domingo, 15 de dezembro de 2013

3º DOMINGO DO ADVENTO - JESUS PRESENÇA SALVADORA E LIBERTADORA DE DEUS NO MEIO DOS HOMENS.

 
A liturgia deste domingo lembra a proximidade da intervenção libertadora de Deus e acende a esperança no coração dos crentes. Diz-nos: “não vos inquieteis; alegrai-vos, pois a libertação está a chegar”.

A primeira leitura anuncia a chegada de Deus, para dar vida nova ao seu Povo, para o libertar e para o conduzir – num cenário de alegria e de festa – para a terra da liberdade.

O Evangelho descreve-nos, de forma bem sugestiva, a ação de Jesus, o Messias (esse mesmo que esperamos neste Advento): Ele irá dar vista aos cegos, fazer com que os coxos recuperem o movimento, curar os leprosos, fazer com que os surdos ouçam, ressuscitar os mortos, anunciar aos pobres que o “Reino” da justiça e da paz chegou. É este quadro de vida nova e de esperança que Jesus nos vai oferecer.

A segunda leitura convida-nos a não deixar que o desespero nos envolva enquanto esperamos e aguardarmos a vinda do Senhor com paciência e confiança.

LEITURA I – Is 35,1-6a.10

Os capítulos 34-35 do Livro de Isaías são habitualmente chamados “pequeno apocalipse de Isaías” (para distinguir do “grande apocalipse de Isaías”, que aparece nos capítulos 24-27); descrevem os últimos combates travados por Jahwéh contra as nações, particularmente contra Edom e a vitória definitiva do Povo de Deus. Estes dois capítulos parecem poder ser relacionados com os capítulos 40-55 do Livro de Isaías (cujo autor é esse Deutero-Isaías que atuou na Babilônia entre os exilados, na fase final do Exílio). Por que razão estes dois capítulos se apresentam separados do seu “ambiente natural” (Is 40-55)? Provavelmente, foram atraídos pelas peças escatológicas soltas de Is 28-33 e, especialmente, pelo capítulo 33.
Depois de apresentar o julgamento de Deus (cf. Is 34,1-4) e o castigo de Edom (cf. Is 34,5-15), o autor descreve, por contraste, a transformação extraordinária do deserto sírio, pelo qual vão passar os israelitas libertados, que retornam do Exílio. A intenção do profeta é consolar os exilados, desanimados, frustrados e mergulhados no desespero, porque a libertação tarda e parece que Deus os abandonou. Este tema será desenvolvido em profundidade nos capítulos 40-55 do Livro de Isaías.

Temos aqui um autêntico “hino à alegria”, destinado a acordar a esperança e a revitalizar o ânimo dos exilados. Qual a razão dessa alegria? É que Deus “aí está para fazer justiça”: Ele vai intervir na história, vai salvar Judá do cativeiro, vai abrir uma estrada no deserto para que o seu Povo possa regressar em triunfo a Sião.
O profeta começa por interpelar a natureza e pedir-lhe que se prepare para a ação libertadora de Deus em favor do seu Povo: o deserto e o descampado, estéreis e desolados, são convidados a revestir-se de vida abundante (como o Líbano, o monte Carmelo ou a planície do Sharon, zonas proverbiais de vida e de fecundidade) e a enfeitar-se de flores de todas as formas e cores (vers. 1-2). Dessa forma, a própria natureza manifestará a sua alegria pela intervenção salvadora de Jahwéh; mas, sobretudo, será o cenário adequado para essa intervenção de Deus, destinada a levar vida nova ao Povo. Além disso, a magnificência das árvores e das plantas será a imagem da glória e da beleza do Senhor e falará a todos da grandeza de Deus, da sua capacidade para fazer brotar vida onde só há morte, desolação, esterilidade.
Depois, a palavra do profeta dirige-se aos homens (vers. 3-4). Nada de desânimo, nada de cobardia, nada de baixar os braços: Deus aí está para salvar e libertar o seu Povo. Os exilados devem unir-se à natureza nessa corrente de alegria e de vida nova, pois a libertação chegou.
O resultado da iniciativa salvadora e libertadora de Deus será que os olhos dos cegos se abrirão e se desimpedirão os ouvidos dos surdos… O coxo não apenas andará, mas saltará como um veado; o mudo não apenas falará, mas cantará de alegria (vers. 5-6). A ação de Deus é excessiva, verdadeiramente transformadora e geradora de vida nova em abundância.
A marcha do Povo da terra da escravidão para a terra da liberdade será, pois, um novo êxodo, onde se repetirão as maravilhas operadas pelo Deus libertador a quando do primeiro êxodo; no entanto, este segundo êxodo será ainda mais grandioso, quanto à manifestação e à ação de Deus. Será uma peregrinação festiva, uma procissão solene, feita na alegria e na festa. O resultado final desse segundo êxodo será o reencontro com Sião, a eterna felicidade, a alegria sem fim (vers. 10).

