quarta-feira, 30 de abril de 2014

RESISTA.

Resista um pouco mais, mesmo que as feridas latejem e que sua coragem esteja cochilando.
Resista mais um minuto e será fácil resistir aos demais.
Resista mais um instante, mesmo que a derrota seja um ímã, mesmo que a desilusão caminhe em sua direção.

Resista mais um pouco, mesmo que os invejosos digam para você parar, mesmo que sua esperança esteja no fim.

Resista, porque o último instante da madrugada é sempre aquele que puxa a manhã pelo braço e essa manhã bonita, ensolarada, sem algemas, nascerá para você em breve, desde que você resista.

É MORALMENTE ACEITÁVEL SUICIDAR-SE PARA SALVAR A VIDA DE ALGUÉM?

“Até que ponto o suicídio poderia ser moralmente aceitável, no caso de implicar dar a vida pelo outro?” (pergunta enviada por meio da fan page da Aleteia)

Há atos que podem parecer semelhantes à primeira vista, mas que na realidade são radicalmente diferentes. O que aqui se pergunta é um exemplo disso. Existem casos de dar a vida por outra pessoa. Mas não são suicídios. E, se de alguma forma forem, então se trata de uma ação equivocada.
O suicídio consiste em acabar com a própria vida – com o objetivo de morrer. Então, não é propriamente um suicídio, por exemplo, o fato de uma pessoa, em uma tentativa desesperada de salvar a vida, jogar-se da janela de um apartamento ao ter o corpo em chamas e não encontrar outra saída, ainda que morra na tentativa.

Tampouco é considerado suicídio o fato de uma pessoa deixar que a matem para salvar a vida de outra. De fato, há alguns anos, São João Paulo II canonizou Maximiliano Kolbe, quem, sendo prisioneiro em Auschwitz, ofereceu-se para substituir outro preso que seria executado em represália por uma fuga.

O ato de São Maximiliano lhe custou a vida (deixaram-no morrer de fome). Ele não é considerado um “mártir da fé”, como costuma acontecer, pois não morreu por defender a sua fé, mas sim um “mártir da caridade”. De fato, ele encarnou a afirmação de Jesus, quando disse que “ninguém tem maior amor do que aquele que dá a sua vida por seus amigos” (João 15, 13). Mas isso não foi suicídio, pois não foi ele quem tirou a própria vida.
Não é difícil perceber que estas palavras do Senhor foram ditas em referência a Ele mesmo, em primeiro lugar. Então, nesta questão, o maior exemplo que temos é o próprio Jesus Cristo, que deu sua vida por nós. E a deu querendo entregá-la mesmo.

Suas palavras não deixam dúvidas: “O Pai me ama, porque dou a minha vida para a retomar. Ninguém a tira de mim, mas eu a dou de mim mesmo e tenho o poder de a dar, como tenho o poder de a reassumir” (João 10, 17-18). Mas entregar sua vida consistiu em deixar que outros a tirassem, não em tirá-la Ele mesmo. Por isso, não foi um suicídio.
O suicídio propriamente dito não tem justificativa moral. É possível, e ocorre com frequência, que o suicida padeça de um sério transtorno mental, o que não o tornaria responsável pelos seus atos, mas isso não transforma em bom algo que em si sempre é ruim.

Às vezes, acontecem casos de pessoas que tiram a própria vida pensando nos outros. Por exemplo, o caso de um homem que, diante do diagnóstico de uma doença incurável que traria muitos gastos para a sua família, decide se matar.
Também se discute o caso do agente secreto a quem se pede que se suicide antes de ser capturado, para não revelar as informações que tem. Mas nenhum destes casos, ou outros semelhantes, têm justificativa moral.

O Catecismo da Igreja Católica é bastante claro ao afirmar isso, e explica o motivo: “O suicídio contraria a inclinação natural do ser humano para conservar e perpetuar a sua vida. É gravemente contrário ao justo amor de si mesmo. Ofende igualmente o amor do próximo, porque quebra injustamente os laços de solidariedade com as sociedades familiar, nacional e humana, em relação às quais temos obrigações a cumprir. O suicídio é contrário ao amor do Deus vivo” (n. 2281). 

 

 

 

 

Julio De la Vega Hazas

LITURGIA DIÁRIA - QUEM CRÊ NÃO É JULGAO.

Primeira Leitura (At 5,17-26)

Leitura dos Atos dos Apóstolos.
Naqueles dias, 17levantaram-se o sumo sacerdote e todos os do seu partido — isto é, o partido dos saduceus — cheios de raiva e mandaram prender os apóstolos e lançá-los na cadeia pública.
19Porém, durante a noite, o anjo do Senhor abriu as portas da prisão e os fez sair, dizendo: 20“Ide falar ao povo, no Templo, sobre tudo o que se refere a este modo de viver”. 21Eles obedeceram e, ao amanhecer, entraram no Templo e começaram a ensinar. O sumo sacerdote chegou com seus partidários e convocou o Sinédrio e o Conselho formado pelas pessoas importantes do povo de Israel. Então mandaram buscar os apóstolos na prisão. 22Mas, ao chegarem à prisão, os servos não os encontraram e voltaram dizendo: 23“Encontramos a prisão fechada, com toda segurança, e os guardas estavam a postos na frente da porta. Mas, quando abrimos a porta, não encontramos ninguém lá dentro”.
24Ao ouvirem essa notícia, o chefe da guarda do Templo e os sumos sacerdotes não sabiam o que pensar e perguntavam-se o que poderia ter acontecido. 25Chegou alguém que lhes disse: “Os homens que vós pu­sestes na prisão estão no Templo ensinando o povo!” 26Então o chefe da guarda do Templo saiu com os guardas e trouxe os apóstolos, mas sem violência, porque eles tinham medo que o povo os atacasse com pedras.

Responsório (Sl 33)

— Este infeliz gritou a Deus, e foi ouvido.
— Este infeliz gritou a Deus, e foi ouvido.

— Bendirei o Senhor Deus em todo o tempo, seu louvor estará sempre em minha boca. Minha alma se gloria no Senhor; que ouçam os humildes e se alegrem!
— Comigo engrandecei ao Senhor Deus, exaltemos todos juntos o seu nome! Todas as vezes que o busquei, ele me ouviu, e de todos os temores me livrou.
— Contemplai a sua face e alegrai-vos, e vosso rosto não se cubra de vergonha! Este infeliz gritou a Deus, e foi ouvido, e o Senhor o libertou de toda angústia.
— O anjo do Senhor vem acampar ao redor dos que o temem, e os salva. Provai e vede quão suave é o Senhor! Feliz o homem que tem nele o seu refúgio!
 
Evangelho (Jo 3,16-21)

16Deus amou tanto o mundo, que deu o seu Filho unigênito, para que não morra todo o que nele crer, mas tenha a vida eterna. 17De fato, Deus não enviou o seu Filho ao mundo para condenar o mundo, mas para que o mundo seja salvo por ele. 18Quem nele crê não é condenado, mas quem não crê já está condenado, porque não acreditou no nome do Filho unigênito.
19Ora, o julgamento é este: a luz veio ao mundo, mas os homens preferiram as trevas à luz, porque suas ações eram más. 20Quem pratica o mal odeia a luz e não se aproxima da luz, para que suas ações não sejam denunciadas. 21Mas quem age conforme a verdade aproxima-se da luz, para que se manifeste que suas ações são realizadas em Deus.

