quinta-feira, 20 de fevereiro de 2025

6ª Semana do Tempo Comum - Renuncie ao parasita que está em você!

 O preço da Eucaristia

Sede para mim um Deus protetor e um lugar de refúgio, para me salvar. Porque sois minha força e meu refúgio e, por causa do vosso nome, me guiais e sustentais (Sl 30,3s).

O Criador quer que seus filhos e filhas permaneçam unidos a ele e vivam em harmonia. O orgulho e o anseio de “ganhar o mundo inteiro” provocam, porém, desordem, confusão e o afastamento dos planos divinos. Somos chamados a construir a paz no ambiente em que vivemos, seguindo Jesus no caminho do Evangelho.

Primeira Leitura: Gênesis 11,1-9

Leitura do livro do Gênesis1Toda a terra tinha uma só linguagem e servia-se das mesmas palavras. 2E aconteceu que, partindo do oriente, os homens acharam uma planície na terra de Senaar e ali se estabeleceram. 3E disseram uns aos outros: “Vamos, façamos tijolos e cozamo-los ao fogo”. Usaram tijolos em vez de pedra, e betume em lugar de argamassa. 4E disseram: “Vamos, façamos para nós uma cidade e uma torre cujo cimo atinja o céu. Assim, ficaremos famosos e não seremos dispersos por toda a face da terra”. 5Então o Senhor desceu para ver a cidade e a torre que os homens estavam construindo. 6E o Senhor disse: “Eis que eles são um só povo e falam uma só língua. E isso é apenas o começo de seus empreendimentos. Agora, nada os impedirá de fazer o que se propuserem. 7Desçamos e confundamos a sua língua, de modo que não se entendam uns aos outros”. 8E o Senhor os dispersou daquele lugar por toda a superfície da terra, e eles cessaram de construir a cidade. 9Por isso, foi chamada Babel, porque foi lá que o Senhor confundiu a linguagem de todo o mundo e de lá dispersou os homens por toda a terra. – Palavra do Senhor.

Salmo Responsorial: 32(33)

Feliz o povo que o Senhor escolheu por sua herança!

1. O Senhor desfaz os planos das nações / e os projetos que os povos se propõem. / Mas os desígnios do Senhor são para sempre, † e os pensamentos que ele traz no coração, / de geração em geração, vão perdurar. – R.

2. Feliz o povo cujo Deus é o Senhor / e a nação que escolheu por sua herança! / Dos altos céus o Senhor olha e observa; / ele se inclina para olhar todos os homens. – R.

3. Ele contempla do lugar onde reside / e vê a todos os que habitam sobre a terra. / Ele formou o coração de cada um / e por todos os seus atos se interessa. – R.

Evangelho: Marcos 8,34-9,1

Aleluia, aleluia, aleluia.

Eu vos chamo meus amigos, / pois vos dei a conhecer o que o Pai me revelou (Jo 15,15). – R.

Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo segundo Marcos – Naquele tempo, 34chamou Jesus a multidão com seus discípulos e disse: “Se alguém me quer seguir, renuncie a si mesmo, tome a sua cruz e me siga. 35Pois quem quiser salvar a sua vida vai perdê-la; mas quem perder a sua vida por causa de mim e do Evangelho vai salvá-la. 36Com efeito, de que adianta ao homem ganhar o mundo inteiro se perde a própria vida? 37E o que poderia o homem dar em troca da própria vida? 38Se alguém se envergonhar de mim e das minhas palavras diante dessa geração adúltera e pecadora, também o Filho do Homem se envergonhará dele, quando vier na glória do seu Pai com seus santos anjos”. 9,1Disse-lhes Jesus: “Em verdade vos digo, alguns dos que aqui estão não morrerão sem antes terem visto o Reino de Deus chegar com poder”. – Palavra da salvação.

Reflexão
 
 A liturgia de hoje apresenta o Evangelho da cruz. Jesus nos diz que devemos renunciar a nós mesmos, tomar a nossa cruz e segui-lo. Mas, se é “evangelho”, significa que é uma boa notícia, mas abraçar a cruz não parece ser uma boa notícia. E se não estamos enxergando a boa notícia é porque, talvez, não percebamos a profundidade do que o Cristo está ensinando. 

É importante reconhecer que Deus é o Deus da vida, mas o inimigo, Satanás, apresenta-nos um simulacro de vida: “A vida verdadeira está em buscar a felicidade neste mundo”. Pois bem, sendo o pai da mentira, ele apresenta as coisas com uma aparência de verdade: por fora, é muito atraente, a embalagem é boa, mas, por dentro, o produto é estragado.

Já o Evangelho é o contrário. Por fora, é aparentemente assustador, porque nos pede a renúncia, abraçar a cruz e enveredar por uma porta estreita, enquanto nós, evidentemente, preferiríamos seguir o caminho mais largo. Contudo, esse invólucro assustador traz dentro de si um grande tesouro. Sim, o Reino dos Céus é um tesouro escondido sob o véu da fé. Então, precisamos penetrar através da luz da fé e meditar sobre este Evangelho.

O que quer dizer esse tomar a cruz? “Tomar a cruz” é uma metáfora que ele explica de forma mais clara quando diz: “Renuncia a ti mesmo”. Ou seja, precisamos crucificar o homem egoísta que está em nós. Se quisermos de fato amar, estamos buscando a verdadeira vida. Existe dentro de nós uma espécie de parasita; sim, um parasita que está sugando nossa energia, como aqueles vermes que, de tanto consumir nossos nutrientes, deixam-nos amarelos, abatidos, magros e disformes. Nesse caso, tomar um vermífugo é morte para os parasitas, não para nós.

Então, renunciar a si mesmo significa renunciar ao egoísta, ao homem velho que está parasitando a minha vida verdadeira. Sim, é verdade, o remédio é amargo na hora, mas depois é doce, porque nos dá a vida verdadeira, a vida do amor. O Evangelho é a boa notícia do amor, mas não pensemos que seja possível trilhar o caminho do amor e continuar nas nossas comodidades burguesas. Não! Deus vai nos contrariar. Não é possível que o Deus da vida não contrarie quem vive imerso numa cultura de morte e de egoísmo. As coisas não se coadunam, não dá para conciliar o Deus do amor com o homem velho e egoísta; o Deus da vida não tolera a vida mortífera daqueles que se acostumaram a estar no pecado.

 
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terça-feira, 18 de fevereiro de 2025

6ª Semana do Tempo Comum - “Por que discutis sobre a falta de pão?”