ATUALIZAÇÃO

Ter em conta os seguintes elementos:

• Para os otimistas, o nosso tempo é um tempo de grandes realizações, de grandes descobertas, em que se abre todo um mundo de possibilidades ao homem; para os pessimistas, o nosso tempo é um tempo de sobreaquecimento do planeta, de subida do nível do mar, de destruição da camada do ozônio, de eliminação das florestas, de risco de holocausto nuclear… Para uns e para outros, é um tempo de desafios, de interpelações, de procura, de risco… Como é que nós nos relacionamos com este mundo? Vemo-lo com os olhos da esperança, ou com os óculos negros do desespero?

• Os crentes não podem, contudo, esquecer que “Deus aí está”: a sua intervenção faz com que o deserto se revista de vida e que na planície árida do desespero brote a flor da esperança. É com esta certeza da presença de Deus e com a convicção de que Ele não nos deixará abandonados nas mãos das forças da morte que somos convidados a caminhar pela vida e a enfrentar a história.

• O Advento é o tempo em que se anuncia e espera a intervenção salvadora de Deus em favor do seu Povo. No entanto, Ele só virá, se eu estiver disposto a acolhê-l’O; Ele só intervirá, se eu estiver disposto a receber de braços abertos a proposta de libertação que Ele me vem fazer… Estou preparado para acolher o Senhor? Ele tem lugar na minha vida? A sua proposta libertadora encontrará eco no meu coração?

• O profeta é o homem que rema contra a maré… Quando todos cruzam os braços e se afundam no desespero, o profeta é capaz de olhar para o futuro com os olhos de Deus e ver, para lá do horizonte do sol poente, um novo amanhã. Ele vai, então, gritar aos quatro ventos a esperança, fazer com que o desespero se transforme em alegria e que o imobilismo se transforme em luta empenhada por um mundo melhor. É este testemunho de esperança que procuramos dar?

SALMO RESPONSORIAL – Salmo 145 (146)

Refrão 1: Vinde, Senhor, e salvai-nos.

Refrão 2: Vinde salvar-nos, Senhor.

O Senhor faz justiça aos oprimidos,
dá pão aos que têm fome
e a liberdade aos cativos.

O Senhor ilumina os olhos dos cegos,
o Senhor levanta ao abatidos,
o Senhor ama os justos.

O Senhor protege os peregrinos,
ampara o órfão e a viúva
e entrava o caminho aos pecadores.

O Senhor reina eternamente.
O teu Deus, ó Sião,
é rei por todas as gerações.

LEITURA – Tg 5,7-10

A carta de onde foi extraída a nossa segunda leitura de hoje é um escrito de um tal Tiago (cf. Tg 1,1), que a tradição liga a esse Tiago “irmão” do Senhor, que presidiu à Igreja de Jerusalém e do qual os Evangelhos falam, acidentalmente, como filho de certa Maria (cf. Mt 13,55;27,56). Teria morrido decapitado em Jerusalém no ano 62… No entanto, a atribuição deste escrito a tal personagem levanta bastantes dificuldades. O mais certo é estarmos perante um outro qualquer Tiago, desconhecido até agora (o “Tiago, filho de Alfeu” – de que se fala em Mc 3,18 e par. – e o “Tiago, filho de Zebedeu” e irmão de João – de que se fala em Mc 1,19 e par. – também não se encaixam neste perfil). É, de qualquer forma, um autor que escreve em excelente grego, recorrendo até, com frequência, à “diatribe” – um gênero muito usado pela filosofia popular helênica. Inspira-se particularmente na literatura sapiencial, para extrair dela lições de moral prática; mas depende também profundamente dos ensinamentos do Evangelho. Trata-se de um sábio judeo-cristão que repensa, de maneira original, as máximas da sabedoria judaica, em função do cumprimento que elas encontraram na boca e no ensinamento de Jesus.
A carta foi enviada “às doze tribos que vivem na Diáspora” (Tg 1,1). Provavelmente, a expressão alude a cristãos de origem judaica, dispersos no mundo greco-romano, sobretudo nas regiões próximas da Palestina – como a Síria ou o Egito; mas, no geral, a carta parece dirigir-se a todos os crentes, exortando-os a que não percam os valores cristãos autênticos herdados do judaísmo através dos ensinamentos de Cristo. Denuncia, sobretudo, certas interpretações consideradas abusivas da doutrina paulina da salvação pela fé, sublinhando a importância das obras; e ataca com extrema severidade os ricos (cf. Tg 1,9-11;2,5-7;4,13-17;5,1-6).
O nosso texto pertence à terceira parte da carta (Tg 3,14-5,20). Aí, o autor apresenta, num conjunto de desenvolvimentos e de sentenças aparentemente sem ordem nem lógica, indicações concretas destinadas a favorecer uma vida cristã mais autêntica.