 Reflexão

Ao contrário do que muitas vezes nós pensamos Jesus não veio ao mundo para condenar as nossas más ações, mas, justamente para nos ajudar a não mais cometê-las. A salvação de Jesus implica, porém, em que nós o acolhamos e não o rejeitemos. No Evangelho de hoje mais uma vez Jesus afirma categoricamente. Ele não nos vai condenar. Antes pelo contrário, somos nós que nos condenamos ao não acreditar nas Suas Palavras: “Quem nele crê não é condenado, mas quem não crê já está condenado.”
“Este é o julgamento: a luz veio ao mundo, mas os homens amaram mais as trevas do que a luz, pois as suas obras eram más.” Quem rejeita a Luz vive nas trevas e é condenado pelas suas próprias obras. Quem não crê em Jesus e dele não se aproxima, rejeita a luz e tem medo de que a verdade seja revelada porque as suas ações são más.
Jesus é a luz enviada pelo Pai não para condenar, mas para nos salvar. Luz que iluminou e continua iluminando através dos missionários de hoje, as nossas mentes, conduzindo-nos a seguir o verdadeiro caminho da verdade e da vida em abundância.
Mas Essa luz é tão forte, penetrante e ofuscante que às vezes fugimos dela, para que ninguém veja a nossa sujeira, representada pela nossa inveja, o nosso egoísmo, a nossa ganância por mais riqueza do que na verdade necessitamos, etc. Então, ficar no escuro, no esconderijo, disfarçado, fugir da igreja, é a sugestão de satanás, para que não sejamos iluminados pela Luz.
É por isso que o mestre disse: “Porquanto todo aquele que faz o mal odeia a luz e não vem para a luz, para que as suas obras não sejam reprovadas.”
Jesus veio iluminar a nossa mente e o nosso caminho a ser seguido. Ele nos mostrou de várias maneiras que longe de Deus não há felicidade. Nos convidou a segui-lo, mostrou-nos que Ele era o Próprio Deus, para que acreditássemos Nele, e tivéssemos um dia a vida eterna. Porém, muitos recusaram assim como hoje continuam recusando o seu convite. É convite por que Ele respeita a nossa decisão, a nossa escolha, o nosso sim ou não. Mas também não nos esqueçamos de rezar pela conversão principalmente daqueles a que dirigimos a palavra de Deus. Peçamos a Jesus que nos perdoe, nos proteja, e ao Espírito Santo que nos ilumine para que possamos levar a Luz para tanto quanto pudermos.
No entanto, se confiamos em Jesus, as nossas boas ações serão evidenciadas porque são elas realizadas em Deus, pelo poder do Seu Espírito Santo. Com efeito, a fé em Jesus Cristo é o meio mais eficaz para que nos aproximemos da luz de Deus. A luz esclarece, a luz tira da ignorância, a luz dá o norte, dá a direção. Jesus é a Luz do mundo, quem nele crer não ficará nas trevas. Ele veio para tirar todos os homens das trevas. Praticar o mal é não crer em Jesus, não se aproximar da Sua Luz, não aderir ao Seu projeto de Salvação. A Palavra de Deus nos assegura tudo isso. Ainda há tempo para que o mundo seja salvo. Ajudemos, portanto, a iluminá-lo com a luz de Deus que recebemos no nosso Batismo.
Você crê em Jesus como Luz para a sua vida? Como é que nós podemos iluminar o mundo com a Luz de Cristo? Qual é a virtude em você que mais revela ao mundo a luz de Jesus? Você tem tido a coragem de ficar debaixo da Luz, embora que a sua verdade seja descoberta? – Qual seria o primeiro passo para você fazer isto?
 
 
 
 
CN

terça-feira, 29 de abril de 2014

“Nossas vidas, sem dúvida, são cheias de problemas reais, alguns dos quais talvez insolúveis. Seria impertinente sugerir que todos os nossos problemas são fabricados. Contudo, somos tão obcecados pela ideia de que temos de possuir ‘respostas’ e ‘soluções’ para tudo que evitamos os problemas difíceis, tão reais, criando outros menos reais para os quais acreditamos ter a resposta.” 

Há problemas na vida que não são para ser resolvidos, a não ser vivendo-os com toda sinceridade, humildade e coragem que a graça e a natureza possam nos dar.









Contemplation in a World of Action, de Thomas Merton
(Notre Dame Press, Notre Dame, In), 1998. p. 48
 

No Brasil: Contemplação num mundo de ação, (Editora Vozes, Petrópolis), 1975 


O APOCALIPSE É O LIVRO DA ESPERANÇA.


O momento inicial da Tradição é o coração de Maria

João considerava-se, então, uma pessoa liberada. Não precisava mais escrever sobre o Evangelho, visto que Lucas já o fazia. Sentia-se muito tranqüilo e feliz, porém Deus o aguardava. O Espírito Santo sempre age desta forma, com extraordinária delicadeza e sem jamais se contrariar. São João é um excelente exemplo desta conduta misericordiosa de Deus para conosco. Efetivamente, no fim de sua vida, o idoso João, aos 85 anos, encontrava-se refugiado na ilha de Patmos "por causa da Palavra (Logos) de Deus e do testemunho de Jesus." (Ap 1, 9). E eis que o Espírito Santo o espera, se apossa dele, e João recebe a revelação surpreendente do Apocalipse, o que o transtorna profundamente. É importante que se leia esta revelação extraordinária que fez com que João compreendesse que toda a Igreja está ligada a Cristo Jesus. Esta é a grande Revelação da Santíssima Trindade; esta é a grande Revelação do Cordeiro.

Quando João recebeu esta revelação, chamada O Apocalipse, compreendeu que a Igreja de Jesus Cristo, a que nasceu da Cruz, deveria seguir toda a experiência de vida de Jesus. A Igreja de Cristo deve segui-Lo, "seguir o Cordeiro onde quer que Ele vá" (Ap. 14, 4) e, assim sendo, deve vivenciar necessariamente tudo o que o Cordeiro viveu. A Igreja deve viver a Agonia, a Cruz, o Sepulcro. A partir daquele momento, surgiu algo de completamente novo no olhar de João, atinente à Igreja. A partir desta Revelação, o Apóstolo João passa a amar esta Igreja de forma totalmente nova.

Isto nos faz compreender que, após ter escrito o Apocalipse, ele deve ter composto sua primeira Epístola que é o seu livro da espiritualidade. O Apocalipse é o livro da esperança, porque faz com que possamos entender que as nossas lutas são as lutas de Jesus e a Primeira Epístola é o livro da caridade fraterna, em que João nos ensina o que é a vida cristã e quais são as suas dimensões: luz, caridade e amor. Enfim, João nos dá o Evangelho, livro da fé contemplativa, que se inicia com o Prólogo, de difícil compreensão, mas magnífico, porque nos dá a luz que irá alumiar todo o seu conteúdo.
 


Trechos extraídos de Seguir o Cordeiro
do Padre Marie Dominique Philippe-Saint Paul
2005, pp. 48 a 56

AGIR APENAS PELOS SENTIMENTOS É MUITO ARRISCADO.




(Fil. 2,5).

“Tende entre vós, os mesmos sentimentos que foram os de Jesus Cristo”

A qualidade sacerdotal de todo o Povo de Deus e o ministério apostólico são, na Igreja, fruto da sua identificação com Cristo e total participação no Seu ser e missão. Daí que esta qualidade sacerdotal inspire toda ávida cristã, na caminhada de fidelidade da Igreja e de cada cristão.

Numa arreigada tradição espiritual, que bem conhecemos, a fidelidade cristã foi apresentada como uma “imitação de Jesus Cristo”. Com esta linguagem exprime-se a visão neo-testamentária da vida cristã concebida como seguimento de Jesus Cristo, no discípulado, na certeza de que toda a nossa vivência da vida nova segundo o Espírito, brota da nossa identificação e união com Cristo, de que a Eucaristia é a expressão principal e decisiva.  Esta união a Cristo, de onde brota a possibilidade e a exigência da caridade, faz com que toda a vida cristã seja profundamente sacerdotal, quer para todo o Povo de Deus que encontra em cada expressão da caridade uma “hóstia espiritual”, quer para os sacerdotes, cujo ministério é uma exigência acrescida de identificação com Cristo.

É isto que Paulo aconselha aos Filipenses ao escrever-lhes: “Tende entre vós, os mesmos sentimentos que foram os de Jesus Cristo” (Fil. 2,5).  Eu noto que quando estou muito eufórico em querer viver a vontade de Deus, é quando menos consigo.
O contrário também, o desânimo, faz-me sentir incapaz.
Talvez isso aconteça quando pretendo que a vontade de Deus seja de acordo com os meus sentimentos.Ao invés, quando procuro adequar-me ao que realmente Deus quer de mim, as coisas parecem ter outra lógica, tudo encaixa e aparece como um mosaico onde cada cada peça tem o seu lugar.
Agir apenas pelos sentimentos é muito arriscado.

Corro o risco de agir passionalmente, de tornar-me preconceituoso, seletivo demais nos relacionamentos.
Se me adequo à vontade de Deus, passo a dirigir todas as minhas ações a Ele próprio, desta forma os sentimentos passam a ser relativos e a razão me ajuda nas decisões. Mantenho os pés no chão e a mente em Deus.

