segunda-feira, 7 de março de 2011

A ESPERANÇA NA PREGAÇÃO DE PAULO.


Paulo coloca as Virtudes Teologais como obra do Espírito Santo na vida do fiel e da comunidade. Basta lembrarmos sua belíssima explicação sobre os dons do Espírito Santo que fazem da comunidade um corpo místico em 1Cor 12,1-11. Na sequência, temos o Hino à Caridade no capítulo 13, no qual o Apóstolo também cita a Fé e a Esperança. Isso nos mostra que a Esperança é fruto da ação do Espírito Santo na comunidade, ou seja, é uma potência divina que age na comunidade e no fiel com vistas a gerar uma vida mais íntima com Cristo.

A Esperança volta-se para os bens futuros e escatológicos. Esta é a confiança absoluta em Deus, certeza da parusia, entusiasmo e alegria. É confiança que se reforça na certeza plena da ressurreição de Cristo, tornando-se assim, sentimento especificamente cristão. Os pagãos não a possuem. Escrevendo aos Efésios diz: “Lembrai-vos de que naquele tempo éreis sem Cristo... sem esperança e sem Deus no mundo” (Ef 2,12)

As perspectivas futuras dos mistérios pagãos são muito vagas para fazer frente à esperança cristã, como também, entre os judeus, a confiança em Deus não vai até a esperança certa na vida eterna. Somente o discípulo de Cristo tem uma Fé que o permite esperar confiante em alcançar no e do seu Mestre a Bem-aventurança eterna.

A Esperança projeta o apóstolo na direção dos bens escatológicos. Se dependesse somente da sua vontade Paulo desejaria logo ir ao encontro do Senhor ainda revestido da sua carne mortal, ou seja, ele desejaria assistir a parusia antes da sua morte, mas se esta tardará, ele também seria feliz se morresse para antecipar o seu encontro com o Senhor (2Cor 5,6-9).

È justamente a segunda vinda de Cristo, com toda a alegria e glória que ela trará, o objeto primário, mais expressivo e concreto das expectativas cristãs. O verdadeiro crente é aquele que espera, com a alma inundada de alegria, o Senhor que pode retornar a qualquer momento. O espera com o único desejo de ser por Ele bem aceito. Esta perspectiva é o grande motivo para estar sempre vigiando e para banir todo espírito de sonolência e de acídia: “Eis a hora de sairdes do vosso sono, hoje... a salvação está mais próxima de nós do que no momento em que abraçamos a fé. A noite vai adiantada, o dia está bem próximo, rejeitemos pois as obras das trevas e revistamos as armas da luz” (Rom 13,11-12).

Neste texto percebemos que no coração de Paulo, a Esperança do encontro definitivo com Cristo é algo que nos põe em movimento, que nos lança para frente, que nos convoca para um combate a ser combatido com as armas da luz. A espera não se dá na passividade como se já estivéssemos conquistado a perfeição, mas na luta, na caminhada, na renúncia ao que pertence as trevas e na adesão aquilo que pertence a luz, ou seja, no acolhimento de Cristo.

O Dia do Senhor está se aproximando cada vez mais. E já pré-anuncia os primeiros encantos de uma luz envolvente da qual nos revestimos como que de uma esplêndida veste. Esta luz resplandece nas obras dos cristãos que vivendo na luz, esperam a luz definitiva.

Para Paulo, o seu primeiro encontro com Cristo, na estrada de Damasco, teria sido um absurdo se não houvesse a perspectiva do segundo: “Se depositamos a nossa confiança em Cristo somente para esta vida terrena, somos os mais dignos de pena de todos os homens” (1Cor 15,19).

E o confirma num outro texto: “...eu considero que tudo é perda em comparação deste bem supremo que é o conhecimento de Cristo Jesus, meu Senhor... trata-se de conhecê-lo a Ele, ao poder de sua ressurreição...” (Fil 3, 8.10).

Toda a vida é para Paulo uma grande corrida, um grande estádio, espaço no qual conquistamos o grande troféu: Cristo Jesus. Ele coloca as tribulações do seguimento de Jesus como lugar de Esperança. Essas tribulações nos fazem partícipes das tribulações de Cristo, são penhor da Salvação e certeza de que somos escolhidos. Os perseguidos são aqueles que hão de se salvar e os perseguidores serão os condenados (2Tes 1,4-6).

As tribulações são parte da vida daqueles que partilham a sorte de Cristo, que passou pelos sofrimentos dos tempos messiânicos para chegar à glória. E nós seguimos este caminho (1Tes 1,3; Rom 5,3-5), e experimentalmente, o Espírito Santo deposita em nós, por ocasião das tribulações, a alegria e o consolo, penhor e antecipação da glória futura (2Cor 1,3-6).

Podemos concluir que na pregação de Paulo a Esperança aparece como aquela potência que tem a sua origem e fim no próprio Deus, que age no coração do fiel e em toda a comunidade cristã, fazendo com que estes, por sua livre adesão, vivam na sadia expectativa do encontro definitivo com Cristo, vivendo na alegria todas as tribulações e perseguições porque conscientes de que a vida presente é espaço para ganhar Cristo.




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por Silvio Scopel, Missionário da Com. Católica Shalom
Revista Shalom Maná - Ed. Shalom

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