Depois de uma violenta denúncia dos ricos que oprimem os pobres e que enriquecem retendo os salários dos seus trabalhadores (cf. Tg 5,1-6), o autor da carta dirige-se aos pobres e convida-os a esperar com paciência a vinda do Senhor (como o agricultor, depois de ter feito o seu trabalho, fica pacientemente, mas cheio de esperança, à espera que a terra produza os seus frutos). Todo o enquadramento está dominado pela perspectiva da vinda do Senhor.
A questão é, portanto, esta: os pobres vivem numa situação intolerável de exploração e de injustiça; mas não devem resolver o seu problema com queixas e violências: devem confiar em Deus e esperar a intervenção que os salvará e libertará. A paciência e a espera confiada no Senhor são as atitudes corretas, nestes tempos em que se prepara a intervenção final de Deus na história.
Haverá, aqui, um apelo à passividade, a cruzar os braços, a demitir-se da luta pelo mundo melhor? Não devemos entender o apelo de Tiago nesta perspectiva; o que há aqui é um apelo a confiar no Senhor e a não embarcar no mesmo esquema injusto e violento dos opressores… O acento é posto na esperança que deve alumiar o coração de quem sofre: a libertação está a chegar.

ATUALIZAÇÃO

A reflexão pode partir dos seguintes elementos:

• Muitos irmãos nossos fazem, todos os dias, a experiência intolerável de viver na injustiça, no medo, no sofrimento, à margem da vida, privados de dignidade… Tiago diz-lhes: “apesar do sem sentido da vida, apesar do sofrimento, Deus não vos abandonou nem esqueceu, mas vai libertar-vos; aproxima-se a dia da intervenção salvadora de Deus… Esperai-O, não com o coração cheio de revolta (que vos destrói e que magoa todos aqueles que, sem ter culpa, vivem e caminham a vosso lado), mas com esperança e confiança”.

• Atenção: isto não significa instalar-se numa resignação que aliena e numa passividade que é renúncia à própria dignidade humana… Isto significa, sobretudo, não deixar que sentimentos agressivos e destrutivos tomem posse de nós, pois a libertação de Deus não pode chegar a qualquer coração dominado pelo ódio, pelo rancor, pelo desejo de vingança.

• Nós, Igreja de Jesus, testemunhas do projeto libertador de Deus, temos de anunciar o projeto libertador de Deus aos escravos e oprimidos e não deixar que a luz da esperança se apague… Anunciamos a salvação aos pobres e oprimidos, com as nossas palavras e com os nossos gestos?

• A salvação de Deus chega ao mundo através do nosso testemunho… Lutamos, objetivamente, para tornar realidade o projeto libertador de Deus e para silenciar a opressão, a injustiça, tudo o que rouba a vida e a dignidade a qualquer homem ou a qualquer mulher?

ALELUIA – Is 61,1

Aleluia. Aleluia.

O Espírito do Senhor está sobre mim:
enviou-me a anunciar a boa nova aos pobres.

EVANGELHO – Mt 11,2-11

Na seção precedente do Evangelho (cf. Mt 4,17-11,1), Mateus apresentou de forma sistemática o anúncio do “Reino”, manifestado nas palavras e nos gestos de Jesus, e difundido pelos seus discípulos… Agora, começa outra seção, em que todo o interesse do evangelista é mostrar as atitudes que as distintas pessoas ou grupos vão assumir diante de Jesus (cf. Mt 11,2-12,50). A narração é retomada com a pergunta dos enviados de João Baptista (que está na prisão, por ordem de Herodes Antipas, a quem o Baptista havia criticado por viver maritalmente com a cunhada – cf. Mt 14,1-5): Jesus é mesmo “o que está para vir”?
A pergunta não é ociosa… João esperava um Messias que viesse lançar fogo à terra, castigar os maus e os pecadores, dar início ao “juízo de Deus” (cf. Mt 3,11-12); e, ao contrário, Jesus aproximou-Se dos pecadores, dos marginais, dos impuros, estendeu-lhes a mão, mostrou-lhes o amor de Deus, ofereceu-lhes a salvação (cf. Mt 8-9). João e os seus discípulos estão, pois, desconcertados: Jesus será o Messias esperado, ou é preciso esperar um outro que venha atuar de uma forma mais decidida, mais lógica e mais justiceira?
Mateus tem um interesse especial pela figura de João Baptista. Para ele, João é o precursor, que veio preparar os homens para acolher Jesus. É provável que, ao fazer esta apresentação, o evangelista se queira dirigir aos discípulos de João que ainda continuavam ativos na época em que o Evangelho foi escrito… Mateus pretende clarificar as coisas e “piscar o olho” aos discípulos de João, no sentido de que eles adiram à proposta cristã e entrem na Igreja de Jesus.

