domingo, 22 de setembro de 2013

25º DOMINGO DO TEMPO COMUM - QUANDO A ECONOMIA NÃO GERA VIDA.

 
Servir a Deus ou ao deus dinheiro?
Quem não se lembra do tema da Campanha da Fraternidade deste ano: Economia e vida? O seu lema: “não podeis servir a Deus e ao Dinheiro” aparece em nosso evangelho de hoje, no versículo 13. Na primeira leitura, o profeta Amós age duramente com os ricos exploradores que compram o fraco com prata e o indigente por um par de sandálias (8,6). No evangelho, o cristão é chamado a ser discípulo, o que implica romper com todas as formas de uso dos bens que geram injustiças. Nada de ganância e usura. Nessa mesma linha de pensamento, a segunda leitura mostra a oração como forma de resistir à perseguição e à economia romana que tiram a vida. Reflitamos, pois, sobre o alcance da economia que gera a vida e o serviço ao Deus da vida.
1. leitura (Am. 8,4-7): a falsa medida dos ricos e o par de sandálias dos pobres
A primeira leitura é um oráculo de juízo, possivelmente dos discípulos de Amós, aquele camponês pobre do sul, de Judá, que lá pelo ano 760 a.E.C. assumiu a difícil missão de ser profeta no norte do país, Israel, no tempo do rei Jeroboão II. O país que havia vivido uma situação econômica favorável passa a ter nos seus líderes e comerciantes uma situação insuportável aos olhos de Deus: a exploração dos pobres. Para Amós, essa atitude decretava o fim do povo eleito. O desejo dos comerciantes era o lucro indevido, vendendo até o refugo dos cereais, violando a balança. Para eles, não importavam as festas religiosas, lua nova e sábado, oportunidades em que todos podiam celebrar e descansar (1Sm. 20,5; Is 1,13s; Os. 2,13; Jr. 17,21-27; Ne. 13,15-22; Ex. 35,3). Eles se perguntavam pelo fim da lua nova para vender o trigo. E o que é pior: “Quando vai passar o Sábado, para abrirmos o armazém, para diminuir as medidas, aumentar o peso e viciar a balança, para comprar os pobres por dinheiro, o necessitado por um par de sandálias, e vender o refugo do trigo?” (vv. 5-6).
O indigente é comprado por um par de sandálias. Esse crime de Israel já fora denunciado pelo profeta (Am. 2,6). Até o ser humano é objeto de negócios ilícitos. Todo ser humano busca a sua sobrevivência. Na relação com as pessoas, ele adquire bens. Pessoas e bens estão entrelaçados. No entanto, o bem econômico não pode ser adquirido sob a condição de que o outro seja lesado em sua dignidade. A injustiça, desse modo, nasce do desejo e da prática que mantêm o outro na pobreza. A sandália é um objeto de primeira necessidade para o indigente. Há uma ganância e exploração despropositadas dos pobres (vv. 4 e 6). Ganância que leva os comerciantes a falsear a balança. Para Amós, o juízo divino será implacável com Israel. Deus não se esquecerá dessa atitude de seu povo.
O motivo de tamanha ira divina é o fato de a religião ser usada para justificar a opressão social e econômica de Israel, o povo eleito por Deus para ser sua testemunha de santificação no mundo. O povo aguardava ansioso o “dia do Senhor”. Muitos diziam que ele seria de bonança e de glória para Israel. O profeta Amós, ao contrário, afirmava que esse dia seria terrível, de destruição e exílio para os pretensos religiosos corruptos, seus compatriotas, que, fazendo injustiças contra os pobres, atingiam o próprio Deus, o defensor e pai dos pobres. Imagine se o povo estava gostando de tal proposta? Claro que não. Estamos, pois, diante de um juízo divino, que também aparece no evangelho, que veremos a seguir.