 O preço da Eucaristia

Sede para mim um Deus protetor e um lugar de refúgio, para me salvar. Porque sois minha força e meu refúgio e, por causa do vosso nome, me guiais e sustentais (Sl 30,3s).

Diante do pecado que se alastrou por toda parte, Deus encontra um justo por meio do qual seu projeto de vida e salvação pode continuar. A confiança de Noé no Senhor nos inspire a evitar a dureza de coração e a sermos fiéis colaboradores na preservação da vida e de nossa Casa Comum.

Primeira Leitura: Gênesis 6,5-8; 7,1-5.10

Leitura do livro do Gênesis 5O Senhor viu que havia crescido a maldade do homem na terra e como os projetos do seu coração tendiam sempre para o mal. 6Então, o Senhor arrependeu-se de ter feito o homem na terra e ficou com o coração muito magoado, 7e disse: “Vou exterminar da face da terra o homem que criei; e, com ele, os animais, os répteis e até as aves do céu, pois estou arrependido de os ter feito!” 8Mas Noé encontrou graça aos olhos do Senhor. 7,1O Senhor disse a Noé: “Entra na arca com toda a tua família, pois tu és o único homem justo que vejo no meio desta geração. 2De todos os animais puros toma sete casais, machos e fêmeas, e dos animais impuros um casal, macho e fêmea. 3Também das aves do céu tomarás sete casais, machos e fêmeas, para que suas espécies se conservem vivas sobre a face da terra. 4Pois, dentro de sete dias, farei chover sobre a terra quarenta dias e quarenta noites, e exterminarei da superfície da terra todos os seres vivos que fiz”. 5Noé fez tudo o que o Senhor lhe havia ordenado. 10E, passados os sete dias, caíram sobre a terra as águas do dilúvio. – Palavra do Senhor.

Salmo Responsorial: 28(29)

Que o Senhor abençoe, com a paz, o seu povo!

1. Filhos de Deus, tributai ao Senhor, / tributai-lhe a glória e o poder! / Dai-lhe a glória devida ao seu nome; / adorai-o com santo ornamento! – R.

2. Eis a voz do Senhor sobre as águas, / sua voz sobre as águas imensas! / Eis a voz do Senhor com poder! / Eis a voz do Senhor majestosa. – R.

3. Sua voz no trovão reboando! / No seu templo, os fiéis bradam: “Glória!” / É o Senhor que domina os dilúvios, / o Senhor reinará para sempre! – R.

Evangelho: Marcos 8,14-21

Aleluia, aleluia, aleluia.

Quem me ama, realmente, guardará minha palavra / e meu Pai o amará, e a ele nós viremos (Jo 14,2). – R.

Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo segundo Marcos – Naquele tempo, 14os discípulos tinham se esquecido de levar pães. Tinham consigo na barca apenas um pão. 15Então Jesus os advertiu: “Prestai atenção e tomai cuidado com o fermento dos fariseus e com o fermento de Herodes”. 16Os discípulos diziam entre si: “É porque não temos pão”. 17Mas Jesus percebeu e perguntou-lhes: “Por que discutis sobre a falta de pão? Ainda não entendeis nem compreendeis? Vós tendes o coração endurecido? 18Tendo olhos, vós não vedes e, tendo ouvidos, não ouvis? Não vos lembrais 19de quando reparti cinco pães para cinco mil pessoas? Quantos cestos vós recolhestes cheios de pedaços?” Eles responderam: “Doze”. 20Jesus perguntou: “E quando reparti sete pães com quatro mil pessoas, quantos cestos vós recolhestes cheios de pedaços?” Eles responderam: “Sete”. 21Jesus disse: “E vós ainda não compreendeis?” – Palavra da salvação.

Reflexão
Dando continuidade à leitura do Evangelho segundo S. Marcos, acompanhamos Jesus nesta viagem rumo ao porto da fé a que Ele nos vem conduzindo há alguns dias. Fora de Israel, como vimos, o Senhor encontrou gente bem disposta e acolhedora, que o buscou com a simplicidade e a fé que Ele tanto deseja, como a mulher siro-fenícia; na Terra Santa, porém, Ele teve a decepção de ver endurecido o coração do seu próprio povo, sobretudo entre os fariseus. É por isso que Ele torna ao barco, atravessa o mar de Tiberíades e volta ao lugar em que realizara a primeira multiplicação dos pães, para dali se dirigir às fontes do rio Jordão, onde Pedro dará seu testemunho de fé na sua filiação divina. Mas, ao partirem hoje em viagem, os discípulos se esquecem de levar provisões e, ao ouvirem a advertência do Mestre: “Tomai cuidado com o fermento dos fariseus”, a interpretam como uma referência à falta de pão. Diante de tamanha falta de inteligência, que refletia a mesma indisposição de muitos em Israel, o Senhor os repreende, com um tom ora de lástima, ora de desapontamento: “Por que discutis sobre a falta de pão? Ainda não entendeis e nem compreendeis? Vós tendes o coração endurecido?” Ou seja, também vós estais preocupados com vossas necessidades, insensíveis às coisas do espírito, mais interessados em estar comigo pelo pão que multiplico do que pela graça da minha presença, bastante para saciar a todo homem? É verdade que, ao contrário dos fariseus, os discípulos já têm aqui um princípio de fé, mas não é ainda aquela fé luminosa que professará Pedro dentro de alguns dias, não por força da carne e do sangue, isto é, de seus dotes naturais de inteligência, mas pela graça do Espírito Santo. Para dispor os discípulos a esta mesma fé, Jesus os leva a refletir sobre tudo o que o viram realizar: “Não vos lembrais de quando reparti cinco pães para cinco mil pessoas?”, prova clara de que Ele não pode ser senão o Filho de Deus. Mas se eles ainda não entendem nem compreendem; têm olhos, mas não vêem; têm ouvidos, mas não ouvem, é porque não meditaram o suficientes e não podem, portanto, transcender as aparências carnais para elevar-se, à luz da fé, à realidade divina que se oculta e revela nas obras de Cristo. Que nós, seguindo-lhe os conselhos e ouvindo-lhe as advertências, saibamos meditar pausada e frequentemente na vida de Nosso Senhor, a fim de nos abrirmos à graça sem a qual não é possível alegrar o Coração de Cristo com aquela belíssima profissão de fé: “Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo”. Que a Virgem SS. afaste de nós toda dureza de coração e nos leve, com mão segura, a ter vida de oração perseverante e fecunda.


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quinta-feira, 13 de fevereiro de 2025

5ª Semana do Tempo Comum - Por que Deus privilegia a uns e não a outros?

