segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

MARIA, A CORAGEM QUE TIVESTE...


- Chega uma hora na vida, quando é preciso ter uma fé e uma esperança como aquela de Maria. Isso quando parece que Deus já não escuta as nossas súplicas, quando, se diria que ele desmente, a si mesmo e suas promessas, quando nos faz passar de derrota em derrota, e os poderes das trevas parecem triunfar em todas as frentes ao nosso redor, e dentro de nós se faz noite, como naquele dia "sobre toda a terra" (Mt 27,45). Quando, como diz um salmo, ele parece "ter fechado na sua ira as suas entranhas e ter esquecido de ter compaixão" (Sl 77, 10). Quando chegar para ti esta hora, lembra-te da fé de Maria e grita como outros fizeram: "Pai meu, já não te entendo, mas confio em ti!".

Talvez Deus esteja pedindo-nos agora mesmo que lhe sacrifiquemos, como Abraão, o nosso "Isaac": a pessoa, a coisa, o projeto, a fundação, o cargo que apreciamos, que o próprio Deus um dia nos confiou e ao qual dedicamos toda a nossa vida. Esta é a ocasião que Deus nos oferece para mostrar-lhe que ele nos é mais caro do que tudo, acima também dos seus dons, acima também do trabalho que fazemos por ele. Deus pôs à prova Maria no Calvário - como pôs à prova o seu povo no deserto - "para ver o que tinha no coração” (cf. Dt 8,2), e no coração de Maria reencontrou intacto, e até mais forte, o "sim" e o "amém" do dia da Anunciação. Tomara que, nesses momentos, ele encontre também o nosso coração pronto para dizer-lhe "sim" e "amém". Estando "junto da cruz de Jesus", é como se Maria continuasse repetindo, no silêncio, com os fatos: "Eis-me! Aqui estou, meu Deus; aqui estou sempre para ti!". Humanamente falando, Maria tinha todos os motivos para gritar a Deus: "Tu me enganaste!", ou, como um dia gritou o profeta Jeremias: "Tu me seduziste e eu me deixei seduzir!" (cf. Jr 20,7), e fugir do CaIvário. Ela, pelo contrário, não fugiu, mas ficou "de pé", em silêncio, tornando-se assim, de maneira toda especial, mártir da fé e, seguindo o Filho, testemunha suprema da confiança em Deus.

Deus disse a Abraão: “Por teres procedido dessa forma e por não me teres recusado o teu filho, o teu único filho, eu te abençoarei e multiplicarei a tua descendência... Eu farei de ti o pai de inúmeros povos” (Gn 17,5; 22,16s). A mesma coisa, e muito mais, diz agora a Maria: Eu te farei Mãe de muitos povos, mãe da minha Igreja! Todas as famílias da terra serão em ti abençoadas. Todas as gerações te hão de chamar bem-aventurada!

Por isso, como os israelitas nos momentos de grande provação se dirigiam a Deus dizendo: "Lembra-te de Abraão, nosso pai", nós podemos dizer: "Lembra-te de Maria, nossa mãe!". E como eles diziam a Deus: Não nos retireis vossa misericórdia, em atenção a Abraão, vosso amigo (Dn 3,35), nós podemos dizer-lhe: Não nos retireis vossa misericórdia, em, atenção a Maria, vossa amiga.

No Calvário, Maria uniu-se ao Filho na adoração da santa vontade do Pai. Nisso ela realizou até a perfeição sua vocação de "tipo da Igreja". Ela agora está ali, esperando-nos. Disseram de Cristo que ele "está em agonia até o fim do mundo e não devemos deixá-lo sozinho”. E se Cristo está em agonia e na cruz até o fim do mundo, de maneira para nós incompreensível mas verdadeira, onde pode estar Maria senão com ele, "junto da cruz"? Ali ela convida e marca encontro com as almas generosas, para que se unam com ela na adoração da santa vontade do Pai. Adorar esta vontade, mesmo sem entendê-la. Não pode ser deixada sozinha. Maria sabe que esta é a coisa absolutamente maior, mais bela, mais digna de Deus que possamos fazer na vida, pelo menos uma vez antes de morrer. Algo que não nos desobriga nem nos afasta da procura de alívio para os sofrimentos concretos dos que sofrem ao nosso redor e no mundo inteiro; pelo contrário, torna-nos até mais atentos a isso, porque unidos ao coração de Deus. Exatamente porque é "mãe das dores", Maria é também "consoladora dos aflitos".

Está escrito que quando Judite voltou, depois de ter arriscado a vida pelo seu povo, os habitantes da cidade correram ao seu encontro e o sumo sacerdote abençoou-a dizendo: “Tu és bendita do Senhor; Deus Altíssimo, minha filha, entre todas as mulheres da terra... jamais os homens cessarão de celebrar o teu louvor” (Jt 13,18s). Nós dirigimos a Maria as mesmas palavras: Bendita és tu entre as mulheres! A coragem que tiveste jamais desaparecerá do coração e da lembrança da Igreja!

Vamos agora resumir toda a participação de Maria no Mistério Pascal aplicando a ela, com as devidas diferenças, as palavras com as quais São Paulo resumiu o Mistério Pascal de Cristo:

Maria, que era a Mãe de Deus, não reivindicou o privilégio da sua proximidade com Deus; mas despojou-se a si mesma tomando a condição de serva, tornando-se semelhante a qualquer outra mulher. Viveu na humildade e no escondimento, obedecendo a Deus, até a morte do Filho, morte na cruz. Por isso é que Deus a exaltou e Ihe deu um nome que, depois daquele de Jesus, está acima de todo o nome, para que ao nome de Maria todas as cabeças se inclinem, nos céus, na terra e nos infernos, e toda língua confesse que Maria é Mãe do Senhor, para glória de Deus Pai. Amém'

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Extraído de: Cantalamessa, Raniero. Maria, um espelho para a Igreja. Aparecida, SP: Santuário, 1992, pp. 124-126.

AMAR A IGREJA CATÓLICA DE CRISTO.


“A Igreja! Ela é nosso amor constante, nossa solicitude primordial, nosso pensamento fixo! Não se ama a Cristo se não ama a Igreja: e não amamos a Igreja se não a amamos como a amou o Senhor: “Amou a Igreja e por ela se entregou” (Ef 5, 25)”.

Papa Paulo VI

Em sua carta encíclica Mystici Corporis, o Papa Pio XII (1939-1958), traz ensinamentos riquíssimos sobre a condição de Corpo Místico de Cristo, concedida somente à Igreja Católica. Pio XII não somente fala sobre esse assunto, como também exorta todos os fiéis a amarem a Igreja com ainda mais ardor.

Publicada na Festa de São Pedro e São Paulo do ano de 1943, a encíclica Mystici Coroporis, direcionada especialmente aos bispos da Igreja, se faz atual devido aos seus salutares ensinamentos a respeito da doutrina do “Corpo Místico de Cristo”. A carta ajuda a compreender por que a Igreja é chamada dessa maneira e como essa comunhão com Cristo-Cabeça se dá. “A doutrina do Corpo Místico de Cristo, que é a Igreja (cf. Cl 1,24), recebida dos lábios do próprio Redentor (…) é de sua natureza tão grandiosa e sublime que convida à contemplação todos aqueles a quem move o Espírito de Deus”, afirma Pio XII logo no início da encíclica. A seguir, ele recorda que assim como Cristo, a Cabeça da Igreja, sofreu perseguições, seu Corpo Místico continuará a sofrer na caminhada terrestre: “Propomo-nos, pois, falar das riquezas entesouradas no seio da Igreja que Cristo adquiriu com seu sangue (At 20,28) e cujos membros se gloriam de uma Cabeça coroada de espinhos. Isto mesmo já é prova evidente de que a verdadeira glória e grandeza não nascem senão da dor; por isso nós quando compartilhamos dos sofrimentos de Cristo, devemos alegrar-nos, para que também na renovação da sua glória jubilemos e exultemos (cf. 1Pd 4,13). E para começar, note-se que assim como o Redentor do gênero humano foi perseguido, caluniado, atormentado por aqueles mesmos que vinha salvar, assim a sociedade por ele fundada também neste ponto se parece com o divino Fundador”.

Por fim, em um belíssimo parágrafo, aconselha aos bispos a exortarem os fiéis a amarem a Igreja, reconhecendo nela a imensa misericórdia e grandeza de Deus: “Agora julgamos conforme ao nosso múnus pastoral excitar os corações a amar o Corpo Místico, com ardente caridade, que não se fique em pensamentos e palavras, mas se traduza em obras. Se os fiéis da antiga lei cantaram da cidade terrena: ‘Se eu me esquecer de ti, ó Jerusalém, paralise-se a minha mão direita; fique presa a minha língua ao meu paladar, se eu não lembrar de ti, se não tiver Jerusalém como a primeira das minhas alegrias’ (Sl 136,5-6); com quanto maior ufania e júbilo não devemos nos regozijar por habitarmos a cidade edificada sobre o monte santo, com pedras vivas e escolhidas, ‘tendo por pedra angular Cristo Jesus’ (Ef 2,20; 1Pd 2,45). Realmente não há coisa mais gloriosa, mais honrosa, mais nobre, que fazer parte da Igreja santa, católica, apostólica, romana, na qual nos tornamos membros de tão venerando corpo; nos governa uma tão excelsa cabeça; nos inunda o mesmo Espírito divino; a mesma doutrina, enfim, e o mesmo Pão dos Anjos nos alimenta neste exílio terreno, até que, finalmente, vamos gozar na céu da mesma bem-aventurança sempiterna”.

O AMOR DOS SANTOS PELA IGREJA

Santo Inácio de Antioquia (50ca-110/115), um dos primeiros escritores da Igreja, mártir na Coliseu de Roma, dizia: “Onde está o Cristo Jesus está a Igreja Católica”.

O mesmo repetia o bispo e mártir Santo Irineu de Lyon (ca 115/50 – 202/3): “Onde está a Igreja está o Espírito de Deus, ai estão a Igreja e os tesouros de todas as graças, porque o Espírito Santo é a verdade”.

“É realmente verdadeira e firme a pregação da Igreja, onde a única via de salvação em todo o mundo. Com efeito, à Igreja foi confiada a luz de Deus, e, portanto a “sabedoria” de Deus, pela qual Ele salva os homens… Por toda a parte a Igreja anuncia a verdade: ela é o candelabro de sete luzes (Ap 2.1) que transporta a luz de Cristo… convém refugiar-se na Igreja e ser educando em seu grêmio, nutrindo com as santas Escrituras do Senhor. Pois a Igreja está plantada neste mundo como o Paraíso.” (Contra as Heresias. Liv. V. cap. 20).

“Quem se aparta da Igreja e se junta a uma adúltera, separa-se das promessas da Igreja. Quem deixa a Igreja de Cristo não alcançará os prêmios de Cristo. É um estranho, um profano, um inimigo. Não pode ter Deus por Pai quem não tem a Igreja por mãe. Se alguém se pôde salvar dos que ficaram fora da arca de Noé, também se salvará os que estiverem fora da Igreja?” Escreve o bispo e mártir São Cipriano de Cartago (210-258).

Para Santo Agostinho (354-430), bispo e Doutor da Igreja: “Era cheio do Espírito Santo aquele que fosse cheio de amor à Igreja: “Onde está a Igreja aí está o Espírito de Deus”. Na medida em que alguém ama a Igreja é que possui o Espírito Santo”. E completava: “Fazei-vos Corpo de Cristo se quereis viver do Espírito de Cristo. Somente o Corpo de Cristo vive de Seu Espírito”.

O Doutor Angélico, Santo Tomás de Aquino (1225-1274), afirmou: “O bem de Cristo é comunicado através dos sacramentos da Igreja”.

A grande mística e Doutora da Igreja Santa Catarina de Sena (1347-1380), disse de modo espetacular: “Tenho certeza de que quando eu morrer, a única causa de minha morte será meu amor pela Igreja”.