Evangelho (Lc. 16,1-13)
Uma estranha parábola de um esperto administrador. Deus versus Dinheiro
Dando continuidade ao tema da economia da primeira leitura, estamos diante de uma parábola própria da comunidade de Lucas, a do administrador infiel que, vendo que estava prestes a ser demitido por esbanjar os bens do patrão, resolve bancar o esperto, usando o dinheiro do próprio patrão para fazer amigos, que o ajudariam quando estivesse demitido, isto é, diminuindo o valor da dívida destes para com o seu patrão. A economia está no centro de sua ação. Ele sabe defender o seu lado, mesmo que de forma desonesta. Mas em que consiste a sua desonestidade e o elogio de Jesus? Naquele tempo, a economia do empréstimo funcionava assim: o dono dos bens os confiava a um administrador, que tinha seu pagamento no valor aumentado na mercadoria. Essa prática era vista como normal e permitida. No caso da parábola, o administrador simplesmente se abdicou de seu salário para fazer amigos e preparar “a cama”, caso viesse a perder o emprego. Por outro lado, ele ensina a partilha, deixando de lucrar para servir aos pobres.
Assim, não mais soa estranho no texto o fato de o Senhor, no caso, Jesus, ter elogiado a má ação do administrador. Ele compara os filhos da luz com os do dinheiro, com os quais os primeiros devem aprender: usar da esperteza. E Jesus orienta seus seguidores a fazer uso do dinheiro injusto para fazer amigos, de modo que os amigos possam ajudá-los, quando as dificuldades vierem (v. 9). O ensinamento de Jesus se resume em dizer que todo dinheiro acumulado é fruto da injustiça, assim como é justiça roubar dos ricos para dar aos pobres. Seria um Robin Hood moderno, aquele herói inglês, um fora da lei que vivia na floresta, no século XIII, com seu arco e flecha, roubando dos ricos para dar aos pobres. Por outro lado, os discípulos de Jesus devem fazer o caminho da radicalidade. Seguindo Jesus, eles “perderiam o emprego”, as benesses da vida estabilizada, os privilégios e deveriam ser fiéis ao novo projeto. Nesse sentido, Jesus também chama a atenção para o fato de a fidelidade ser expressa em pequenas coisas. Quem é fiel nas pequenas coisas o é também nas grandes. “E se não somos fiéis no que é dos outros, quem nos dará aquilo que é nosso?” (v. 10). E Jesus conclui o seu discurso com uma afirmativa que é o centro de todo o capítulo dezesseis: “Nenhum empregado pode servir a dois senhores, porque, ou odiará um e amará o outro, ou se apegará a um e desprezará o outro. Vocês não podem servir a Deus e ao Dinheiro” (v. 13). Discípulo de Jesus não fica em cima do muro. Na sequência, são citados os fariseus, chamados de amigos do dinheiro, a quem Jesus estava dirigindo a sua pregação (v. 14).
A oposição entre as duas situações antagônicas, amar a Deus ou ao Dinheiro, revela o significado do ensinamento de Jesus. Não creio que Jesus estaria ensinando que o dinheiro não presta e que não precisamos dele. E em outra ocasião, referindo-se a uma moeda com a figura e a inscrição de César, a propósito do pagamento de imposto, Jesus foi categórico: “Dai a César o que é de César, e a Deus o que é de Deus” (Mt 22,21). Jesus não está se colocando contra o dinheiro, mas a favor de uma economia que gera a vida. Quando o dinheiro fica acumulado ocorrem duas coisas: ele é fruto de injustiças sociais, assim como vimos na primeira leitura, e gerador de outras situações de não fraternidade, de não partilha, assim como era o ensinamento de Jesus sobre o Reino de Deus.
Os bens não são em si negativos, mas o seu uso absoluto e desequilibrado gera riqueza de um lado e miséria do outro. Bens tornam-se ídolos que, idolatrados, geram fome, desemprego, falta de moradia etc. Uma falsa espiritualidade baseada na economia guia muitos de nós, a espiritualidade dos shopping centers, o prazer vazio de comprar, pensando que estamos adquirindo a felicidade.