 Deus tem os seus eleitos

Vinde, adoremos e prostremo-nos por terra, e ajoelhemo-nos ante o Deus que nos criou! Porque ele é o nosso Deus, nosso Pastor (Sl 94,6s).

No ato criador, Deus decide dar ao homem “uma auxiliar semelhante a ele”. Assim, cria a mulher, que o homem poderá amar e com a qual constituir a família. Esta liturgia nos ajude a seguir os mandamentos do Senhor com a fé e a confiança da mulher do Evangelho.

Primeira Leitura: Gênesis 2,18-25

Leitura do livro do Gênesis18O Senhor Deus disse: “Não é bom que o homem esteja só. Vou dar-lhe uma auxiliar semelhante a ele”. 19Então o Senhor Deus formou da terra todos os animais selvagens e todas as aves do céu e trouxe-os a Adão, para ver como os chamaria; todo ser vivo teria o nome que Adão lhe desse. 20E Adão deu nome a todos os animais domésticos, a todas as aves do céu e a todos os animais selvagens, mas Adão não encontrou uma auxiliar semelhante a ele. 21Então o Senhor Deus fez cair um sono profundo sobre Adão. Quando este adormeceu, tirou-lhe uma das costelas e fechou o lugar com carne. 22Depois, da costela tirada de Adão, o Senhor Deus formou a mulher e conduziu-a a Adão. 23E Adão exclamou: “Desta vez, sim, é osso dos meus ossos e carne da minha carne! Ela será chamada ‘mulher’ porque foi tirada do homem”. 24Por isso, o homem deixará seu pai e sua mãe e se unirá à sua mulher, e eles serão uma só carne. 25Ora, ambos estavam nus, Adão e sua mulher, e não se envergonhavam. – Palavra do Senhor.

Salmo Responsorial: 127(128)

Felizes todos os que respeitam o Senhor.

1. Feliz és tu se temes o Senhor / e trilhas seus caminhos! / Do trabalho de tuas mãos hás de viver, / serás feliz, tudo irá bem! – R.

2. A tua esposa é uma videira bem fecunda / no coração da tua casa; / os teus filhos são rebentos de oliveira / ao redor de tua mesa. – R.

3. Será assim abençoado todo homem / que teme o Senhor. / O Senhor te abençoe de Sião / cada dia de tua vida. – R.

Evangelho: Marcos 7,24-30

Aleluia, aleluia, aleluia.

Acolhei docilmente a Palavra / semeada em vós, meus irmãos; / ela pode salvar vossas vidas! (Tg 1,21) – R.

Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo segundo Marcos – Naquele tempo, 24Jesus saiu e foi para a região de Tiro e Sidônia. Entrou numa casa e não queria que ninguém soubesse onde ele estava. Mas não conseguiu ficar escondido. 25Uma mulher, que tinha uma filha com um espírito impuro, ouviu falar de Jesus. Foi até ele e caiu a seus pés. 26A mulher era pagã, nascida na Fenícia da Síria. Ela suplicou a Jesus que expulsasse de sua filha o demônio. 27Jesus disse: “Deixa primeiro que os filhos fiquem saciados, porque não está certo tirar o pão dos filhos e jogá-lo aos cachorrinhos”. 28A mulher respondeu: “É verdade, Senhor; mas também os cachorrinhos, debaixo da mesa, comem as migalhas que as crianças deixam cair”. 29Então Jesus disse: “Por causa do que acabas de dizer, podes voltar para casa. O demônio já saiu de tua filha”. 30Ela voltou para casa e encontrou sua filha deitada na cama, pois o demônio já havia saído dela. – Palavra da salvação.

Reflexão

No Evangelho de hoje, Jesus exorciza um demônio de uma mulher de Tiro e Sidônia. É um Evangelho com vários aspectos interessantes de analisar.

Em primeiro lugar, é necessário esclarecer a geografia. Jesus está no norte da Terra Santa. Ele saiu das fronteiras da Terra Santa e partiu numa espécie de viagem, mas não se entende por que Ele saiu da região. Afinal, não parece que Ele tenha ido como missionário.

O fato, porém, é que uma mulher ouviu falar de Jesus e foi ao seu encontro pedir-lhe a graça da cura de uma filha oprimida pelo demônio. Jesus então diz algo desconcertante e enigmático: “Não é bom tirar dos filhos o alimento” — os filhos, claramente são o povo de Israel — “para o entregar aos cachorrinhos” — os cachorrinhos, é claro, são os pagãos e gentios, que não pertencem ao povo de Israel, portanto nós.

A humildade desconcertante da mulher, ao aceitar essa distinção, é exatamente a causa de Jesus então declarar: “Por causa do que disseste, podes ir; a tua filha foi libertada do poder do maligno”.

Aqui nós vemos, em primeiro lugar, uma coisa interessante: Deus privilegiou o povo de Israel, e a nossa atitude — nós, que não somos judeus — diante desta escolha de Deus, a eleição de um povo especial, deve ser a atitude humilde de quem compreende. Deus muitas vezes escolhe pessoas especiais e lhes dá graças que não dá a nós; mas Ele faz isso para o nosso bem. Sei que nós estamos numa cultura igualitária.

As pessoas não conseguem ver nada de bom no fato de uns serem privilegiados e outros não. Mas é que Deus, quando escolhe, dá algo mais aos outros. Ele faz isso exatamente para o nosso bem. Por exemplo, por que Deus deu tantas graças à Virgem Maria? Não foi para nós? Não fora tão mais importante e maravilhoso que tivéssemos uma Mãe assim?

Pois bem, quando vemos que alguém recebeu uma graça maior do que a que nós recebemos, devemos nos alegrar; mas para que isso aconteça, precisamos em primeiríssimo lugar da humildade desta mulher do Evangelho de hoje, humildade de ver que Deus tem suas escolhas, portanto Deus tem aqueles a quem Ele privilegia, escolhe e lhe dá por primeiro o alimento dos filhos. Ora, esse alimento que Ele dá aos filhos transborda, por isso o recebem também os que não são filhos.

A comparação com os cachorrinhos pode parecer ofensiva; mas, no fim das contas, todos nós nos tornamos filhos de Deus. Como nos tornamos filhos de Deus? O Pai, na sua infinita misericórdia, derramou a plenitude do amor no Filho: “Eis o meu Filho muito amado, no qual coloquei toda a minha complacência”, e dessa graça infinita derramada sobre o Filho encarnado, Jesus, transborda mais do que migalhas; transborda a abundância da graça para nós, admitidos à mesa dos filhos.