Uma dos maiores expressões e mais bela e magistral afirmação de amor a Santa Madre Igreja é a da Padroeira das Missões e Doutora da Igreja Santa Teresinha do Menino Jesus (1873-1897): “Encontrei, enfim, minha vocação; minha vocação é o Amor!… Sim, encontrei meu lugar, oh meu Deus, fostes vós que me destes… No Coração da Igreja, minha mãe, serei Amor… Assim serei tudo… Assim será realizado o meu sonho!!! O menor movimento de puro Amor é mais útil à Igreja do que todos as outras obras juntas…”

As expressões abissais de amor dos santos à Santa Igreja de Deus, são para nós uma chamada ardente de entrega radical na caridade ao Corpo de Cristo. Amar a Igreja é a forma nítida de ser verdadeiros cristãos…

CONCLUSÃO

O Novo Testamento apresenta muitas imagens para descrever a Igreja: o templo de Deus (1 Co 3,16), o Corpo de Cristo (1 Cor 12,27), a família de Deus (Ef 2,19), a habitação de Deus em Espírito (Ef 2,22), a coluna e baluarte da verdade (1 Tm 3,15) e a Esposa de Cristo (Ef 5,25-32; Ap 19, 7-9).

Colossal é o mistério da Santa Igreja de Cristo. Há dois mil anos ela brilha mais do que o Sol é a sua brancura jamais é manchada pelas nódoas de alguns filhos atropelados pelo pecado.

Para Igreja não existe o tempo noctâmbulo e sim o Kairós do Cordeiro Imaculado (Ap. 22,5). Realmente, é grande a transcendência do Corpo Místico de Cristo! Compreender um pouco de tudo isso, só em estado de êxtase abissal. No entanto, cabe a cada cristão buscar com fervor a compreensão e a sabedoria da Igreja de Deus pelas três Colunas de Ouros desse grande edifício: A Sagrada Tradição, a Sagrada Escritura e o Sagrado Magistério.

A nossa brilhante missão é conhecer, amar, defender e morrer por amor pela Santa Igreja Católica: Corpo Místico de Cristo.

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por Pe. Inácio José do Vale, Professor de História da Igreja - Faculdade de Teologia de Volta Redonda

Comunidade shalom

A ORAÇÃO DE JESUS.


São Marcos registrou no seu Evangelho que Jesus, após realizar muitos prodígios, “levantando-se muito de madrugada, saiu e foi para um lugar deserto, onde se pôs a rezar” (Mc 1,35). Enquanto homem, o divino Redentor tinha uma vida intensa de tertúlia com o Pai para dar glória a Deus, impetrar a sua graça e oferecer um exemplo para seus seguidores. Ele orou no batismo; antes de escolher os doze apóstolos; no Getsêmani; na cruz. Os instantes cruciais de sua vida Ele os expõe numa prece pessoal e solitária com Aquele que o enviara a este mundo. Isto mostra que Ele tinha plena consciência de que estava unido à Trindade.

É esta comunhão que aflora à sua mente e se traduz num admirável colóquio. Ele que afirmou aos Apóstolos ser seu alimento fazer a vontade do Pai (Jo 4,34), encontrava na oração a manifestação de sua adesão ao plano divino. Tinha então uma total imersão no valor e na nitidez de sua missão. Era um instante em que podia dar vazão à sua nostalgia da eternidade e daí procurar Ele instantes de solidão. Ele tem consciência de sua filiação divina, mistério único, original, irrepetível e, por isso, retira-se para orar sozinho. Sente um isolamento que somente o Pai pode compensar, uma riqueza que somente pode ser entendida por Aquele de onde viera. Admirável a religiosidade Jesus enquanto homem! O momento de sua oração era o instante da transparência de sua alma perante o Ser Supremo.

Penetrando no significado da atitude de Jesus em oração se percebe a sua espiritualidade, ou seja, sua relação com Deus e o modo como Ele encara sua própria existência terrena. Ele viera unicamente para dizer as palavras do Pai e, daí, sua união com Ele. Jesus mostra como o objeto principal da oração é a busca do Absoluto. Deus é bondade e amor que deve ser desejado, pois nele se encontra a verdadeira felicidade. Eis por que a alma tende a abandonar-se cada vez mais à divina providência, quanto mais penetra a arte de rezar. Depara-se então com o mistério trinitário que é o vértice da autêntica união com o Criador. Este se apresenta como paz e repouso em oposição à agitação e à inquietude, pois tal cristão se imerge no silêncio da Trindade. Donde a imperturbabilidade, a serenidade, um abandono indefectível ao Deus eterno e infinitamente feliz. Aí esta a razão pela qual os grandes santos tinham o sentido da eternidade como plenitude de vida e de amor, se afastando progressivamente da caducidade do mundo em devir, sujeito a transformações contínuas.

O exemplo de Jesus que procurava um lugar solitário para rezar é importante também por chamar a atenção para a importância da concentração no momento da prece. Bem diz o ditado que não é o lugar que faz a pessoa, mas a pessoa que faz o lugar. Isto vale para quem quer fazer uma boa oração, dado que cada um pode, de fato, criar o ambiente propício para estar em comunicação com Deus. Tudo depende da fé viva e pessoal. Uma prece que une a oração vocal e mental reativa a luz interior, tornando cada vez mais vivos os mistérios particulares da salvação.

Trata-se de personalizar a fé. Isto significa que pela fé se acolhe a revelação como princípio e fundamento de vida e isto gera fidelidade e dileção a Deus. Em seguida, por tudo isto, se forma a consciência cristã que é o modo como todos os pensamentos e juízos se envolvem naquilo no que se acredita. Trata-se de um modo de ser impregnado pelos mistérios divinos. Daí uma sensibilidade espiritual que adere espontaneamente ao sobrenatural e leva a uma aversão ao que desagrada a Deus. Donde se tornar a oração um tônico espiritual, mesmo porque, absorto em Deus, o cristão não se deixa levar pelas distrações.

Iluminada a consciência, na alheta de Jesus, seu seguidor não só degusta a prece influenciado pela dom da sabedoria, como vai se purificando cada vez mais pelo contacto íntimo com a divindade. Se os grandes místicos atingem tais páramos no mais alto grau, todo aquele que crê pode e deve procurar depurar seu modo de orar, encontrando na prece um meio excelente de purificação interior. É que aborrecendo tudo que desgosta a Deus, o cristão depara uma notável harmonia interior e a vontade unida a seu Criador induz o ser do batizado a se submeter a uma sábia renúncia à luz de um grande amor a seu Senhor. Desta maneira, todas as motivações inconscientes que perturbam, todos os preconceitos frutos de inibições enraizadas no passado, são vencidos. Surge uma nova visão do mundo e a esperança passa a dominar a existência de quem foi batizado sob a certeza desta realidade: Deus que é amor me amou desde toda a eternidade. Diante destas reflexões se pode bem compreender como Jesus, enquanto homem, manifestou sempre o mais completo equilíbrio, sobretudo quando de sua paixão e morte. Ele sabia rezar!

Con. José Geraldo Vidigal de Carvalho


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por
Arquidiocese de Mariana/MG
Comunidade shalom

RAÍZES DA INTOLERÂNCIA.


A liberdade religiosa é caminho para a paz – afirma o Papa Bento XVI. Ele lembra, em recente mensagem, que o ano de 2010 foi marcado por perseguição, discriminação e terríveis atos de violência e intolerância religiosa. Uma dimensão importante da solidariedade para com quem é vítima dessas situações é o conhecimento e a reflexão em torno das raízes geradoras desse mal. Sobretudo se considerarmos que estamos no terceiro milênio, tempo de avanços e consolidadas conquistas no âmbito do respeito à liberdade e à autonomia de indivíduos, culturas e povos. É inadmissível imaginar que o ato de professar e exprimir livremente a religião, seja ela qual for, torne-se risco de vida e cerceamento da liberdade.

Em algumas regiões do mundo essas perseguições são explícitas, vergonhosas, revelam alto grau de irracionalidade. As argumentações são pouco lúcidas e eivadas de ideologias, que encurtam o horizonte indispensável da transcendência, para que toda pessoa encontre a razão mais profunda e o sentido mais nobre do viver em sociedade e na condução do próprio destino. Há também as formas silenciosas e sofisticadas de preconceito e oposição contra os que creem e seus símbolos religiosos. É importante projetar luzes sobre essa situação. Isso para não correr o risco de escondê-la sob o véu de uma religiosidade que está há séculos presente nessa ou naquela cultura, dando sustento importante aos seus avanços e conhecimentos. Mas, tratada inadequadamente por razões preconceituosas e ideologias que descartam o valor da transcendência - coração de toda experiência religiosa autêntica. É sempre oportuno, nesse contexto, ter presente que os cristãos têm sido os mais perseguidos na profissão de sua fé. Esse fato aumenta a responsabilidade dos cristãos em todos os cantos da terra. Devem esmerar no testemunho e na vivência eclesial para evitar consequências nefastas, ou mesmo o terrível abandono da fé cristã. Tal abandono, cedo ou tarde, trará prejuízos irreparáveis para vidas e culturas. Essa conclusão é inquestionável ao se avaliar os enormes benefícios e valores que a fé cristã oferece, estruturando o tecido de culturas e povos em torno do verdadeiro sentido da vida.

Portanto, é determinante o esforço de homens e mulheres de boa vontade na construção de um mundo onde todos sejam livres para professar a própria religião ou a fé, e viver, como afirma o Papa, o seu amor a Deus com toda a força do coração, da alma e da mente. Nesse horizonte, é preciso considerar as incontáveis raízes causadoras das intolerâncias, especialmente a religiosa, que gera relativismos e permite posturas pouco honestas diante da opinião pública, em razão de interesses de poder ou de aceitação diante da sociedade. Os relativismos, assim como os fundamentalismos religiosos, são forças que geram intolerâncias. A Filosofia mostra, pensando um ponto simples e significativo no comprometimento da tolerância, que persistir na própria opinião, a despeito das razões contra ela, é uma manifestação de dureza, de rigidez que contribui para o nascimento de intolerâncias. A inflexibilidade compromete o tecido social, inviabiliza a convivência e contribui para o aumento das violências. Ora, a tolerância é fundamental no âmbito religioso, bem como na esfera governamental e no convívio social e familiar. O tema da tolerância vem sendo discutido, de modo aprofundado, desde os séculos 16 e 17, em razão das pungentes guerras religiosas de então. Também no século 18 foram acaloradas essas discussões. Vê-se com isso, que a temática da tolerância, na força de sua abordagem filosófica, tem atravessado os séculos. Também no terceiro milênio, é tema fundamental, quando está patente a exigência de não tolerar o erro. É preciso exercitar o diálogo, no sentido de respeitar incondicionalmente a afirmação da vida em todas as suas etapas e circunstâncias.

A intolerância religiosa é um comprometimento não simplesmente da liberdade no lugar, no espaço, ou nas circunstâncias da prática ritual. Na verdade, é o grave comprometimento da liberdade moral. O Papa afirma que a liberdade religiosa está na origem da liberdade moral. A abertura a Deus é abertura à verdade e ao bem. Cercear ou perseguir, com violências e relativismos, a abertura a Deus, é comprometer a fonte da própria moralidade - indispensável para o equilíbrio da sociedade e manutenção da cidadania no horizonte da honestidade e do respeito ao outro. A prática religiosa, portanto, com seu acervo de valores e dinâmicas, que exercitam a dignidade transcendente da pessoa - valor essencial na sabedoria judaico-cristã - tem contribuições absolutamente necessárias na tarefa de construir uma sociedade orientada para a realização e a plenitude do homem. É um remédio contra as raízes da intolerância.

Por: Dom Walmor Oliveira de Azevedo

Fonte: CNBB

LITURGIA DIÁRIA - A CURA DE UM POSSESSO.