Por outro lado, aproximando-se mais uma eleição presidencial, constata-se que as desigualdades sociais têm diminuído. No nosso pobre continente latino-americano, países buscam integração, trabalhadores se unem. A consciência ecológica tem levado muitos a mudar de atitudes em relação ao nosso planeta. Tudo isso, no entanto, é pouco diante dos grandes desafios da economia injusta que impera em nosso país.
2º leitura (1Tm. 2,1-8)
Rezar pelos governantes, por causa de nossa serenidade, e servindo a Deus
Ao escrever à comunidade de Timóteo, Paulo, retomando o papel salvífico universal de Jesus Cristo, ensina a importância da oração na comunidade cristã. A novidade da oração cristã, apresentada por Paulo, é que ela seja realizada sem ira e discussões, com mãos limpas (v. 8), e ele pede que todos rezem, seja em forma de pedidos, orações, súplicas ou ações de graças (v. 1). E o que é mais importante, a oração deve ser para todos, também para os governantes, os que exercem autoridade. Até mesmo o imperador romano, que se julgava deus, precisava de oração para governar com sabedoria, coisa que não ocorria. Os judeus ensinavam que a oração deveria ser voltada para os seus conterrâneos, os israelitas. Paulo vai além desse preceito.
Os judeus tinham também uma oração de dezoito bênçãos. Uma delas, a décima segunda, dizia: “Não haja esperança para os heréticos e caluniadores, e pereçam todos num instante. Todos os teus inimigos sejam imediatamente destruídos, e tu, humilha-os imediatamente em nossos dias. Bendito sejas, Senhor, que despedaças os inimigos e humilhas os soberbos”. Essa oração, composta por volta do ano 95 a 100 E.C., na cidade de Jammia – quando os judeus fecharam a sua lista de livros inspirados da Bíblia, tinha um endereço certo: os cristãos, que haviam seguido outro caminho, deixando Jerusalém para levar a fé no judeu Jesus ressuscitado a todos os povos.
Paulo também ensina que a oração nos confere serenidade. Rezemos para que tenhamos “uma vida calma e serena, com toda a piedade e dignidade” (v. 2). Diante das perseguições romanas, os cristãos são chamados à oração. Diante da economia romana que causava miséria para muitos e riqueza para poucos, os cristãos são chamados à oração que foca Jesus, o salvador de toda a humanidade.
A reflexão de Paulo, nessa carta a Timóteo, ilumina a temática das outras leituras de hoje. Os nossos governantes e lideranças precisam da oração da comunidade para agir com sabedoria. A oração é reflexo do nosso serviço a Deus. Economia que gera vida é o que esperamos todos. Pensemos nisso na hora de exercer a nossa cidadania por meio do voto.
PISTAS PARA REFLEXÃO
O exemplo do administrador infiel serve para nos levar a perguntar pela nossa condição de pessoas decididas a tomar uma atitude em nossas vidas. Somos inertes diante das dificuldades ou somos corajosos? Estamos decididos a ser radicais como o administrador do evangelho?
Diante da temática suscitada nas leituras de hoje, perguntemo-nos como agimos com o dinheiro. Ele serve para nos oferecer condições dignas de vida ou para acumular nossas falsas riquezas? Amamos a Deus, a vida partilhada, ou o dinheiro, o acúmulo desnecessário? Usamos tudo que temos?
Como está a nossa vida de oração? Pensamos mais no ter e aparecer ou no nosso ser de forma íntegra? Deus é o centro de nossas vidas ou somos mais um da espiritualidade dos shopping centers? A nossa oração tem dimensão política e social? Somos capazes de votar em candidatos que defendem o acúmulo de bens nas mãos de poucos? Conhecemos a vida de nossos candidatos, ao decidirmos o nosso voto?
frei Jacir de Freitas Farias, ofm 

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