quarta-feira, 1 de novembro de 2023

30ª Semana do Tempo Comum - São poucos os que se salvam?

 


Exulte o coração dos que buscam a Deus. Sim, buscai o Senhor e sua força, procurai sem cessar a sua face (Sl 104,3s).

O valor da oração não reside na quantidade de palavras que proferimos nem no barulho que com elas fazemos. A verdadeira oração cristã é inspirada pelo Espírito, brota do nosso amor a Deus e leva-nos à prática da justiça. Examinemo-nos sobre a qualidade de nossas orações.

Primeira Leitura: Romanos 8,26-30

Leitura da carta de São Paulo aos Romanos – Irmãos, 26o Espírito vem em socorro da nossa fraqueza. Pois nós não sabemos o que pedir nem como pedir; é o próprio Espírito que intercede em nosso favor, com gemidos inefáveis. 27E aquele que penetra o íntimo dos corações sabe qual é a intenção do Espírito. Pois é sempre segundo Deus que o Espírito intercede em favor dos santos. 28Sabemos que tudo contribui para o bem daqueles que amam a Deus, daqueles que são chamados para a salvação, de acordo com o projeto de Deus. 29Pois aqueles que Deus contemplou com seu amor desde sempre, a esses ele predestinou a serem conformes à imagem de seu Filho, para que este seja o primogênito numa multidão de irmãos. 30E aqueles que Deus predestinou, também os chamou. E aos que chamou, também os tornou justos; e aos que tornou justos, também os glorificou. – Palavra do Senhor.

Salmo Responsorial: 12(13)

Senhor, eu confiei na vossa graça!

1. Olhai, Senhor, meu Deus, e respondei-me!  Não deixeis que se me apague a luz dos olhos / e se fechem, pela morte, adormecidos! / Que o inimigo não me diga: “Eu triunfei!” / Nem exulte o opressor por minha queda. – R.

2. Uma vez que confiei no vosso amor,  meu coração, por vosso auxílio, rejubile, / e que eu vos cante pelo bem que me fizestes! – R.

Evangelho: Lucas 13,22-30

Aleluia, aleluia, aleluia.

Pelo Evangelho o Pai nos chamou, / a fim de alcançarmos a glória / de nosso Senhor Jesus Cristo (2Ts 2,14). – R.

Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo segundo Lucas – Naquele tempo, 22Jesus atravessava cidades e povoados, ensinando e prosseguindo o caminho para Jerusalém. 23Alguém lhe perguntou: “Senhor, é verdade que são poucos os que se salvam?” Jesus respondeu: 24“Fazei todo esforço possível para entrar pela porta estreita. Porque eu vos digo que muitos tentarão entrar e não conseguirão. 25Uma vez que o dono da casa se levantar e fechar a porta, vós, do lado de fora, começareis a bater, dizendo: ‘Senhor, abre-nos a porta!’ Ele responderá: ‘Não sei de onde sois’. 26Então começareis a dizer: ‘Nós comemos e bebemos diante de ti, e tu ensinaste em nossas praças!’ 27Ele, porém, responderá: ‘Não sei de onde sois. Afastai-vos de mim todos vós que praticais a injustiça!’ 28Ali haverá choro e ranger de dentes, quando virdes Abraão, Isaac e Jacó, junto com todos os profetas, no Reino de Deus e vós, porém, sendo lançados fora. 29Virão homens do oriente e do ocidente, do norte e do sul, e tomarão lugar à mesa no Reino de Deus. 30E assim há últimos que serão primeiros e primeiros que serão últimos”. – Palavra da salvação.

Reflexão
No Evangelho de hoje, Jesus anuncia sua mensagem de salvação, ensinando de cidade em cidade, de povoado em povoado. Ao mesmo tempo, se aproxima de Jerusalém, onde alguém lhe pergunta: Senhor é verdade que são poucos os que se salvam? É a pergunta curiosa do devoto fiel, evidentemente pondo-se no grupo dos salvos. É a tentação de sempre, a tentação dos que se julgam proprietários da salvação, especialmente dos fariseus; mas também é a nossa tentação: saber se levamos uma vida correta e se o nosso lugar no paraíso já está assegurado. É a tentação que temos nós discípulos, quando perdemos a dimensão da espera; quando acreditamos que os muros da nossa cidade interior são tão seguros a ponto de não precisarem de vigilância. É terrível para nós discípulos, quando depois de uma bela experiência de Deus, sentimos imediatamente ter entrado num grupo a parte, e começamos a olhar com suficiência os outros, aqueles que não entendem que não conhecem que têm seguido outros percursos diferentes do de Jesus.
            Para mantermos a vida de fé, necessitamos fazer todo o esforço possível, diz o Senhor, para passar pela porta estreita. Com este símbolo, Jesus não tem intenção de dizer que devido ao monte de gente que quer a vida eterna, tenhamos que empurrar uns aos outros pra poder garantir nosso lugar. Não! Mas que devemos nos esforçar. Não basta querermos. Certamente, é verdade que nós somos salvos e que não podemos nos salvar pelas nossas próprias forças, mas isto não acontece sem a nossa ação, com uma atitude de pura passividade. Deus nos salva, mas nos leva a sério como pessoas livres e responsáveis. Devemos nos esforçar e lutar, aproximando-se decididamente e conscientemente dele, para superar os obstáculos e testemunhá-lo com a nossa vida.
            Com a afirmação sobre a porta que é fechada pelo dono da casa, Jesus quer dizer que nós devemos nos esforçar a tempo. Devemos levar em conta que o nosso tempo é curto. Não podemos adiar pra não sei quando o esforço para viver em comunhão com Deus. Com a nossa morte, a porta será fechada e será decidido o nosso destino. Então será muito tarde para querer, chamar e bater. Devemos levar em conta também que o nosso tempo, além de limitado, não temos controle sobre ele. Não podemos viver uma vida segundo o nosso bel-prazer e adiar para a velhice a preocupação pela salvação. Não somos nós a fechar a porta, mas o Senhor. Por isso, devemos estar sempre prontos.
            Nas palavras do dono da casa, vemos uma ênfase na justiça, na orientação da vida segundo a vontade do Senhor. Não basta uma comunhão somente externa com ele, tê-lo conhecido, ter ouvido os seus ensinamentos, conhecer o Evangelho e o cristianismo. Pois, corremos o risco dele nos dizer: não sei de onde sois. Afastai-vos de mim todos vós que praticais a injustiça! Quem não se orienta pela vontade de Deus, quem rejeita conscientemente a comunhão com Deus, já excluiu a si mesmo da salvação. Esta sua decisão é respeitada e confirmada pelo Senhor. E seria triste chorar de desgosto e ranger os dentes de raiva por se dá conta do que foi perdido.
            A boa notícia de Jesus não diz coisas que nos agradam e não nos prometem uma vida fácil e sem esforços. Ela contém algumas verdades incômodas. Mas, justo porque não nos esconde nada e exatamente porque manifesta a verdade completa, nos indica a verdadeira via para a felicidade plena. Aquilo que conta, enfim, é o empenho com o qual se vive a própria existência cristã, testemunhando a pertença a Cristo.
            Jesus nos interpela. Pois para chegarmos Reino, à vida plena, à felicidade eterna, dom de Deus oferecido a todos, é preciso renunciar a uma vida baseada naqueles valores que nos tornam orgulhosos, egoístas, prepotentes, auto-suficientes, e seguir Jesus no seu caminho de amor, de entrega, de dom da vida.


Homilia do Padre Bantu Mendonça Katchipwi Sayla

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