As pessoas temem muito em sua vida, temos medo do tempo que nos é traiçoeiro quando mais gostamos de algo.Temos medo de agir por crer que iremos errar, temos medo de arriscar por achar que algo será perdido, algo que conquistamos com o tempo que tivemos medo.

Será que temos medo de amar?
Sendo que o amor é o que mais nos ilude.
Vamos tentar apenas não idealizar? Quem sabe assim as coisas mudem.








Pe.Emílio Carlos+
grãozinho de areia.

LITURGIA DIÁRIA - NASCER DO ALTO.

Primeira Leitura (At 4,32-37)

Leitura dos Atos dos Apóstolos.
32A multidão dos fiéis era um só coração e uma só alma. Ninguém considerava como próprias as coisas que possuía, mas tudo entre eles era posto em comum.
33Com grandes sinais de poder, os apóstolos davam testemunho da ressurreição do Senhor Jesus. E os fiéis eram estimados por todos. 34Entre eles ninguém passava necessidade, pois aqueles que possuíam terras ou casas, vendiam-nas, levavam o dinheiro, 35e o colocavam aos pés dos apóstolos. Depois, era distribuído conforme a necessidade de cada um.
36José, chamado pelos apóstolos de Barnabé, que significa filho da consolação, levita e natural de Chipre, 37possuía um campo. Vendeu e foi depositar o dinheiro aos pés dos apóstolos.

Responsório (Sl 92)

— Reina o Senhor, revestiu-se de esplendor.
— Reina o Senhor, revestiu-se de esplendor.

— Deus é Rei e se vestiu de majestade, revestiu-se de poder e de esplendor!
— Vós firmastes o universo inabalável, vós firmastes vosso trono desde a origem, desde sempre, ó Senhor, vós existis!
— Verdadeiros são os vossos testemunhos, refulge a santidade em vossa casa, pelos séculos dos séculos, Senhor!
 
Evangelho (Jo 3,7b-15)
  
Naquele tempo, disse Jesus a Nicodemos: 7b“Vós deveis nascer do alto. 8O vento sopra onde quer e tu podes ouvir o seu ruído, mas não sabes de onde vem, nem para onde vai. Assim acontece a todo aquele que nasceu do Espírito”.
9Nicodemos perguntou: “Co­mo é que isso pode acontecer?” 10Respondeu-lhe Jesus: “Tu és mestre em Israel, mas não sabes estas coisas? 11Em verdade, em verdade, te digo, nós falamos daquilo que sabemos e damos testemunho daquilo que temos visto, mas vós não aceitais o nosso testemunho. 12Se não acre­ditais, quando vos falo das coisas da terra, como acreditareis se vos falar das coisas do céu? 13E ninguém subiu ao céu, a não ser aquele que desceu do céu, o Filho do Homem. 14Do mesmo modo como Moisés levantou a serpente no deserto, assim é necessário que o Filho do Homem seja levantado, 15para que todos os que nele crerem tenham a vida eterna”.

 Reflexão

Jesus dá sentido àquilo que passamos e sofremos, pois passamos a entender que tudo aqui é passageiro, tudo é momentâneo.
“Se ressuscitastes com Cristo, esforçai-vos por alcançar as coisas do alto, onde está Cristo, sentado à direita de Deus” (Cl 3,1).
A Palavra do Senhor está nos convidando a olharmos para as coisas do alto, a aspirarmos as coisas do céu, buscarmos as coisas que dão sentido eterno à nossa vida.
Meus irmãos, nós caminhamos preocupados com tantas coisas, parece que estamos construindo a eternidade aqui na Terra. Por mais que sejamos pessoas de fé, de confiança em Deus, por mais que creiamos n’Ele, o nosso coração se encontra preso pelas coisas terrenas. Assim, não voltamos nosso olhar, nossa direção para a eternidade. Quando fazemos isso, qualquer sofrimento, qualquer perda, qualquer situação que passemos aqui nessa terra, assume um outro sentido e um outro significado.
Jesus dá sentido àquilo que passamos e sofremos, pois passamos a entender que tudo aqui é passageiro, tudo é momentâneo, que tudo que vivemos é para esse período longo ou curto de vida na terra, porque nós nascemos para a eternidade, nascemos para sermos de Deus.
As bem-aventuranças proclamadas no Evangelho de Lucas (cf. Lc 6,20-26) chama a atenção para os pobres, para aqueles que têm fome e choram, para aqueles que são odiados pelos homens, porque estes sim serão saciados, consolados, terão em Deus a verdadeira e a única riqueza.
Que não deixemos as nossas ocupações de lado, não deixemos de trabalhar, de cumprir nossos deveres, assumir as nossas responsabilidades, mas façamos bem o nosso trabalho, sem nos esquecer que nós somos do céu e fomos feitos para ele. Que nós tenhamos plena responsabilidade da missão que nos é confiada e busquemos os valores eternos. Que façamos da nossa vida uma condição evangélica de viver.
Não nos esqueçamos, em nenhum momento, daquele que deu a Sua vida por nós, daquele que é o nosso Senhor e Salvador, que é o sentido da nossa vida. Um dia todos nós estaremos com Ele na glória.
Para que isso aconteça, despojemo-nos já do homem velho, corrompido pela mentira, pelo pecado, por todos os desejos que o mundo desperta em nós; e possamos nascer para a vida nova em Cristo.
Deus abençoe você!
            Outro

Estamos diante de uma contradição entre a incredulidade dos judeus, representados por Nicodemos, e o anúncio do novo trazido por Jesus. Nicodemos embora sendo meste não entende por estar preso ao passado. Ainda não conseguiu enxergar a água que regenera o homem tornando-o uma nova criatura.
Urge pôr de uma vez por todas na cabeça que, quem se faz discípulo do Ressuscitado deve dispor-se a viver a aventura do Espírito que o transforma. Esta exigência está contida na afirmação enigmática de Jesus: “O vento sopra onde quer; você escuta o barulho, mas, não se sabe nem de onde vem nem para onde vai. A mesma coisa acontece com quem nasceu do Espírito”.
Este alerta é fundamental para quem foi iniciado no processo de discipulado. Tornar-se discípulo de Jesus comporta colocar-se à inteira disposição do Espírito. Só assim, irá se precaver contra a tentação de querer aprisionar o Espírito e colocar Deus dentro dos próprios limites humanos. Opção empobrecedora, pois impede o ser humano de deixar desabrochar toda a riqueza de dons que lhe foi confiada por Deus. Fechando-se dentro de seus próprios limites, o discípulo tende a acomodar-se, a não ser criativo, e a contentar-se com o pouco, a deixar-se abater pelas críticas, pelas incompreensões e pelos insucessos.
Soprando onde e como quer, o Espírito proporciona ao discípulo um dinamismo incomum, a ponto de se admirar com os próprios feitos. Embora pequeno e frágil, não temerá realizar grandes empresas. Tornar-se-á forte diante das contrariedades da vida, a ponto de superá-las todas, e destemido em se tratando de dar testemunho do Ressuscitado. Mostrar-se-á, também, possuidor de uma sabedoria, antes desconhecida; e manterá viva a chama da fé e da esperança, quando o fracasso bater à sua porta. Basta deixar-se conduzir pelo Espírito!
A subida de Jesus para junto do Pai manifesta a sua origem divina e garante a verdade da palavra que Ele nos anunciou. A sua Ressurreição é testemunho a favor de tudo o que Ele nos ensinou. Quem dera meu irmão, minha irmã que todos nós nos abríssemos profundamente para receber o dom de Deus que consiste em nascer pela água e pelo espírito!

É, necessário aceitar esse testemunho e ser-lhe fiel, para que o novo nascimento, que é o Batismo, nos introduza verdadeiramente na Vida Eterna.
 
 
 
 
 
CN 

segunda-feira, 28 de abril de 2014

NASCER DE NOVO.

“ Há em nós um impulso que nos leva à novidade, à renovação, à liberação do poder criativo. Procuramos despertar em nós mesmos uma força que realmente mude nossas vidas de dentro para fora. Contudo, o mesmo instinto diz-nos que essa mudança é a recuperação do que temos de mais profundo, mais original, mais pessoal. Nascer de novo não é tornar-se outra pessoa, e sim tornar-nos nós mesmos.”
 