Primeira leitura (Hebreus 11,32-40)
Segunda-Feira, 31 de Janeiro de 2011
São João Bosco

Leitura da Carta aos Hebreus.
Irmãos, 32que mais devo dizer? Não teria tempo de falar mais sobre Gedeão, Barac, Sansão, Jefté, Davi, Samuel e os profetas. 33Estes, pela fé, conquistaram reinos, praticaram a justiça, foram contemplados com promessas, amordaçaram a boca dos leões, 34extinguiram o poder do fogo, escaparam do fio da espada, recobraram saúde na doença, mostraram-se valentes na guerra, repeliram os exércitos estrangeiros. 35Mulheres reencontraram os seus mortos pela ressurreição. Outros foram esquartejados, ou recusaram o resgate, para chegar a uma ressurreição melhor. 36Outros ainda sofreram a provação dos escárnios, experimentaram o açoite, as correntes, as prisões. 37Foram apedrejados, foram serrados, ou morreram a golpes de espada. Levaram vida errante, vestidos com pele de carneiro ou pêlos de cabra; oprimidos e atribulados, sofreram privações. 38Eles, de quem o mundo não era digno, erravam pelos desertos e pelas montanhas, pelas grutas e cavernas da terra. 39E, no entanto, todos eles, se bem que pela fé tenham recebido um bom testemunho, apesar disso não obtiveram a realização da promessa. 40Pois Deus estava prevendo, para nós, algo melhor. Por isso não convinha que eles chegassem à plena realização sem nós.

- Palavra do Senhor.
- Graças a Deus.

Salmo (Salmos 30)

— Fortalecei os corações, vós que ao Senhor vos confiais!
— Fortalecei os corações, vós que ao Senhor vos confiais!
— Como é grande, ó Senhor, vossa bondade, que reservastes para aqueles que vos temem! Para aqueles que em vós se refugiam, mostrando, assim, o vosso amor perante os homens.
— Na proteção de vossa face os defendeis bem longe das intrigas dos mortais. No interior de vossa tenda os escondeis, protegendo-os contra as línguas maldizentes.
— Seja bendito o Senhor Deus, que me mostrou seu grande amor numa cidade protegida! Eu que dizia quando estava perturbado: “Fui expulso da presença do Senhor!” Vejo agora que ouvistes minha súplica, quando a vós eu elevei o meu clamor.
— Amai o Senhor Deus, seus santos todos, ele guarda com carinho seus fiéis, mas pune os orgulhosos com rigor.

Evangelho (Marcos 5,1-20)

Naquele tempo, 1Jesus e seus discípulos chegaram à outra margem do mar, na região dos gerasenos. 2Logo que saiu da barca, um homem possuído por um espírito impuro, saindo de um cemitério, foi a seu encontro. 3Esse homem morava no meio dos túmulos e ninguém conseguia amarrá-lo, nem mesmo com correntes. 4Muitas vezes tinha sido amarrado com algemas e correntes, mas ele arrebentava as correntes e quebrava as algemas. E ninguém era capaz de dominá-lo. 5Dia e noite ele vagava entre os túmulos e pelos montes, gritando e ferindo-se com pedras. 6Vendo Jesus de longe, o endemoninhado correu, caiu de joelhos diante dele 7e gritou bem alto: “Que tens a ver comigo, Jesus, Filho do Deus altíssimo? Eu te conjuro por Deus, não me atormentes!” 8Com efeito, Jesus lhe dizia: “Espírito impuro, sai desse homem!” 9Então Jesus perguntou: “Qual é o teu nome?” O homem respondeu: “Meu nome é ‘Legião’, porque somos muitos”. 10E pedia com insistência para que Jesus não o expulsasse da região. 11Havia aí perto uma grande manada de porcos, pastando na montanha. 12O espírito impuro suplicou, então: “Manda-nos para os porcos, para que entremos neles”. 13Jesus permitiu. Os espíritos impuros saíram do homem e entraram nos porcos. E toda a manada — mais ou menos uns dois mil porcos — atirou-se monte abaixo para dentro do mar, onde se afogou. 14Os homens que guardavam os porcos saíram correndo e espalharam a notícia na cidade e nos campos. E as pessoas foram ver o que havia acontecido. 15Elas foram até Jesus e viram o endemoninhado sentado, vestido e no seu perfeito juízo, aquele mesmo que antes estava possuído por Legião. E ficaram com medo. 16Os que tinham presenciado o fato explicaram-lhes o que havia acontecido com o endemoninhado e com os porcos. 17Então começaram a pedir que Jesus fosse embora da região deles. 18Enquanto Jesus entrava de novo na barca, o homem que tinha sido endemoninhado pediu-lhe que o deixasse ficar com ele. 19Jesus, porém, não permitiu. Entretanto, lhe disse: “Vai para casa, para junto dos teus e anuncia-lhes tudo o que o Senhor, em sua misericórdia, fez por ti”. 20E o homem foi embora e começou a pregar na Decápole tudo o que Jesus tinha feito por ele. E todos ficavam admirados.

- Palavra da Salvação. - Glória a vós, Senhor.

Fonte:CN

HOMILIA

Jesus veio ao mundo para salvar o homem do pecado e da morte eterna. No entanto, o homem muitas vezes continua refém e escravo das artimanhas do espírito do mal. Assim como aquele endemoninhado que vivia no “meio dos túmulos” muitos de nós ainda nos deixamos escravizar e insistimos em viver a cultura da morte. Não reconhecemos a Deus como nosso Pai e provedor persistimos em lutar com armas que, ao invés de nos libertar são como algemas e correntes que nos prendem à mesma situação durante muito tempo da nossa vida. Porém, o Pai não quer que se perca nenhum filho Seu, por isso, ainda hoje Jesus Cristo vem a nós a fim de nos libertar dos “espíritos maus” que nos perseguem. Jesus expulsou para longe os carcereiros que atormentavam aquele homem da região dos gerasenos e recomendou-lhe que fosse para casa, para junto dos seus. Assim também Ele quer fazer conosco. Somos curados e libertados para amar e cultivar relacionamentos saudáveis a partir da nossa casa, na nossa família. Ele nos tira do meio dos sepulcros e nos conduz a uma vida de paz e harmonia conosco e com o próximo, bastando para isso que nos rendamos ao Seu poder amoroso.

Os mortos que hoje nos cercam são o orgulho, a auto-suficiência, o egoísmo, amor próprio e outros males que nos afligem como o medo, o desânimo, os ressentimentos, as mágoas, etc., todos conseqüência do nosso ser pecador. Porém, o Pai não quer que se perca nenhum filho Seu, por isso, ainda hoje Jesus Cristo vem a nós a fim de nos libertar dos “espíritos maus” que nos perseguem e nos perdoa, nos purifica e nos ressuscita para nos tirar do sepulcro jogando para longe de nós os espíritos que nos prendiam. Depois que somos curados e libertados Jesus nos envia para amar e cultivar relacionamentos saudáveis a partir da nossa casa, na nossa família. Ele nos tira do meio dos sepulcros e nos conduz a uma vida de paz e harmonia conosco e com o próximo, bastando para isso que nos rendamos ao Seu poder amoroso.

Deixemo-nos transformar pela palavra libertadora de Cristo, que o nosso coração seja tocado por sua prática do amor misericordioso e acolhedor, expulsando qualquer espírito opressor, egoísta, que nos impede de nos apaixonarmos por Jesus, e mudarmos de vida, acolhendo em nosso coração a fonte de amor renovadora em nossas vidas. Essa é a liberdade que devemos buscar.

Você ainda continua lutando com as armas que o mundo lhe impõe ou já se rendeu ao poder do Deus que liberta o homem do pecado? – Quais são os “espíritos maus” que insistem em prender você no meio dos sepulcros? – Você ainda se vê caminhando entre os mortos ou já se sente capaz de amar na sua própria casa? Pense nisso!

Pe Bantu - Com CN

domingo, 30 de janeiro de 2011

SE DEUS TEM UM NOME,O NOME D`ELE É "DEFENSOR DOS POBRES"


IV DOMINGO DO TEMPO COMUM


Leituras: Sf 2, 3; 3, 12-13; 1 Cor 1, 26-31; Mt 5, 1-12a

Não se trata de qualquer pauperismo, não se trata de uma postura para limpar a consciência, não.

Trata-se do próprio Nome de Deus.

Não é um acaso da história o fato que Deus se manifeste na carne pobre de um menino, gerado por uma pessoa esquecida por todos (Maria), acolhido por pessoas consideradas as últimas da sociedade (os pastores); o próprio lugar onde ele nasce é um lugar para animais, Ele “o homem” por excelência.

Não é um acaso também, que ele acabe a sua vida humana como um malfeitor, considerado injustamente assim, pobreza suprema para Ele, o dispensador de todo Bem. Uma vida entre duas pobrezas, física/pessoal e moral.

Mateus, tão atento à história, destaca claramente esta situação e faz coincidir o início da pregação de Jesus com a proclamação da primeira bem aventurança: “Bem aventurados os pobres em espírito, porque deles é o reino dos céus” (Mt 5,3).

Quem é o primeiro cidadão de reino dos céus senão o “pobre” Jesus?

E o Mestre convida para esta cidadania os seus ouvintes, isto é, a todos, não somente os discípulos.

Os destinatários deste “discurso” são as multidões, vindas de todos os lugares, da Galileia, do outro lado do Jordão, da Decápoli, de Jerusalém.

A mensagem de Jesus não tem fronteiras. Jesus sobe a montanha, lugar onde simbolicamente mora Deus. Este lugar recorda o Sinai, onde foi selada a Aliança entre Deus e o seu povo.

Neste sentido as palavras que Jesus pronuncia aqui, neste lugar, têm o sabor de uma nova Lei promulgada por um novo legislador, o próprio Jesus.

Mas se no deserto o povo não podia aproximar-se de Deus, do contrário ele morreria, hoje ele não só pode, mas, estando “com” Deus ele alcança a vida.

Uma vida de felicidade, que é aquela proposta pelas “bem aventuranças”. Uma vida que alcança não um prêmio qualquer, mas a própria posse do Reino dos Céus.

Nas bem aventuranças Deus não somente comunica uma mensagem de consolação, não somente cumpre uma revelação sobre os homens que o seguem.

Muito mais, ele partilha com eles o Reino do qual ele mesmo é rei. Podemos afirmar que ele associa os homens à posse deste mesmo reino.

Jesus constata a situação do povo, de pobreza, humilhação, submissão; percebe o esforço que o povo faz para mudar a situação, e o proclama feliz nesta busca, porque esta busca mora no próprio coração de Deus.

Assim explica-se como a oitava bem aventurança consegue o mesmo resultado da primeira: “bem aventurados os que são perseguidos por causa da justiça, porque deles é o reino dos céus” (Mt 5,10).

Estas duas bem aventuranças são as únicas que têm a promessa no presente: de fato, mais que uma promessa, trata-se de uma constatação.

Quem é pobre e quem é perseguido, porque busca a justiça, já mora no Reino, como Jesus, o pobre e o justo por excelência, e que já mora no Reino.

O que significa a expressão “pobres em espírito”? Fala-se dos “humildes”, independentemente da situação social? Ou dos anawim do Antigo Testamento, isto é, dos que confiam em Deus como última possibilidade, porque estão sem justiça por parte da sociedade?

São eles também, mas não somente. São aqueles que no profundo do coração de si mesmos (“em espírito”) escolheram a pobreza: não por causa de um amor insano pela miséria, não por um ato de masoquismo social ou pessoal, não por causa de uma ascese tão heróica quanto inútil.

Escolheram a pobreza com atitude “profética”: estes pobres anunciam o sonho de Deus para os homens, uma nova sociedade baseada na justiça e na solidariedade. Os pobres sabem partilhar, sabem administrar o tudo de cada um, bem como o tudo de todos.

Esta é a nova sociedade amada por Deus porque, mais uma vez, realiza aquilo que Deus realizou pelos homens: o seu tudo tornou-se o tudo de todos, numa oblação sem fim.

Eis porque são perseguidos: a presença silenciosa deles é insuportável por uma sociedade baseada num modelo totalmente contrário. Esta sociedade não suporta este modelo e quer eliminá-lo.

Isso acontecia já nos tempos de Jesus; hoje aquela intuição se torna ainda mais profética, ainda mais atual, parece pronunciada para o nosso mundo contemporâneo. Dá para ver como aquela pobreza de que Jesus fala é só parcialmente uma pobreza material. Trata-se de uma pobreza como escolha existencial, de uma postura existencial de simplicidade, de solidariedade, de partilha.

Uma postura de unificação interior sobre o que é verdadeiramente essencial.

