quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

MINISTÉRIO DE MÚSICA - PARTE II

É correto cantar músicas de compositores/cantores de outras igrejas em nossos momentos de oração?

A Coordenação Nacional dos Ministérios de Arte na RCC tem razões sérias e suficientemente embasadas para afirmar que, em princípio, não há problema algum em tocarmos músicas evangélicas em nossos momentos de oração, shows, eventos e até missas, desde que tenhamos duas coisas muito bem definidas em nossa mente e em nosso coração:
1. O que diz exatamente a música que estamos cantando;
2. Por que escolhi esta determinada música (foi de fato uma moção do Espírito?).
Com base nesses dois critérios podemos tranqüilamente delinear o nosso discernimento.
Obviamente também havemos de lembrar que, não somente em relação ao repertório, mas em todos os aspectos de nossa vida cristã, o equilíbrio é sempre um fator de especial importância. Ter seu repertório praticamente todo composto de canções de determinado(s) compositor(es) evangélico(s) é, sem dúvidas, um exagero, algo desequilibrado. Entrementes, cantar somente músicas do compositor católico “x” ou “y”, igualmente seria cair no mesmo erro do desequilíbrio.

Primeiro Critério: Não há dúvidas de que é necessário que todos os artistas católicos tenham condições de analisar aquilo que cantam, dançam ou representam, afinal, não dá mesmo para simplesmente pegar “a música da moda” e aplicar descuidadamente em nossa missão. A própria CNBB nos chama a atenção sobre isso[Doc.15] e também o Papa João Paulo II, no quirógrafo, quando diz:
“ ...por diversas vezes (...) sublinhei a necessidade de purificar o culto de dispersões de estilos, formas descuidadas de expressão, músicas e textos descurados e pouco conformes com a grandeza do ato que se celebra...”[16]
Quando tratamos de canções feitas por irmãos de outras Igrejas a atenção deve estar voltada mesmo à relação do texto da música com os ensinamentos da Doutrina Católica, isto é, verificar se a canção não fere aquilo que nossa Igreja tem ensinado aos seus fiéis ao longo dos séculos.
Para falar a verdade, é muito bom que sejamos, de certa forma, obrigados a fazer esse tipo de análise, pois assim percebemos a importância de se ter cada vez mais formação sólida na Palavra de Deus e no Magistério de nossa Mãe Igreja. O artista que não busca esse aprofundamento com certeza terá problemas para saber o que é correto ou errado na letra de uma música.

Isso tudo nos leva a constatar também que não é somente com as músicas de compositores evangélicos que precisamos ter cuidado. Também muitos dos cantos compostos pelos “nossos” trazem freqüentemente erros teológicos, litúrgicos ou pastorais, advindos da falta de formação ou da formação superficial de alguns de nossos compositores.
O fato é que não é somente sobre Música (tecnicamente ou mesmo religiosamente falando) que devemos saber, mas também sobre os temas que abordamos em nossa música. Se nossos compositores não se aprofundarem mais sobre o que a Igreja pensa a respeito de “adoração”, “louvor”, “animação”, “Maria” etc nossas letras correm o risco de ser apenas um amontoado de “água-com-açúcar que está rimando”.

O importante, no que se refere à análise da letra, é que sempre entendamos o que estamos cantando e que tenhamos certeza de que não contradiz nossa fé em nenhum mínimo detalhe.

Segundo Critério: Agora algo crucial em nosso caminho: é necessário que entendamos de uma vez por todas que o nosso repertório deve ser escolhido pelo próprio Espírito Santo, isto é, só acertaremos de verdade o alvo se utilizarmos o dom do Discernimento. É uma questão espiritual, nada menos! Se vamos utilizar uma determinada música para fins espirituais, isto é, para a oração, então é o próprio Deus quem define o que cantaremos.
Somente ser bonita não adianta... somente ter a letra certa não adianta... somente estar de acordo com o momento não adianta... somente ter funcionado na semana passada não adianta... a escolha da música certa para cada momento de oração deve partir de um discernimento espiritual, isto é, devemos orar e escutar a vontade de Deus ao selecionarmos o nosso repertório.
Aqui vale lembrar que o mais importante na nossa missão é que as pessoas experimentem a Deus através daquilo que cantamos, nas palavras da CNBB, que “elas tenham um encontro pessoal com Jesus”[19]; por isso mesmo essa escolha é mais uma questão entre “Deus e o povo que está rezando” do que simplesmente “a música que eu gostaria de cantar”, ou “a música que está na moda no momento”.

Nesse ponto se chega à conclusão que o discernimento espiritual nos leva a questionar o por quê de se cantar cada uma das músicas que escolhemos!
Se você, em um momento de oração, canta uma determinada música apenas por que tá sendo sucesso, por mais católica que ela seja, você pode estar cometendo um grande erro. Da mesma forma, se você escolhe uma canção do grupo “Diante do Trono” só por que agora é moda cantar isso, por mais bela que a música seja, você pode estar cometendo uma falha grave! Por outro lado ou essa ou aquela pode funcionar perfeitamente, se assim for a moção do Espírito Santo!

Assim, vê-se que o fator mais importante é nada menos que a Vontade de Deus! E, falando sinceramente, se o Espírito Santo lhe move a cantar determinada música em algum momento de oração, ninguém está disposto a perguntar a Ele primeiro quem “detém os direitos autorais”?
Assim, o caminho para o discernimento espiritual passa obrigatoriamente por prostrar o coração em oração antes de cada música (até das animadas) e aprender a “detectar” a Vontade de Deus para cada situação. Isso só vem com a prática e começa com uma perguntinha simples, porém profunda o suficiente para nos levar a rezar por uns tempos: “Por que estou escolhendo esta música agora?”
Fonte: João Valter Ferreira Filho, Coordenador Nacional dos Ministérios de Arte da RCC(2005), estudioso do assunto “Música Sacra”, Professor de “Canto Gregoriano” em um Seminário Propedêutico, regente-titular do Coral da Catedral da Arquidiocese de Teresina, Professor de “História da Música Sacra” em uma Faculdade de Filosofia e de “Música Litúrgica Católica” em uma Faculdade de Teologia) e, ainda, como ministro de música de seu Grupo de Oração.Publicado em 01/06/05

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