 
 
 
 
 
 
 
 

"Christian Humanism" in Love and Living, de Thomas Merton
Editado por Naomi Burton Stone e Patrick Hart, OCSO
(A Harvest/HBJ Book, Harcourt Brace Jovanovich, San Diego, New York, London), 1979. p. 196
No Brasil: "O humanismo cristão" in Amor e Vida, (Martins Fontes Ed., São Paulo), 2004. p. 206

reflexoes-thomas merton

QUANDO O HOMEM DEIXA DE SER LIVRE.



 
LIBERDADE E SERVIDÃO
Sartre, comparando a vida humana a um jogo de rúgbi a que se assiste sem conhecer as regras disse: “Vi alguns adultos se golpeando uns aos outros e derrubando-se para fazer passar uma bola de couro entre dois paus. Recapitulando o que vi, não lhe alcancei o sentido, parecendo-me tudo uma piada (inSartre, J.P., Prólogo “O Estrangeiro”, de Camus, A., Rio de Janeiro, 1969, p.32)”.

Não há dúvida de que, se a vida do homem se resume a um jogo em que se luta para alcançar uma meta, a custa de golpes e empurrões, ainda que o êxito seja obtido, uma hora acaba a partida, como termina a vida. Quando o entusiasmo do campo já não tem valor algum, foi porque aquele jogo nunca teve algum sentido.

Se o homem não é livre, não pode conhecer o amor. Mas também não deveria haver a menor dúvida de que, se não se ama, não se pode ser verdadeiramente livre. A liberdade existe para amar. Uma liberdade sem amor tem tão pouco sentido quanto valor.

Escolher coisas que não se podem amar, que nem sequer se podem respeitar, é escolher uma vida sem valores e degradar a própria natureza humana. A vontade que só pode escolher aquilo que é insuscetível de ser amado não é uma vontade livre, pois está totalmente escravizada.

Portanto, toda a escolha feita sem amor é, na melhor das hipóteses, um exercício rasteiro da liberdade, mas tão rasteiro que pode representar um passo em direção à perda total dessa liberdade.
Para realmente sermos livres, devemos amar, e devemos amar algo que mereça ser amado. Só então nos será possível comprometer-nos livremente e, assim, todos os compromissos serão compromissos de amor, porque a necessidade essencial do amor é comprometer-se com a pessoa amada.

Há uma conexão necessária entre a liberdade, o compromisso (escolha) e o amor. A oposição entre liberdade e entrega, meramente aparente, é sinal inequívoco de que o amor está vacilante, pois nele reside a liberdade. Precisamente por isso, não se compreende a liberdade sem a entrega, nem a entrega sem a liberdade: uma realidade sublinha e afirma a outra.
O melhor exemplo disso está no amor materno. O pensamento clássico greco-romano, enfrentando a questão da gradação do amor humano, já exaltava o amor da mãe pelos filhos. No patamar mais baixo da escala, vinha o amor carnal, em que prevalecia a paixão sexual, chamado de amor de apetência, confiado à deusa Afrodite.

Acima desse patamar vinha o amor de complacência, dominado pelo sentimento e pela afetividade, que tinha em Eros seu deus protetor. E, no topo dessa escala, estava o amor de benevolência, que, em seu sentido etimológico (bene volere), significa querer bem, mas um querer bem ao outro pelo que ele é. A deusa Filia zelava por esse amor, porque se considerava o amor materno como o paradigma do autêntico amor, da entrega absoluta, que consiste em querer apenas o bem do outro.

Nessa esfera superior, o amor recai sobre o ser humano enquanto pessoa, no sentido mais nobre do termo. E sua expressão mais verdadeira é o compromisso de cuidar incondicionalmente do ser amado, algo que supera – em muito – os sentimentos e o apetite sexual, porque é uma decisão livre da vontade e que supera o vaivém dos afetos e o rebaixamento ao círculo puramente biológico que o sexo desenfreado proporciona.

Se a liberdade está ligada ao amor, logo, fazer “aquilo que dá vontade” é exercitar a liberdade de maneira bem superficial. A popularidade de que goza esta máxima, como noção de liberdade, deve ser atribuída à tendência para o raciocínio ligeiro e, também, ao desejo de propagar uma idéia libertina da liberdade: de chamar com o nobre nome de liberdade o que não vai além de um impulso sem controle.
Quando um homem não sabe controlar seus impulsos, ou seja, quando são estes que o dominam, não é livre. O fim de um homem domado por um feixe de estímulos desgovernados não pode ser outro que a imersão do eu numa escravidão total.
Recordo-me de uma frase de Agostinho – ama et fac quod vis (ama e faze o que quiseres) – que, em tempos idos, quando os libertinos eram mais cultos, gozava de prestígio, como citação clássica, entre eles. No entanto, não foi em seu período de libertinagem que Agostinho formulou essa frase belíssima. Foi depois, quando já tinha – e muito – experimentado como a liberdade sem um verdadeiro amor pode levar o homem a um caminho de servidão.
 
 
André Gonçalves Fernandes

FRANCISCO CANONIZA JOÃO XXIII E JOÃOPAULO II.

Pela primeira vez em dois mil anos de história da Igreja, uma canonização foi concelebrada por dois Papas vivos para elevar aos altares dois pontífices muito diferentes.

O papa Francisco proclamou neste domingo santos João Paulo II e João XXIII, dois pontífices que "não se deixaram vencer pelas tragédias do século XX", durante uma cerimônia na praça de São Pedro que também contou com a presença de seu antecessor, Bento XVI.

"Declaramos e definimos como santos os beatos João XXIII e João Paulo II e os inscrevemos no Catálogo dos Santos, e estabelecemos que em toda a Igreja sejam devotamente honrados entre os Santos", foi a fórmula pronunciada em latim pelo primeiro papa latino-americano da história, após a qual a multidão rompeu em aplausos.

Francisco entrou às 10h00 locais (05h00 de Brasília) na praça em procissão, seguido por cardeais e bispos que entoavam a ladainha dos santos.

O papa emérito Bento XVI, que renunciou ao trono de Pedro em 2013, participou vestido com a batina branca da cerimônia concelebrada por 150 cardeais e mil bispos.
Em sua chegada, foi recebido por calorosos aplausos e saudado com um abraço especial tanto no início quanto no fim da cerimônia por Francisco, em um gesto de fraternidade.
Pela primeira vez em dois mil anos de história da Igreja, uma canonização foi concelebrada por dois Papas vivos para elevar aos altares dois pontífices muito diferentes, mas cujos pontificados foram muito populares.
"Foram sacerdotes, bispos e Papas do século XX. Conheceram as suas tragédias, mas não foram vencidos por elas. Mais forte, neles, era Deus", declarou o Papa argentino, comprometido com uma reforma profunda da instituição após anos de escândalos provocados pelo silêncio da Igreja diante das denúncias de pedofilia de padres, de intrigas internas e de questões financeiras.
João XXIII e João Paulo II colaboraram com o Espírito Santo para "restabelecer e atualizar a Igreja segundo a sua fisionomia originária, a fisionomia que lhes deram os santos ao longo dos séculos", ressaltou Francisco.
A dupla canonização, do italiano João XXIII - considerado um progressista ao convocar o Concílio Vaticano II em 1962 para modernizar a Igreja - e do polonês João Paulo II - que enfrentou o comunismo e foi inflexível em temas morais - foi, segundo analistas, um golpe de mestre para Francisco, para unir os diferentes setores da Igreja.
Também encarnam duas imagens diferentes: o primeiro humilde e próximo do povo; o segundo um comunicador nato, carismático e capaz de seduzir tanto os poderosos quanto as multidões.
As relíquias dos dois novos santos, uma ampola de sangue de João Paulo II e um pedaço de pele de João XXIII extraída durante sua exumação no ano 2000, foram colocadas junto ao altar. A mulher costarriquenha Floribeth Mora, de 50 anos, cuja cura de um aneurisma cerebral foi considerada o segundo milagre do Papa polonês, foi a encarregada de entregar a de João Paulo II.

Cerca de 800.000 pessoas acompanharam a cerimônia, segundo números oficiais, 300.000 delas através de 17 telões instalados em locais chave de Roma.
"João Paulo II foi o grande protetor de meus filhos", comentou entre lágrimas a peruana María Cardoza, que chegou muito cedo ao Vaticano para poder acompanhar a histórica canonização.

- "Dois Papas santos no céu, dois Papas na praça" -

Um enorme cartaz na praça resumia o significado do dia para os católicos: "Dois Papas santos no céu, dois Papas na praça" de São Pedro.