Se o Reino é algo que está já presente nos pobres e naqueles que lutam por causa da justiça, ao mesmo tempo, ele está em construção.

As bem aventuranças que se concluem com uma promessa futura nos falam de um Reino que já aqui neste mundo vai se construindo.

Os aflitos não podem se resignar a um sofrimento perene: no reino há uma consolação que vai se construindo através da ação daqueles que sabem detectar os sofrimentos dos homens e se fazem próximos.

Sabem que ninguém no Reino pode ficar sozinho, todos têm um irmão, sobretudo todos têm um Pai. Fazer presente o Pai aos homens aflitos é a capacidade de imaginar e construir vínculos de afeto, amor, presença, para todos aqueles que ficam abalados pelos seus sofrimentos.

A terra (entendida como “situação de vida dos homens”) tem de mudar de propriedade: não estará mais na posse dos violentos, daqueles que imaginam e atuam a possibilidade de estar bem “contra” os outros; a terra é para aqueles que nunca enfrentam o outro com violência, nem para se defender. É para os mansos, como Jesus que acolhe todos os cansados e oprimidos por este mundo violento e neurótico, ele, o puro de coração e o manso. Ele que responde àqueles de mãos fechadas com a mão aberta da mansidão.

A sede de justiça será saciada, não somente porque as relações injustas serão quebradas, mas porque o próprio Deus em Cristo “justificará”, fará de todos homens “justos”, restabelecerá os homens naquela imagem com que Deus os criou, isto é a própria imagem d’Ele. Fazer os homens “justos” será fazer os homens “deuses”, porque Deus é o Justo. Quem conseguirá ser misericordioso, ter um coração semelhante ao coração de Deus, se colocará no mesmo nível de Deus e alcançará por si mesmo o que conseguirá doar.

É a Lei de ouro: fazer aos outros aquilo que queremos seja feito para nós. Lei esta que chega até nós do Antigo Testamento, mas num nível mais profundo, pois não se limita a fazer ações de bondade, mas chega a participar do mesmo coração de Deus, o Misericordioso. Só uma vida totalmente desapegada pode alcançar este dom de Deus, só aquele que tem o olhar totalmente aberto ao outro e ao Outro pode perceber a importância desta bem aventurança que Jesus viveu e anunciou com palavras e com a própria vida, com insistência: misericórdia, para com todos, para sempre.

Esta participação à própria vida de Deus chega a um ponto profundo e máximo na bem aventurança seguinte: os puros de coração verão a Deus. Aquilo que era impossível no Antigo Testamento, aquilo que levava à morte, ver a Deus, se torna possível para os puros de coração, para aqueles que têm um coração unificado, não dividido, concentrado na profundeza e no centro de si mesmo onde mora Deus. É o que Jesus pede para Marta, ter um coração unificado, que não julga, e que sobretudo concentra todas as suas forças na identificação e no serviço do Mestre.

Em verdade, à luz da mensagem evangélica toda, acontece algo de extraordinário: por meio do Cristo Homem/Deus, o homem numa certa maneira não somente fica semelhante, mas participa, segundo a sua ordem na criação, da própria natureza de Deus. Assim, para ele, não somente é possível ver a Deus, mas também ver com os olhos de Deus, experimentar em si o próprio olhar de Deus. Este é o verdadeiro sentido da expressão ´filhos de Deus` que é a promessa da bem aventurança daqueles que buscam a paz: que não se torna somente uma ausência de conflitos, mas muito mais uma definição do próprio discípulo de Jesus. Ele é aquele que busca a paz como aquele acordo fundamental entre o céu e a terra, entre os homens, e dentro do homem em si mesmo.

As duas bem aventuranças dos puros de coração e promotores da paz são deste modo duas faces da mesma realidade profunda, a unificação profunda do homem: num sentido existencial os primeiros, no sentido ético os segundos. Estes homens que vivem nas bem aventuranças são aqueles dos quais o profeta Sofonias proclama ser o resto de Israel que “no nome do Senhor porá sua esperança” (Sf 3,12).

Quem pode participar deste povo, deste resto, será aquele que não é sábio da sabedoria humana, nem poderoso, nem nobre, como nos fala 1 Cor 1, 26-31. Os critérios hermenêuticos para vislumbrar a nova humanidade confundem – diz Paulo aos Coríntios – os costumes e as culturas do mundo, que gloria-se somente em si mesmo. Paulo nos apresentará a estrada mestra para reinterpretar a vida em Deus que, ao final, permanece a única e verdadeira maneira de se tornar verdadeiros homens e permanecer nisso.


com minha benção
Pe.Emilio Carlos+

(ZENIT.org) – Apresentamos o comentário à liturgia do próximo domingo – IV do Tempo Comum Sf 2, 3; 3, 12-13; 1 Cor 1, 26-31; Mt 5, 1-12a – redigido por Dom Emanuele Bargellini, Prior do Mosteiro da Transfiguração (Mogi das Cruzes - São Paulo). Doutor em liturgia pelo Pontificio Ateneo Santo Anselmo (Roma), Dom Emanuele, monge beneditino camaldolense, assina os comentários à liturgia dominical, sempre às quintas-feiras, na edição em língua portuguesa da Agência ZENIT.

LITURGIA DIÁRIA - O SERMÃO DA MONTANHA.


Primeira Leitura: Sofonias 2, 3; 3, 12-13

IV SEMANA DO TEMPO COMUM
(cor verde - ofício do dia )

Leitura da Profecia de Sofonias - Naqueles dias, 3Buscai o Senhor, vós todos, humildes da terra, que observais a sua lei; buscai a justiça e a humildade: talvez assim estareis ao abrigo no dia da cólera do Senhor. 12Deixarei subsistir no meio de ti um povo humilde e modesto, que porá sua confiança no nome do Senhor. 13Os que restarem de Israel se absterão do mal, e não proferirão a mentira; não se achará mais em sua boca língua enganosa, porque serão apascentados e repousarão, sem haver quem os inquiete. - Palavra do Senhor.

Salmo Responsorial(145)

REFRÃO: Felizes os pobres em espírito, porque deles é o Reino dos Céus.

1. O Senhor é fiel para sempre que faz justiça aos oprimidos, e dá pão aos que têm fome. O Senhor livra os cativos; - R.

2. o Senhor abre os olhos aos cegos; o Senhor ergue os abatidos; o Senhor ama os justos. O Senhor protege os peregrinos, ampara o órfão e a viúva; mas entrava os desígnios dos pecadores. - R.

3. O Senhor protege os peregrinos, ampara o órfão e a viúva; mas entrava os desígnios dos pecadores. O Senhor reinará eternamente; ó Sião, teu Deus é rei por toda a eternidade. - R.

Segunda Leitura: 1º Coríntios 1, 26-31

Leitura da Primeira Carta de São Paulo aos Coríntios - 26Vede, irmãos, o vosso grupo de eleitos: não há entre vós muitos sábios, humanamente falando, nem muitos poderosos, nem muitos nobres. 27O que é estulto no mundo, Deus o escolheu para confundir os sábios; e o que é fraco no mundo, Deus o escolheu para confundir os fortes; 28e o que é vil e desprezível no mundo, Deus o escolheu, como também aquelas coisas que nada são, para destruir as que são. 29Assim, nenhuma criatura se vangloriará diante de Deus. 30É por sua graça que estais em Jesus Cristo, que, da parte de Deus, se tornou para nós sabedoria, justiça, santificação e redenção, 31para que, como está escrito: quem se gloria, glorie-se no Senhor (Jr 9,23). - Palavra do senhor.

Evangelho: Mateus 5, 1-12

Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo, segundo Mateus - Naquele tempo, 1Vendo aquelas multidões, Jesus subiu à montanha. Sentou-se e seus discípulos aproximaram-se dele. 2Então abriu a boca e lhes ensinava, dizendo: 3Bem-aventurados os que têm um coração de pobre, porque deles é o Reino dos céus! 4Bem-aventurados os que choram, porque serão consolados! 5Bem-aventurados os mansos, porque possuirão a terra! 6Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, porque serão saciados! 7Bem-aventurados os misericordiosos, porque alcançarão misericórdia! 8Bem-aventurados os puros de coração, porque verão Deus! 9Bem-aventurados os pacíficos, porque serão chamados filhos de Deus! 10Bem-aventurados os que são perseguidos por causa da justiça, porque deles é o Reino dos céus! 11Bem-aventurados sereis quando vos caluniarem, quando vos perseguirem e disserem falsamente todo o mal contra vós por causa de mim. 12Alegrai-vos e exultai, porque será grande a vossa recompensa nos céus, pois assim perseguiram os profetas que vieram antes de vós. - Palavra da salvação.

catolicanet.com


Homilia


O Sermão da Montanha, introduzido pela proclamação das bem-aventuranças, é o programa do Reino dos Céus já presente entre nós. Elas constituem as virtudes de Jesus. São, segundo Santo Agostinho, uma regra perfeita de vida cristã. Nas bem-aventuranças encontramos valores universais, que podem ser entendidos e acolhidos por todos. As bem-aventuranças são o caminho concreto para a transformação deste mundo em um mundo de fraternidade, justiça e paz.

Bem Aventurados os pobres de espírito (…). Os bens, desde que sejam adquiridos com justiça, devem ser possuídos e administrados em justiça. A ganância é contrária à pobreza de espírito. Deixemos que o Espírito nos dê um coração de pobre. Somos mendigos do Espírito.

Bem Aventurados os que choram (…). Vivamos numa experiência da misericórdia divina no nosso coração. Deixemos que Deus enxugue as nossas lágrimas e recebamos a sua consolação. Acreditemos que por maiores que sejam os nossos sofrimentos e dores, a Misericórdia divina superabunda tudo isso.

Bem Aventurados os mansos (…). Conhecemos que a mansidão, a paciência e a humildade são caminhos para a glória eterna. Sejamos mansos, puros e humildes.

Bem Aventurados os que têm fome e sede de justiça (…). A nossa fome e sede do espírito são de amor a Deus, que é justiça e de amor ao próximo. Desenvolvamos essa fome espiritual, que só a fé sacia.

Bem Aventurados os misericordiosos (…). A misericórdia é a força do nosso coração. Como a anunciamos aos irmãos?

Bem Aventurados os puros de coração (…). O nosso coração cresce em sinceridade e retidão para com os outros? Cultivamos um coração simples? Deixemos vivificar em nós, a experiência de que somos templos do Espírito Santo.

Bem Aventurados os pacíficos (…). Os nossos valores éticos constituem uma afirmação evangélica contra as normas de uma sociedade desprovida do Deus de Amor. A Paz esteja convosco: disse-nos Jesus. Assim, ela é um dom de Deus. Somos construtores da paz. Nunca se esqueça que a Paz se opõe as atitudes de guerra, de agressividade, de conflito e de autoritarismo.

Bem Aventurados os que sofrem perseguição (…). As perseguições, mentiras e ataques perseguem os discípulos de Jesus. Como ontem, assim hoje são perseguidos, às vezes até pela própria família. Você é perseguido? A explicação está aí. Por isso, aguente firme. Aceitemos tudo isso, para nos deixarmos morrer interiormente, afim de que Cristo ressuscite em nós. Que a partilha das Bem-Aventuranças contribua para uma vivência de vida cristã e de uma comunidade de amor. Deus te abençoe meu irmão, minha irmã, em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo, Amém!

Pe Bantu - comunidade CN

sábado, 29 de janeiro de 2011

4º DOMINGO DO TEMPO COMUM - ANO A


As leituras deste domingo propõem-nos uma reflexão sobre o “Reino” e a sua lógica. Mostram que o projeto de Deus – o projeto do “Reino” – roda em sentido contrário à lógica do mundo… Nos esquemas de Deus – ao contrário dos esquemas do mundo – são os pobres, os humildes, os que aceitaram despir-se do egoísmo, do orgulho, dos próprios interesses que são verdadeiramente felizes. O “Reino” é para eles.

Na primeira leitura, o profeta Sofonias denuncia o orgulho e a auto-suficiência dos ricos e dos poderosos e convida o Povo de Deus a converter-se à pobreza. Os “pobres” são aqueles que se entregam nas mãos de Deus com humildade e confiança, que acolhem com amor as suas propostas e que são justos e solidários com os irmãos.