Eis aí como Deus age e opera a salvação. Ele escolhe alguns e os privilegia para que muitos recebam a graça. É simplesmente um sinal daquele que é o único método de Deus, escolher o seu único, Jesus, o Eleito, sobre o qual são derramadas as graças e do qual transbordam em abundância todas as graças que salvarão a humanidade.

 

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domingo, 9 de fevereiro de 2025

5º Domingo do Tempo Comum - Cristo revela o verdadeiro sentido de nossas vidas.

O chamado da graça

 Primeira leitura: Isaías 6, 1-8
Leitura do Livro do Profeta Isaías:

1No ano da morte do rei Ozias, vi o Senhor sentado num trono de grande altura; o seu manto estendia-se pelo templo. 2Havia serafins de pé a seu lado; cada um tinha seis asas. 3Eles exclamavam uns para os outros: 'Santo, santo, santo é o Senhor dos exércitos; toda a terra está repleta de sua glória'. 4Ao clamor dessas vozes, começaram a tremer as portas em seus gonzos e o templo encheu-se de fumaça. 5Disse eu então: 'Ai de mim, estou perdido! Sou apenas um homem de lábios impuros, mas eu vi com meus olhos o rei, o Senhor dos exércitos'. 6Nisto, um dos serafins voou para mim, tendo na mão uma brasa, que retirara do altar com uma tenaz, 7e tocou minha boca, dizendo: 'Assim que isto tocou teus lábios, desapareceu tua culpa, e teu pecado está perdoado'. 8Ouvi a voz do Senhor que dizia: 'Quem enviarei? Quem irá por nós?' Eu respondi: 'Aqui estou! Envia-me'.

- Palavra do Senhor
- Graças a Deus

Salmo 137 (138)
- Ó Senhor, de coração eu vos dou graças, porque ouvistes as palavras dos meus lábios! Perante os vossos anjos vou cantar-vos e ante o vosso templo vou prostrar-me.

R:Vou cantar-vos, ante os anjos, ó Senhor, e ante o vosso templo vou prostrar-me.

- Eu agradeço vosso amor, vossa verdade, porque fizestes muito mais que prometestes; naquele dia em que gritei, vós me escutastes e aumentastes o vigor da minha alma.

R:Vou cantar-vos, ante os anjos, ó Senhor, e ante o vosso templo vou prostrar-me.

- Os reis de toda a terra hão de louvar-vos, quando ouvirem, ó Senhor, vossa promessa. Hão de cantar vossos caminhos e dirão: 'Como a glória do Senhor é grandiosa!'

R:Vou cantar-vos, ante os anjos, ó Senhor, e ante o vosso templo vou prostrar-me.

- Estendereis o vosso braço em meu auxílio e havereis de me salvar com vossa destra. Completai em mim a obra começada; ó Senhor, vossa bondade é para sempre! Eu vos peço: não deixeis inacabada esta obra que fizeram vossas mãos!

R:Vou cantar-vos, ante os anjos, ó Senhor, e ante o vosso templo vou prostrar-me.

Segunda leitura: Coríntios 15, 1-11
Leitura da Primeira Carta de São Paulo aos Coríntios:

1Quero lembrar-vos, irmãos, o evangelho que vos preguei e que recebestes, e no qual estais firmes. 2Por ele sois salvos, se o estais guardando tal qual ele vos foi pregado por mim. De outro modo, teríeis abraçado a fé em vão. 3Com efeito, transmití-vos em primeiro lugar, aquilo que eu mesmo tinha recebido, a saber: que Cristo morreu por nossos pecados, segundo as Escrituras; 4que foi sepultado; que, ao terceiro dia, ressuscitou, segundo as Escrituras; 5e que apareceu a Cefas e, depois, aos Doze. 6Mais tarde, apareceu a mais de quinhentos irmãos, de uma vez. Destes, a maioria ainda vive e alguns já morreram. 7Depois, apareceu a Tiago e, depois, apareceu aos apóstolos todos juntos. 8Por último, apareceu também a mim, como a um abortivo. 9Na verdade, eu sou o menor dos apóstolos, nem mereço o nome de apóstolo, porque persegui a Igreja de Deus. 10É pela graça de Deus que eu sou o que sou. Sua graça para comigo não foi estéril: a prova é que tenho trabalhado mais do que os outros apóstolos - não propriamente eu, mas a graça de Deus comigo. 11É isso, em resumo, o que eu e eles temos pregado e é isso o que crestes.

 - Palavra do Senhor
- Graças a Deus


Evangelho de Jesus Cristo segundo São Lucas 5, 1-11

- Aleluia, Aleluia, Aleluia.
- "Vinde após mim!", o Senhor lhes falou, "e vos farei pescadores de homens".

Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo segundo São Lucas:

Naquele tempo: 1Jesus estava na margem do lago de Genesaré, e a multidão apertava-se ao seu redor para ouvir a palavra de Deus. 2Jesus viu duas barcas paradas na margem do lago. Os pescadores haviam desembarcado e lavavam as redes. 3Subindo numa das barcas, que era de Simão, pediu que se afastasse um pouco da margem. Depois sentou-se e, da barca, ensinava as multidões. 4Quando acabou de falar, disse a Simão: 'Avança para águas mais profundas, e lançai vossas redes para a pesca'. 5Simão respondeu: 'Mestre, nós trabalhamos a noite inteira e nada pescamos. Mas, em atenção à tua palavra, vou lançar as redes'. 6Assim fizeram, e apanharam tamanha quantidade de peixes que as redes se rompiam. 7Então fizeram sinal aos companheiros da outra barca, para que viessem ajudá-los. Eles vieram, e encheram as duas barcas, a ponto de quase afundarem. 8Ao ver aquilo, Simão Pedro atirou-se aos pés de Jesus, dizendo: 'Senhor, afasta-te de mim, porque sou um pecador!' 9É que o espanto se apoderara de Simão e de todos os seus companheiros, por causa da pesca que acabavam de fazer. 10Tiago e João, filhos de Zebedeu, que eram sócios de Simão, também ficaram espantados. Jesus, porém, disse a Simão: 'Não tenhas medo! De hoje em diante tu serás pescador de homens.' 11Então levaram as barcas para a margem, deixaram tudo e seguiram a Jesus.
- Palavra da Salvação
- Glória a Vós, Senhor

O Evangelho deste 5.º Domingo do Tempo Comum, retirado de São Lucas, capítulo 5 versículos do 1 ao 11,  narra com riqueza de detalhes a vocação de São Pedro, juntamente com outros pescadores que se tornaram Apóstolos de Jesus: Pedro, André, Tiago e João. Diferentemente dos Evangelhos de Mateus e Marcos, que relatam esse chamado de maneira mais resumida, sem mencionar a “pesca milagrosa”, São Lucas apresenta esse episódio com particular profundidade; ele dá ênfase à manifestação do poder de Cristo nesse momento decisivo.