No total, 98 delegações lideradas por 24 chefes de Estado e de governo, entre eles os reis da Espanha, os presidentes de Equador, Honduras, El Salvador, assim como o controverso presidente do Zimbábue, Robert Mugabe, acompanharam a canonização.
A cerimônia, que durou duas horas, também foi assistida por representantes de todas as religiões, entre eles uma importante delegação judaica, para homenagear dois Papas que lutaram contra os preconceitos contra os judeus.

"Estou muito emocionada, porque conheci pessoalmente João Paulo II", confessou a argentina Fernanda de Diego, entre os milhares de latino-americanos e centro-americanos que lotavam a praça.Bandeiras de Polônia, Argentina, Brasil, Colômbia e de outros países circulavam entre a multidão, e dois cartazes gigantes com as imagens dos novos santos foram instalados na fachada da Basílica de São Pedro.

A praça foi enfeitada com 30.000 rosas vermelhas, amarelas e brancas doadas pelo Equador, cujo presidente, Rafael Correa, estava presente na cerimônia.

As celebrações começaram no sábado com uma "noite branca" de orações em quinze igrejas do centro histórico de Roma.
Um dispositivo especial para alojar, transportar e atender aos centenas de católicos da Europa foi colocado em andamento pelas autoridades da capital italiana para administrar o difícil tráfego de automóveis e pessoas.
A cerimônia podia ser seguida em vários idiomas, entre eles espanhol, português, árabe e francês, tanto ao vivo quanto pela televisão.
A Basílica de São Pedro permanecerá aberta até a 01h00 de segunda-feira para que os peregrinos de todo o mundo possam orar no maior templo do cristianismo.
A canonização foi transmitida ao vivo pela televisão a diversos países do mundo e seguida por 2 bilhões de pessoas dos cinco continentes, segundo cálculos do Centro de Televisão Vaticano (CTV).
Novos satélites transmitiram pela primeira vez a canonização em Alta Definição. Cerca de 500 salas de cinema de 20 países a transmitiram gratuitamente em 3D.

 

 

 

AFP 

LITURGIA DIÁRIA - JESUS COM NICODEMOS.


Primeira Leitura (At 4,23-31)

Leitura dos Atos dos Apóstolos.
23Naqueles dias, logo que foram postos em liberdade, Pedro e João voltaram para junto dos irmãos e contaram tudo o que os sumos sacerdotes e os anciãos haviam dito. 24Ao ouvirem o relato, todos eles elevaram a voz a Deus, dizendo: “Senhor, tu criaste o céu, a terra, o mar e tudo o que neles existe. 25Por meio do Espírito Santo, disseste através do teu servo Davi, nosso pai: ‘por que se enfureceram as nações, e os povos imaginaram coisas vãs? 26Os reis da terra se insurgem e os príncipes conspiram unidos contra o Senhor e contra o seu Messias’. 27Foi assim que aconteceu nesta cidade: Herodes e Pôncio Pilatos uniram-se com os pagãos e os povos de Israel contra Jesus, teu santo servo, a quem ungiste, 28a fim de executarem tudo o que a tua mão e a tua vontade haviam predeterminado que sucedesse.
29Agora, Senhor, olha as ameaças que fazem e concede que os teus servos anunciem corajosamente a tua palavra. 30Estende a mão para que se realizem curas, sinais e prodígios por meio do teu santo servo Jesus”. 31Quando terminaram a oração, tremeu o lugar onde estavam reunidos. Todos, então, ficaram cheios do Espírito Santo e anunciaram corajosamente a palavra de Deus.

Responsório (Sl 2)

— Felizes hão de ser todos aqueles que põem sua esperança no Senhor.
— Felizes hão de ser todos aqueles que põem sua esperança no Senhor.

— Por que os povos agitados se revoltam? Por que tramam as nações projetos vãos? Por que os reis de toda a terra se reúnem e conspiram os governos todos juntos contra o Deus onipotente e o seu Ungido? “Vamos quebrar suas correntes”, dizem eles, “e lançar longe de nós o seu domínio!”
— Ri-se deles o que mora lá nos céus; zomba deles o Senhor onipotente. Ele, então, em sua ira os ameaça, e em seu furor os faz tremer, quando lhes diz: “Fui eu mesmo que escolhi este meu Rei, e em Sião, meu monte Santo, o consagrei!”
— O decreto do Senhor promulgarei, foi assim que me falou o Senhor Deus: “Tu és o meu Filho, e eu hoje te gerei! Podes pedir-me, e em resposta eu te darei por tua herança os povos todos e as nações, e há de ser a terra inteira o teu domínio. Com cetro férreo haverás de dominá-los, e quebrá-los como um vaso de argila!”
 
Evangelho (Jo 3,1-8)

1Havia um chefe judaico, membro do grupo dos fariseus, chamado Nicodemos, 2que foi ter com Jesus, de noite, e lhe disse: “Rabi, sabemos que vieste como mestre da parte de Deus. De fato, ninguém pode realizar os sinais que tu fazes, a não ser que Deus esteja com ele”.
3Jesus respondeu: “Em verdade, em verdade, te digo, se alguém não nasce do alto, não pode ver o Reino de Deus”. 4Nicodemos disse: “Como é que alguém pode nascer, se já é velho? Poderá entrar outra vez no ventre de sua mãe?”
5Jesus respondeu: “Em verdade, em verdade, te digo, se alguém não nasce da água e do Espírito, não pode entrar no Reino de Deus. 6Quem nasce da carne é carne; quem nasce do Espírito é espírito 7Não te admires por eu haver dito: Vós deveis nascer do alto. 8O vento sopra onde quer e tu podes ouvir o seu ruído, mas não sabes de onde vem, nem para onde vai. Assim acontece a todo aquele que nasceu do Espírito”.

 Reflexão

Neste texto do Evangelho de hoje, temos a conclusão do diálogo de Jesus com Nicodemos. O evangelista João recorre ao simbolismo da serpente de bronze (cf. Nm 21,9) – a qual, pela fé, libertava das mordidas mortais das serpentes do deserto para aplicá-lo à fé em Jesus, pelo qual se tem a vida eterna. Este diálogo com Nicodemos é um convite à conversão. Coloca em confronto as duas opções: aquele que crê e aquele que não crê, aquele que pratica o mal e ama as trevas e aquele que pratica a verdade e se aproxima da luz.
Jesus rejeitava, muitas vezes, aqueles que tentavam segui-lo. A um jovem rico que buscava o seu conselho, ele replicou com palavras tão fortes que o homem foi embora entristecido, não disposto a seguir Jesus a tão alto preço. A um importante líder religioso, Nicodemos, que tinha vindo louvando Jesus, o Senhor respondeu abruptamente: Você tem que nascer de novo, se quiser ao menos ver o reino de Deus! Jesus pintava francamente as dificuldades em segui-lO e rejeitava todos os que tentavam fazê-lo de forma inadequada. Jesus pregou sobre o tema: “Não pode ser meu discípulo”, discutindo abertamente a necessidade de calcular o custo antes de embarcar na vida de discípulo.
Não era porque Jesus não quisesse seguidores. Ele veio ao mundo para buscar e salvar os perdidos. Ele estava profundamente comovido pelas multidões perdidas e ansiava pela sua conversão. Mas Jesus sabia que não seria fácil para os homens segui-lO e que eles estariam inclinados a enganarem-se a si mesmos, pensando que eram discípulos, quando não eram. O Senhor nunca deixou de declarar francamente o que a conversão real exige.
A troca de palavras entre Jesus e Nicodemos, neste Evangelho de hoje, é fascinante. Nicodemos era um chefe religioso. Ele veio a Jesus, louvando seus ensinamentos e milagres. É difícil saber o que se passava na mente de Nicodemos, enquanto falava. Talvez estivesse esperando louvor, uma posição na administração de Jesus ou um voto de confiança pela obra que ele mesmo estava fazendo, como mestre em Israel. Mas a resposta surpreendente de Jesus foi: “Nicodemos, você precisa começar tudo de novo, se quiser entrar no reino de Deus.” Seja o que for que Nicodemos estivesse esperando, não era isto! A resposta de Jesus significava que toda a religião de Nicodemos, toda a sua atividade no ensino, toda a sua posição no judaísmo, eram sem valor, em relação ao domínio de Deus. Nós também precisamos ver que toda a nossa religião e nossa própria grandeza nada valem. As realizações do passado nada representam. Precisamos recomeçar tudo novamente para sermos capazes de entrar num relacionamento com Deus.
Mas para isso basta olhar para o que Jesus ensinou! Para Ele é loucura começar um projeto sem entender primeiro o que será exigido para terminá-lo. Ele ilustrou com a idéia de um homem que começou a construir uma torre, mas loucamente esqueceu de fazer um orçamento para determinar se teria fundos para completá-la, e assim teve que parar no meio do projeto. A verdadeira conversão necessita de um cuidadoso exame do estilo de vida que Deus espera do convertido.
O arrependimento, que é essencial à verdadeira conversão, envolve morte ao pecado. A Bíblia o compara à morte e ressurreição de Cristo. Tem que haver uma mudança de estilo de vida radical. A Bíblia usa termos como matar o velho homem e revestir-se com o novo, e descreve com minúcias as mudanças exatas que precisam ser feitas. Maus hábitos — embriaguez, imoralidade sexual, ira, ganância, orgulho, etc. — precisam ser eliminados da própria vida, ao passo que devem ser acrescentados o amor, a verdade, a pureza, o perdão e a humildade. Este é o resultado do arrependimento.
Muitas pessoas tentam ser convertidas e converter outras, sem arrependimento. Elas ensinam um cristianismo indolor, que não exige sacrifício. Elas salientam as emoções, a felicidade e as bênçãos, porém pensam pouco sobre as mudanças reais que a conversão exige na vida diária da pessoa. Entendamos isto claramente: Não há conversão sem transformação. Aquele que creu e foi batizado, aquele que até mesmo foi aceito numa igreja e participa fielmente das atividades religiosas, mas que não se arrependeu, não é salvo. O arrependimento é um compromisso sério, determinado, para mudar sua própria vida.