Na segunda leitura, Paulo denuncia a atitude daqueles que colocam a sua esperança e a sua segurança em pessoas ou em esquemas humanos e que assumem atitudes de orgulho e de auto-suficiência; e convida os crentes a encontrar em Cristo crucificado a verdadeira sabedoria que conduz à salvação e à vida plena.

O Evangelho apresenta a magna carta do “Reino”. Proclama “bem-aventurados” os pobres, os mansos, os que choram, os que procuram cumprir fielmente a vontade de Deus, porque já vivem na lógica do “Reino”; e recomenda aos crentes a misericórdia, a sinceridade de coração, a luta pela paz, a perseverança diante das perseguições: essas são as atitudes que correspondem ao compromisso pelo “Reino”.

LEITURA I – Sof 2, 3; 3, 12-13

Procurai o Senhor, vós todos os humildes da terra,
que obedeceis aos seus mandamentos.
Procurai a justiça, procurai a humildade;
talvez encontreis protecção no dia da ira do Senhor.
Só deixarei ficar no meio de ti um povo pobre e humilde,
que buscará refúgio no nome do Senhor.
O resto de Israel não voltará a cometer injustiças,
não tornará a dizer mentiras,
nem mais se encontrará na sua boca uma língua enganadora.
Por isso, terão pastagem e repouso,
sem ninguém que os perturbe.

O profeta Sofonias pregou em Jerusalém na época do rei Josias (Josias reinou entre 639 e 609 a.C.). Os comentadores costumam situar a profecia de Sofonias durante o tempo de menoridade de Josias (que subiu ao trono aos oito anos); durante esse tempo, foi um Conselho real que presidiu aos destinos de Judá.
Trata-se de uma época difícil para o Povo de Deus. Judá está – há cerca de um século – submetida aos assírios (desde que Acaz pediu ajuda a Tiglat-Pileser III contra Damasco e a Samaria, no ano 734 a.C.); a influência estrangeira sente-se em todos os degraus da vida nacional e a nação sofre as consequências da invasão de costumes estranhos e de práticas pagãs. Por outro lado, o país acaba de sair do reinado do ímpio Manassés (698-643 a.C.), que reconstruiu os lugares de culto aos deuses estrangeiros, levantou altares a Baal, ofereceu o próprio filho em holocausto, dedicou-se à adivinhação e à magia, colocou no Templo de Jerusalém a imagem de Astarte (cf. 2 Re 21,3-9).
Aos pecados contra Jahwéh e contra a aliança, somam-se as injustiças que, todos os dias, atingem os mais pobres e desprotegidos. Os príncipes e ministros abusam da sua autoridade e cometem arbitrariedades, os juízes são corruptos e os comerciantes especulam com a miséria…
Sofonias está consciente de que Jahwéh não pode continuar a pactuar com o pecado do seu Povo; vai chegar o dia do Senhor, isto é, o dia da intervenção de Deus em que os maus serão castigados e a injustiça será banida da terra. Da ira do Senhor escaparão, contudo, os humildes e os pobres, os que se mantiveram fiéis à aliança. O fim da pregação de Sofonias não é, contudo, anunciar o castigo; mas é provocar a conversão, passo fundamental para chegar à salvação.

O nosso texto começa com um apelo à conversão (cf. Sof 2,3). Para Sofonias, “conversão” significa, objetivamente, justiça e humildade. Os “humildes”, no contexto de Sofonias, são aqueles se entregam confiadamente nas mãos de Deus, que seguem os caminhos de Deus, que aceitam as propostas de Deus e que não se colocam contra Ele; são, também, aqueles que praticam a justiça para com os irmãos, que respeitam os direitos dos mais débeis, que não cometem arbitrariedades… Equivalem aos “pobres” das bem-aventuranças: não são uma categoria sociológica, mas aqueles que estão numa certa atitude espiritual de abertura a Deus e aos irmãos. No lado oposto estão os orgulhosos e auto-suficientes, que ignoram as propostas de Deus, exploram, são injustos, corruptos e arbitrários. Só uma verdadeira conversão à humildade permitirá encontrar proteção no “dia da ira do Senhor” que se aproxima e que vai atingir os orgulhosos, os prepotentes e os injustos.
Em seguida, Sofonias apresenta o resultado do “dia da ira do Senhor”: o surgimento do “resto de Israel” (cf. Sof 3,12-13). Os orgulhosos, arrogantes e prepotentes serão banidos do meio do Povo de Deus (cf. Sof 3,11); ficará um “resto” humilde e pobre”, que se entregará nas mãos do Senhor, não cometerá iniquidades nem dirá mentiras e será uma espécie de viveiro de reflorescimento da nação.
A partir daqui, ser “pobre” não é uma categoria sociológica, mas uma atitude espiritual de quem tem o coração aberto às propostas de Deus e é justo na relação com os outros. Na boa tradição bíblica (que está presente neste texto), os pobres são, portanto, pessoas pacíficas, humildes, piedosas, simples, que confiam em Deus, que obedecem às suas propostas e que são justos e solidários com os irmãos.

ATUALIZAÇÃO

Considerar, para a reflexão, os seguintes pontos:
• O Deus que Se revela na palavra e na interpelação de Sofonias é o Deus que não pactua com os orgulhosos e prepotentes que dominam o mundo e que pretendem moldar a história com a sua lógica. A primeira indicação que a Palavra de Deus hoje nos fornece é esta: o nosso Deus não está onde se cultiva a violência e a lei da força, nem apoia a política dos dominadores do mundo – mesmo que eles pretendam defender os valores de Deus e da civilização cristã. Os valores de Deus não se defendem com uma lógica de imposição, de violência, de apelo à força. Atenção à história e aos acontecimentos: sempre que alguém se apresenta em nome de Deus a impor ao mundo uma determinada lógica, temos de desconfiar; Deus nunca esteve desse lado e esses nunca foram os métodos de Deus. Sofonias garante: para os prepotentes e orgulhosos, chegará o dia da ira de Deus; e, nesse dia, serão os humildes e os pobres que se sentarão à mesa com Deus.
• A nossa civilização ocidental diz-se cristã, mas está ainda longe de assimilar a lógica de Deus. A lógica da nossa sociedade exalta os que têm poder, os que triunfam por todos os meios, os poderosos, os que vergam a história e os homens a golpes de poder, de esperteza e de força… Hoje, como ontem, a sociedade exalta os que triunfam e marginaliza e rejeita os pobres, os débeis, os simples, os pacíficos, os que não se fazem ouvir nos areópagos do poder e dos mass-media, aqueles que recusam impor-se e mandar nos outros, aqueles que estão à margem dos acontecimentos sociais que reúnem a fina-flor do jet-set, aqueles que não aparecem nas páginas das revistas da moda. Podemos deixar que a sociedade se construa na base destes pressupostos? Que podemos fazer para que o nosso mundo se construa de acordo com os valores de Deus?
• O apelo à conversão significa objetivamente, na perspectiva de Sofonias, a renúncia ao orgulho, à prepotência, ao egoísmo e um regresso à comunhão com Deus e com os irmãos. Estamos dispostos, pessoalmente, a este caminho de conversão? Estamos dispostos a renunciar a uma lógica de imposição, de prepotência, de orgulho, de autoritarismo, de auto-suficiência, quer na nossa relação com Deus, quer na nossa relação com os outros homens?

SALMO RESPONSORIAL – Salmo 145 (146), 7.8-9a.9bc-10
Refrão 1: Bem-aventurados os pobres em espírito,
porque deles é o reino dos Céus.
Refrão 2: Aleluia.
O Senhor faz justiça aos oprimidos,
dá pão aos que têm fome
e a liberdade aos cativos.
O Senhor ilumina os olhos dos cegos,
o Senhor levanta os abatidos,
o Senhor ama os justos.
O Senhor protege os peregrinos,
ampara o órfão e a viúva
e entrava o caminho aos pecadores.
O Senhor reina eternamente.
O teu Deus, ó Sião,
é Rei por todas as gerações.

LEITURA II – 1 Cor 1, 26-31

Irmãos:
Vede quem sois vós, os que Deus chamou:
não há muitos sábios, naturalmente falando,
nem muitos influentes, nem muitos bem-nascidos.
Mas Deus escolheu o que é louco aos olhos do mundo
para confundir os sábios;
escolheu o que é vil e desprezível,
o que nada vale aos olhos do mundo,
para reduzir a nada aquilo que vale,
a fim de que nenhuma criatura se possa gloriar diante de Deus.
É por Ele que vós estais em Cristo Jesus,
o qual Se tornou para nós sabedoria de Deus,
justiça, santidade e redenção.
Deste modo, conforme está escrito,
«quem se gloria deve gloriar-se no Senhor».

Vimos, na passada semana, que um dos graves problemas da comunidade cristã de Corinto era a identificação da experiência cristã com uma escola de sabedoria: os cristãos de Corinto – na linha do que acontecia nas várias escolas de filosofia que infestavam a cidade – viam várias figuras proeminentes do cristianismo primitivo como mestres de uma doutrina e aderiam a essas figuras, esperando encontrar nelas uma proposta filosófica credível, que os conduzisse à plenitude da sabedoria e da realização humana. É de crer que os vários adeptos desses vários mestres se confrontassem na comunidade, procurando demonstrar a excelência e a superior sabedoria do mestre escolhido. Ao saber isto, Paulo ficou muito alarmado: esta perspectiva punha em causa o essencial da fé. Paulo vai esforçar-se, então, por demonstrar aos coríntios que entre os cristãos não há senão um mestre, que é Jesus Cristo; e a experiência cristã não é a busca de uma filosofia coerente, brilhante, elegante, que conduza à sabedoria, entendida à maneira dos gregos. Aliás, Cristo não foi um mestre que se distinguiu pela elegância das suas palavras, pela sua arte oratória ou pela lógica do seu discurso filosófico… Ele foi o Deus que, por amor, veio ao encontro dos homens e lhes ofereceu a salvação, não pela lógica do poder ou pela elegância das palavras, mas através do dom da vida.
O caminho cristão não é uma busca de sabedoria humana, mas uma adesão a Cristo crucificado – o Cristo do amor e do dom da vida. N’Ele manifesta-se, de forma humanamente desconcertante, mas plena e definitiva, a força salvadora de Deus. É aí e em mais nenhum lado que os coríntios devem procurar a verdadeira sabedoria que conduz à vida eterna.

É verdade, considera Paulo, que é difícil encontrar – do ponto de vista do raciocínio humano – num pobre galileu condenado a uma morte infamante (“escândalo para os judeus e loucura para os gentios” – 1 Cor 1,23) uma proposta credível de salvação. Mas a lógica de Deus não é exatamente igual à lógica dos homens. “O que é loucura de Deus é mais sábio que os homens; e o que é fraqueza de Deus é mais forte do que os homens” (1 Cor 1,25).
Como exemplo da lógica de Deus, Paulo apresenta o caso da própria comunidade cristã de Corinto: entre os coríntios não abundavam os ricos, nem os poderosos, nem os de boas famílias, nem os intelectuais, nem os aristocratas; ao contrário, a maioria dos membros da comunidade eram escravos, trabalhadores, gente simples e pobre. Apesar disso, Deus escolheu-os e chamou-os; e a vida de Deus manifestou-se nessa comunidade de desclassificados. Para a consecução dos seus projectos, os homens escolhem normalmente os mais ricos, os mais fortes, os mais bem preparados intelectualmente, os que provêm de boas famílias, os que asseguram maiores hipóteses de êxito do ponto de vista humano… Mas Deus escolhe os pobres, os débeis, aqueles que aos olhos do mundo são ignorados ou desprezados e, através deles, manifesta o seu poder e intervém no mundo. Portanto, se esta é a lógica de Deus (como ficou provado pelo exemplo), não surpreende que o poder salvador de Deus se tenha manifestado na cruz de Cristo.
Os coríntios são convidados a não colocar a sua esperança e a sua segurança em pessoas (por muito brilhantes e cheias de qualidades humanas que elas sejam) ou em esquemas humanos de sabedoria (por muito sedutores e fascinantes que eles possam parecer): a sabedoria humana é incapaz, por si só, de salvar; e, ao produzir orgulho e auto-suficiência, leva o homem a prescindir de Deus e a resvalar por caminhos que conduzem à morte e à desgraça… Em contrapartida, os coríntios são convidados a colocar a sua esperança e segurança em Jesus Cristo, que na cruz deu a vida por amor: é na “loucura da cruz” – isto é, na vida dada até às últimas consequências, que se manifesta a radicalidade do amor de Deus, a profundidade do seu desejo de ofertar ao homem a salvação. Para Paulo, a cruz manifesta a “sabedoria de Deus”; e é essa sabedoria que deve atrair o olhar e apaixonar o coração dos coríntios.