O Evangelho de São Lucas situa-nos à margem do Lago de Genesaré, também chamado Mar da Galileia, uma região árida onde o Rio Jordão, nascido das geleiras do Líbano, alarga-se e se torna uma fonte de vida. Foi nesse cenário, próximo a Cafarnaum, cidade de Pedro, que Jesus iniciou sua pregação e ministério. Desse modo, à beira do lago, a multidão aglomera-se em torno de Nosso Senhor, dificultando a acústica da sua pregação. Vendo Pedro, então chamado Simão, com André, Tiago e João lavando as redes após uma noite de pesca, Jesus entra no barco de Simão, pede que se afaste um pouco da margem e começa a pregar.

Vejamos como Deus serve-se de situações que, à primeira vista, parecem simples coincidências. Após uma noite exaustiva de trabalho, Pedro certamente não esperava ouvir um sermão — provavelmente ele só queria descansar. No entanto, Jesus pede para usar sua barca, e, por cortesia, Pedro permite. Como consequência, acaba ouvindo a pregação, que começa a tocar profundamente seu coração.

Após concluir a pregação, Jesus diz a Pedro: “Avança para águas mais profundas e lança as redes”. Pedro, sem querer faltar com o respeito, dirige-se a Ele com o termo grego “Epistata”, traduzido como “mestre”, mas que significa mais do que um simples professor. O termo indica alguém de posição elevada, semelhante ao uso de “sensei” no âmbito das artes marciais japonesas — um título que expressa respeito e reconhecimento de autoridade.

Pedro responde a Jesus com respeito: “Mestre, trabalhamos a noite inteira e nada pescamos, mas, por atenção à tua palavra, lançarei as redes”. No original grego, “rhēma” significa uma palavra de ordem, e Pedro obedece. E então, depois da pesca milagrosa, ocorre seu verdadeiro chamado. Agora, ele não vê Jesus apenas como um mestre respeitável, mas como “Kyrios”, Senhor. Diante desse reconhecimento, Pedro, tomado de espanto, exclama: “Senhor, afasta-te de mim, porque sou um homem pecador”. Apesar da infinita dignidade de Nosso Senhor — em contraste com a indignidade daquele pescador — Cristo o chama, dizendo: “Não tenhas medo. Doravante, tu serás pescador de homens”. Eis a vocação do Apóstolo. 

A primeira leitura deste domingo recorda a vocação do Profeta Isaías, que, embora diferente da de Pedro, guarda semelhanças. Isaías tem sua visão no Templo, onde vê serafins proclamando: “Santo, santo, santo. Senhor Deus dos exércitos celestes, a Terra está cheia da sua glória” — esse canto, repetido em todas as missas, também está presente nos ritos orientais. Diante da visão, Isaías reage como Pedro, reconhecendo sua indignidade: “Ai de mim estou perdido, sou apenas um homem de lábios impuros, mas eu vi com meus olhos o Rei, o Senhor dos exércitos”. A liturgia, ao apresentar essas passagens, destaca o paralelo entre os chamados de Isaías e de Pedro, mostrando como Deus transforma-os para sua missão.

Antes de tirarmos conclusões para a nossa vida, é importante compreender o verdadeiro significado de vocação. Frequentemente, associamos vocação apenas a uma profissão; mas, a bem da verdade, trata-se do caminho que Deus escolheu para nossa salvação. Ser médico, engenheiro ou pai de família não é um fim em si mesmo, senão um meio para alcançarmos o Céu. No caso de Pedro, sua vocação é clara: “Tu serás pescador de homens”. Ou seja, ao salvar os outros, ele também encontrará sua própria salvação — um aspecto essencial que muitas vezes passa despercebido.

Estamos neste mundo para levar os outros a Deus e, ao fazê-lo, também nos aproximamos d’Ele. Se queremos nos salvar, devemos ajudar os outros a encontrar o caminho do Céu. Esse é o grande segredo que muitos não percebem. Pedro, por exemplo, tinha uma profissão — era pescador para se sustentar. Mas, ao reconhecer sua pequenez diante de Nosso Senhor, sua vida ganha um novo sentido. Ele não tem mais apenas uma profissão, mas uma vocação: ser pescador de homens.

Não importa qual seja a nossa profissão — médico, engenheiro, mecânico, operário ou escritor — o essencial é vivê-la bem. Mas nossa vocação vai além do trabalho: envolve ser esposo, esposa, pai, mãe, e, sobretudo, buscar a santidade levando os outros a Deus. Se nos concentramos apenas na profissão, perdemos o verdadeiro propósito. Nossa vocação é ser santos onde estamos, transformando cada aspecto da vida em um meio de amar, servir e conduzir os outros à salvação.

No dia 24 de janeiro, celebramos São Francisco de Sales, que viveu na transição do século XVI para o XVII. Ele dedicou sua vida a mostrar que todos somos chamados à santidade, independentemente da nossa condição de vida. Em seu famoso livro “Introdução à Vida Devota”, São Francisco ensina que a verdadeira devoção deve estar alinhada com o chamado de cada pessoa, não importando sua situação. No capítulo 3 da primeira parte, ele escreve: 

“É um erro, se não até mesmo uma heresia, querer excluir a vida devota dos quartéis dos soldados, das oficinas dos operários, dos palácios dos príncipes, do lar das pessoas casadas. Confesso, porém, caríssima Filoteia, que a devoção puramente contemplativa, monástica e religiosa, de modo algum pode ser praticada em tais ocupações ou condições. Mas para além dessas três espécies de devoção, há muitas outras próprias para o aperfeiçoamento daqueles que vivem no estado secular. Portanto, onde quer que estejamos, devemos e podemos aspirar à vida perfeita”. 

Devemos aspirar à santidade em qualquer situação, pois essa é nossa verdadeira vocação. Todo homem maduro tem a vocação de ser um pai santo e levar seus filhos ao Céu, assim como toda mulher madura tem a vocação de ser mãe santa. Isso vale para todos, seja um monge, uma monja, ou uma mãe casada — cada um é chamado a viver a santidade em sua vocação, incluindo seu trabalho e vida familiar. Como diz São Francisco de Sales, é um erro dizer que essas pessoas não têm vocação; elas a têm, e essa vocação concretiza-se em seu papel de pais e mães, conduzindo seus filhos ao Céu.