Para tomar parte realmente na Ceia do Senhor, a pessoa precisa de nascer de novo, no poder a água e do Espírito Santo. Ela precisa executar o ato certo, pelo motivo certo. A pessoa precisa ser um discípulo fiel.
 
 
 
 
CN

sábado, 26 de abril de 2014

2º DOMINGO DA PÁSCOA - FELIZES OS QUE CRÊEM SEM ME VER.

A liturgia deste domingo apresenta-nos essa comunidade de Homens Novos que nasce da cruz e da ressurreição de Jesus: a Igreja. A sua missão consiste em revelar aos homens a vida nova que brota da ressurreição.
Na primeira leitura temos, na “fotografia” da comunidade cristã de Jerusalém, os traços da comunidade ideal: é uma comunidade fraterna, preocupada em conhecer Jesus e a sua proposta de salvação, que se reúne para louvar o seu Senhor na oração e na Eucaristia, que vive na partilha, na doação e no serviço e que testemunha – com gestos concretos – a salvação que Jesus veio propor aos homens e ao mundo.
No Evangelho sobressai a ideia de que Jesus vivo e ressuscitado é o centro da comunidade cristã; é à volta d’Ele que a comunidade se estrutura e é d’Ele que ela recebe a vida que a anima e que lhe permite enfrentar as dificuldades e as perseguições. Por outro lado, é na vida da comunidade (na sua liturgia, no seu amor, no seu testemunho) que os homens encontram as provas de que Jesus está vivo.
A segunda leitura recorda aos membros da comunidade cristã que a identificação de cada crente com Cristo – nomeadamente com a sua entrega por amor ao Pai e aos homens – conduzirá à ressurreição. Por isso, os crentes são convidados a percorrer a vida com esperança (apesar das dificuldades, dos sofrimentos e da hostilidade do “mundo”), de olhos postos nesse horizonte onde se desenha a salvação definitiva.

1ª leitura – At. 2,42-47 – AMBIENTE
Depois de descrever a vinda do Espírito Santo sobre os discípulos reunidos no cenáculo (cf. At. 2,1-13) e de apresentar (através de um discurso posto na boca de Pedro) um resumo do testemunho dado pelos primeiros discípulos sobre Jesus (cf. At. 2,14-36), Lucas refere o resultado da pregação dos apóstolos: as pessoas aderem em massa (Lucas fala de três mil pessoas que, nesse dia, se juntaram aos discípulos) e nasce a comunidade cristã de Jerusalém (cf. At. 2,37-41). São os primeiros passos de um caminho que a Igreja de Jesus vai percorrer, desde Jerusalém a Roma (o coração do mundo antigo).
O nosso texto faz parte de um conjunto de três sumários, através dos quais Lucas descreve aspectos fundamentais da vida da comunidade cristã de Jerusalém. Este primeiro sumário é dedicado ao tema da unidade e ao impacto que o estilo cristão de vida provocou no povo da cidade (os outros dois sumários tratam da partilha dos bens – cf. At. 4,32-35 – e do testemunho da Igreja através da atividade miraculosa dos apóstolos – At. 5,12-16).
Naturalmente, este sumário não é um retrato histórico rigoroso da comunidade cristã de Jerusalém, no início da década de 30 (embora possa ter algumas bases históricas). Quando Lucas escreve este relato (década de 80), arrefeceu já o entusiasmo inicial dos cristãos: Jesus nunca mais veio para instaurar definitivamente o “Reino de Deus” e posicionam-se no horizonte próximo as primeiras grandes perseguições… Há algum desleixo, falta de entusiasmo, monotonia, divisão e confusão (até porque começam a aparecer falsos mestres, com doutrinas estranhas e pouco cristãs). Neste contexto, Lucas recorda o essencial da experiência cristã e traça o quadro daquilo que a comunidade deve ser.
MENSAGEM
Como será, então, essa comunidade ideal, que nasce do Espírito e do testemunho dos apóstolos?
Em primeiro lugar, é uma comunidade de irmãos, que vive em comunhão fraterna (“os irmãos” – v. 42). Essa fraternidade resulta da identificação com Cristo e da vida de Cristo que anima cada crente – membros, todos eles, do mesmo corpo – o Corpo de Cristo.
Em segundo lugar, é uma comunidade assídua ao ensino dos apóstolos. Quer dizer, é uma comunidade empenhada em conhecer e acolher a proposta de salvação que vem de Jesus, através do testemunho dos apóstolos (e não através dessas doutrinas estranhas trazidas pelos falsos mestres e que começam a invadir a comunidade). A catequese deve incidir sobre a pessoa de Jesus, o seu projecto, os seus valores, a sua vida de doação e de entrega. Os crentes são convidados a descobrir que o sentido fundamental da vida está na obediência ao plano do Pai e na entrega aos irmãos; e que uma vida vivida desse jeito conduz à ressurreição e à vida plena, mesmo que passe pela experiência da cruz.
Em terceiro lugar, é uma comunidade que celebra liturgicamente a sua fé. Lucas aponta dois momentos celebrativos fundamentais: a “fração do pão” e as “orações”.
A “fração do pão” parece ser uma expressão técnica para designar o memorial da “ceia do Senhor”, ou “eucaristia”. Era a celebração que resumia toda a vida do Senhor Jesus, feita doação da vida e entrega até à morte. Acompanhada, em geral, de uma refeição fraterna, ela comportava ainda orações, uma pregação e, talvez, gestos de comunhão e de partilha entre os cristãos. Era um momento de alegria, em que a comunidade celebrava a sua união a Jesus e a comunhão fraterna que daí resultava.
Temos, ainda, as “orações”. Os primeiros cristãos continuaram a frequentar o Templo (“todos os dias frequentavam o Templo” – v. 46) e a participar da oração da comunidade judaica; no entanto, é bastante provável que a comunidade cristã tenha começado a sentir a necessidade de se encontrar para a oração tipicamente cristã, centrada na pessoa de Jesus; e é, talvez, a esta oração comunitária cristã que Lucas se refere. A comunidade de Jesus é, portanto, uma comunidade que se junta para rezar, para louvar o seu Senhor.
Em quarto lugar, é uma comunidade que partilha os bens. Da comunhão com Cristo, resulta a comunhão dos cristãos entre si; e isso tem implicações práticas. Em concreto, implica a renúncia a qualquer tipo de egoísmo, de auto-suficiência, de fechamento em si próprio e uma abertura de coração para a partilha, para o dom, para o amor. Expressão concreta dessa partilha e desse dom é a comunhão dos bens: “tinham tudo em comum; vendiam propriedades e bens e distribuíam o dinheiro por todos, conforme as necessidades de cada um” – v. 44-45). É uma forma concreta de mostrar que a vida nova de Jesus, assumida pelos crentes, não é “conversa fiada”; mas é uma libertação da escravidão do egoísmo e um compromisso verdadeiro com o amor, com a partilha, com o dom da vida.
Finalmente, é uma comunidade que dá testemunho. Os gestos realizados pelos apóstolos enchiam toda a gente de temor (v. 43) – quer dizer, infundiam em todos aqueles que os testemunhavam a inegável certeza da presença de Deus e dos seus dinamismos de salvação. Além disso, a piedade, o amor fraterno, a alegria e a simplicidade dos crentes provocavam a admiração e a simpatia de todo o povo; esse jeito de viver interpelava os habitantes de Jerusalém e fazia com que aumentasse todos os dias o número dos que aderiam à proposta de Jesus e à comunidade da salvação (v. 47).
A primitiva comunidade cristã, nascida do dom de Jesus e do Espírito é verdadeiramente uma comunidade de homens e mulheres novos, que dá testemunho da salvação e que anuncia a vida plena e definitiva. A comunidade cristã de Jerusalém era, de fato, esta comunidade ideal? Possivelmente, não (outros textos dos Atos falam-nos de tensões e problemas – como acontece com qualquer comunidade humana); mas a descrição, que Lucas aqui faz, aponta para a meta a que toda a comunidade cristã deve aspirar, confiada na força do Espírito. Trata-se, portanto, de uma descrição da comunidade ideal, que pretende servir de modelo à Igreja e às igrejas de todas as épocas.
ATUALIZAÇÃO
• A comunidade cristã é uma família de irmãos, reunida à volta de Cristo, animada pelo Espírito e que tem por missão testemunhar na história a salvação. Os homens do séc. XXI podem acreditar ou não na ressurreição de Cristo; mas têm de descobrir a vida nova e plena que Deus lhes oferece, através do testemunho dos discípulos de Jesus. A comunidade cristã tem de ser uma proposta diferente, que mostra aos homens como o amor, a partilha, a doação, o serviço, a simplicidade e a alegria são geradores de vida e não de morte.
• A comunidade cristã é uma comunidade de irmãos. A minha comunidade cristã é uma comunidade de irmãos que vivem no amor, ou é um grupo de pessoas isoladas, em que cada um procura defender os seus interesses, mesmo que para isso tenha de magoar os outros? No que me diz respeito, esforço-me por amar todos, por respeitar a liberdade e a dignidade de todos, por potenciar as contribuições e as qualidades de todos?
• A comunidade cristã é, também, uma comunidade assídua à catequese dos apóstolos. A minha comunidade cristã é uma comunidade que se constrói à volta da Palavra de Deus, que escuta e que partilha a Palavra de Deus? Da minha parte, procuro descobrir as propostas de Deus num diálogo comunitário e numa partilha com os irmãos, ou deixo-me levar por pretensas “revelações” pessoais, convicções pessoais, impressões pessoais – que muitas vezes não são mais do que formas de manipular a Palavra de Deus para “levar a água ao meu moinho”?
• A comunidade cristã é, ainda, uma comunidade que celebra liturgicamente a sua fé. A celebração da fé comunitária dá-nos a dimensão de um povo peregrino, que caminha unido, voltado para o seu Senhor e tendo Deus como a sua referência. Da celebração comunitária da fé, sai uma comunidade mais fortalecida, mais consciente da vida que une todos os seus membros, mais adulta e com mais força para ser testemunha da salvação. O que é que significa, para mim, a celebração comunitária da fé? A celebração eucarística é um rito aborrecido, a que “assisto” por obrigação, ou uma verdadeira experiência de encontro com o Jesus do amor e do dom da vida e uma experiência de amor partilhado com os meus irmãos de fé?
• A comunidade cristã é uma comunidade de partilha. No centro dessa comunidade está o Cristo do amor, do serviço, do dom da vida… O cristão não pode, portanto, viver fechado no seu egoísmo, indiferente à sorte dos outros irmãos. Em concreto, o nosso texto fala na partilha dos bens… Uma comunidade onde alguns esbanjam os bens e onde outros não têm o suficiente para viver dignamente será uma comunidade que testemunha, diante dos homens, esse mundo novo de amor que Jesus veio propor?