O nosso texto divide-se em duas partes… Na primeira, Jesus responde à pergunta de João e dá a entender que Ele é o Messias (vers. 2-6); na segunda, temos a apreciação que o próprio Jesus faz da figura e da ação profética de João (vers. 7-11).
Jesus tem consciência de ser o Messias? A resposta é obviamente positiva; para dá-la, Jesus recorre a um conjunto de citações de Isaías que definem, na perspectiva dos profetas, a ação do Messias enviado de Deus: dar vida aos mortos (cf. Is 26,19), curar os surdos (cf. Is 29,18), dar vista aos cegos, dar liberdade de movimentos aos coxos (cf. Is 35,5-6), anunciar a Boa Nova aos pobres (cf. Is 61,1). Ora, se Jesus realizou estas obras (cf. Mt 8-9), é porque Ele é o Messias, enviado por Deus para libertar os homens e para lhes trazer o “Reino”. A sua mensagem e os seus gestos contêm uma proposta libertadora que Deus faz aos homens.
Na segunda parte, temos a declaração de Jesus sobre o Baptista. Mateus utiliza um recurso retórico muito conhecido: uma série de perguntas que convidam os ouvintes a dar uma resposta concreta. A resposta às duas primeiras questões é, evidentemente, negativa: João não é um pregador oportunista cuja mensagem segue as modas, nem um elegante convencido que vive no luxo. A resposta à terceira é positiva: João é um profeta e mais do que um profeta. A declaração, que começa com uma referência à Escritura (cf. Ex 23,20; Mal 3,1) pretende clarificar qual a relação entre ambos e o lugar de João no “Reino”: João é o precursor do Messias; é “Elias”, aquele que tinha de vir antes, a fim de preparar o caminho para o Messias (cf. Mal 3,23-24)… No entanto, aqueles que entraram no “Reino” através do seguimento de Jesus são mais do que Ele.

ATUALIZAÇÃO

A reflexão deste texto pode partir das seguintes questões:

• O nosso texto identifica Jesus com a presença salvadora e libertadora de Deus no meio dos homens. Neste tempo de espera, somos convidados a aguardar a sua chegada, com a certeza de que Deus não nos abandonou, mas continua a vir ao nosso encontro e a oferecer-nos a salvação.

• Os “sinais” que Jesus realizou enquanto esteve entre nós têm de continuar a acontecer na história; agora, são os discípulos de Jesus que têm de continuar a sua missão e de perpetuar no mundo, em nome de Jesus, a ação libertadora de Deus. Os que vivem amarrados ao desespero de uma doença incurável encontram em nós um sinal vivo do Cristo libertador que lhes traz a salvação? Os “surdos”, fechados num mundo sem comunicação e sem diálogo, encontram em nós a Palavra viva de Deus que os desperta para a comunhão e para o amor? Os “cegos”, encerrados nas trevas do egoísmo ou da violência, encontram em nós o desafio que Deus lhes apresenta de abrir os olhos à luz? Os “coxos”, privados de movimento e de liberdade, escondidos atrás das grades em que a sociedade os encerra, encontram em nós a Boa Nova da liberdade? Os “pobres”, marginalizados, sem voz nem dignidade, sentem em nós o amor de Deus?

• Mais uma vez, somos interpelados e questionados pela figura vertical e coerente de João… Ele não é um pregador da moda, cujas ideias variam conforme as flutuações da opinião pública ou os interesses dos poderosos; nem é um charlatão bem vestido, que prega apara ganhar dinheiro, para defender os seus interesses, ou para ter uma vida cômoda e sem grandes exigências… Mas é um profeta, que recebeu de Deus uma missão e que procura cumpri-la, com fidelidade e sem medo. A minha vida e o meu testemunho profético cumprem-se com a mesma verticalidade e honestidade, ou estou disposto e vender-me a interesses menos próprios, se isso me trouxer benefícios?

• A “dúvida” de João acerca da messianidade de Jesus não é chocante, mas é sinal de uma profunda honestidade… Devemos ter mais medo daqueles que têm certezas inamovíveis, que estão absolutamente certos das suas verdades e dos seus dogmas, do que daqueles que procuram, honestamente, as respostas às questões que a vida todos os dias põe. Sou um fundamentalista, que nunca se engana e raramente tem dúvidas, ou alguém que sabe que não tem o monopólio da verdade, que ouve os irmãos, e que procura, com eles, descobrir o caminho verdadeiro?

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