terça-feira, 30 de abril de 2024

5ª Semana da Páscoa - “A minha paz vos dou”.

PADRE JOÃO CARLOS - MEDITAÇÃO DA PALAVRA: A PAZ QUE O MUNDO NÃO CONHECE

Louvai o nosso Deus, todos os seus servos e todos os que o temeis, pequenos e grandes, pois chegou a salvação, o poder, o Reino do nosso Deus e a autoridade do seu Cristo, aleluia (Ap 19,5; 12,10).

Jesus ressuscitado oferece aos seus discípulos uma paz que não é a aparente paz dos regimes políticos. Ao contrário, trata-se daquela paz que, em meio aos conflitos, subsiste e encoraja os seguidores de Cristo a perseverar na busca dos valores do Reino de Deus. Celebrando a Páscoa do Senhor, deixemo-nos envolver pela paz divina e, como comunidade sinodal, anunciemos seu nome glorioso.

Primeira Leitura: Atos 14,19-28

Leitura dos Atos dos Apóstolos – Naqueles dias, 19de Antioquia e Icônio chegaram judeus que convenceram as multidões. Então apedrejaram Paulo e arrastaram-no para fora da cidade, pensando que ele estivesse morto. 20Mas, enquanto os discípulos o rodeavam, Paulo levantou-se e entrou na cidade. No dia seguinte, partiu para Derbe com Barnabé. 21Depois de terem pregado o Evangelho naquela cidade e feito muitos discípulos, voltaram para Listra, Icônio e Antioquia. 22Encorajando os discípulos, eles os exortavam a permanecerem firmes na fé, dizendo-lhes: “É preciso que passemos por muitos sofrimentos para entrar no Reino de Deus”. 23Os apóstolos designaram presbíteros para cada comunidade. Com orações e jejuns, eles os confiavam ao Senhor, em quem haviam acreditado. 24Em seguida, atravessando a Pisídia, chegaram à Panfília. 25Anunciaram a Palavra em Perge e depois desceram para Atália. 26Dali embarcaram para Antioquia, de onde tinham saído, entregues à graça de Deus, para o trabalho que haviam realizado. 27Chegando ali, reuniram a comunidade. Contaram-lhe tudo o que Deus fizera por meio deles e como havia aberto a porta da fé para os pagãos. 28E passaram então algum tempo com os discípulos. – Palavra do Senhor.

Salmo Responsorial: 144(145)

Ó Senhor, vossos amigos anunciem / vosso Reino glorioso.

1. Que vossas obras, ó Senhor, vos glorifiquem, / e os vossos santos com louvores vos bendigam! / Narrem a glória e o esplendor do vosso reino / e saibam proclamar vosso poder! – R.

2. Para espalhar vossos prodígios entre os homens / e o fulgor de vosso reino esplendoroso. / O vosso reino é um reino para sempre, / vosso poder, de geração em geração. – R.

3. Que a minha boca cante a glória do Senhor † e que bendiga todo ser seu nome santo, / desde agora, para sempre e pelos séculos. – R.

Evangelho: João 14,27-31

Aleluia, aleluia, aleluia.

Era preciso que Cristo sofresse e ressuscitasse dos mortos, / para entrar em sua glória, aleluia (Lc 24,46.26). – R.

Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo segundo João – Naquele tempo, disse Jesus a seus discípulos: 27“Deixo-vos a paz, a minha paz vos dou; mas não a dou como o mundo. Não se perturbe nem se intimide o vosso coração. 28Ouvistes que eu vos disse: ‘Vou, mas voltarei a vós’. Se me amásseis, ficaríeis alegres porque vou para o Pai, pois o Pai é maior do que eu. 29Disse-vos isso agora, antes que aconteça, para que, quando acontecer, vós acrediteis. 30Já não falarei muito convosco, pois o chefe deste mundo vem. Ele não tem poder sobre mim, 31mas, para que o mundo reconheça que eu amo o Pai, eu procedo conforme o Pai me ordenou”. – Palavra da salvação.

Reflexão
 
Duas coisas nota Cristo no coração dos Apóstolos: de um lado, a perturbação que sentem por tudo o que ouvem e sabem que hão de sofrer dali a poucas horas; de outro, a paz que Ele mesmo lhes deixa, paz verdadeira e profunda, que nada tem a ver com a paz do mundo. Mas como é possível que em tais circunstâncias convivam na alma dos Apóstolos perturbação e paz: “Deixo-vos a paz”, inquietação e sossego: “Não se perturbe”, tristeza e alegria: “Se me amásseis, ficaríeis alegres”? A razão, lembra S. Tomás de Aquino, é que tanto a paz quanto a alegria são efeitos da caridade, de maneira que, onde há um coração em graça e amizade com Deus, nele também há paz e alegria, por mais agitadas que se encontrem as paixões. Chama-se propriamente alegria, com efeito, o prazer ou deleite que se experimenta pela apreensão interior de um bem (cf. II-II 35, 2 c.), em razão da presença do objeto amado (cf. II-II 28, 1 c.). Ora, uma vez que o estado de graça traz consigo a graça de inabitação, em virtude da qual o fiel tem presente em sua alma não só o sumo Bem, mas o poder de desfrutá-lo quando quiser, não há dúvida de que todo justo, pelo só fato de sê-lo, tem dentro de si a maior alegria que é dada ao homem nesta vida. Pela mesma razão se deve afirmar que em toda alma em graça há paz verdadeira: “A minha paz vos dou”, conquanto imperfeita: “Não se perturbe o vosso coração”: verdadeira, porque a paz implica concórdia, e a graça santificante, reordenando-o a Deus, faz o homem ter com Ele um só coração (cf. II-II. 29, 3 c.); mas imperfeita, porque neste mundo se experimentam ainda muitas paixões e desejos discordantes, apesar de o movimento principal de nossa alma já repousar em Deus (cf. II-II 29, 2 ad 4). Por isso, nada impede que os Apóstolos e os outros justos tenham, como um tesouro em suas almas, alegria profunda e paz verdadeira, mas experimentem ainda, na superfície das emoções e preocupações humanas, o medo, a inquietação e o desassossego conaturais ao nosso estado de viadores neste vale de lágrimas. Não deixemos que esses “entulhos” nos enturbem a vista, a ponto de já não enxergarmos os dons preciosíssimos que nos deu Cristo, como consolo em meio à prova e um lembrete de que, superada a nossa peregrinação terrena, entraremos por fim no gozo e na paz que não conhecem ocaso: “Deixo-vos a paz, a minha paz vos dou; mas não a dou como o mundo”.


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