2ª leitura – 1 Pedro 1,3-9 – AMBIENTE
A primeira Carta de Pedro é uma carta dirigida aos cristãos de cinco províncias romanas da Ásia Menor (a carta cita explicitamente a Bitínia, o Ponto, a Galácia, a Ásia e a Capadócia – cf. 1 Pe 1,1). O seu autor apresenta-se com o nome do apóstolo Pedro; no entanto, a análise literária e teológica não confirma que Pedro seja o autor deste texto: em termos literários, a qualidade literária da carta não corresponde à maneira de escrever de um pescador do lago de Tiberíades, pouco instruído; a teologia apresentada demonstra uma reflexão e uma catequese bem posteriores à época de Pedro; e o “ambiente” descrito na carta corresponde, claramente, à situação da comunidade cristã no final do séc. I. Se Pedro morreu em Roma durante a perseguição de Nero (por volta do ano 67), não pode ser o autor deste escrito. O autor da carta será, portanto, um cristão anônimo culto – provavelmente um responsável de alguma comunidade cristã – e que conhece profundamente a situação das comunidades cristãs da Ásia Menor. Ele escreve em finais do séc. I (nunca antes dos anos 80), provavelmente a partir de uma comunidade cristã não identificada da Ásia Menor.
Os destinatários desta carta são as comunidades cristãs que vivem em zonas rurais da Ásia Menor. A maioria destes cristãos são pastores ou camponeses que cultivam as propriedades das classes dominantes. Também há, nestas comunidades, pequenos proprietários que vivem em aldeias, à margem das grandes cidades. De qualquer forma, trata-se de gente que vive no meio rural, economicamente débil, vulnerável a um ambiente que começa a manifestar alguma hostilidade para com o cristianismo.
O autor da carta conhece as provações que estes cristãos sofrem todos os dias. Exorta-os, no entanto, a manterem-se fiéis à sua fé, apesar das dificuldades. Convida-os a olharem para Cristo, que passou pela experiência da paixão e da cruz, antes de chegar à ressurreição; e exorta-os a manterem a esperança, o amor, a solidariedade, vivendo com alegria, coerência e fidelidade a sua opção cristã.
MENSAGEM
O texto que nos é proposto é uma ação de graças, ao estilo das bênçãos judaicas. No entanto, apresenta, desde logo, os temas principais que, depois, vão ser desenvolvidos ao longo da carta.
O autor lembra aos crentes que, pelo batismo, se identificaram com Cristo; e isso significa, desde logo, renascer para uma vida nova – de que a ressurreição de Cristo é modelo e sinal. Conscientes de que Deus oferece a salvação àqueles que se identificam com Jesus, os crentes vivem na alegria e na esperança: eles sabem que – aconteça o que acontecer – lhes está reservada a vida plena e definitiva.
É verdade que a caminhada dos crentes pela história é uma experiência de sofrimento, de provações, de perseguições. Os sofrimentos, no entanto, são uma espécie de “prova”, durante a qual a fé dos crentes é purificada, decantada de interesses mesquinhos, fortalecida; e, nesse processo, o crente vai sendo transformado pela ação do Espírito, até se identificar com Cristo e chegar à vida nova (para exemplificar o processo, o autor lembra que o próprio ouro tem de ser purificado pelo fogo, antes de aparecer em todo o seu esplendor).
De qualquer forma, o percurso existencial dos crentes – cumprido simultaneamente na alegria e na dor – é sempre uma caminhada animada pela esperança da salvação definitiva.
O grande apelo do autor da primeira carta de Pedro é este: identifiquemo-nos com aquele a quem amamos sem o termos visto (Cristo) – nomeadamente com a sua entrega por amor ao Pai e aos homens – a fim de chegarmos, com Ele, à ressurreição.
ATUALIZAÇÃO
• Antes de mais, a Palavra de Deus convida-nos a tomar consciência de que, pelo batismo, nos identificamos com Cristo. A nossa vida tem de ser, como a de Cristo, vivida na obediência ao Pai e na entrega aos homens nossos irmãos: é esse o caminho que conduz à ressurreição. A lógica do mundo diz-nos que servir e dar a vida é um caminho de fracos e perdedores; a lógica de Deus diz-nos que a vida plena resulta do amor que se faz dom. Em quem é que acreditamos? De acordo com que lógica é que conduzimos a nossa vida e fazemos as nossas opções?
• A questão do sentido do sofrimento (sobretudo do sofrimento que atinge o justo) é tão antiga como o homem; as respostas que o homem foi encontrando para essa questão foram sempre parciais e insatisfatórias… A Palavra de Deus que hoje nos é proposta não esclarece definitivamente a questão, mas acrescenta mais uma achega: o sofrimento ajuda-nos, muitas vezes, a crescer, a amadurecer, a despirmo-nos de orgulhos e auto-suficiências, a confiar mais em Deus… Somos convidados a tomar consciência de que o sofrimento pode ser, também, um caminho para ressuscitarmos como homens novos, para chegarmos à vida plena e definitiva.
• De qualquer forma, somos convidados a percorrer a nossa vida com esperança, olhando para além dos problemas e dificuldades que dia a dia nos fazem tropeçar e vendo, no horizonte, a salvação definitiva. Isto não significa alhearmo-nos da vida presente; mas significa enfrentar as contrariedades e os dramas de cada dia com a serenidade e a paz de quem confia em Deus e no seu amor.