ATUALIZAÇÃO

A reflexão e a partilha podem considerar as seguintes questões:
• Uma percentagem significativa dos homens do nosso tempo está convencida de que o segredo da realização plena do homem está em factores humanos (preparação intelectual, êxito profissional, reconhecimento social, bem-estar económico, poder político, etc.); mas Paulo avisa que apostar tudo nesses elementos é jogar no “cavalo errado”: o homem só encontra a realização plena, quando descobre Cristo crucificado e aprende com Ele o amor total e o dom da vida. Para mim, qual destas duas propostas faz mais sentido?
• A teologia aqui apresentada por Paulo diz-nos que o Deus em quem acreditamos não é o Deus que só escolhe os ricos, os poderosos, os influentes, os de “sangue azul”, para realizar a sua obra no mundo; mas que o nosso Deus é o Deus que não faz acepção de pessoas e que, quase sempre, se serve da fraqueza, da fragilidade, da finitude para levar avante o seu projecto de salvação e libertação.
• Não se trata, aqui, de valorizar romanticamente a pobreza, ou de apresentar Deus como o chefe de um sindicato da classe operária, a reivindicar o poder para as classes desfavorecidas; trata-se de revelar o verdadeiro rosto de um Deus que Se solidariza com os pobres, com os humilhados, com os ofendidos, com os explorados de todos os tempos e a todos oferece, sem distinção, a salvação.

ALELUIA – Mt 5, 12a
Aleluia. Aleluia.
Alegrai-vos e exultai,
porque é grande nos Céus a vossa recompensa.

EVANGELHO – Mt 5,1-12

Naquele tempo,
ao ver as multidões, Jesus subiu ao monte e sentou-Se.
Rodearam-n’O os discípulos
e Ele começou a ensiná-los, dizendo:
«Bem-aventurados os pobres em espírito,
porque deles é o reino dos Céus.
Bem-aventurados os que choram,
porque serão consolados.
Bem-aventurados os humildes,
porque possuirão a terra.
Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça,
porque serão saciados.
Bem-aventurados os misericordiosos,
porque alcançarão misericórdia.
Bem-aventurados os puros de coração,
porque verão a Deus.
Bem-aventurados os que promovem a paz,
porque serão chamados filhos de Deus.
Bem-aventurados os que sofrem perseguição por amor da justiça,
porque deles é o reino dos Céus.
Bem-aventurados sereis, quando, por minha causa,
vos insultarem, vos perseguirem
e, mentindo, disserem todo o mal contra vós.
Alegrai-vos e exultai,
porque é grande nos Céus a vossa recompensa».

Depois de dizer quem é Jesus (Mt 1,1-2,23) e de definir a sua missão (cf. Mt 3,1-4,16), Mateus vai apresentar a concretização dessa missão: com palavras e com gestos, Jesus propõe aos discípulos e às multidões o “Reino”. Neste enquadramento, Mateus propõe-nos hoje um discurso de Jesus sobre o “Reino” e a sua lógica.
Uma característica importante do Evangelho segundo Mateus reside na importância dada pelo evangelista aos “ditos” de Jesus. Ao longo do Evangelho segundo Mateus aparecem cinco longos discursos (cf. Mt 5-7; 10; 13; 18; 24-25), nos quais Mateus junta “ditos” e ensinamentos provavelmente proferidos por Jesus em várias ocasiões e contextos. É provável que o autor do primeiro Evangelho visse nesses cinco discursos uma nova Lei, destinada a substituir a antiga Lei dada ao Povo por meio de Moisés e escrita nos cinco livros do Pentateuco.
O primeiro discurso de Jesus – do qual o Evangelho que nos é hoje proposto é a primeira parte – é conhecido como o “sermão da montanha” (cf. Mt 5-7). Agrupa um conjunto de palavras de Jesus, que Mateus coleccionou com a evidente intenção de proporcionar à sua comunidade uma série de ensinamentos básicos para a vida cristã. O evangelista procurava, assim, oferecer à comunidade cristã um novo código ético, uma nova Lei, que superasse a antiga Lei que guiava o Povo de Deus.
Mateus situa esta intervenção de Jesus no cimo de um monte. A indicação geográfica não é inocente: transporta-nos à montanha da Lei (Sinai), onde Deus Se revelou e deu ao seu Povo a antiga Lei. Agora é Jesus, que, numa montanha, oferece ao novo Povo de Deus a nova Lei que deve guiar todos os que estão interessados em aderir ao “Reino”.
As “bem-aventuranças” que, neste primeiro discurso, Mateus coloca na boca de Jesus, são consideravelmente diferentes das “bem-aventuranças” propostas por Lucas (cf. Lc 6,20-26). Mateus tem nove “bem-aventuranças”, enquanto que Lucas só apresenta quatro; além disso, Lucas prossegue com quatro “maldições”, que estão ausentes do texto mateano; outras notas características da versão de Mateus são a espiritualização (os “pobres” de Lucas são, para Mateus, os “pobres em espírito”) e a aplicação dos “ditos” originais de Jesus à vida da comunidade e ao comportamento dos cristãos. É muito provável que o texto de Lucas seja mais fiel à tradição original e que o texto de Mateus tenha sido mais trabalhado.

As “bem-aventuranças” são fórmulas relativamente frequentes na tradição bíblica e judaica. Aparecem, quer nos anúncios proféticos de alegria futura (cf. Is 30,18; 32,20; Dn 12,12), quer nas acções de graças pela alegria presente (cf. Sl 32,1-2; 33,12; 84,5.6.13), quer nas exortações a uma vida sábia, reflectida e prudente (cf. Prov 3,13; 8,32.34; Sir 14,1-2.20; 25,8-9; Sl 1,1; 2,12; 34,9). Contudo, elas definem sempre uma alegria oferecida por Deus.
As “bem-aventuranças” evangélicas devem ser entendidas no contexto da pregação sobre o “Reino”. Jesus proclama “bem-aventurados” aqueles que estão numa situação de debilidade, de pobreza, porque Deus está a ponto de instaurar o “Reino” e a situação destes “pobres” vai mudar radicalmente; além disso, são “bem-aventurados” porque, na sua fragilidade, debilidade e dependência, estão de espírito aberto e coração disponível para acolher a proposta de salvação e libertação que Deus lhes oferece em Jesus (a proposta do “Reino”).
As quatro primeiras “bem-aventuranças” referidas por Mateus (vers. 3-6) estão relacionadas entre si. Dirigem-se aos “pobres” (as segunda, terceira e quarta “bem-aventuranças” são apenas desenvolvimentos da primeira, que proclama: “bem-aventurados os pobres em espírito”). Saúdam a felicidade daqueles que se entregam confiadamente nas mãos de Deus e procuram fazer sempre a sua vontade; daqueles que, de forma consciente, deixam de colocar a sua confiança e a sua esperança nos bens, no poder, no êxito, nos homens, para esperar e confiar em Deus; daqueles que aceitam renunciar ao egoísmo, que aceitam despojar-se de si próprios e estar disponíveis para Deus e para os outros.
Os “pobres em espírito” são aqueles que aceitam renunciar, livremente, aos bens, ao próprio orgulho e auto-suficiência, para se colocarem, incondicionalmente, nas mãos de Deus, para servirem os irmãos e partilharem tudo com eles.
Os “mansos” não são os fracos, os que suportam passivamente as injustiças, os que se conformam com as violências orquestradas pelos poderosos; mas são aqueles que recusam a violência, que são tolerantes e pacíficos, embora sejam, muitas vezes, vítimas dos abusos e prepotências dos injustos… A sua atitude pacífica e tolerante torná-los-á membros de pleno direito do “Reino”.
Os “que choram” são aqueles que vivem na aflição, na dor, no sofrimento provocados pela injustiça, pela miséria, pelo egoísmo; a chegada do “Reino” vai fazer com que a sua triste situação se mude em consolação e alegria…
A quarta bem-aventurança proclama felizes “os que têm fome e sede de justiça”. Provavelmente, a justiça deve entender-se, aqui, em sentido bíblico – isto é, no sentido da fidelidade total aos compromissos assumidos para com Deus e para com os irmãos. Jesus dá-lhes a esperança de verem essa sede de fidelidade saciada, no Reino que vai chegar.
O segundo grupo de “bem-aventuranças” (vers. 7-11) está mais orientado para definir o comportamento cristão. Enquanto que no primeiro grupo se constatam situações, neste segundo grupo propõem-se atitudes que os discípulos devem assumir.
Os “misericordiosos” são aqueles que têm um coração capaz de compadecer-se, de amar sem limites, que se deixam tocar pelos sofrimentos e alegrias dos outros homens e mulheres, que são capazes de ir ao encontro dos irmãos e estender-lhes a mão, mesmo quando eles falharam.
Os “puros de coração” são aqueles que têm um coração honesto e leal, que não pactua com a duplicidade e o engano.
Os “que constroem a paz” são aqueles que se recusam a aceitar que a violência e a lei do mais forte rejam as relações humanas; e são aqueles que procuram ser – às vezes com o risco da própria vida – instrumentos de reconciliação entre os homens.
Os “que são perseguidos por causa da justiça” são aqueles que lutam pela instauração do “Reino” e são desautorizados, humilhados, agredidos, marginalizados por parte daqueles que praticam a injustiça, que fomentam a opressão, que constroem a morte… Jesus garante-lhes: o mal não vos poderá vencer; e, no final do caminho, espera-vos o triunfo, a vida plena.
Na última “bem-aventurança” (vers. 11), o evangelista dirige-se, em jeito de exortação, aos membros da sua comunidade que têm a experiência de ser perseguidos por causa de Jesus e convida-os a resistir ao sofrimento e à adversidade. Esta última exortação é, na prática, uma aplicação concreta da oitava “bem-aventurança”.
No seu conjunto, as “bem-aventuranças” deixam uma mensagem de esperança e de alento para os pobres e débeis. Anunciam que Deus os ama e que está do lado deles; confirmam que a libertação está a chegar e que a sua situação vai mudar; asseguram que eles vivem já na dinâmica desse “Reino” onde vão encontrar a felicidade e a vida plena.