A vocação acontece quando temos um encontro com Jesus, que nos leva para águas mais profundas. Antes, estávamos vivendo de forma superficial e desanimada, mas ao encontrar Cristo, nossa vida nunca mais será a mesma. Embora a vida exterior possa continuar parecida, há uma mudança interior radical. Se antes pescávamos peixes, agora vemos nossa profissão como meio de sustento, mas o verdadeiro propósito é “pescar” almas para Deus, levando outros e a nós mesmos à salvação e ao Céu.

O último ponto a refletir é que nunca seremos bons cristãos ou santos se não transmitirmos nossa fé e ajudarmos outros a serem santos, firmemente seguindo o caminho para o Céu. Se queremos preservar nossa fé, devemos compartilhá-la; se buscamos a santidade, precisamos ajudar os outros a alcançá-la. Todos somos chamados a ser pescadores de almas, independentemente da profissão que exercemos. Com efeito, a vocação não depende de mudar o trabalho, mas de encontrar o propósito de levar outros a Deus. Assim como Pedro foi encontrado pela vocação, devemos também nos lançar para alcançar a Deus, ajudando outros a chegar ao Céu. Como São Paulo diz: “Já que eu fui alcançado por Cristo, deixando o que está para trás, eu me lanço para alcançar aquele que me alcançou”.

 

 

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sábado, 8 de fevereiro de 2025

4ª Semana do Tempo Comum - “Porque eram como ovelhas sem pastor”

 “Porque eram como ovelhas sem pastor” (Homilia Diária.1391: Sábado da 4.ª  Semana do Tempo Comum)

Salvai-nos, Senhor nosso Deus, e do meio das nações nos congregai, para ao vosso nome agradecer e para termos nossa glória em vos louvar! (Sl 105,47)

Jesus, o “grande pastor das ovelhas”, está de prontidão para apresentar ao Pai celeste nossas boas obras. Em nosso Senhor, que é cheio de compaixão pelos mais vulneráveis, depositemos toda a nossa confiança. A ele demos “glória pelos séculos dos séculos”.

Primeira Leitura: Hebreus 13,15-17.20-21

Leitura da carta aos Hebreus – Irmãos, 15por meio de Jesus, ofereçamos a Deus um perene sacrifício de louvor, isto é, o fruto dos lábios que celebram o seu nome. 16Não vos esqueçais das boas ações e da comunhão, pois esses são os sacrifícios que agradam a Deus. 17Obedecei aos vossos líderes e segui suas orientações, porque eles cuidam de vós como quem há de prestar contas. Que possam fazê-lo com alegria e não com queixas, que não seriam coisa boa para vós. 20O Deus da paz, que fez subir dentre os mortos aquele que se tornou, pelo sangue de uma aliança eterna, o grande pastor das ovelhas, nosso Senhor Jesus, 21vos torne aptos a todo bem, para fazerdes a sua vontade; que ele realize em nós o que lhe é agradável, por Jesus Cristo, ao qual seja dada a glória pelos séculos dos séculos. Amém! – Palavra do Senhor.

Salmo Responsorial: 22(23)

O Senhor é o pastor que me conduz, / não me falta coisa alguma.

1. O Senhor é o pastor que me conduz; / não me falta coisa alguma. / Pelos prados e campinas verdejantes / ele me leva a descansar. / Para as águas repousantes me encaminha / e restaura as minhas forças. – R.

2. Ele me guia no caminho mais seguro, / pela honra do seu nome. / Mesmo que eu passe pelo vale tenebroso, / nenhum mal eu temerei. / Estais comigo com bastão e com cajado, / eles me dão a segurança! – R.

3. Preparais à minha frente uma mesa, / bem à vista do inimigo; / com óleo vós ungis minha cabeça, / e o meu cálice transborda. – R.

4. Felicidade e todo bem hão de seguir-me / por toda a minha vida; / e na casa do Senhor habitarei / pelos tempos infinitos. – R.

Evangelho: Marcos 6,30-34

Aleluia, aleluia, aleluia.

Minhas ovelhas escutam minha voz, / eu as conheço e elas me seguem (Jo 10,27). – R.

Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo segundo Marcos – Naquele tempo, 30os apóstolos reuniram-se com Jesus e contaram tudo o que haviam feito e ensinado. 31Ele lhes disse: “Vinde sozinhos para um lugar deserto e descansai um pouco”. Havia, de fato, tanta gente chegando e saindo, que não tinham tempo nem para comer. 32Então foram sozinhos, de barco, para um lugar deserto e afastado. 33Muitos os viram partir e reconheceram que eram eles. Saindo de todas as cidades, correram a pé e chegaram lá antes deles. 34Ao desembarcar, Jesus viu uma numerosa multidão e teve compaixão, porque eram como ovelhas sem pastor. Começou, pois, a ensinar-lhes muitas coisas. – Palavra da salvação.

Reflexão
 
No Evangelho de hoje, Nosso Senhor expressa todo seu amor para com o povo, providenciando-lhe pastores. Tal realidade está expressa de forma sucinta no último versículo: “Jesus viu uma numerosa multidão e teve compaixão, porque eram como ovelhas sem pastor” (Mc 6, 34). Essa frase apresenta-se como um eco dos fatos ocorridos com o povo de Deus no Antigo Testamento. No livro dos Números, quando Moisés estava prestes a morrer, Josué é escolhido como seu sucessor, a fim de que o povo de Israel não fosse “como um rebanho sem pastor” (Nm 27, 17). Posteriormente, quando Israel estava sob o reinado de Acab, o profeta Miquéias afirmou que todo o povo estava disperso “como um rebanho sem pastor” (1Rs 22, 17). Assim, desde o Antigo Testamento, o povo de Deus andava errante, sem alguém que os conduzisse por caminhos seguros. E é justamente nos Apóstolos de Cristo que ele encontra os pastores de que precisava. Por isso, no início do Evangelho, os Apóstolos se reúnem com Jesus para contar “tudo o que haviam feito e ensinado” (Mc 6, 30). Ou seja, como sacerdotes de Cristo, eles buscam estar unidos a Ele, ensinando a Palavra de Deus e administrando os sacramentos. O Evangelho também nos mostra a generosidade dos Apóstolos, que “não tinham tempo nem para comer” (Mc 6, 32), indicando que os pastores escolhidos por Jesus compreendiam que entregaram toda sua vida pela missão, gastando-se e desgastando-se por ela, sem instrumentalizá-la para se autopromover ou para obter privilégios e reconhecimento social. Oremos para que o coração dos nossos pastores, sucessores que são dos Apóstolos, seja configurado ao Sagrado Coração de Jesus, a fim de que, como Ele, que é o Bom Pastor, também eles derramem seu sangue pela salvação do rebanho que lhes foi confiado. 