Evangelho – Jo 20,19-31 – AMBIENTE

19Ao anoitecer daquele dia, o primeiro da semana, estando fechadas, por medo dos judeus, as portas do lugar onde os discípulos se encontravam, Jesus entrou e, pondo-se no meio deles, disse: “A paz esteja convosco”.
20Depois dessas palavras, mostrou-lhes as mãos e o lado. Então os discípulos se alegraram por verem o Senhor.
21Novamente, Jesus disse: “A paz esteja convosco. Como o Pai me enviou, também eu vos envio”. 22E, depois de ter dito isso, soprou sobre eles e disse: “Recebei o Espírito Santo. 23A quem perdoardes os pecados, eles lhes serão perdoados; a quem os não perdoardes, eles lhes serão retidos”.
24Tomé, chamado Dídimo, que era um dos doze, não estava com eles quando Jesus veio. 25Os outros discípulos contaram-lhe depois: “Vimos o Senhor!” Mas Tomé disse-lhes: “Se eu não vir a marca dos pregos em suas mãos, se eu não puser o dedo nas marcas dos pregos e não puser a mão no seu lado, não acreditarei”.
26Oito dias depois, encontravam-se os discípulos novamente reunidos em casa, e Tomé estava com eles. Estando fechadas as portas, Jesus entrou, pôs-se no meio deles e disse: “A paz esteja convosco”.
27Depois disse a Tomé: “Põe o teu dedo aqui e olha as minhas mãos. Estende a tua mão e coloca-a no meu lado. E não sejas incrédulo, mas fiel”. 28Tomé respondeu: “Meu Senhor e meu Deus!” 29Jesus lhe disse: “Acreditaste, porque me viste? Bem-aventurados os que creram sem terem visto!”
30Jesus realizou muitos outros sinais diante dos discípulos, que não estão escritos neste livro. 31Mas estes foram escritos para que acrediteis que Jesus é o Cristo, o Filho de Deus, e, para que, crendo, tenhais a vida em seu nome.
Continuamos na segunda parte do Quarto Evangelho, onde nos é apresentada a comunidade da Nova Aliança. A indicação de que estamos no “primeiro dia da semana” faz, outra vez, referência ao tempo novo, a esse tempo que se segue à morte/ressurreição de Jesus, ao tempo da nova criação.
A comunidade criada a partir da ação de Jesus está reunida no cenáculo, em Jerusalém. Está desamparada e insegura, cercada por um ambiente hostil. O medo vem do fato de não terem ainda feito a experiência de Cristo ressuscitado.
MENSAGEM
O texto que nos é proposto divide-se em duas partes bem distintas.
Na primeira parte (vs. 19-23), descreve-se uma “aparição” de Jesus aos discípulos. Depois de sugerir a situação de insegurança e de fragilidade em que a comunidade estava (o “anoitecer”, as “portas fechadas”, o “medo”), o autor deste texto apresenta Jesus “no centro” da comunidade (v. 19b). Ao aparecer “no meio deles”, Jesus assume-se como ponto de referência, fator de unidade, videira à volta da qual se enxertam os ramos. A comunidade está reunida à volta d’Ele, pois Ele é o centro onde todos vão beber essa vida que lhes permite vencer o “medo” e a hostilidade do mundo.
A esta comunidade fechada, com medo, mergulhada nas trevas de um mundo hostil, Jesus transmite duplamente a paz (vs. 19 e 21: é o “shalom” hebraico, no sentido de harmonia, serenidade, tranquilidade, confiança, vida plena). Assegura-se, assim, aos discípulos que Jesus venceu aquilo que os assustava (a morte, a opressão, a hostilidade do mundo); e que, doravante, os discípulos não têm qualquer razão para ter medo.
Depois (vers. 20a), Jesus revela a sua “identidade”: nas mãos e no lado trespassado, estão os sinais do seu amor e da sua entrega. É nesses sinais de amor e de doação que a comunidade reconhece Jesus vivo e presente no seu meio. A permanência desses “sinais” indica a permanência do amor de Jesus: Ele será sempre o Messias que ama e do qual brotarão a água e o sangue que constituem e alimentam a comunidade.
Em seguida (v. 22), Jesus “soprou” sobre os discípulos reunidos à sua volta. O verbo aqui utilizado é o mesmo do texto grego de Gn 2,7 (quando se diz que Deus soprou sobre o homem de argila, infundindo-lhe a vida de Deus). Com o “sopro” de Gn 2,7, o homem tornou-se um ser vivente; com este “sopro”, Jesus transmite aos discípulos a vida nova que fará deles homens novos. Agora, os discípulos possuem o Espírito, a vida de Deus, para poderem – como Jesus – dar-se generosamente aos outros. É este Espírito que constitui e anima a comunidade de Jesus.
Na segunda parte (vs. 24-29), apresenta-se uma catequese sobre a fé. Como é que se chega à fé em Cristo ressuscitado?
João responde: podemos fazer a experiência da fé em Cristo vivo e ressuscitado na comunidade dos crentes, que é o lugar natural onde se manifesta e irradia o amor de Jesus. Tomé representa aqueles que vivem fechados em si próprios (está fora) e que não faz caso do testemunho da comunidade, nem percebe os sinais de vida nova que nela se manifestam. Em lugar de se integrar e participar da mesma experiência, pretende obter (apenas para si próprio) uma demonstração particular de Deus.
Tomé acaba, no entanto, por fazer a experiência de Cristo vivo no interior da comunidade. Porquê? Porque no “dia do Senhor” volta a estar com a sua comunidade. É uma alusão clara ao Domingo, ao dia em que a comunidade é convocada para celebrar a Eucaristia: é no encontro com o amor fraterno, com o perdão dos irmãos, com a Palavra proclamada, com o pão de Jesus partilhado, que se descobre Jesus ressuscitado.
A experiência de Tomé não é exclusiva das primeiras testemunhas; todos os cristãos de todos os tempos podem fazer esta mesma experiência.
ATUALIZAÇÃO
• A comunidade cristã gira em torno de Jesus, constrói-se à volta de Jesus e é d’Ele que recebe vida, amor e paz. Sem Jesus, estaremos secos e estéreis, incapazes de encontrar a vida em plenitude; sem Ele, seremos um rebanho de gente assustada, incapaz de enfrentar o mundo e de ter uma atitude construtiva e transformadora; sem Ele, estaremos divididos, em conflito, e não seremos uma comunidade de irmãos… Na nossa comunidade, Cristo é verdadeiramente o centro? É para Ele que tudo tende e é d’Ele que tudo parte?
• A comunidade tem de ser o lugar onde fazemos verdadeiramente a experiência do encontro com Jesus ressuscitado. É nos gestos de amor, de partilha, de serviço, de encontro, de fraternidade, que encontramos Jesus vivo, a transformar e a renovar o mundo. É isso que a nossa comunidade testemunha? Quem procura Cristo, encontra-O em nós?
• Não é em experiências pessoais, íntimas, fechadas e egoístas que encontramos Jesus ressuscitado; mas encontramo-l’O no diálogo comunitário, na Palavra partilhada, no pão repartido, no amor que une os irmãos em comunidade de vida. O que é que significa, para mim, a Eucaristia?n
 
 
 
 
 
P. Joaquim Garrido - P. Manuel Barbosa - P. José Ornelas Carvalho