ATUALIZAÇÃO

A reflexão e a partilha podem fazer-se à volta dos seguintes elementos:
• Jesus diz: “felizes os pobres em espírito”; o mundo diz: “felizes vós os que tendes dinheiro – muito dinheiro – e sabeis usá-lo para comprar influências, comodidade, poder, segurança, bem-estar, pois é o dinheiro que faz andar o mundo e nos torna mais poderosos, mais livres e mais felizes”. Quem é, realmente, feliz?
• Jesus diz: “felizes os mansos”; o mundo diz: “felizes vós os que respondeis na mesma moeda quando vos provocam, que respondeis à violência com uma violência ainda maior, pois só a linguagem da força é eficaz para lidar com a violência e a injustiça”. Quem tem razão?
• Jesus diz: “felizes os que choram”; o mundo diz: “felizes vós os que não tendes motivos para chorar, porque a vossa vida é sempre uma festa, porque vos moveis nas altas esferas da sociedade e tendes tudo para serdes felizes: casa com piscina, carro com telefone e ar condicionado, amigos poderosos, uma conta bancária interessante e um bom emprego arranjado pelo vosso amigo ministro”. Onde está a verdadeira felicidade?
• Jesus diz: “felizes os que têm ânsia de cumprir a vontade de Deus”; o mundo diz: “felizes vós os que não dependeis de preconceitos ultrapassados e não acreditais num deus que vos diz o que deveis e não deveis fazer, porque assim sois mais livres”. Onde está a verdadeira liberdade, que enche de felicidade o coração?
• Jesus diz: “felizes os que tratam os outros com misericórdia”; o mundo diz: “felizes vós quando desempenhais o vosso papel sem vos deixardes comover pela miséria e pelo sofrimento dos outros, pois quem se comove e tem misericórdia acabará por nunca ser eficaz neste mundo tão competitivo”. Qual é o verdadeiro fundamento de uma sociedade mais justa e mais fraterna?
• Jesus diz: “felizes os sinceros de coração”; o mundo diz: “felizes vós quando sabeis mentir e fingir para levar a água ao vosso moinho, pois a verdade e a sinceridade destroem muitas carreiras e esperanças de sucesso”. Onde está a verdade?
• Jesus diz: “felizes os que procuram construir a paz entre os homens”; o mundo diz: “felizes vós os que não tendes medo da guerra, da competição, que sois duros e insensíveis, que não tendes medo de lutar contra os outros e sois capazes de os vencer, pois só assim podereis ser homens e mulheres de sucesso”. O que é que torna o mundo melhor: a paz ou a guerra?
• Jesus diz: “felizes os que são perseguidos por cumprirem a vontade de Deus”; o mundo diz: “felizes vós os que já entendestes como é mais seguro e mais fácil fazer o jogo dos poderosos e estar sempre de acordo com eles, pois só assim podeis subir na vida e ter êxito na vossa carreira”. O que é que nos eleva à vida plena?
pemiliocarlos.blogspot.com

LAGARTA E A BORBOLETA.


A lagarta e a borboleta. Se não tivesse visto, quem é que ia acreditar que aquela lagarta, rastejante e viscosa, morrendo no seu casulo, ia dar, ou de lá sairia, aquela borboleta ágil, etérea e colorida? Faz pensar no mistério da vida. E não admira que Santa Teresa de Ávila tenha encontrado nessa transformação a metáfora maravilhosa da nossa ressurreição.

O segredo está, diz ela, em fazer bem o nosso casulo, ou seja, em morrer bem!
O casulo vai-se tecendo na oração e na vida.
Morrendo em Deus, a lagarta que somos dará lugar à borboleta que seremos.

Vasco P. Magalhães, sj

com minha benção
Pe.Emílio Carlos+

DEUS EXISTE!


Quem era André Frossard? Ele próprio conta a sua história num livro intitulado “Deus existe. Eu o encontrei“ . Este livro deu a volta ao mundo inteiro e suscitou entusiasmo e desprezo. Como sempre! Há quem veja e há quem não queira ver; há quem ouça e há quem não queira ouvir. Não há por que nos admiremos.
André Frossard era o filho do primeiro secretário do Partido Comunista Francês: a sua família era ateia e afastada de toda a problemática religiosa. Observa com fina ironia: «Na nossa casa, nem por distracção se aflorava o assunto “religião”. Éramos ateus perfeitos, daqueles que nunca se interrogam sobre o seu ateísmo.»

No entanto, aos vinte anos de idade, André Frossard tem um extraordinário e inefável encontro com Deus. Ele começa assim o relato memorável do encontro com Deus:

«Agora, acontece que, por um acaso extraordinário, conheci a verdade sobre a mais debatida das causas e sobre o mais antigo dos problemas: Deus existe. E eu encontrei-o!
Encontrei-o por combinação – antes deveria dizer: por acaso, se o acaso tivesse algo a ver com esta espécie de aventura. – Encontrei-o com o assombro e aturdimento de quem, ao virar a esquina habitual da costumada rua de Paris, visse diante dos olhos, em vez da praça e do cruzamento de todos os dias, um mar inesperado que se estende até ao infinito, lambendo com as suas ondas as paredes das casas. Um momento de espanto que ainda dura. Nunca me habituei à existência de Deus.»

Ele prossegue assim o relato da sua experiência:

«Ás cinco e dez de uma tarde (era o dia 8 de Julho de 1937), entrei numa capela do bairro latino de Paris para procurar um amigo e saí às cinco e um quarto, com um amigo que não era deste mundo. Entrei céptico e ateu (…) e mais que céptico e ateu, entrei indiferente e tão preocupado com outras coisas do que com um Deus que eu nem sequer pensava em negar (…)

Em pé junto da porta, busquei com o olhar o meu amigo e não consegui reconhecê-lo (…)
O meu olhar passa da sombra à luz, retorna aos fiéis, sem ir atrás de nenhum pensamento, vai dos fiéis às religiosas imóveis, das religiosas ao altar e, depois, não sei porquê, detém-se na segunda vela que arde à esquerda da cruz. Não na primeira nem na terceira: na segunda. E, então, de repente, desencadeia-se uma série de prodígios que com inexorável violência desmontará num instante o ser absurdo que eu sou, para dar vida ao rapaz estupefacto que nunca fui.
Primeiro surgem-me estas palavras “vida espiritual.”
Não ditas nem formadas por mim próprio. Ouvidas como se fossem pronunciadas ao meu lado em surdina por uma pessoa que está a ver o que eu ainda não vejo. (…)

Logo que a última sílaba deste prelúdio sussurrado atinge o fio da consciência, começa uma avalancha ao contrário. Não digo que o céu se abre; não se abre, atira-se, eleva-se de repente, silenciosa fulguração(…) Um cristal indestrutível, de uma transparência infinita, de uma luminosidade quase insustentável (um pouco mais ter-me-ia aniquilado) e azulada, um mundo, outro mundo de um esplendor e de uma densidade que atiram de chofre o nosso para as sombras frágeis dos sonhos irrealizados. (…)

Há uma ordem, no universo, e no cume, para lá deste véu de neblina resplandecente há a evidência de Deus (…) Um Deus cuja doçura sinto, uma doçura activa, desconcertante, que vai além de toda violência, capaz de quebrar a pedra mais dura e, mais duro ainda que a pedra, o coração humano.

A sua irrupção transbordante e total, é acompanhada por uma alegria que é a exultação de quem foi salvo, a alegria do náufrago que foi recolhido a tempo.(…)
Estas sensações, que tenho dificuldade de traduzir na linguagem inadequada das ideias e das imagens, são simultâneas (…)
Tudo é dominado pela presença (…) daquele cujo nome nunca poderei escrever sem o receio de ferir a sua ternura, aquele diante do qual tive a sorte de ser um filho perdoado, que se esforça para aprender que tudo é dom.

Então, uma oração comovida sela o relato da conversão de Frossard:
«Amor [Deus], para falar de ti será demasiado curta toda a eternidade»
Depois de escrever este relato André Frossard apercebe-se da enormidade das suas palavras e apressa-se a precisar:

«Não nego o que uma conversão como esta, pela sua característica de instantaneidade imprevista, pode ter de chocante e até inadmissíevl, para os espíritos contemporâneos que preferem as vias do racionalismo aos raios místicos e que apreciam cada vez menos as intervenções do divino na vida quotidiana.»

Fonte: Histórias de conversões no século XX, mons. Angelo Comastri, Paulinas, Portugal.

A TRISTEZA MATA.


Com um rosto sorridente, o homem duplica as capacidades que possui. Um coração alegre faz tanto bem quanto os remédios; mas a tristeza mata. O povo diz sabiamente que quem canta seus males espanta.

Quando você mergulha na tristeza, não consegue subir um degrau; mas se se firma na alegria, consegue galgar montanhas.
Acho que você já ouviu a história daquele rapaz que andava triste porque não tinha sapatos, até que encontrou alguém que não tinha os pés... estancou as lágrimas no mesmo instante.

Veja o que a Palavra de Deus diz da tristeza:

"Ao justo nenhum mal pode abater, mas os maus enchem-se de tristezas" (Pr 12, 21).

"Não entregues tua alma à tristeza, não atormentes a ti mesmo em teus pensamentos" (Eclo 30,22).

"Tem compaixão de tua alma, torna-te agradável a Deus, e sê firme; concentra teu coração na santidade, e afasta a tristeza para longe de ti, pois a tristeza matou a muitos, e não há nela utilidade alguma" (Eclo 30,24-25).

"Um coração perverso é causa de tristeza, mas o homem experiente resistir-lhe-á" (Eclo 36,22).

"Pois a tristeza apressa a morte, tira o vigor, e o desgosto do coração faz inclinar a cabeça" (Eclo 38,19).

"Não entregues teu coração à tristeza, mas afasta-a e lembra-te do teu fim" (Eclo 38,21).

O remédio para a própria tristeza é procurar com presteza consolar a tristeza dos outros, e entregar a Deus a própria tristeza, na fé. Nada seca tão depressa como uma lágrima, quando enxugamos a lágrima alheia. A caridade produz a alegria; todas as pessoas e grupos que fazem o bem aos outros são alegres.

A alegria não está nas coisas, mas em nós, e ela é para o corpo humano o mesmo que o sol é para as plantas. Quem está contente jamais será arruinado. A vida não aprecia aqueles que se lamentam, mas o que sorriem. A vida coloca de lado os que vivem se lamentando, reclamando e criticando... Ela ama aqueles que a amam.

Nas horas difíceis ou constrangedoras, saiba vencer a tristeza e o mau humor com uma brincadeira saudável, sem ofender os outros. Certa vez, o Papa João XXIII fez uma visita a uma paróquia de Roma; e ao passar pelo povo ouviu uma senhora dizer para outra:

- Nossa, como ele é gordo! O Papa ouviu, virou-se para a mulher e disse sorrindo:
- Minha senhora, o conclave não é um concurso de beleza! E continuou a caminhada.

Um casal viajava com os filhos e, de repente, a esposa começou a se queixar para o marido:
- Você não me abraça mais; não me faz mais aqueles carinhos gostosos que fazia quando a gente viajava junto...
E foi reclamando. Muito tranquilo e sem se ofender a esposa virou para ela e disse:
- Meu bem, naquele tempo a gente não viajava de Kombi com cinco crianças brigando nos bancos de trás! E foi só risada!

Saiba transformar um momento de tensão num momento de descontração, brincando. A lamentação é uma das coisas mais tristes do relacionamento humano; nada resolve e cria um clima de pessimismo, acusação, tristeza e amargura. Estamos acostumados a reclamar das coisas que nos aborrecem, mas não vemos o lado bom que também existe em nossa vida.

São Paulo pede aos filipenses que não fiquem murmurando:

"Fazei todas as coisas sem murmurações nem críticas, a fim de serdes irrepreensíveis e inocentes, filhos de Deus íntegros no meio de uma sociedade depravada e maliciosa, onde brilhais como luzeiros no mundo" (Fl 2, 14-15).

Não fique se queixando tanto dos impostos que você paga, isso significa que você tem emprego, ou tem bens...
Não reclame da confusão que você tem de limpar após uma festa, pois isso significa que você tem amigos...
Não reclame das paredes que precisam ser pintadas, da lâmpada que precisa ser trocada, porque isso significa que você tem onde morar...
Não devo me lamentar porque eu não achei um lugar para estacionar o carro, pois isso significa que além de ter a felicidade de poder andar, tenho um carro que muitos não têm.
Não reclame da senhora que canta desafinado atrás de você, ao menos isso significa que você pode ouvir.
Não reclame do cansaço e dos músculos doloridos que você sente ao final do dia porque isso significa que você tem saúde para trabalhar...

E assim, eu e você poderíamos multiplicar esses exemplos.

Por mais difícil que esteja sua situação, tente sorrir, você verá que será mais fácil passar por mais essa prova... Se não resolver seu problema, agradeça a Deus por eles e peça coragem para enfrentá-los com dignidade.

Não estrague o seu dia. A sua irritação não solucionará problema algum... Suas contrariedades não alteram a natureza das coisas... Seus desapontamentos não fazem o trabalho que só o tempo conseguirá realizar... O seu mau humor não modifica a vida.

A sua tristeza não iluminará os caminhos. O seu desânimo não edificará a ninguém. As suas reclamações, ainda mesmo afetivas, jamais acrescentarão nos outros um só grama de simpatia por você...