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sexta-feira, 7 de fevereiro de 2025

4ª Semana do Tempo Comum - A vaidade de Herodes.

 Martírio de São João Batista (29.08) - O Recado Editora

Salvai-nos, Senhor nosso Deus, e do meio das nações nos congregai, para ao vosso nome agradecer e para termos nossa glória em vos louvar! (Sl 105,47)

Incontáveis são as possibilidades de fazer o bem ao próximo ao longo do dia. Importante é não desanimarmos e nos mantermos nesse propósito, apesar dos obstáculos. Busquemos motivações e força na Palavra de Deus, que nos convida: “Perseverai no amor fraterno”.

Primeira Leitura: Hebreus 13,1-8

Leitura da carta aos Hebreus – Irmãos, 1perseverai no amor fraterno. 2Não esqueçais a hospitalidade, pois, graças a ela, alguns hospedaram anjos sem o perceber. 3Lembrai-vos dos prisioneiros, como se estivésseis presos com eles, e dos que são maltratados, pois também vós tendes um corpo! 4O matrimônio seja honrado por todos e o leito conjugal, sem mancha, porque Deus julgará os imorais e adúlteros. 5Que o amor ao dinheiro não inspire a vossa conduta. Contentai-vos com o que tendes, porque ele próprio disse: “Eu nunca te deixarei, jamais te abandonarei”. 6De modo que podemos dizer, com ousadia: “O Senhor é meu auxílio, jamais temerei; que poderá fazer-me o homem?” 7Lembrai-vos de vossos dirigentes, que vos pregaram a Palavra de Deus, e, considerando o fim de sua vida, imitai-lhes a fé. 8Jesus Cristo é o mesmo, ontem e hoje e por toda a eternidade. – Palavra do Senhor.

Salmo Responsorial: 26(27)

O Senhor é minha luz e salvação!

1. O Senhor é minha luz e salvação; / de quem eu terei medo? / O Senhor é a proteção da minha vida; / perante quem eu tremerei? – R.

2. Se contra mim um exército se armar, / não temerá meu coração; / se contra mim uma batalha estourar, / mesmo assim confiarei. – R.

3. Pois um abrigo me dará sob o seu teto / nos dias da desgraça; / no interior de sua tenda há de esconder-me / e proteger-me sobre a rocha. – R.

4. Senhor, é vossa face que eu procuro; / não me escondais a vossa face! / Não afasteis em vossa ira o vosso servo, † sois vós o meu auxílio! / Não me esqueçais nem me deixeis abandonado. – R.

Evangelho: Marcos 6,14-29

Aleluia, aleluia, aleluia.

Felizes os que observam a Palavra do Senhor de reto coração / e que produzem muitos frutos, até o fim perseverantes! (Lc 8,15) – R.

Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo segundo Marcos – Naquele tempo, 14 o rei Herodes ouviu falar de Jesus, cujo nome se tinha tornado muito conhecido. Alguns diziam: “João Batista ressuscitou dos mortos. Por isso os poderes agem nesse homem”. 15Outros diziam: “É Elias”. Outros ainda diziam: “É um profeta como um dos profetas”. 16Ouvindo isso, Herodes disse: “Ele é João Batista. Eu mandei cortar a cabeça dele, mas ele ressuscitou!” 17Herodes tinha mandado prender João e colocá-lo acorrentado na prisão. Fez isso por causa de Herodíades, mulher do seu irmão Filipe, com quem se tinha casado. 18João dizia a Herodes: “Não te é permitido ficar com a mulher do teu irmão”. 19Por isso Herodíades o odiava e queria matá-lo, mas não podia. 20Com efeito, Herodes tinha medo de João, pois sabia que ele era justo e santo, e por isso o protegia. Gostava de ouvi-lo, embora ficasse embaraçado quando o escutava. 21Finalmente, chegou o dia oportuno. Era o aniversário de Herodes, e ele fez um grande banquete para os grandes da corte, os oficiais e os cidadãos importantes da Galileia. 22A filha de Herodíades entrou e dançou, agradando a Herodes e seus convidados. Então o rei disse à moça: “Pede-me o que quiseres e eu to darei”. 23E lhe jurou, dizendo: “Eu te darei qualquer coisa que me pedires, ainda que seja a metade do meu reino”. 24Ela saiu e perguntou à mãe: “O que vou pedir?” A mãe respondeu: “A cabeça de João Batista”. 25E, voltando depressa para junto do rei, pediu: “Quero que me dês agora, num prato, a cabeça de João Batista”. 26O rei ficou muito triste, mas não pôde recusar. Ele tinha feito o juramento diante dos convidados. 27Imediatamente, o rei mandou que um soldado fosse buscar a cabeça de João. O soldado saiu, degolou-o na prisão, 28trouxe a cabeça num prato e a deu à moça. Ela a entregou à sua mãe. 29Ao saberem disso, os discípulos de João foram lá, levaram o cadáver e o sepultaram. – Palavra da salvação.

Reflexão

Lemos no Evangelho desta 6.ª-feira a respeito martírio de São João Batista, degolado por causa da vaidade de Herodes. Vemos, pois, a imensidade deste pecado, o seu poder destrutivo, a sua força corruptora. O tetrarca, de fato, se comprazia em ouvir as pregações do Batista: gostava de o escutar, "embora ficasse embaraçado" ao ver-se tão pecador e, ao mesmo tempo, tão indisposto ao arrependimento. Envergonhava-se, quem sabe, de ver-se como efetivamente era: mesquinho e pecador; não se envergonhava, contudo, de sua mesquinharia e de seus pecados. Com efeito, Herodes se agradava ao ouvir a Palavra de Deus; não estava preocupado, porém, em ele próprio agradar ao Senhor. Eis aqui a raiz de sua iniquidade, eis o princípio de suas ações terríveis. Ora, por ser cheia de verdade e justiça, a Palavra de Deus atrai os corações, ilumina as inteligências; mas de nada adianta ouvi-la se não se está disposto a pagar o preço da conversão que ela nos exige.

