toda parte quão gloriosa foi Sua vinda a esta terra. A comemoração do Natal deve afastar todos os pensamentos negativos, lançando o cristão longe da obscuridade de uma noite profunda. Jesus, o sol da justiça, brilhará então dia 25 de dezembro, porque houve uma preparação condigna para comemorar fato tão significativo. Advento exige assim a abstenção do mal, a prática ainda mais fiel do bem, o cuidado com a língua que pode ferir a honra alheia e proferir palavras enganosas. Renúncia à cólera, à vaidade, à presunção que são obstáculos àquela paz que flui do Presépio. Apenas, desta maneira, se conhecerá a salvação de Deus que Cristo está sempre a oferecer, sobretudo no dia de seu Natal que se aproxima.

Fonte: Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
Local:Mariana (MG)

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