Se você acordou nesta manhã com mais saúde do que doença, você é mais abençoado do que um milhão que não sobreviverão neste período. Quantos por este mundo estão enfrentando os perigos das guerras, o horror das bombas, a solidão de uma prisão, ou as aflições da fome!

Quantos não podem frequentar uma igreja sem o medo de molestamento, prisão, tortura ou morte... Quantos não têm comida em casa, roupas, uma casa para morar... Tudo isso nos faz concluir que é uma grande blasfêmia ficar reclamando da vida e da própria sorte.

"O que perturba os homens não são as coisas que acontecem, mas sim a opinião que eles têm delas", disse Demócrito (461-361 a.C). Uma pedra pode ser vista de muitas maneiras, como vemos nesta conhecida mensagem:

O distraído nela tropeçou. O bruto a usou como projétil. O empreendedor, usando-a, construiu. O camponês, cansado, dela fez assento. Para meninos, foi brinquedo. Drummond a poetizou. Já, David matou Golias. Michelangelo extraiu-lhe a mais bela escultura. E em todos esses casos, a diferença não esteve na pedra, mas no homem!

Não existe "pedra" no seu caminho que você não possa aproveitá-la para o seu crescimento.

Como diz o povo: se a vida lhe der um limão... faça uma limonada!
Aprendi com o frei Pascoal, na Terra Santa: "Tudo o que nos acontece nos favorece, se a gente não se aborrece e ainda agradece!"



Felipe Aquino
felipeaquino@cancaonova.com

ENFRENTANDO OS PERCALÇOS DA VIDA.


Tal como numa película cinematográfica, nossa vida é composta por vários quadros, a qual a cada segundo vai se compondo numa obra de arte. Dentro dessa história, que desejamos contar, temos como "script" nossos projetos de vida. Arriscar-se a vivê-los é o que desejamos fazer; mesmo que não tenhamos a vivência daqueles que já passaram pelos percalços da vida e aprenderam a superá-los. Mas, por mais que outras pessoas tendam a nos recomendar cautela ou até mesmo a nos advertir sobre como devem ser os nossos procedimentos, nem sempre estamos interessados em acolher suas sugestões.Podemos ter a pretensão de que nada do que pensamos possa dar errado.
Muitas vezes, acreditamos cegamente que todos os nossos planos vão se cumprir como desejamos. Projetamos nossa vida profissional imaginando que logo após o término da faculdade conseguiremos um bom emprego com um bom salário; etc. Outros projetos incluem casamentos e filhos e na maneira como queremos educá-los... Nada poderá acontecer diferentemente daquilo que foi idealizado.

Achamos – e, por vezes, julgamos – que as dificuldades enfrentadas por outras pessoas, como o desemprego, as desilusões ou qualquer outro fato que as tenha feito se sentir frustradas –, são resultados de suas próprias falhas. Como, por exemplo, ao analisarmos a situação de alguém que viveu o desemprego, julgamos que ele talvez não tenha sido um funcionário exemplar. E aos que experimentaram decepções num relacionamento, de acordo com nossa perspectiva limitada, muitas vezes, julgamos que eles não tenham sido tão espertos como acreditamos que deveriam ter sido; e assim por diante. Corremos o risco de – na soberba de quem está fora da situação – julgar e, talvez, condenar a outrem apenas por aquilo que tomamos conhecimento.

Com o decorrer da nossa própria existência, vamos percebendo que infelizmente não temos o controle das coisas nem a onisciência de que gostaríamos. E assim como o futuro não poupa em surpreender a outros; da mesma forma, não nos poupará.

Ao sairmos para um passeio, imaginamos acessar uma determinada rodovia, calculamos o tempo de percurso, estabelecemos as possíveis paradas para descanso, estimamos o horário de chegada, etc. Fazemos tudo como se nada pudesse sair errado; entretanto, se alguma coisa não acontecer como havíamos planejado, não desistiremos do passeio. Ao contrário, pensaremos rapidamente numa alternativa para que seja possível cumprir o que nos propusemos a realizar. Ter em mente um objetivo a ser cumprido ajuda a nos preparar para as possíveis mudanças e inesperadas adaptações aos planos.

A mesma disposição é necessária também para os percalços que a vida nos prepara. Por maiores que sejam as surpresas reservadas por ela [vida], as dificuldades não podem nos fazer desviar do caminho, fazendo-nos deixar de acreditar em nossa capacidade de cumprir o que havíamos projetado como meta a ser alcançada.

Muitas vezes, devemos estar preparados para assumir um "desvio" que a estrada da nossa vida nos força a tomar, mesmo que não seja uma atitude fácil de se aceitar. Por muitas vezes, ouvimos os mais velhos nos dizer que na vida tudo passa... Enfrentar os fatos e entender que não podemos ficar parados no problema – ajuda-nos a encontrar as saídas necessárias para o impasse momentâneo.

Assim como não desistimos de nossos passeios por conta de um contratempo, como um pneu furado por exemplo, da mesma forma não devemos desistir dos nossos projetos de vida. Ainda que as situações adversas possam levantar barreiras de dificuldades, elas não têm o poder de apagar os nossos planos e projetos. Afinal, sabemos que os desafios, que teremos de enfrentar, não se comparam às alegrias que sentiremos ao superá-los. Entendendo que não estamos imunes aos erros, aprendamos, assim, a ser lentos em julgar e ávidos por auxiliar aos que enfrentam dificuldades, com palavras e atitudes de conforto.
De outro modo, de que serviria uma pessoa que se auto-intitula amiga?


Dado Moura
contato@dadomoura.com
Dado Moura é membro aliança da Comunidade Canção Nova e trabalha atualmente na Fundação João Paulo II para o Portal Canção Nova como articulista.

PRESENÇA DE MARIA NA LITURGIA.


Desde o início da Igreja, Maria ocupa um lugar de destaque, tanto na Liturgia Oriental como na Ocidental. Constatamos sua presença nas festas marianas, nas Orações Eucarísticas, nos hinos, na arte-sacra, na teologia dos Concílios e na vida da Igreja. Trata-se de uma presença histórica, teologicamente refletida e liturgicamente celebrada, com conseqüências espirituais e pastorais.
A partir do Concilio de Éfeso (431) ocorre uma verdadeira explosão do culto mariano, com o surgimento de festas e expressões artísticas diversas nos hinários e na arte-sacra.

A arqueologia testemunha um antiqüíssimo culto a Maria, Mãe do Messias sobretudo em Nazaré e Belém. Surgem também muitos textos apócrifos sobre a vida de Maria (Proto-evangelho de Tiago; Odes de Salomão; Oráculos Sibilinos). Ao século III pertence, certamente, uma das primeiras invocações a Maria como Mãe de Deus (THEOTOKOS), conhecida, no Ocidente, como a invocação "Sub tuum praesidium".
O Concilio de Éfeso influenciou sobremaneira o desenvolvimento do culto mariano. A proclamação do dogma da Maternidade Divina de Maria foi decisiva para a presença de Maria na Liturgia, tanto nos textos eucológicos (orações) como nos hinários.

Em Jerusalém, logo após a proclamação de Éfeso, encontramos a memória de Maria celebrada em 15 de agosto.
No Ocidente, se desenvolve a comemoração de Maria no Advento.
Em Roma, a mais antiga memória da Mãe de Deus surgiu após o Natal.
No Oriente, se difundiu a celebração da Anunciação, em tomo de 25 de março.
Novas celebrações apareceram a partir do século VI: A Dormição de Maria, Natividade de Maria, Apresentação de Maria no Templo e a Concepção de Maria.

Pelo século XI, na Inglaterra, surgiu a festa da concepção Virginal de Maria, mas não foi acolhida logo em toda a parte.
O Concílio Vaticano II procurou esclarecer tanto a missão da Bem-Aventurada Virgem Maria no mistério do Verbo Encarnado e no Corpo Místico, como os deveres dos homens remidos para com a Mãe de Deus, Mãe de Cristo e dos homens, mormente dos fiéis (LG 54).
A memória de Maria está, portanto, inteiramente relacionada com a vida de Cristo, particularmente com o mistério da Encarnação. Isso acontece sobretudo nos momentos centrais da Liturgia (Orações Eucarísticas e Profissão de Fé batismal).

Fundamentação do Culto Mariano

A doutrina da Igreja foi sendo sistematizada, nos últimos tempos, através de vários documentos, dentre outros:
Leão XIII
» Encíclica sobre o rosário de Nossa Senhora;
Pio XII
» Alocuções às Congregações Marianas, 21/01/45;
» Constituição Apostólica sobre a Assunção de Nossa Senhora, 1950;
Paulo VI
» Encíclica "Christi Matri Rosarii" 15/09/66;
» Exortação Apostólica "Signum Magnum", 13/05/67;
» Carta ao Congresso Mariológico-Mariano de São Domingos, 02/02/65;
» Exortação Apostólica "Marialis Cultus", 02/02/74;
Vaticano II
» Lumen Gentium, cap. Vm;
» Documento de Puebla;
João Paulo II
» Encíclica Redemptoris Mater", 25/03/87;

Uma perspectiva teológica mais completa da presença de Maria na Liturgia é recente. Tradicionalmente se restringia à consideração da sua maternidade divina. Alguns documentos do Vaticano II abordam explicitamente a figura de Maria (LG 50; 66-67; UR 15; SC 103).

Diz a Sacrosanctum Concilium: "Nesta celebração anual dos mistérios de Cristo, a Santa Igreja venera com especial amor a Bem-Aventurada Mãe de Deus Maria que, por um vínculo indissolúvel, está unida à obra salvífica de seu Filho; nela admira e exalta o mais excelente fruto da Redenção e a contempla como puríssima imagem daquilo que ela mesma anseia e espera ser" (sc i03).
O documento de Puebla considera Maria mãe e modelo da Igreja (282-293), modelo também para a vida dos homens (294-297), bendita entre todas as mulheres (298-299), modelo de serviço eclesial na América Latina (300-303): "Deus fazendo-se carne por meio de Maria, começou a fazer parte de um povo e constituiu-se o centro da história.
Maria é o ponto de união entre o céu e a terra. Sem Maria desencarna-se o Evangelho, desfigura-se e transforma-se em ideologia, em racionalismo espiritualista" (p. 30i).

Puebla considera Maria como a realização mais eminente da evangelização (282, 333), Mãe da nova vida (288), colaboradora ativa na redenção (293), serva dos homens (294), garantia da grandeza feminina (299), exemplo para a mulher (844) e modelo da vida consagrada (745).
MARIA, Estrela da Evangelização
Maria, como estrela da evangelização, está presente na missão da Igreja que introduz no mundo do Reino do seu Filho. A presença de Maria, nos dias de hoje, como aliás ao longo de toda a história da Igreja, encontra múltiplos meios de expressão.
Seu multiforme raio de ação se expressa mediante a fé e a piedade dos fiéis, as tradições das famílias cristãs, as comunidades paroquiais e missionárias, mediante o poder de atração e irradiação dos grandes santuários, onde, não apenas as pessoas individualmente ou grupos locais, mas, por vezes, inteiras nações e continentes procuram o encontro com a Mãe do Senhor, como aquela que é feliz porque acreditou e por isso se tornou a Mãe do Emanuel (Redemptorie Mater n.º 28).

Maria mãe e modelo

Na "Redemptoris Missio", o Papa diz que toda a Igreja é convidada a viver mais profundamente o mistério de Cristo, colaborando, com gratidão, na obra da salvação. Fá-lo-á com Maria e como Maria, sua mãe e modelo.
É ela, Maria, o exemplo daquele amor materno do qual devem estar animados todos aqueles que, na missão apostólica, cooperam para a regeneração dos homens. Por isso, "confortada pela presença de Cristo, a Igreja caminha no tempo para a consumação dos séculos, indo ao encontro do Senhor que vem.
Nesta caminhada, a Igreja procede seguindo as pegadas do itinerário percorrido pela Virgem Maria" (RM n. 92).


Por: Pe. Valter Mauricio Goedeut Instituto Teológico de SC (Itesc) Florianópolis, SC
Fonte: www.santissimavirgemaria.com.br