Chegara, enfim, o "tempo oportuno". Em meio à destemperança de teus festejos, ó Herodes, ainda que o tenhas feito a contragosto, preferiste dar cabo do Batista a desagradar aos convivas. Preferiste tirar a vida de um justo a perder o aplauso dos ímpios. Como poderias crer, ó Herodes, tu que, ainda que te deleites com pregações e homilias, recebes a glória dos teu fâmulos, e não buscas a glória que é de Deus (cf. Jo 5, 44)? Daqui se vê o que realmente separa o justo de um ímpio. O primeiro quer agradar a Deus; o segundo, apenas a si mesmo. O justo vai à Igreja por amor e renúncia; o ímpio, por vaidade e passatempo. O primeiro, arrependido de suas faltas, escuta: "Não te é permitido ficar com a mulher do teu irmão", e vai logo fazer penitência, deixando para trás a sujeira de sua velha vida; o segundo, ao ouvir a mesma pregação, decide fazer-se de surdo e matar o pregador. Se a Igreja admoesta o justo com incômodas verdades, logo ele se conforma ao que lhe manda a Esposa de Cristo; o ímpio, ao contrário, se não lhe apraz este ou aquele ponto da doutrina, antes julga melhor repreender a Igreja e conformá-la às suas próprias loucuras.

Que Herodes seja para nós, igrejeiros tão pouco cristãos, um aviso sério de que uma vida de verdadeira santidade é muito mais do que devoções ou piedades. Temos de estar dispostos a querer agradar a Deus acima de todas as vanglórias humanas, de todos os olhares deste mundo, ainda que isto nos custe o sangue, nos custe amizades, nos custe a "boa fama" que poderíamos construir. Que o bem-aventurado Precursor do Senhor, com o exemplo de seu martírio, nos evangelize hoje e nos faça livres da "beatice" superficial e maquilada de um Herodes Agripa. Seja o nosso amor pronto a tudo entregar por Deus, a tudo sofrer por Deus, a tudo perder por Deus.

 

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quinta-feira, 6 de fevereiro de 2025

Memória, São Paulo Miki e companheiros mártires.

 Homilia Dominical - Mc 6,7-13 - Rede Nazaré de Comunicação

Alegram-se nos céus os santos que seguiram os passos de Cristo. Por seu amor derramaram o próprio sangue; por isso, com ele exultam eternamente.

A Palavra de Deus afirma que temos acesso a “Jesus, mediador da Nova Aliança”. Essa é a certeza que, no século 16, moveu o religioso jesuíta Paulo Miki e seus 25 companheiros a propagar o cristianismo em terras japonesas. Morreram crucificados. Que o testemunho desses mártires nos anime a vencer os obstáculos da caminhada e da missão cristã, à qual o Senhor nos envia.

Primeira Leitura: Hebreus 12,18-19.21-24

Leitura da carta aos Hebreus – Irmãos, 18vós não vos aproximastes de uma realidade palpável: “fogo ardente e escuridão, trevas e tempestade, 19som da trombeta e voz poderosa”, que os ouvintes suplicaram não continuasse. 21Eles ficaram tão espantados com esse espetáculo, que Moisés disse: “Estou apavorado e com medo”. 22Mas vós vos aproximastes do monte Sião e da cidade do Deus vivo, a Jerusalém celeste; da reunião festiva de milhões de anjos; 23da assembleia dos primogênitos, cujos nomes estão escritos nos céus; de Deus, o juiz de todos; dos espíritos dos justos, que chegaram à perfeição; 24de Jesus, mediador da Nova Aliança, e da aspersão do sangue mais eloquente que o de Abel. – Palavra do Senhor.

Salmo Responsorial: 47(48)

Recordamos, ó Senhor, vossa bondade / em meio ao vosso templo.

1. Grande é o Senhor e muito digno de louvores / na cidade onde ele mora; / seu monte santo, esta colina encantadora / é a alegria do universo. – R.

2. Monte Sião, no extremo norte situado, / és a mansão do grande rei! / Deus revelou-se em suas fortes cidadelas / um refúgio poderoso. – R.

3. Como ouvimos dos antigos, contemplamos: / Deus habita esta cidade, / a cidade do Senhor onipotente; / que ele a guarde eternamente! – R.

4. Recordamos, Senhor Deus, vossa bondade / em meio ao vosso templo; / com vosso nome vai também vosso louvor / aos confins de toda a terra. – R.

Evangelho: Marcos 6,7-13

Aleluia, aleluia, aleluia.

Convertei-vos e crede no Evangelho, / pois o Reino de Deus está chegando! (Mc 1,15) – R.

Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo segundo Marcos – Naquele tempo, 7Jesus chamou os doze e começou a enviá-los dois a dois, dando-lhes poder sobre os espíritos impuros. 8Recomendou-lhes que não levassem nada para o caminho, a não ser um cajado; nem pão, nem sacola, nem dinheiro na cintura. 9Mandou que andassem de sandálias e que não levassem duas túnicas. 10E Jesus disse ainda: “Quando entrardes numa casa, ficai ali até vossa partida. 11Se em algum lugar não vos receberem nem quiserem vos escutar, quando sairdes, sacudi a poeira dos pés como testemunho contra eles!” 12Então os doze partiram e pregaram que todos se convertessem. 13Expulsavam muitos demônios e curavam numerosos doentes, ungindo-os com óleo. – Palavra da salvação.

No Evangelho de hoje, Jesus chama seus doze Apóstolos e os envia em missão, ordenando-os a que sigam um estilo de vida desafiador, completamente diferente do jeito mundano de viver. O Senhor quer deles uma atitude de desprendimento, de desapego dos bens terrenos, seja da comida, da comodidade ou das honrarias e vaidades humanas. Trata-se, com efeito, de um estilo de vida em que se cumprem os três conselhos evangélicos: a obediência, a pobreza e a castidade. Os Apóstolos, embaixadores de Cristo, têm de imitá-lo em sua obediência à vontade do Pai, em sua perfeitíssima pobreza, em sua imaculada pureza de corpo, de alma e de olhar. Eis aí a nota distintiva dos Apóstolos e daqueles que, por disposição divina, os sucedem no governo da Igreja: para ser apóstolo de verdade, não basta pregar a palavra; é preciso também sacrificar a própria vida, pois foi isso o que fez Nosso Senhor. Além de anunciar o Evangelho, Ele se deu por completo àqueles que viera salvar com seu Sangue. Sem esse sacrifício constante que caracteriza a vida de um verdadeiro discípulo, todo apostolado se torna vão, infrutífero, estéril, “conversa da boca para fora”. Que os nosso bispos e padres possam viver com integridade e radicalidade a vida a que foram chamados, em tudo conformes à imagem do Filho encarnado, que passou pelo mundo fazendo o bem e doando-se sem reservas aos que a Ele acudiam com fé e humildade de coração.


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